Read Ebook: Camões e o amor no aniversario 304 da morte do poeta by Pires Ernesto
Font size:
Background color:
Text color:
Add to tbrJar First Page Next Page
Ebook has 141 lines and 5489 words, and 3 pages
ERNESTO PIRES
CAM?ES E O AMOR
PRE?O 300 REIS
VENDE-SE NA LIVRARIA
JO?O E. DA CRUZ COUTINHO--EDITOR
CAM?ES E O AMOR
ESCUTA!
Heide gastar os olhos s? a olhar-te, A alma heide queimar no fogo ardente Que vem dos olhos teus, continuamente, E assim succumbirei a aben?oar-te.
No peito meu n?o cabe o sentimento, Trasborda como as agoas, alteradas Pelas raivosas convuls?es do vento.
Amado ou n?o,--as trovas magoadas Do amor e cora??o e vida e alento Eu aos teus p?s deponho,--eil-as rojadas!
BARBARA, ESCRAVA
Ajoelhara a negra suspirando Postas as m?os, os labios contrahidos, Diziam as can??es dos seus gemidos Mais do que os prantos com que estava olhando.
Cam?es fitava o espa?o, meditando, Bem longe o cora??o, longe os sentidos; E de seus olhos, para a d?r nascidos, As perolas ca?am, deslisando.
Um queixume da negra, compungente, Acordara o poeta, que sonhava Com a patria querida e o amor ausente.
NA VOLTA ? PATRIA
Cinzenta a c?r do ceu, a noite ba?a, O vento chora nas enxarcias, rude Como grito plangente d'alaude, Vibrado pelos dedos da desgra?a.
Al?m nenhuma estrella ent?o perpassa, ? o horisonte um lugubre athaude, Fervem as ondas altas como a?ude Que as torrentes ?s agoas embara?a.
Vem da China o baixel desarvorado, Sulcou o mar com soffrega vontade, At? que o mar o fez despeda?ado.
UM VERSO DE CAM?ES
N?o des?o agora ? fria sepultura, N?o roubo ? morte os pavidos segredos, N?o quero desfolhar com estes dedos Do gelo a fl?r de extranha formosura.
N?o vou cingir na tua fronte pura, Cheio de horror,--o labio e os olhos quedos,-- Por entre a noite e os tristes arvoredos, D'uma fatal grinalda a eterna alvura.
Deixa que viva assim em treva absorto, Cadaver, caminhando, tristemente, Em demanda do meu perdido horto.
FLOR PERDIDA
Quando sorria a infancia docemente Aos olhos infantis da minha esp'ran?a, Era-me o ceu azul, azul bonan?a Me enchia o alegre peito, ternamente.
Brilhante o espa?o, a aurora transparente, Brando o futuro se a illus?o avan?a!... Assim j?mais o cora??o se can?a, Mostrando ? nevoa fria um sol ardente.
Pastam os olhos meigos pelos prados, Os astros rompem sempre vigorosos As campinas do ceu, fortes arados.
OS TEUS OLHOS
O teu olhar de fogo!... ? assombrosa A luz que espalha ao de redor; distante Se f?r um dia, caminheiro errante, Que elle me enxuge a face lacrimosa.
Se al?m, na campa, os membros j? can?ados Eu repoisar ao p? dos tristes lyrios E dos funereos goivos delicados.
Pago serei ent?o de meus martyrios, Se, juncto a mim, teus olhos magoados Forem-me, ali, os derradeiros cyrios.
Olhos cheios de vida e de innocencia, Revivos de perfume e suavidade, Olhos de t?o formosa claridade Que escurecem do ceu a transparencia;
Talvez sejam ainda os companheiros Da melodia heroica de meu canto, Meus amigos sinceros, verdadeiros.
Talvez!... Mas se pod?r a sorte tanto Que os affaste de mim, que os derradeiros Suspiros meus orvalhem com seu pranto.
CRUEL DESTINO!
Abra?a o mar, bramindo, a branca areia, O zephyro que, ? tarde, vae de leve Pelo norte a voar, abra?a a neve, Abra?a a chamma um corpo que incendeia.
A hera abra?a o tronco que, elevando Os bra?os para o espa?o, os entrela?a No doce arfar da naturesa, brando.
O raio abra?a o cedro que estilha?a, A lua abra?a o mar, se est? brilhando, S? o meu peito, amor, a n?o abra?a!
VITA NUOVA
Senhora de minh'alma, a suavidade Dos teus labios gentis tornou-me ? vida; Tinha a esperan?a morta e j? perdida E deu-lhe um beijo teu vitalidade.
Passou a dor mimosa da saudade, Surgiu no oriente a aurora apetecida, Brotou a fl?r, ha muito emmurchecida, A bella fl?r d'alegre mocidade.
Agora canto o sol, as philomelas, O vasto mar, as lucidas estrellas, A noite escura e a branca luz da alva.
Lasaro resurgi da terra fria, Abrindo o olhar j? ba?o ? luz do dia... --? que um beijo, senhora, tambem salva.
AQUELLA FLOR
? assim como o rosto de Paulina, Cruelmente por Nero perseguida, Aquella fl?r que estimo mais que a vida, Fl?r gentil de face purpurina.
Nas suas folhas leio a minha sina; Talvez cheia d'amor, talvez florida Renas?a a f?, n'esta alma, dolorida, D'aquella fl?r ? nota sibyllina.
Quando poisar d'ausencia o escuro manto E se ouvir, n'uns timidos harpejos, O meu remoto e solitario canto,
Add to tbrJar First Page Next Page