Read Ebook: Os Sinos Poesia Narrativa by Proen A Raul Sangreman
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Ebook has 94 lines and 6072 words, and 2 pages
RAUL PROEN?A
+OS SINOS+
+OS SINOS+
ALCOBA?A Typographia e Papelaria de Antonio M. d'Oliveira --Rua de Santo Antonio, 14, 16 e 18
A Jo?o Carlos de Pina, artista talentoso e honesto
A ti dedico esta poesia, meu caro amigo, para que assim fique memorada a nossa convivencia intelectual, as longas palestras em que estabelecemos a communh?o dos mesmos Sonhos.
? a primeira poesia narrativa que escrevo, tendo ficado sempre no dominio da poesia subjectiva, quer combativa, quer meramente psichologica. D'aqui e do meu fraco valor, a imperfei??o que lhe has de achar.
Imperfeita, comtudo, t'a dedico e offere?o.
Raul Proen?a.
+A T...+
Nosso amor come?ou a quando o Outono, Quando as arv'res se despem da folhagem, Numa tristeza amarga que faz s?no, E mais fria e mais muda ? a paisagem.
Come?ou quando avan?a a Sombra triste, E foi a brisa arripiante e agreste Que trouxe essas palavras que proferiste E o primeiro sorriso que me d?ste.
Que admira pois que o nosso amor t?o largo Seja mais infeliz que um rei sem throno, Se o trouxe o Inverno no inicial lethargo?!
E temendo-o... eu desejo-o e ambici?no-o, Como te quero, ? lindo sonho amargo! Como te amo, meu pobre amor do outono!
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Por isso toma estas florinhas bravas, Esta simples poesia humilde e agreste, Como os versos d'amor que me inspiravas!
E se quizeres saber quem ? Leonor, O perfil que tracei com singeleza, Mas com um grande, co'um profundo amor,
N?o me perguntes, n?o, Mulher celeste; Vae pergunt?-lo ? voz com que falavas, Vae pergunt?-lo aos beijos que me d?ste.
?s almas simples, sing?las, Que teem o Amor por norma, E amam a luz das estr?las E t?m a paix?o da F?rma;
?s almas suaves, mimosas, Docemente espirituaes, Como as grinaldas de rosas, E as floras tropicaes;
?qu?les que t?m amado, Em longas noites serenas, Um olhar aveludado E umas brancas m?os pequenas;
?s que indo de fronte calma No caminho da Illus?o, Construem ninhos na alma E poemas no cora??o;
A v?s a historia, ? Formosas, D'um grande amor infeliz, A v?s, camelias mimosas, A v?s, violetas gentis!
+PROLOGO+
Na epocha presente, Quando a doce poesia j? n?o m?ra Nos nossos cora??es, A ternura divina foi-se embora, J? tem menos fulgor a luz da aurora E as damas n?o suspiram com paix?es-- Na epocha presente O labio j? n?o prende os cora??es E a alma j? n?o sente...
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? raro o amor, s?o raras as can??es Na epocha presente.
D'antes os cavaleiros medievaes Que abrigavam paix?es no cora??o E que iam nos ginetes sensuaes Combater por uns olhos desleaes Debaixo d'um balc?o, Cheios de gloria e de fortuna e fama Batalhavam em du?los singulares Pela formosa e sonhadora dama De face de veludo E tepidos olhares... Mas como tudo muda eternamente --E os combates de amor s?o s? no Entrudo,-- J? n?o ? assim, comtudo, Na epocha presente.
Debaixo da janella, era noite alta Inda se via o p?lido poeta E desde Londres at? Roma e Malta, Como um suspiro que de cordas salta Melodiosamente, Ouvia-se a guitarra, a viola, a flauta; Hoje... s? se ama ? luz d'uma ribalta Na epocha presente.
Iam os cavaleiros valorosos Defender a Mulher com perigo ingente, Dar a vida por uns olhos veludosos Por um riso feiticeiro, Por uma voz angelica e gemente... Hoje o Deus da Paix?o ? o Deus-Dinheiro... O amor ? um banqueiro Na epocha presente.
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Se n?o amam na epocha presente O Rei nem o Mendigo, Se tudo ? frio, e desolado e doente, E n?o palpitam almas docemente Sob esse terno sentimento antigo, ? mulheres lindas de formoso olhar, Vinde aprender commigo, Que eu vos ensino a amar!
E estas folhas abri com m?o suave, L?de esta narra??o d'um grande amor, ? m?os macias como penas d'ave, ? b?cas lindas como rubra fl?r!
L?de este simples conto, que vos d? Muito singelamente, A historia de uns amores como n?o ha Na epocha presente.
Era um vasto mosteiro o d'essa terra linda Onde vivia a fl?r dos beijos sensuaes, E respirava um ar da Idade Media, ainda, A imponente altivez das graves cathedraes.
Tinha uns sinos de bronze, uns sinos clangorosos, Que em metalicos sons deitavam para os c?us Ora o encanto febril dos beijos voluptuosos, Ora a amarga afflic??o do derradeiro adeus.
E em sua solid?o sob'rana, ingente, estoica, Levantando-se ao c?u e dominando o val', Os sinos tinham sons d'uma do?ura heroica, Com solu?os de bronze e risos de cristal.
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E mesmo em frente d'elle, do lado d'onde nasce O Sol, na sua diurna e rapida carreira, Habitava Leonor, fl?r misteriosa e rara, --Das bellas a primeira.--
P'ra poder descrever o oval da sua face, O jaspe setinoso e macio da cara, O brilho d'esse olhar, p'ra poder defini-lo, Seria necessario o maior genio humano --A luz que coloriu as Venus de Ticiano, O pincel que pintou as virgens de Murillo.
Para poder pintar o seu cab?lo farto, Seria necessaria a arte soberana, A divina express?o artistica d'el Sarto E a magia de c?r da escola veneziana.
A b?ca era vermelha, ardente, sensual, O beijo desafiando ao minimo trejeito. Quanta paix?o n?o fez o seu olhar leal! Quanto amor n?o bateu, sem resposta, ao seu peito!
Tinha um olhar azul, envolvente, magnetico, Cheio de embriaguez, de electricas caricias; Olh?-lo--era ficar para sempre apoplectico, Absorvido p'ra sempre em dois mares de delicias.
Deviam ser assim os olhos de Julieta, Quebrado o doce olhar em morna languidez, Quando vinha ao balc?o falar ao meigo poeta, Ao classico Romeu do grande poeta ingl?s.
E os seus olhos azues, dois sonhos sideraes, Eram na bella face alabastrina, as puras Emana??es da luz astral dos Ideaes, Eram dois mares vaporosos de tonturas.
O sorrir provocava um languido desmaio, Era o sorriso bom de Glyc?ra ou de Leda, Tinha o calor fecundo e s?o do sol de maio E a doce suavidade t?pida da seda.
Tinha a regia altivez, um porte de rainha E a gra?a virginal d'uma crian?a pura, E sentia-se o mimo alado da andorinha Na gra?a flexuosa e leve da cintura.
E que direi ent?o da voz harmoniosa, D'essa voz penetrante, angelica e maguada?! Ouvi-la, era sentir uma p?t'la de rosa A ro?ar o ouvido, em voz cristalizada.
E tudo era um contraste excentrico, distinto, Tinha o poder do Inferno e o enlevo dos archanjos, Olh?-la--era sentir a embriaguez do absintho, Ouvi-la--era escutar a propria voz dos anjos.
E em frente da janella o mosteiro vetusto Vibrava de onde em onde os seus toques divinos. Ent?o vinha ? janella, e o delicado busto Mergulhava na onda electrica dos sinos.
Passava a Mocidade altiva para v?-la, Da terra a fina fl?r lhe vinha confessar O seu ardente amor, debaixo da janella, ? luz inebriante e meiga do luar.
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