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Read Ebook: Elegia da solidão by Pascoais Teixeira De

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Ebook has 20 lines and 4642 words, and 1 pages

+Elegia da Solid?o+

Tip. <> Amarante.

+ELEGIA DA SOLID?O+

a Fernando Maristany

? tristeza do mundo em tardes outomnaes! Longinqua d?r beijando-nos o r?sto... Crepusculo esfumado em intimo desg?sto, B?ca da noite ac?sa em frios ais... Apari??o soturna, vaga imagem Do m?do e do misterio... Que solid?o escura na paisagem! Tem phantasmas e cruzes, Tem ciprestes ao vento e moribundas luzes, Como se fosse um grande cemiterio.

E todavia eu sinto Um acordar de instinto, Um palpitar de viva claridade Em cada cousa obscura... O aroma d'uma fl?r quem sabe se ? ternura? A noite n?o ser? phantastica saudade? A deusa que semeia estrelas no Infinito E cor?a de lagrimas divinas A extatica tragedia das ruinas, Toda em versos de marmore e granito? Misteriosamente Sobe da terra um sonho transcendente; Emana??o de mistica tristeza, Como o fumo d'um lar Que tem, junto do fogo, alminhas a rezar.

Mas, ai, a Natureza, Reservada e offendida, afasta-se de n?s! E na sua mudez arrefecida Congela a minha voz... Um silencio mortal separa-me de tudo! E como a sombra tragica da vida, Vou pelo mundo al?m; Enorme espectro mudo, Monstruosa presen?a de ninguem! Vivo s?sinho e triste, assujeitado Ao meu phantasma errante e desgra?ado, Em ermos de abandono; Ermos de Portugal, Onde a alma do sol divaga com o outomno N'um sempiterno idilio sepulcral.

Sou nada, e quero ser! Quero ser tudo, e eu! Quero viver A vida misteriosa... Interrogo o silencio e a noite rumorosa De sombras e segredos... Contemplo comovido os astros e os penedos, E fico a ouvir as fontes n'um eterno Queixume que ergue a voz durante o negro inverno! Passo horas a aspirar o aroma d'uma fl?r; Sombra que eu vejo em p?talas de c?r Esparsas, ondeantes, Nas virgens claridades madrugantes. E a pura sensa??o que me domina, ? qual longinqua Appari??o divina Que me seduz e afaga... E de estrela em estrela ? alma que divaga... Quantas vezes me sento ? beira d'um abismo, Sobre escarpados bl?cos; E em mim perdido scismo... E ou?o apenas cair nos tenebrosos fundos, As lagrimas de luz que v?m dos outros mundos E a neve do silencio em negros fl?cos.

Subito, acordo e volto ? claridade! S?io da fria cova; Uma sombra infantil c?i d'esta imagem nova Que sobre mim baixou do sol a arder...

Que alegria, meu Deus, tornar a ser!

Eu amo tudo: os ramos comovidos Em di?fano marmore esculpidos E esse velhinho tronco, em fl?r, que renasceu Ao sentir a impress?o azul que vem do ceu... Com que ternura beijo a luz do dia, Que em meus ouvidos de alma ? lirica harmonia... Tenho ocultas palavras transcendentes Para as nuvens somnambulas, dormentes, Para a sombra nupcial e mistica d'um lirio, Para a affli??o da inercia escrita n'um rochedo E para a D?r que faz gritar um arvoredo Em noites de delirio.

Mas este amor ? grande soffrimento! De que nos serve amar o que n?o ama? Ser dolorosa chama, Sobre campos de neve, errando, ao vento? Andar a perseguir um Anjo fugitivo!

Entre turbas de mortos n?o ser mais Do que um espectro vivo? Ser doido cataclismo! Ser desprendida folha, Entregue aos vendavaes, A voar, a voar em negros v?os afflictos! Olhar seu proprio s?r como quem olha O fundo d'um abysmo! E querendo esconder nas sombras o seu r?sto, Para chorar t?o intimo desgosto, Ter de invocar a noite em altos gritos!

Sou a noite em que o mundo se consome: As cousas mais humildes e sem nome, As estrelas, os Deuses, tudo quanto Se amortalha na sombra do meu canto Que chora a sua eterna imperfei??o! Sou tempestade, noite, solid?o, O frio esquecimento, A sombra do luar bailando com o vento, Um gemido de nevoa, uma ternura, um ai, Phantasma d'uma lagrima que c?e.

? triste solid?o que me rodeia! ? minha amada e pequenina aldeia! ? aves a cantar para ninguem! Fl?res que o inverno emurchece, M?os erguidas na tarde que arrefece, Implorando o silencio, a noite, as cousas mortas E os ventos de terror batendo ?s portas, Sem destino, a correr por esse mundo al?m! Almas crucificadas de abandono Entregues a uma eterna viuvez, Transparentes de fina palidez, Rezando ao Deus da Morte as ora??es do outomno... E tu, meu cora??o amante que palpitas Nas trevas infinitas! E ardes n'uma fogueira desvairada E doido te consomes para nada! Caio por terra morto de can?asso, A propria terra foge ao meu abra?o! Foge de mim tambem meu proprio s?r, Vulto de cinza e poeira... Homens, nem mesmo a d?r ? verdadeira! Sou ilusoria imagem a soffrer A tragica mentira que a formou! E pelo mundo vou Na ?rma escurid?o, chorando afflicto, Como crean?a perdida no Infinito, Entre soturnos Deuses fabulosos E mundos de terror vertiginosos...

O alto sete-estrelo! Sol velhinho com brancas no cabelo! Silencio emudecendo a musica dos ninhos! Loucura que ergue o mar em ondas e solu?os E, exausto, sobre a praia, o faz cair de bru?os! ? pinheiraes s?sinhos! ? tragedias de fraga e terra! ? ?rmos montes! Calvarios a sangrar!

Cora??es de mulher desfeitos em luar! Martirisadas fontes! Medonhos arvoredos! Chimericos penedos! Lobos uivando a magua que os consome ? lua que prateia a serra fragarosa... Magros vultos de p?lo arripiado Com um sinistro olhar incendiado; Ferozes esqueletos que t?m fome... Apari??es da Plebe tenebrosa; Odios vivos, relampagos de d?r; Archotes acendidos, Na noite da desgra?a transmitidos, De m?o em m?o, com tragico furor!

Lobos famintos, doidos e profetas! Le?es cheios de sombra e de melancolia! Feras que devoraes por simpatia, Bramindo, como cantam os poetas! Meu sonho ? comungar a Natureza; Paisagens de alegria e de tristeza, Desertos ao luar, vis?es de outrora, Nuvens relampejando... O silencio nocturno, a musica da aurora Em notas de oiro voando... Quero sentir o amor, o soffrimento Que apaga a luz do sol e faz gritar o vento E sufoca de lagrimas as fontes Na solid?o dos montes... Quero sentir o vago, o indefinido D'um astro a palpitar nas ondas reflectido. Quero ser a ilus?o, a nuvem, a chimera, A divina alegria, a virgem Primavera Que nos desenha, al?m, n'um fundo escuro e frio, Doirada porta em flor aberta sobre o estio... Quero brilhar na luz e crepitar No fogo, e me perder em fumo pelo ar! Quero tecer os caules verdejantes E ser em rosa murcha orvalhos scintilantes. Quero abranger o mundo E o claro ceu profundo; E ter nos olhos meus As estrelas e as lagrimas de Deus, E em meus bra?os o gesto de carinho Que tem um ramo em fl?r, Quando ampara e protege com amor Uma avesinha dentro do seu ninho...

+FIM.+

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