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Read Ebook: O Infante D. Henrique e a arte de navegar dos portuguezes by E A Vicente De Almeida De

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Ebook has 99 lines and 16571 words, and 2 pages

COMMEMORA??O DO CENTENARIO HENRIQUINO

O INFANTE D. HENRIQUE

A ARTE DE NAVEGAR DOS PORTUGUEZES

CONFERENCIA FEITA EM 19 DE FEVEREIRO DE 1894

CLUB MILITAR NAVAL

POR

VICENTE M. M. C. ALMEIDA D'E?A

CAPIT?O-TENENTE DA ARMADA, LENTE DA ESCOLA NAVAL

SEGUNDA EDI??O

REVISTA E AUGMENTADA COM ALGUMAS NOTAS

LISBOA

IMPRENSA NACIONAL

O INFANTE D. HENRIQUE

A ARTE DE NAVEGAR DOS PORTUGUEZES

COMMEMORA??O DO CENTENARIO HENRIQUINO

O INFANTE D. HENRIQUE

A ARTE DE NAVEGAR DOS PORTUGUEZES

CONFERENCIA FEITA EM 19 DE FEVEREIRO DE 1894

CLUB MILITAR NAVAL

POR

VICENTE M. M. C. ALMEIDA D'E?A

CAPIT?O-TENENTE DA ARMADA, LENTE DA ESCOLA NAVAL

SEGUNDA EDI??O

REVISTA E AUGMENTADA COM ALGUMAS NOTAS

LISBOA

IMPRENSA NACIONAL

V?s aqui a grande machina do Mundo, Etherea, e elemental, que fabricada Assi foi do saber alto, e profundo, Que ? sem principio e meta limitada. Quem cerca em derredor este rotundo Globo, e sua superficie t?o limada, He Deos; mas o que he Deos ninguem o entende Que a tanto o engenho humano n?o se estende.

SENHORES E PRESADOS CONSOCIOS:

O Club Militar Naval, querendo solemnisar a celebra??o do quinto centenario do nascimento do Infante D. Henrique, o inclito iniciador das navega??es e descobrimentos dos Portuguezes, entendeu que o melhor meio de commemorar essa t?o gloriosa data, era reunir em algumas noites os seus associados para ouvirem uma serie de conferencias ou leituras sobre os assumptos mais importantes referentes ao Infante, ou que com elle e a sua obra tivessem rela??o; e para realisar essas conferencias dignou-se convidar diversos dos seus socios.

Honrosa, mas difficil incumbencia! Honrosa, porque, se ? um dever de bons patriotas celebrar, sempre que a proposito venha, as glorias nacionaes, ? uma honra que n?o p?de recusar-se, o ser escolhido para porta-voz d'essa celebra??o; difficil, porque tendo de se fallar diante de uma assembl?a de technicos e de sabedores, quasi se torna impossivel dizer-lhes cousas que n?o saibam, resumir-lhes estudos que n?o conhe?am, suscitar-lhes id?as que j? n?o tenham.

Larguemos, pois.

Sem nos deixarmos, pois, offuscar por este sentimento de solidariedade que aos da nossa classe, melhor que a nenhuns outros, permitte apreciar os trabalhos do mar, podemos certamente distinguir na vida do Infante D. Henrique duas ordens principaes de factos: os que se referem ao membro da familia reinante de Portugal, filho, irm?o e tio de reis, e os que dizem respeito ao promotor das navega??es.

Ser?o os factos da primeira especie menos brilhantes do que se deveria desejar? Haver? que apontar erros de entendimento ou de vontade, da parte do Infante, no desastre de Tanger ou nas intrigas de Alfarrobeira? N?o cuido que isto n?o seja ainda materia para muita discuss?o. Mas o que certamente o n?o ?, aquillo sobre que me parece n?o restar duvida, ? a influencia do Infante nos destinos da na??o navegadora, ? a sua iniciativa enorme e absolutamente pessoal no commettimento dos <>. Quer a escola critica, ? qual ha pouco me referi, que D. Henrique devesse a um irm?o, o celebre infante D. Pedro, notavel pelas suas viagens na Europa, a possibilidade de alcan?ar conhecimentos cosmographicos e geographicos que de outra f?rma n?o teria obtido, e sem os quaes nada poderia ter feito. N?o duvido, antes o dou por provavel, se n?o como certo. Mas p?de isto desfazer alguma cousa na concep??o que se tem formado do Infante D. Henrique, como espirito coordenador d'essas informa??es e do tantas outras que por varios lados colligiu, director perseverante de todos os emprehendimentos e indicador seguro e consciente do caminho a seguir? Tambem o architecto n?o levanta por si s? o edificio,--antes precisa da coadjuva??o de muitos homens desde o humilde cabouqueiro ate ao estatuario insigne,--e comtudo ? a elle que cabe a honra e primazia da construc??o.

Das duas faces que offerece a historia do Infante D. Henrique, a que diz respeito ?s navega??es ?, pois, a luminosa, e com tanta intensidade que deixa bem no escuro a outra, e de todo a faz esquecer. ? por ella que o glorioso Infante ? conhecido na historia, ? essa que hoje celebr?mos com enthusiasmo de Portuguezes e de marinheiros.

Vejamos as suas mais salientes fei??es.

Quando, em 1415, o Infante D. Henrique regressou da conquista de Ceuta, o theatro do mundo physico certamente apresentava ao seu espirito uma scena de grande confus?o: por um lado o que se suppunha ser a sciencia positiva geographica do tempo; por outro as lendas que quasi tinham f?ros de verdades; por outro ainda os absurdos que a um espirito esclarecido se patenteavam, resultantes do combate entre essas lendas e as probabilidades de certeza.

Eram conhecidas ao tempo com mais ou menos exactid?o, e com bastante imperfei??o desenhadas nos portulanos: todas as terras da Europa com as ilhas proximas e os mares que as banham; a costa septentrional da ?frica a come?ar no Cabo N?o sobre o Atlantico e d'ahi at? ?s b?cas do Nilo: para o interior d'essa costa um tanto de terras at? aos desertos; a Palestina, a Syria, a Asia Menor, alguma cousa a um e outro lado do Caucaso e pouco mais. No resto da Asia sabia-se da existencia de varias terras, mas s? vagamente se lhes marcavam as situa??es. Da Africa, para o sul do Cabo N?o, diziam-se cousas contradictorias. A America sonhava-se porventura na lenda da Antilia. A Australia nem se sonhava. Ainda havia vagas indica??es, ligadas a lendas, ?cerca de diversas ilhas espalhadas pelo Atlantico. E tudo isto se figurava, para o vulgo pelo menos, em uma terra plana, porque a esphericidade do planeta teria como consequencia a existencia dos antipodas, o que se reputava absurdo.

E as lendas pullulavam, avultando entre ellas a do Mar Tenebroso, a do Equador inhabitavel e a do Preste Jo?o. Dizia-se por um lado: n?o se p?de navegar muito para longe das costas que o Atlantico banha, porque a breve trecho se encontra a regi?o das trevas perpetuas, onde o sol se apaga no occaso, povoada de ferozes monstros marinhos, agitada por medonhos e constantes temporaes, promptos a desfazer o fragil baixel que ousasse l? chegar; essa lenda vinha da antiguidade, e foi porventura preconisada pelos Arabes, que assim se desculpariam de n?o terem continuado nas suas navega??es para o occidente. Por outro lado affirmava-se: ? certo haver gentes para alem da linha equinoxional; mas n'esta e nas regi?es que se lhe avizinham, os raios do sol incidem com tal for?a que tornam impossivel ali a vida humana, e impossivel, portanto, a communica??o dos povos da Europa com os que habitam alem do Equador. E, contava-se ainda, ha bem longe da Europa, e d'ella separado por terras de infieis, o reino de um principe christ?o--o Preste Jo?o das Indias;--e anceiava-se por travar rela??es com esse irm?o em cren?as.

Tudo isto ouvia e sabia o Infante D. Henrique; de tudo isto se occupou provavelmente nas conversas que teve com os mercadores de Ceuta; d'estes e de outros problemas tratou naturalmente com seu irm?o D. Pedro, o grande viajante por terra; e tudo excitava a sua curiosidade.

O desejo de saber ? o grande incentivo do progresso das sciencias. Mas n'aquelle tempo o quadro da especula??o scientifica estava ainda imperfeitamente tra?ado, e mais do que esse desejo imperava de ordinario o espirito pratico do proveito material. Haveria proveito em resolver aquelles problemas geographicos? De certo. Se se descobrissem novas terras, ellas seriam occupadas por gente portugueza, quando fossem deshabitadas; seriam conquistadas, se pertencessem a infieis. Vislumbravam-se j? productos ricos d'essas regi?es, e d'ahi fontes de commercio remunerador. Por ultimo, mas n?o em derradeiro logar para as id?as da epocha, haveria mouros a converter, pag?os a trazer ao gremio da verdadeira religi?o, almas a conquistar para a f? christ?.

Relativamente ? propria essencia do problema geographico, dois seriam os pontos principaes a resolver: quaes eram as terras para o sul do Cabo N?o; se havia terras para o occidente das costas da Europa.

Ainda hoje ? li??o quasi geral que o descobrimento de Porto Santo e o das primeiras ilhas dos A?ores foram devidos ao acaso. ? sempre uma tempestade que leva um navegador, de regresso da costa de Africa, a encontrar-se fortuitamente com aquellas ilhas. Mas, pensando bem, parece-me evidente que os descobridores de Porto Santo, das Formigas e Santa Maria realisaram esses commettimentos porque a isso foram mandados pelo Infante D. Henrique. Pois n?o havia j? vislumbres da existencia d'aquellas terras? E o Infante, conhecedor da lenda do Mar Tenebroso, n?o teria a peito destruil-a, por n?o acreditar n'ella, como n?o acreditava na do Equador inhabitavel?

Temos, pois, que o Infante D. Henrique procurou determinar a configura??o exacta da Africa para alem do ponto onde ella era conhecida, e procurou ainda reconhecer as terras que existissem para o occidente. Estes eram, a bem dizer, os meios. Os fins eram: a acquisi??o de novos territorios para a Ordem de Christo, da qual o Infante era o Mestre, e consequentemente para Portugal; o desenvolvimento do commercio maritimo; a conquista de almas para a christandade.

Tal foi a obra portentosa que o Infante D. Henrique realisou.

Vasta ? hoje, senhores, e complicada a sciencia do homem do mar. Quem sabe a serie de disciplinas que ao presente se exigem aos officiaes de marinha, os longos e aturados estudos de mathematicas e sciencias physicas que para ellas s?o preparatorios, mal poder? imaginar a simplicidade e rudeza dos conhecimentos de que dispunham os primeiros navegadores. Procurando cumprir o programma que deliniei, vou tentar resumir o muito que a este respeito haveria a dizer.

Sem remontar aos tempos anteriores ? era dos descobrimentos, direi apenas qual era o estado dos conhecimentos nauticos na epocha do Infante D. Henrique.

Os mareantes portuguezes <>.

Mas ambos aquelles estrangeiros escreviam mais para a theoria da astronomia do que para a pratica da navega??o, a qual nos seus respectivos paizes era ainda pouca e rude. Foi, pois, em Portugal que aquelles elementos indispensaveis da navega??o astronomica come?aram a tornar-se praticos, despindo-se das concep??es superiores que n?o estavam ao alcance da singeleza dos pilotos da epocha.

E assim se percorreu o Atlantico e se chegou ao Oriente!

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