Read Ebook: Judas: Romance lirico em quatro jornadas by Lacerda Augusto De
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Ebook has 1447 lines and 40239 words, and 29 pages
Prendendo o Mestre?
GAMALIEL
Sim! Raz?es tem para tudo O seu pensar feroz, ind?mito e ag?do! Amor divino? Qual! Apenas o receio De perder o logar no execravel meio: D'um lado, a ambi??o, por mais que abuse e coma, E d'outro o servilismo ?s leis que vem de Roma!
N'um brusco movimento deixou transparecer todo o rancor que o domina e que se expande, emfim, n'uma invoca??o:
A Virgem de Si?o suspira ha muito j?!... --? terra de Jacob! Heroes de Josaphat! Que ? feito do vigor da tua fala, Isa?as? E das lamenta??es sinceras, Jerem?as? Profeta Ezequiel, a tua voz potente J?mais ribombar? por todo o Oriente, Fazendo estremecer o despota cezareo, Como o gl?dio de Deus, terrivel, incendiario, Que na vasta amplid?o a olhar o mundo ass?ma, Que sepultou Gomorrha e destruiu Sod?ma?!
ELEAZAR, com o olhar vago:
Vergonha! opprobrio!...
GAMALIEL, que enxug?ra ? manga da tunica uma santa lagrima de enthusiasmo civico:
E ri amargamente n'uma cascalhada ironica de velho rabbino, apertando, convulso, o cajado na m?o ossuda onde as veias resaltam.
ELEAZAR, suggestionado pelas palavras do velho:
N?o! n?o! Resurgir?s, eleita do Senhor, D'esta funda apath?a e d'este grande horror! Jud?a, ser?s livre! Elias n?o morreu, Porque revive n'um que tem o verbo seu, E elle ha de trazer a guerra e o exterminio! Se ? branco o seu vestido, ai! pode ser sanguineo!... Abater?s o orgulho, o despotismo, a infamia! O povo quer vingan?a atroz: pois bem, derrame-a Sem minimo temor da colera dos ceus!
GAMALIEL, n'um clar?o de esperan?a:
MARIA, que tinha sa?do de casa e que ouviu as ultimas palavras:
Alta, morena, olhos negros, de languidez oriental. Negras devem ser tambem as suas tran?as occultas a olhares mundanaes. As roupagens escuras, que lhe descem at? aos p?s, c?em suavemente em pr?gas regulares e castas como as de Suzanna. O seu olhar ? sempre vago e tranquillo; os seus gestos sempre em accordo com as serenas emo??es da alma.
? bello o teu falar, mas como de cegueira Pelo amor patrio est?s vencido! De maneira Que apenas bastaria um pulso valoroso Para despeda?ar o monstro ambicioso De fausto e de poder que se revolve al?m, N'aquella babylonia? Ent?o, Jerusalem, Movida por um bra?o, embora resoluto, Poderia colher o ambicionado fructo Da plena liberdade em meio da revolta? --Vae longe, muito longe, o tempo... que n?o volta! A Jud?a pref?re a honra em mil peda?os, Cheia de timidez, crusando inerme os bra?os, Inhabil para a lucta e com horror ? morte... A tribu de Levy, aquella cujo porte, Sendo mais senhoril e nobre, inspiraria Coragem ao vencido e alguma simpathia Ao vencedor, que faz? Conspira contra o povo. --Onde encontraste, irm?o, o excitante novo, Que possa dar alento a quem succumbe exangue, Que os nervos fortale?a e retemp?re o sangue?
GAMALIEL
Ha sempre em casos taes...
ELEAZAR a for?a d'um athleta!
MARIA
Tem muito mais poder o verbo d'um profeta! Ha de ser elle, sim! pr?gando a perfei??o Das coisas divinaes a toda a multid?o, Que se contorce afflicta em negro paroxismo, Descrente de Moys?s, propensa ao paganismo. Nem ferro, nem madeiro: apenas a palavra, Que ao entranhar-se em n?s suavemente lavra, Pesada, como o arado ? terra bemfasejo, Subtil, como o poisar castissimo d'um beijo!
GAMALIEL
E quem te diz que n?o? Eu julgo indifferente Que tenhamos no Mestre aquelle descendente Do nome de David ao mundo promettido Pelo Senhor. Amal-o ? todo o meu sentido. Porque bem vejo a for?a enorme, o poder?o Que exerce na cidade. ? mais que prestad?o ? Patria um homem tal!
ELEAZAR
A sua m?o convulsa, Brandindo um azorrague, os vendilh?es expulsa Para longe do sitio ?s preces consagrado...
MARIA
E o seu falar murm?ra ?s vezes t?o magoado!... --Regen?ra a mulher atreita ?s bacchanaes E que mercadejava as gra?as corporaes; Ascende at? o amor aos pobres, ?s crean?as, Aos tristes e aos n?s, e d? mil esperan?as N'um reino que elle sabe e que ninguem conhece...
ELEAZAR
Quando, porem, troveja irado, mais parece Que vibra no seu peito a propria voz de Deus!
MARIA Oh! sim! que ? de temer o divinal prestigio!...
ELEAZAR
Que deixa em seu caminho um profundo vestigio...
GAMALIEL, ao ouvido de Eleazar, aproveitando o ensejo dado por Maria, que foi sentar-se junto da fonte:
Mas o povo nem sempre acceita um bom aviso, E Deus pode morrer... quando f?r mais preciso.
ELEAZAR, com o intuito de afastar o negro pensamento, que a todos trez opprime no intimo:
O Mestre n?o vir?. Alegra-me a certeza De que foge ao Conselho a ambicionada preza. Come?a em breve a Paschoa, e entre os forasteiros Ainda n?o chegou nem um dos companheiros Do Mestre.
GAMALIEL
Vae o Sol no termo da viagem: Torno para a cidade.
E novamente em segredo:
Eleazar, coragem! No teu silencio tens a minha vida e a tua.
ELEAZAR, abeirando-se muito a elle, supplicante:
Se te constar, porem, que o plano contin?a E mais se desenvolve...
GAMALIEL Hei de dizer-te, amigo.
ELEAZAR, sa?dando-o:
Que n?o te fuja Deus!
GAMALIEL, sa?dando-o:
Fique o Senhor comtigo!
Sa?da tambem Maria, e, retomando o caminho da cidade, vae-se ao longo da estrada, um pouco alquebrado, cadenciando os passos pelo bater do bord?o no solo poeirento.
ELEAZAR sentou-se no tronco d'arvore, pensando; e, como respondendo aos proprios pensamentos:
Ninguem pode roubal-o ? proxima agon?a. Morrer? na cidade. A horrivel profecia Aponta-lhe, cruel, a inevitavel a sorte... Ha muito que de longe anda a espreital-o a morte!
Martha e Sim?o de Bethania sa?ram de casa. Ella ? uma rapariguita de desoito annos, irrequieta, buli?osa, muito infantil; elle, um velho cujo cabello e barba ha muito branquearam; nas m?os o trabalho da lavoura poz-lhe grossos callos e deformou-lhe os dedos; e no rosto a l?pra deixou-lhe vestigios indeleveis em manchas avermelhadas.
MARTHA
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