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Read Ebook: A Guerra: Depoimentos de Herejes by Lima Jaime De Magalh Es

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Ebook has 261 lines and 37207 words, and 6 pages

Riitta t?ti kumartui h?nen puoleensa. Helmi nousi ja kiersi kiihke?sti k?sivartensa t?din kaulan ymp?rille.

-- Anteeksi, t?ti, antakaa minulle anteeksi!

-- No hyv?nen aika, kyll?h?n min?... ?l? nyt tuolla tavalla...

Sitte t?ti silitti h?nen tukkaansa, katsoi h?nt? silmiin ja sanoi: -- Kotkan poikanen!

L?mmin tunne valahti l?pi Helmin syd?men. H?mm?styneen? h?n loi silm?ns? yl?s.

Ymm?rsik? t?ti h?nt? siis kuitenkin? Ehk? kuitenkin?

-- Menn??n nyt teep?yd?n luo, -- sanoi h?n ?kki? iloisesti, tarttuen t?din k?teen. -- Ja menn??n sitte enon huoneeseen. Menn??n kaikkialle, mihin te vaan tahdotte!

Muistojen tarina.

T?n? iltana minuutit ovat pitk?t kuin tunti. Kellon n?ytt?j?t eiv?t kulje ollenkaan, ei ollenkaan.

Helmi seisoo j?lleen omassa huoneessansa valokuvahyllyn luona. Juna saapuu aivan heti. Sitte eno ottaa kantajan ja ajurin -- ei, h?n sanoo kantajalle, ett? on suuri joukko tavaroita, Ameriikasta asti... Se kest?? kovin kauvan. Junassa on ollut paljo matkustajia, paljo siirtolaisia, jotka palaavat yhtaikaa kuin heid?n pappinsa. Sill? tietysti he kaikki ovat enoa ihailleet. Niin, mutta vihdoin eno kuitenkin saa tavaransa. H?n huutaa ajurin ja sanoo talon ja numeron. Hartikan kivimuurille on pitk? matka, se on Helsingin laitapuolella. Ajokin kest?? kauvan...

Helmi katuu, ett? h?n ei l?htenyt junalle. Tietysti h?n kumminkin olisi l?yt?nyt enon. Ne Ameriikasta tulleet tavarat olisivat h?net ilmaisseet.

Helmi ei saa mit??n lepoa. H?nen t?ytyy katsella melkein kuluneiksi katseltuja valokuviansa.

Nyt juna tulee! Puolen tunnin p??st? eno voi olla t??ll?. Tai ehk? ei niink??n pian.

Valokuvat, teid?n seuranne on ainoa, joka nyt soveltuu. Kertokaa vanhoja tarinoita. Kun te kerrotte, viihtyy sykkiv? syd?n ja hetket rient?v?t.

-- -- --

Siit? on pitk?, pitk? aika. Kuolema oli k?ynyt talossa, ja taas tuntui sen kylmien siipien havina.

Kaarina Kotka oli silloin hyvin nuori, melkein lapsi viel?. H?nen veljens? Paavali oli aivan lapsi, ensimm?ist? vuotta sen kaukaisen pikkukaupungin lyseossa, miss? perhe niihin aikda vez maior. A soma de vida no universo parece crescer continuamente, emquanto a soma de mat?ria e energia n?o cresce; esta ? constante. A intelig?ncia p?de crescer; p?de crescer a felicidade; p?de o conhecimento espiritual atingir alturas presentemente inacessiveis>>.

Apliquemos ? crise presente ?stes princ?pios, que s?o universais. Procuremos um balan?o exacto e consciencioso das altera??es que a guerra trouxe e nos deixou. Logo veremos a profundeza do seu alcance e os seus lucros positivos um desenvolvimento de sensibilidade moral e religiosa nas sociedades cultas, como j?mais se viu, uma acentua??o de tend?ncias de liberdade, de justi?a, de amor e de religiosidade que acrescent?ram em propor??es assombrosas os tesouros da vida do esp?rito, ?nico progresso poss?vel, ?nico que importa o dom?nio da mat?ria, mesmo quando a materialidade se reputa fortalecida e inexpugn?vel pela solidez das suas filosofias e sistemas, pelo poder das armas e da riqueza, e pela prepot?ncia triunfante e orgulhosa s?bre as infinitas escravid?es que a servem e s?o a sua mais funda aspira??o e o seu mais eficaz instrumento de reinar.

Mais prolongada no tempo e nas conseq??ncias, sobretudo infinitamente mais fecunda do que a breve e incerta jornada militar, pol?tica e econ?mica em que tiver de rematar os combates, ser? a jornada moral e religiosa a que a guerra nos conduziu. N?o h? poderes do mundo que a perturbem. Porventura ser? mais activa quando ?les menos a favorecerem. A necessidade de reac??o acelera-a e fortifica-a.

Convuls?es dum enf?rmo

Quando em 29 de julho de 1914 a Alemanha enviou ? Russia uma declara??o de guerra, o mundo, acordando tragicamente da sordidez indolente e gananciosa dos interesses baixos e das corrompidas comodidades, enervado por longos anos de paz empregados em abrandar a f?ria insaci?vel dos seus prazeres e complexas sensualidades, julgou no auge da indigna??o que um pensamento monstruosamente scelerado medit?ra e consumava um <>, o maior e o mais odioso que j?mais se sonh?ra e pratic?ra na hist?ria da humanidade. Declaradamente se armavam, havia qu?si meio s?culo, os grandes poderes militares da Europa; engrandeciam os ex?rcitos, acrescentavam as armadas, acumulavam os canh?es, amontoavam muni??es e edificavam fortalezas por modo nunca visto. Mas a confian?a na autoridade e efic?cia do velho preceito que nos mandava preparar para a guerra se queriamos a paz, sustentava uma seguran?a profunda e a tranquilidade, como certeza, de que t?o dispendioso e aturado forjar dos arsenais era apenas um c?ro de louvores ? gl?ria da paz, soberana, possuindo o mundo, conquistando-o dia a dia pela sua fascina??o e ainda pelos engenhos de guerra que prometiam uma inviolabilidade formid?vel a quem os soubesse fabricar e usar.

Depois, n?o estava demonstrado que a guerra importava a ruina de vencedores e vencidos, e era de todo incompat?vel com a sustenta??o e prosperidades das riquezas industriais e mercantis que a custo e com enorme esf?r?o haviamos criado e nos absorviam? Os pensadores, os economistas e os homens de boa f? e melhor raz?o n?o tinham provado que s? por dem?ncia, e j?mais por conveni?ncia ou gl?ria de uma na??o, f?sse ela qual f?sse, se poderiam desencadear ou consentir t?o insensatos e pavorosos cataclismos? A paz era reconhecidamente o mais lucrativo dos neg?cios, emquanto as armas significavam a mais s?lida das garantias da amizade entre os povos. Apesar dos vaticinios de profetas tenebrosos impenitentes, que tamb?m os havia e n?o cessavam de agourar desgra?as, tendo por fatal a hora terr?vel de uma guerra europeia, o mundo ia remexendo os seus oiros e os seus estercos, os seus bens e as suas devassid?es, convencido de que a bonan?a, uma perene bonan?a orgiaca, era de ora em diante a lei da vida.

De facto, a guerra, lan?ando o fogo subitamente a todos os paioes, surpreendia-o. Era a subvers?o das suas melhores cren?as. N?o podia cr?-la.

Quem ousava lan?ar a terra inteira nessa insond?vel voragem?!...

A guerra, no primeiro momento d?sse aflitivo e desvairado despertar, era unicamente o fruto amargo da soberba lugubre dos que governam as na??es, alimentada na obscuridade das chancelarias, moralmente obtusas e empedernidas e ignobilmente ?vidas e crueis, de todo desprendidas do zelo e respeito da fortuna dos povos que um desapiedado egoismo lhes fazia ignorar; e a trai??o aos arrebatamentos da ventura em que viviamos era executada e proclamada pelo bra?o e pela b?ca de tr?s imperadores, um caduco na senilidade pr?pria dos seus anos, o outro demente de ra?a e de vaidade, e o terceiro n?o muito s?o, sujeito a acessos de melancolia. Eram ?les que na mais atroz loucura gerada de imagin?rias ambi??es lan?avam uns contra os outros homens de todos os continentes, por igual escravos do trabalho, que realmente se amavam e n?o tinham motivos para se desamarem, e antes sentiam raz?es poderosas para se auxiliarem e unirem. Eram ?les os reus da atrocidade estupenda que ia cobrir de desola??o e de cad?veres o ch?o que Deus nos dera e n?s queriamos para criar e cultivar o p?o, e os filhos e a arte e a religi?o, toda a fortuna, toda a dignidade e toda a gl?ria da nossa esp?cie.

Poucos dias, por?m, haviam decorrido desde a primeira hora de espanto e avers?o, e uma vaga consci?ncia come?ou a mostrar que sob o impulso e comando dos imperadores e dos generais, sob as cobi?as das castas militares e dos seus chefes, inflamando-as e explicando-as, sen?o legitimando-as, entre o estr?pito dos cavalos e dos canh?es, havia o conflito das ra?as, uma diversidade e uma incompatibilidade de aspira??es que se excluiam e por condi??o estavam sem remiss?o destinadas a chegarem ? agudeza dos combates em que se encontravam. Bastaram as primeiras batalhas e as primeiras vit?rias dos alem?es na B?lgica para que uma luz s?bita mudasse todos os apectos. As primeiras atrocidades que os ex?rcitos da Alemanha cometeram, perante o desrespeito dos tratados confessado com um extremo impudor e a perf?dia c?nica em sua hedionda nudez, perante a hospitalidade tra?da, constru?ndo fortalezas ocultas e pondo espi?es onde com amizade eram acolhidos, perante o mortic?nio de velhos e crian?as, o insulto e inj?ria das mulheres e a destru???o e saque dos mais preciosos tesouros do esp?rito humano, mal se revelou a animalidade barbara que alimentava a f?ria germanica, compreendeu-se a que tremendo duelo eramos chamados. E, assistindo ? ressurrei??o dos sentimentos e processos que ha longos s?culos tinham movido as hordas teut?nicas, de tenebrosa e amaldi?oada fama, e se julgavam para sempre condenados e banidos, e confrontando-os com o esp?rito religioso de abnega??o e bondade que animava o slavo, com o respeito, dec?ro e dignidade que ? honra e braz?o do mundo brit?nico, e com a gentileza e rectid?o que em toda a conjunctura caracteriza o esp?rito gaulez, estremados assim fundamente os campos ao fim de um m?s de hostilidades, a experi?ncia estava feita e o desengano acabado, e o primeiro ministro da Inglaterra, Asquith, no discurso magistral que pronunciou no Guildhall, podia dizer com o aplauso retumbante da Gr? Bretanha e de todo o mundo culto:--<>.

Quem tinha olhos para ver, entendimento para considerar e s?bretudo cora??o para sentir, logo sem a menor sombra se convenceu de que, envolvido no tropel das ambi??es pol?ticas e das rivalidades militares, o que rialmente as precipitava em um embate temeroso era a incompatibilidade, irreconcili?vel e ardente, entre a f?r?a e o direito, entre a brutalidade e o respeito, modera??o e toler?ncia, entre as cobi?as da sordidez e o desprendimento da nobreza, entre o cinismo e a cren?a, entre a liberdade e o despotismo, entre a boa f? e a deslealdade, entre o orgulho e a mod?stia, entre a candura e a corrup??o, entre o Deus do sacrificio ? caridade e ? bondade e o Deus das batalhas, da avareza e do ?dio. Nem sequer era uma disputa de doutrinas e de sistemas; era e ? uma oposi??o violenta de temperamentos, uma diverg?ncia de modos de ser sociais, morais e religiosos entre si antip?ticos at? ? exclus?o m?tua. Era Tolstoi contra Strauss, Ruskin contra Bismarck, Voltaire contra Treitschke, o monismo degradante de um Ernesto Haeckel contra o dualismo espiritualista, nobre, credor inflex?vel de responsabilidades, de um Alfredo Wallace; era a f?, a gra?a, a justi?a e a liberdade contra o scepticismo, a bruteza e o despotismo, embora os primeiros se apresentassem desprotegidos de previs?o e astucia e os ?ltimos viessem servidos pelo estudo, pelo metodo e por subtil engenho.

Aos pensadores e er?ditos n?o foi dif?cil esclarecer-nos, demonstrando que vinham de longe as incompatibilidades cujas energias contr?rias, agravadas e acumuladas no correr dos anos, chegavam em uma hora angustiosa a um combate de vida ou de morte. Reeditaram-se e notaram-se, com a aureola das profecias, palavras de Ruskin nas quais a intui??o penetrante do g?nio muito cedo apontou a dist?ncia que havia entre o car?cter germ?nico e as tend?ncias brit?nicas. J? em 1859 Ruskin falava, em carta a um amigo, do <> que <> feriam-no e repugnavam-lhe. Na Fran?a ainda ?le achava certa paix?o de beleza, embora n?o f?sse sen?o na faina de um a?ougue ou na concupisc?ncia; <>.

Nem tinha mudado de sentir em 1874, n?o obstante muito haver mudado a reputa??o do valor alem?o nas coisas do mundo. Ent?o escrevia:--<>. <>, <>. De modo que, quando os alem?es se apossam da Lombardia, bombardeiam Veneza, roubam-lhe os quadros , e inteiramente arruinam o pa?s moral e f?sicamente, deixando atraz de si mis?ria, vicio e ?dio profundo, onde quer que os seus malditos p?s hajam pisado. Foi precisamente o mesmo que fizeram em Fran?a--esmagaram-na, roubaram-na, deixaram-na na mis?ria do desespero e da vergonha, e f?ram para casa a lamber os bei?os e a cantar <>.

O almirante Von Tirpitz, interrogado pelo senador Beveridge, homem p?blico muito popular nos Estados Unidos da Am?rica, disse-lhe que <>. Querendo glorificar o temperamento alem?o e explicar as suas conquistas, depreciando ao mesmo tempo a vida inglesa, estabelecia um confronto no qual se definiam admiravelmente o caracter e tend?ncias dos dois povos em guerra. Vive um para enriquecer; nisso se absorve e consome absolutamente, empregando um talento e arte que s?o maravilha. Quer o outro f?rias que lhe s?o indispens?veis para a contempla??o e intimidade da natureza e para cultivar aspira??es apolineas; e disto fez uma religi?o.

Renovaram-se as li??es do passado; e pelos factos presentes compreendem-se hoje em toda a extens?o os clamores, escritos e prega??es dos profetas, guias e educadores da Alemanha moderna, entre os quais ficar? de triste celebridade a obra de Bernhardi, cujo pensamento fundamental ? de uma simplicidade incompar?vel:--<

Rematava nisto o bismarkismo, talvez interpertrado muito ?l?m ou fora dos seus princ?pios. Concluia pela prussifica??o de toda a Alemanha, afagada, soprada e insinuada no sangue teut?nico e nos afins por nascimento ou inclina??o, por todas as universidades, todos os pr?los e todos os mestre-escolas, e divulgada aos quatro ventos, em todo o globo, por enxames de caixeiros viajantes transportados em navios sumptuosos com matr?cula em Hamburgo.

Levou tempo a fazer e deu muito trabalho essa nova Alemanha. Para isso foi necess?rio arrazar, como alegremente se arrazou, at? aos alicerces, aquela outra Alemanha gloriosa, dos tempos em que militarmente era vencida, a Alemanha de Kant, de Lessing, de Goethe e de Beethoven, do tempo em que, toda impregnada de idealismo, de sabedoria, arte, ingenuidade, simplicidade e anceios de liberdade, tinha menos sci?ncia de laborat?rio e mais sci?ncia do cora??o, e n?o sabia mentir, intrigar, corromper e oprimir. Mas isso se fez completamente. N?o falta entre os seus filhos quem, vendo maguadamente e sem paix?o a situa??o, termine por confessar que os alem?es <>.

Nem mesmo Nietzsche, que, isento de sentimentalismos e branduras, n?o adorou pouco a f?r?a e uma robustez pag?, nem ?sse poupou ? cultura alem? o mais amargo desdem, insurgindo-se contra essa sua <> e <>, que <>, que observasse o gosto germ?nico, as artes e os modos germ?nicos. Que grosseira indiferen?a pelo gosto!>> Para <> ouvido>>, dizia, eram <> os livros escritos em alem?o, <>. O pr?prio alem?o lia <>, negligentemente arrastado.

Para ser l?gico, o alem?o tinha de descer a toda essa dureza e de varrer do esp?rito tudo o que n?o significasse meramente a f?r?a e poder de subjugar f?sicamente. Outra coisa n?o era de prev?r. As virtudes da caserna aborrecem e cortam o desenvolvimento dos subtis e eternos encantos das academias, embora ?sse com?rcio de sentir e pensar e dizer, que s? em si se alegra e alimenta e se atribui a delicadeza da vida e muito da sua grandeza, valha muito no conceito dos homens e na sua felicidade, sem embargo de ser ignorado pelo militarismo, merc? da sua natural rebeldia no conhecimento de qualquer coisa estranha ? arte da brutalidade e da chacina s?biamente organizadas e condecoradas. E esta Alemanha bismarkina, militarisada at? ? medula dos ossos, materialisada em todo o sentido, purgada, em absoluto, de influ?ncias idealistas, fazendo da disciplina, obedi?ncia, ordem e comodidades a raz?o ?ltima da nossa exist?ncia, reduzida a um rebanho de animais bem ensinados e bem mantidos, de p?lo luzidio e m?sculos tit?nicos, prontos ? voz e d?ceis ao chicote, esta Alemanha edificada de fresco e tendo posto na caserna a bandeira que arriou da catedral g?tica e dos pa?os da cidade, tingindo-a de novas c?res, surpreende-se, muito sincera e candidamente, se o mundo lhe significa pela inimizade que detesta a sua cultura.

N?o sabe a Alemanha explicar que haja na??es civilizadas contra ela unidas com os povos da R?ssia, semi-b?rbaros no seu conceito. Como sujeitam a Europa ao risco da sua invas?o e predom?nio, chamando-os e admitindo-os, em p? de igualdade, de portas a dentro dos seus velhos palacios?!... Pasma desta infidelidade ? sua cultura e outra cousa n?o compreender?, pois, destitu?da de todo o sentimento verdadeiramente crist?o, n?o percebe os la?os que juntam os povos educados no Evangelho, fazendo do Evangelho a raz?o suprema da exist?ncia; e outros n?o h? que mais profundamente o sigam e n?le creiam do que a Gr?-Bretanha e a R?ssia, apezar de viverem sob institu???es pol?ticas opostas em largu?ssima escala. Porque deixou apagar todos os impulsos ?ntimos do amor, trocados pelos regalos do estomago, n?o atinge que aquilo que os povos aliados seus visinhos e inimigos correm a combater, ? exactamente a cultura alem?, esta aspira??o que reduziu a fortuna e contentamento da humanidade a comer bem, beber melhor, dormir quente e descansado, andar agasalhado, ter uma velhice farta e tranquila, rem?dios, m?dicos e bons hospitais nas doen?as, habita??es esmeradas, e gaz, electricidade, caminhos de ferro, muitas oficinas, cinemat?grafos, telefones e gramofones, e quanto, e s?mente quanto, se paga a dinheiro nos mercados e se encomenda nas f?bricas, sendo tudo isso regido por uma pol?tica e por uma mecanica administrativa que na precis?o matem?tica em nada difere das m?quinas de a?o e que pelas suas potentes alavancas reduziu o homem ? m?sera condi??o de mat?ria prima, quest?o de n?mero, volume e qualidades f?sico-qu?micas, tal qual o min?rio que se tirou das profundezas da terra. N?o concebe que foi o extremo fastio dessa cultura, em que tudo foi cultivado menos a liberdade e o amor entre os homens, ?sse reino incontestado da alma, o que impeliu para a guerra as ra?as que o adoram, outro n?o suportam e o v?em amea?ado: n?o concebe que entre ex?rcitos que, como o alem?o, deixam, por onde passam, uma esteira infinita de garrafas vasias, e os que, como o da Russia, pro?bem o alcool entre as suas gentes, sacrificando para isso os melhores rendimentos do tesouro p?blico, n?o concebe que s? isso seja informa??o suficiente de que interesses morais est?o em jogo no que aparentemente os incautos tomar?o ap?nas pela guerra das ambi??es dos reis e das castas pol?ticas e militares. Nem por sombras imaginar? que estas lutas de vida ou de morte s?o as convuls?es de uma civiliza??o enferma de inanidade religiosa e de g?so, cansada do peso da cultura absurda das materialidades, ca?da em um desespero febril de liberta??o dos germens m?rbidos que lhe invadiram o sangue e lhe converteram a vida em tormento.

Se me quizerem contraditar, dir-me h?o que a religi?o, e muito em especial o cristianismo, tem na Alemanha os seus historiadores mais profundos e os estudiosos mais penetrantes. N?o pouco ter?o ?les concorrido para manter acesos, ao abrigo dos vendavais da filosofia racionalista, os fachos do mais sublimado idealismo.

O que ? incontest?vel, reconhe?a-se. Simplesmente conv?m advertir e ponderar que a <> religiosa alem?, ali?s assombrosa, ? uma cousa, e a <> religiosa inglesa e o <> russo s?o outra cousa; e o que nas margens do Reno ? um valor intelectual, conclus?o de silogismos, demonstra??o de textos e arquivos, elemento de compreens?o do mundo e dos homens, ? fora dali, em terras suas inimigas, um valor moral, fundamento e motivo de proceder nas rela??es individuais e sociais. De modo que o que algures se tornou objecto de curiosidade, sem duvida salutar e ben?fica, que se cultiva de mistura com todas as outras culturas, ? em paragens pr?ximas uma f?r?a t?o misteriosa como soberanamente poderosa, obedecida superiormente a todas as outras f?r?as a que o homem est? sujeito. E ai estar? a raz?o pela qual a Alemanha, sendo pa?s de muita religi?o e teologia escol?stica, pr?ticamente pouca religi?o encontrou, e essa muito acanhada e escassa, f?rtil em disciplina e activa em pol?tica, mas t?o pobre de f? que autorizou e reclamou, em proclama??o dos seus sacerdotes mais graduados, a vingan?a a que a ?ustria devia sujeitar a S?rvia porque um principe f?ra assassinado.

Um nosso prelado que conhece o sert?o africano e a? tem exercido a sua miss?o sacerdotal com uma dedica??o exemplar, contava-me h? pouco que o negro prefere o dom?nio portugu?s ao dom?nio alem?o, porque, no l?cido instinto que o n?o engana, considera que, quando o preto tem culpa, ajoelha, p?e as m?os, e o branco, se ? portugu?s, perd?a, e, se ? alem?o, castiga sem d? nem piedade, como se perd?o n?o lhe houvesse implorado.

Isto compreendeu o negro e n?o o compreendeu o alem?o no aviltamento moral da sua maravilhosa cultura, em que a miseric?rdia n?o teve lugar; e por isso ? bem de cr?r que o negro compreenderia o que o alem?o n?o alcan?a, quando lhe dissessem que a guerra que se espalhou no mundo e o inunda de sangue e de d?r, ? a guerra entre os que perdoam, quando os delinq?entes ajoelham, e os que n?o sabem perdoar, nem mesmo em face da mais submissa humildade e contri??o.

Alguma cousa nos diz que n?o est?o em ?rro aqueles que anunciam como fruto desta guerra tremenda uma renova??o de todo o nosso modo de ser social. Ousarei at? acrescentar que essas conseq??ncias ?ltimas da guerra, mais do que esbo?adas, acentuando-se j? clarissimamente em pontos ess?nciais, s?o certas e inevit?veis, independentemente da vit?ria das armas. Desde a li??o formid?vel da queda do imp?rio romano, abdicando das suas velhas f?r?as morais, das que considerava fundamentos da sua aust?ra e cruel grandeza, e entregando as rendidas a um poder mais alto, ? inspira??o crist?, desde ent?o nunca mais o materialismo, culto ou inculto, e o idealismo, ing?nuo ou refletido, se encontraram em conflito sem que, tarde ou cedo, o idealismo, erguendo-se de todas as derrotas, n?o acabasse por arrastar os homens e os conduzir ? alegria e ? felicidade em reinos superiores ? sordid?z do mundo, mesmo quando essa sordid?z f?sse abundantemente doirada e inteligentemente regrada. Desde que esta alma acorde, confundir?, por f?r?a ou por arte, pela irresistibilidade que ? a sua ess?ncia, aquela outra alma de baixa servid?o terrena que lhe repugna.

Anunciam os augures pol?ticos que esta guerra traz comsigo a liberta??o das pequenas nacionalidades. Mas, entrevendo em semelhante empreza mais do que uma conquista de meras liberdades pol?ticas e de independ?ncia dos povos, recordando a dissolu??o do imp?rio romano, seguida da fragmenta??o medieval, e aproximando-a da revolu??o iminente dos imp?rios modernos nas suas tend?ncias descentralisadoras, j? amplamente e brilhantemente exemplificadas na Inglaterra, n?o estar? muito afastado da realidade quem supozer a pol?tica levada neste pendor pelo surdo impulso de f?r?as morais e religiosas, pela press?o das exig?ncias da mentalidade caracter?stica da nossa era. ? liberdade do pensamento, emancipada de toda a esp?cie de dogmatismo, exaltada e avigorada pelo estudo, pela experi?ncia e pela reflex?o, corresponde a pulveriza??o das cren?as e das aspira??es, a infinita variedade do modo de ser intelectual, moral, religioso e est?tico do nosso tempo, demandando com a legitimidade da revis?o e contesta??o de toda a f? a legitimidade e direitos de toler?ncia de todo o esp?rito nas suas manifesta??es especulativas e concretas. Dentro de grandes linhas psicol?gicas fundamentais, a diversidade ? extrema e reclama liberdades correlativas, a assegurar-lhe a expans?o. Quando, por exemplo, e o mais vulgar, uns pedem <> e outros exigem <>, podemos estar certos de que de cada lado n?o se apuram algumas centenas de homens que vejam Deus no mesmo altar, que amem na p?tria as mesmas fei??es, que d?em ao rei o mesmo trono, que encerrem a liberdade nos mesmos limites, repartam pela mesma medida a igualdade e sintam pelo mesmo cora??o a fraternidade. Ora ? desagrega??o do pensamento tem de corresponder, naturalmente, a pulverisa??o dos poderes pol?ticos que n?o podem subsistir na antiga integridade e extens?o sem a unidade de tend?ncias mentais, constantemente contrariados, minados e tra?dos por obscuras mas indom?veis rebeldias. Se v?mos um estupendo imp?rio, como o da Gr?-Bretanha, englobando sob a mesma bandeira, irm?mente querida e amada, as ra?as mais diversas e as mais diversas aspira??es, ? porque para ?sse milagre pol?tico, sem precedente na hist?ria, se criou um povo em cujo g?nio, por uma arte que ? maravilha de espont?nea perfei??o, se conciliam praticamente as maiores e desusadas liberdades com a coincid?ncia em uma unidade, para a qual provavelmente s? se encontrar? justifica??o na comunidade de amor ? pr?pria liberdade e no prop?sito ?ntimo de a manter e defender.

Sendo, por?m, excepcional este modo de ser e sendo ao mesmo tempo evidente que n?o conseguiu ?le at? hoje reproduzir-se, particularmente no continente da Europa, onde ? extrema desagrega??o do pensamento, de todo carecido de unidade, se junta a extrema opress?o dos imp?rios, de todo avessos a suportarem independ?ncias, o conflito tem de seguir seus tr?mites para abolir uma unidade for?ada que a unidade psicol?gica n?o autoriza; e para satisfazer a diversidade pela liberdade h? de encontrar as solu??es convenientes. Os ingleses n?o exageram, quando dizem que combatem tanto pela Inglaterra como pela Alemanha. De facto, preparam a vit?ria de princ?pios, por cujo triunfo anseiam todos os povos chegados ? idade da raz?o.

O que ?sses povos v?o fazer d?ssa liberdade, at? onde a levam, para que a querem e em que a aplicar?o, o que ela vai demolir e o que ela vai construir, n?o ? f?cil prev?-lo, como n?o ? f?cil prever que destino as esta??es reservam ? planta que hoje nasce bafejada do sol e ?manh? se verga e esmorece a?oitada do temporal. Mas d?sde j? se torna manifesto que estamos em v?speras de uma profunda reac??o, pois que por efeitos de reac??o cheg?mos ? convuls?o presente. Desde j? se adivinha que a nega??o da cultura alem?, e negada est? seja qual f?r a sorte das armas, sendo ela a cultura e a ambi??o meditada e tenaz de toda a especie de materialidades, implica um largo desprendimento de infinitas materialidades com que agora sobrecarregamos e afligimos a vida. O dr. Inge, pr?gando h? pouco em Londres, na abadia de Westminster, e discorrendo sobre as conseq??ncias da guerra, definiu o que entre os pensadores come?a a distinguir-se nitidamente, dizendo: <>. As nossas perdas seriam ganhos.>>

Mesmo entre n?s, alguma coisa se passar? de conseq??ncias talvez larguissimas, e porventura altamente ben?ficas, apezar da crise dolorosa a que nos sujeitam.

? sabido que os rendimentos das alf?ndegas chegaram a baixar em propor??es assustadoras. Significa isso a priva??o de muita coisa que sempre nos ser? indispens?vel e que por qualquer modo teremos de criar ou substituir, e significa tamb?m a absten??o de muita outra coisa que sempre nos foi sup?rflua, s? por v?cio se divulgou e ? urgente suprimir. Se esta situa??o persistir, a que modifica??es obrigar? a economia do pais e respectivamente a economia de cada um? Acontecer? que por urg?ncia das press?es econ?micas cheguemos a um nacionalismo e a uma simplicidade aos quais nenhum incentivo moral p?de levar-nos, e em favor dos quais se esfalfaram em v?o a arte mais s?, o mais bem inspirado patriotismo e mais modesto bom senso?

Evidentemente, a alma dos povos n?o se vence e aniquila e transmuda com aquela prontid?o que os canh?es mostram ceifando os ex?rcitos e arrazando as cidades. N?o consente muta??es instant?neas.

?manh?, finda a guerra, os povos que nela combateram e os estranhos que comovidamente foram testemunhas das suas vicissitudes, continuar?o no seu trabalho, nas suas paix?es, nos seus v?cios e nas suas virtudes, como se lhes permanecesse intacto e sem altera??o o car?cter. Mas novos ?stros se ergueram, brilham e lentamente iluminar?o e penetrar?o o mundo com a sua luz, e nele criar?o inumer?veis vidas novas. O materialismo com todas as suas edifica??es e fortalezas afunda-se no occaso, e o idealismo, renascido das profundezas onde jazia sepultado, mas n?o morto, surge glorioso a revestir a terra desolada.

Ganhos e perdas

Os factos da consci?ncia n?o esperam os feitos das armas para reconhecerem e declararem as suas vit?rias e derrotas. Pondo em pouco as conseq??ncias militares e pol?ticas da guerra, desenhe-se como houver de se desenhar a divis?o da terra, reparta-se como houver de se repartir a distribui??o da f?r?a e dos canh?es, muito antes disso e independentemente dos seus destinos e designios j? as aspira??es e cren?as dos homens definiram e anunciaram tend?ncias e prop?sitos que da guerra nasceram ou na guerra encontraram terreno prop?cio, j? marcaram no seu rol vencedores e vencidos, j? proclam?ram suas determina??es inflexiveis.

N?o s?o poucos, e s?bre tudo n?o s?o pequenos, os vencidos da conflagra??o tremenda em que o mundo se agita.

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