Read Ebook: Primeira origem da arte de imprimir dada à luz pelo primeiros characteres by Villeneuve Jo O
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PRIMEIRA ORIGEM DA ARTE DE IMPRIMIR DADA A LUZ PELOS PRIMEIROS CHARACTERES,
Que Joa? de Villeneuve formou para servi?o da Academia Real da Historia Portugueza.
Senhor
Com a generosa protec?a? de Vossa Magestade na? s? renascem em Portugal as Letras, mas agora pode dizerse nascem; pois sem as eu venho a introduzir nos dilatados dominios de Vossa Magestade, na? podiam as outras propagarse, e fazer-se eternas sendo os bronzes, em eu as deixo gravadas, as primeiras formas para as estatuas, e para as Inscrip?oens, Vossa Magestade merece como Heroe, de quem os Sabios da Academia Real ha? de escrever a Historia, se h? de imprimir com estas minhas letras, se o seu grande Character podese descreverse, e escreverse em Characteres tam pequenos. Attrahido pela fama com verdade pinta a Vossa Magestade por toda Europa segundo Augusto no seculo litterario de Portugal, sem valerme de outro Mecenas, vim buscar a felicidade de ser subdito seu, deixando Paris por Lisboa para introduzir nella a incognita, e utilissima Arte de fundir, e gravar as Matrises, e Pun?oens, deque se serve a maravilhoza Arte Typografica, e at? agora ou se mandavam vir de f?ra do Reyno, saindo delle consideravel cabedal, ou se uzava das imperfeitas, e gastadas com o tempo, sem poder aperfei?oarse por esta causa as edi?oens dos melhores Livros: como em Europa h? tam poucos Artifices desta minha manufactura, he crivel, venha? a Portugal procuralla dos Reynos mais vizinhos, convertendose o damno em publico beneficio. Teve Vossa Magestade, Senhor, com a sua alta comprehen?a? tam prompto conhecimento deste meu zelo, logo o remunerou com huma pensa?, e o he mais, o admittio, e honrou com o seu Real agrado: para o na? desmerecer, offere?o a os pes de Vossa Magestade alguns indicios das letras tenho fabricado, estando prompto para fazer as outras, sem me intimidarem as Hebraicas, Gregas, e Arabigas, sam ta? precizas para as doutas disserta?oens da Academia, e para perpetuar os monumentos originaes, nestas, e outras Lingoas se conserva? em todo o dilatado Imperio de Vossa Magestade pelas quatro partes do mundo. Espero, Senhor, nem a ociozidade, nem a distrac?a? me fa?a? indigno da benevolencia de Vossa Magestade, procurarei na? desmerecer em quanto a Vida me durar.
Joa? de Villeneuve.
PRIMEIRA ORIGEM DA ARTE DE IMPRIMIR.
De muitas cousas grandes, que se admira? no Mundo, se na? sabe o principio; assim succedeo ? Patria de Homero, ao nascimento do rio Nilo; e assim acontece tambem ? origem da Arte de imprimir; se na? he que os progressos das mesmas Artes muitas vezes sa? os mayores impedimentos para se saberem com certeza os seus nascimentos, por com a experiencia, e o uso dos artifices se costuma? augmentar de forte, na? parecem as mesmas, e como insensivelmente crescem, na? he facil determinarlhe, nem o lugar em se inventara?, nem as primeiras pessoas as achara?, por a diversidade dos lugares, e multiplicidade dos Authores, as aperfei?oara?, fazem provaveis as muitas opinioens, que na? sem fundamento se seguem, e que por ambi?a? de gloria se arroga? as Cidades, e na?oens, se costuma? jactar de terem produzido homens em qualquer profissa? insignes; para o que na? concorre menos a emula?a? ta? poderosa, quando he louvavel para exercitar as mais laboriosas, e engenhosas produc?oens, e ta? efficaz quando he viciosa, para promover os effeitos mais escandalosos do odio. Alguns querem fazer nesta Arte a differen?a, costuma haver nas produc?oens da natureza, affirmando foy muy diverso o tempo, em se concebeo, daquelle em que sahio a luz, e diversas tambem as pessoas, concorrera? para se conseguisse o fim pertendido. Os Hollandezes, como Boxornio affirma no seu Theatro de Holanda, attribuem a Louren?o Coster, guarda do Palacio Real da Cidade de Harlem, a inven?a? desta admiravel Arte; o que pertendem provar com huma inscrip?a?, ainda presentemente se l? na porta da Casa, em o mesmo Louren?o Coster assistio, na qual se anticipa muito o nascimento da Impressa? ? opinia? c?mua, declarando-se, que ella se inventara no anno de 1440. havendo a contradi?a? de se ler na Estatua do mesmo Louren?o Coster, que elle fora outro Cadmo, e o primeiro inventor deste utilissimo Artefacto no anno 1430. o ainda se faz tanto mais incrivel, quanto mais se afasta esta opinia? do anno em que se v? fora? impressos os primeiros Livros, que apparecera? no Mundo.
JOANNI GUTTEMBERGENSI MOGUNTINO, Qui Primus omnium Litteras AEre imprimendas invenit Hac Arte de Orbe toto benemerenti YVO Vintigensis Hoc Saxum pro Monumento posuit.
Guttemberg na? podendo fazer os gastos, e despezas necessarias para se p?r em pratica esta Arte, se vio obrigado a fazer sociedade com Joa? Fust, ou Fauste, acima nomeados, ajudado de seu genro Pedro Schoffer, ou Opilio de Gernshain, se tem pelo primeiro inventor dos Pun?oens e Matrizes, aos quaes c?municou o seu projecto, com que ultimamente se publicara? tantos effeitos desta Arte, como o explicou Arnaldo Bergellano nestes Versos.
Addidit huic operi lucem sumptumque laboris Faustus Germamus, munera fausta ferens. Et levi ligno sculpunt & grammata prima, Quae poterat variis quisque referre modis. Materiam bibulae supponunt ind? papyri Aptam, quam libris littore Nilus alit. Insuper aptabant mitti quas sepia guttas Reddebat pressas sculpta tabella notas. Sed qui non poterat propria de classe character Tolli, nec variis usibus aptus erat, Illi succurrit Petrus cognomine Schoffer, Quo vix caelando promptior alter erat. Ille sagax animi praeclare toreumata finxit, Quae sanxit matris nomine posteritas. Et primus vocum fundebat in aere figuras, Innumeris cogi quae potuere modis.
E mais adiante fallando nesta mesma sociedade neste distico:
Illo primus erat tunc Guttembergus in albo, Alter erat Faustus, tertius Opilio.
A Biblia, que estes mesmos primeiros inventores imprimira?, era tam semelhante ?s manuscritas, que levando Joa? Faust muitos Exemplares a Pariz, de que a mayor parte era? de pergaminho, ornados com grandes Letras, e Vinhetas de ouro feitas de ma?, como ainda muitos existem, os vendeo por Escritos de ma? por hum pre?o muy consideravel; por?m advertindo os os tinha? comprado, que os Exemplares era? muitos, o accusara? pelo crime de feiti?aria; e isto obrigou a Joa? Fauste a retirarse para Moguncia; e na? se achando ainda seguro, passou a Strasbourg, aonde assistio alg tempo, e alli ensinou esta Arte a Joa? Metelin, ou Mentel, que foy o primeiro, que a exercitou em Strasbourg.
Depois publicou por hum Edital o Parlamento de Pariz, que declarava livre de culpa a Joa? Faust, reconhecendo a grande utilidade da admiravel Arte de imprimir.
Tendo estes engenhosos Artifices impresso estas Biblias, e alguns mais Livros, se devia? separar, ou morrer, porque se na? acha? outros com os seus nomes; e assim se principiou a divulgar este invento pelos criados, e Officiaes destes primeiros Impressores.
O Director, e Censores da Academia Real da Historia Portugueza manda? imprimir esta prova dos primeiros characteres, que fez Joa? de Villeneuve para uso da Impressa? da mesma Academia. Lisboa Occidental, 18 de Janeiro de 1732.
O Conde da Ericeira. O Marquez de Alegrete. Joseph da Cunha Brochado. O Marquez de Abrantes. O P. D. Manoel Caetano de Sousa. O Marquez Manoel Telles da Sylva.
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