Read Ebook: Memorias sobre a influencia dos descobrimentos portuguezes no conhecimento das plantas I. - Memoria sobre a Malagueta by Ficalho Francisco Manuel De Melo Conde De
Font size:
Background color:
Text color:
Add to tbrJar First Page Next Page
Ebook has 102 lines and 25637 words, and 3 pages
MEMORIAS
SOBRE A INFLUENCIA DOS DESCOBRIMENTOS DOS PORTUGUEZES
CONHECIMENTO DAS PLANTAS
MEMORIAS
SOBRE A INFLUENCIA DOS DESCOBRIMENTOS DOS PORTUGUEZES
CONHECIMENTO DAS PLANTAS
APRESENTADA
? ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS DE LISBOA
PELO
CONDE DE FICALHO
SOCIO CORRESPONDENTE DA MESMA ACADEMIA LENTE DE BOTANICA NA ESCOLA POLITTECHNICA ETC. ETC. ETC.
LISBOA TYPOGRAPHIA DA ACADEMIA
INTRODUC??O
Limitando-nos rigorosamente ao nosso assumpto, ? licito affirmar, que em ?poca alguma se accrescentaram tantas e t?o variadas f?rmas vegetaes ao peculio das j? conhecidas. A vegeta??o inteiramente nova das terras de Santa Cruz, ou da Africa meridional, e as ricas floras da India, do archipelago malayo e da China, antes apenas entrevistas e agora observadas de perto, enriqueceram, por modo sem egual em t?o curto periodo, o conhecimento do mundo vegetal.
? certo, que as plantas se n?o estudaram ent?o systematicamente, e muitos annos decorreram, antes que as f?rmas vegetaes se grupassem com methodo, e se descrevessem com rigor. Todavia, grande numero de ricos e uteis productos vegetaes attrairam desde logo as atten??es, e encontramos dispersas nas obras dos navegadores e escriptores portuguezes e hespanhoes, muitas noticias curiosas, e muitas informa??es exactas, sobre a sua naturesa e a sua origem. Basta citar, entre muitos outros, Duarte Barbosa, Thom? Pires, Garcia da Orta, Christov?o da Costa, Oviedo, e Nicolau Monardes para provar com quanto interesse, e em muitos casos, com que espirito do rigor scientifico se observam as plantas ent?o descobertas.
Estudar sob este ponto de vista a historia dos nossos descobrimentos, e do nosso dominio nas terras da Africa, da Asia e da America, buscando nos documentos contemporaneos as provas do conhecimento que os portuguezes tiveram dos vegetaes, e esclarecendo ? luz da moderna sciencia alguns pontos duvidosos ou obscuros das suas narra??es, seria sem duvida muito interessante e util. Ao interesse, que se liga ? elucida??o de mais uma consequencia d'aquelle grande facto historico reune-se uma verdadeira utilidade scientifica, porque as sciencias naturaes n?o vivem s? do presente, n?o se desenvolvem unicamente pelas recentes observa??es, e pelas descrip??es de novas especies, mas vivem tambem do passado, e adquirem vigor e auctoridade, quando os periodos do seu aperfei?oamento se prendem ?s successivas phases da evolu??o do espirito humano.
Considerado este estudo de um modo geral, daria logar a um trabalho em extremo difficil e longo, pois s? teria valor quando apoiado em provas, que demandam investiga??es. ?, por?m, possivel reunir pouco a pouco materiaes para esse trabalho de maior vulto, em noticias especiaes sobre plantas, regi?es, ou ?pocas particulares. Eis o que tentei n'esta memoria em rela??o a uma planta, que teve uma ?poca de celebridade.
Do conhecimento que houve da malagueta antes e durante as viagens dos portuguezes
? para notar, que os nossos escriptores n?o fallam da malagueta, como de coisa nova e ent?o descoberta, mas sim como de especiaria bem conhecida, e de feito sabemos o era, a qual, por ser preciosa, os navegadores folgavam de encontrar. ? um sentimento analogo, ao que, alguns annos depois, deviam experimentar chegando ?s terras da pimenta e do cravo.
Ainda devemos citar uma passagem da historia ou rela??o da viagem de um piloto portuguez ? ilha de S. Thom?. N?o era homem vulgar este piloto, antes parece ter sido muito lido e erudito. Estando em Veneza travou amisade com o bem conhecido Jeronymo Fracastor, e com o conde Romualdo de la Torre, e occupou-se em estudar e interpretar o periplo de Hannon. O conhecimento, que j? ent?o tinha da costa da Africa occidental aonde f?ra varias vezes, habilitava-o a lan?ar alguma luz na obscura rela??o, que nos ficou, da t?o discutida e celebrada viagem dos carthaginezes. E certo que Ramusio se serviu muito, na sua interpreta??o do periplo, das observa??es e esclarecimentos fornecidos pelo portuguez. De volta a Villa do Conde, d'onde era natural, escreveu o anonymo piloto a rela??o de uma das suas viagens ? ilha de S. Thom?, rela??o que enviou ao Conde de la Torre, e que, vertida em italiano, foi publicada por J. B. Ramusio. Deprehende-se das datas citadas ter a viagem tido logar pelos annos de 1551 ou 1552.
Da origem da palavra malagueta
Resta examinar a origem africana, a qual se p?de encontrar nos numerosos e variados dialectos usados pelas popula??es negras da regi?o aonde a planta se cria, ou ainda nas linguas dos povos que com ellas negoceiavam. Dois povos de ra?a diversa se empregaram no activo commercio feito por um lado com os europeus, e por outro com as popula??es de ra?a negra; commercio de que os nossos escriptores tiveram, como vimos, noticia, e de que Le?o Africano d? rela??o com a clareza e intimo conhecimento de quem n'elle tomou parte. Foram esses povos os arabes e os berberes: estes, os numidas ou libyanos dos antigos, fallam uma lingua bem distincta do arabe, e que nem mesmo se p?de filiar no grupo semitico, mas sim em um grupo um pouco vago, de que o coptico parece ser o typo, para o qual se propoz o nome de <
? pois no arabe, no berb?r, ou nas linguas do Sudan e da costa occidental que se deve procurar a origem da palavra, se porventura ? africana.
Das plantas que produzem a malagueta, e da sua distribui??o geographica
Como mais de uma vez tenho observado, existe uma tendencia geral a applicar o mesmo nome a productos distinctos, mas semelhantes ou de propriedades analogas, e que se confundem ou substituem mutuamente no commercio. Por outro lado nas diversas regi?es e ?pocas se tem dado nomes differentes ? mesma substancia. D'aqui resulta uma certa confus?o de nomes vulgares, da qual p?de provir obscuridade, e que exige algumas palavras de explica??o.
De todos estes trabalhos resulta, que houve numerosos enganos e trocas na descrip??o e identifica??o das diversas especies, devidos por um lado ? difficuldade de as distinguir, e por outro a imperfeita explora??o da regi?o que habitam. Ainda hoje n?o concordam absolutamente os diversos auctores, Hanbury, o dr. Hooker e o dr. Daniell sobre a sua limita??o, e o valor de algumas f?rmas, que uns julgam especies e outros simples variedades. N?o entra no plano d'este trabalho a descrip??o minuciosa das especies, nem a discuss?o da sua synonymia muito complicada e das divergencias em alguns pontos secundarios, que ainda podem existir entre uns e outros botanicos, e se encontram expostas nas obras citadas.
A explora??o botanica da Africa intertropical est? demasiado imperfeita, para que se possa fixar com rigor, ou mesmo com uma tal ou qual seguran?a, a demarca??o das areas habitadas pelas differentes especies vegetaes. Os limites, que vamos indicar, devem pois tomar-se apenas como uma grosseira aproxima??o, sujeita a muitas correc??es.
Pelo lado do norte a malagueta come?a a encontrar-se desde o cabo Verde, ou talvez mesmo desde o Senegal. Parece por?m ser bastante rara na regi?o proxima ao mar, que corre da foz d'este rio ? do Gambia. A que por ahi se vende ? trazida do interior pelos mandingas, e prov?m do alto Senegal, alto Gambia, e das terras de Bambar?. Podemos pois fixar como limite norte, aproximadamente, o parallelo de 15? latitude norte.
Caminhando para o sul encontra-se na Guin? portugueza por?m em pequena quantidade. ? mais frequente a partir do rio de Nuno Trist?o, e muito abundante desde a Serra Le?a at? ao cabo das Palmas. Predomina sempre nos terrenos baixos, humidos e fundos aonde chega a invadir as culturas sendo difficil de destruir. Do cabo das Palmas para este abunda em toda a zona da costa da Mina, costa de Benin, e delta do Niger at? ao rio dos Camar?es, encontrando-se tambem na ilha de Fern?o do P?. Existe egualmente no Gab?o, e em geral em toda a costa que corre norte sul do rio dos Camar?es at? ao Zaire. Come?a por?m a ser mais rara, ou pelo menos a n?o dar logar a t?o activo commercio. Estende-se a habita??o da planta al?m do Zaire. Temos n'esta parte uma informa??o importante, dada pelo dr. Welwitsch, o qual nas suas explora??es botanicas, n?o encontrou a planta espontanea, mas foi informado de que existe nas florestas do interior do Congo. Comparando esta informa??o com o itinerario seguido por Welwitsch, p?de fixar-se como limite aproximado sul o parallelo de 7? latitude sul. V?-se pois que a planta se encontra localisada em uma regi?o bastante vasta, que se estende ao norte e ao sul do equador, dilatando-se mais para o norte.
Do commercio da malagueta, e da parte da costa a que se deu este nome
Hoje, que algumas especiarias tem ca?do em completo desuso e abandono, e outras se encontram t?o vulgares e correntes no commercio, surprehende-nos a singular estima, em que foram tidas nos tempos antigos, durante toda a edade m?dia, e ainda no primeiro periodo do renascimento. ? certo, por?m, que as difficeis, e muitas vezes interrompidas rela??es com o extremo Oriente, e as longas e demoradas viagens pela Persia, ou pelo Mar Vermelho, tornaram estes productos vegetaes raros e custosos, e por isso mesmo procurados como objecto de luxo excepcional. As duvidas sobre a sua patria, o mysterio que envolvia a sua origem, e fazia considerar alguns como provenientes do parayso terrestre, ainda mais contribuiram para que se encarecessem as suas excellencias como medicamentos, e como adubos. Quantidades pequenas d'estas substancias, e que hoje teriamos por insignificantes, se offereciam como valiosos presentes a papas e imperadores, ou se enumeravam cuidadosamente entre as riquezas accumuladas em seus thesouros.
O desejo de chegar ?s terras aonde cresciam t?o ricos e estimados productos, e de, pela communica??o directa, arrancar das m?os dos venezianos o monopolio do trato commercial com o Oriente, foi sem duvida uma das causas principaes, que incitaram portuguezes e hespanhoes nas suas navega??es.
? impossivel desconhecer, que outros motivos mais elevados e desinteressados actuaram no animo dos nossos antepassados. As vivas cren?as religiosas, e o empenho de dilatar a verdadeira f? entre as popula??es pagans ou mahometanas, o intuito de alargar o dominio das quinas, accrescentando novas glorias, a tantas que j? as rodeavam, e ainda o puro interesse scientifico de resolver alguns problemas geographicos, influiram por certo nos portuguezes para os lan?ar em empresas heroicas, nas quaes nunca regatearam o sangue, nem a vida. Todavia, devemos confessar, que a estes motivos mais puros accresceram depois a sede do lucro, a rivalidade com as opulentas cidades de Italia, e a attrac??o irresistivel exercida pelas riquezas do Oriente, a terra das pedras preciosas, do ouro e das especiarias.
Que esta droga ou especiaria fosse conhecida dos portuguezes antes de descobrirem as terras d'onde ? natural, parece-me f?ra de toda a duvida. O contacto que tiveram com os italianos, a presen?a nas esquadras portuguezas de genovezes e de Venezianos, versados na navega??o e commercio do Mediterraneo, levam-nos a crer que os nossos andassem bem informados do valor e natureza dos principaes objectos de trafico com o Oriente e com a Africa. O modo porque alguns dos primeiros navegadores, como por exemplo Diogo Gomes, se referem ?quella substancia confirma inteiramente esta opini?o.
Algumas passagens das narra??es dos nossos primeiros navegadores, vem tambem em apoio d'esta opini?o. Diz Diogo Gomes, enumerando os objectos que os negros trouxeram de terra estando as suas caravellas em frente do rio Grande <
Foram egualmente os portuguezes, os primeiros a darem a uma parte do littoral africano o nome, que ainda conserva, de costa da Malagueta. Vamos demonstrar pelo exame de alguns documentos importantes, que este nome se applicava ? mesma extens?o de costa, hoje assim designada, e que os limites pouco ou nada tem variado.
Como vimos, a primeira malagueta encontrou-se na regi?o do Gambia, e nas terras da Guin? portugueza, que foram descobertas em 1446 por Nuno Tristam na viagem em que pereceu, e visitadas no mesmo anno e nos seguintes por Alvaro Fernandes, Diogo Gomes. Alguns annos depois, no de 1460, Pedro de Cintra avan?ou muito nos descobrimentos, correndo toda a costa africana at? ? Serra Le?a, a qual j? f?ra reconhecida por Alvaro Fernandes, mas ao que parece imperfeitamente, e avan?ando para o meio dia at? ao cabo Mesurado e ao arvoredo de Santa Maria. Dos annos seguintes temos escassas noticias; ? certo, por?m, que pouco ou nada se adiantou, e que mesmo a ultima parte da viagem de Pedro de Cintra era mal conhecida, pois se encontra, no contracto celebrado com Fern?o Gomes no de 1469, marcada a Serra Le?a como o termo dos anteriores descobrimentos, feitos pelo mencionado Pedro de Cintra e por Sueiro da Costa. Em janeiro de 1471 descobriram Jo?o de Santarem e Pedro de Escobar o resgate do ouro, j? no golfo de Guin? sendo, ao que parece, os primeiros que correram a costa depois chamada da Malagueta. Podemos por tanto fixar o descobrimento d'aquella costa entre o anno de 1460, em que as nossas caravellas passaram al?m da Serra Le?a, e o de 1471, em que penetraram no golfo de Guin?, dobrando o cabo das Palmas.
O nome de Guin?, applicado primeiro de um modo vago a todo o occidente de Africa, veiu depois a dar-se mais especialmente ? terra dos negros, aos quaes os primeiros historiadores das nossas conquistas, como por exemplo Azurara, chamam muitas vezes guin?os. O rio Senegal determinava rigorosamente o limite septentrional da Guin?, pois que as differen?as de vegeta??o e de clima, e a passagem dos berb?res ou mouros da margem direita aos negros Jallofs da margem esquerda estabeleciam ahi uma transi??o rapida, que n?o escapou ? observa??o dos nossos. Dava-se por tanto o nome de costa de Guin?, ? que corria para o meio-dia do Senegal, e ?s vezes o de costa de Anterote, ? que ficava ao norte entre o cabo Branco e a foz do dito rio. O limite meridional da Guin?, n?o era bem definido, e parece ter-se designado com aquelle nome toda a Senegambia, assim como toda a regi?o, que hoje o conserva mais especialmente e limita pelo norte o golfo de Guin?. ? certo, por?m, que as diversas partes da costa come?aram desde logo a receber nomes especiaes, derivados geralmente das principaes mercadorias que ahi affluiam. Assim como parte da costa do golfo de Guin?, que corre para oriente do cabo das Palmas, se chamou costa do Resgate do ouro ou da Mina, a que fica aquem d'aquelle cabo teve o nome da costa da Malagueta.
Encontra-se uma primeira men??o d'este nome nos escriptos de Christov?o Colombo, o qual antes de emprehender a celebre viagem, em que descobriu o novo mundo, tinha navegado varias vezes para Guin? em companhia dos portuguezes. Na rela??o da sua primeira expedi??o ? America, diz por incidente ter visto, tempo antes, algumas sereias na costa da Malagueta. Com quanto n?o sejam conhecidas, com rigor, as datas das suas viagens a Africa, podera-se fixar com bastante aproxima??o. De feito Colombo affirma, no seu tratado das zonas habitaveis, que esteve no Castello da Mina do rei de Portugal. Como a fortaleza de S. Jorge da Mina foi mandada edificar no anno de 1481, e terminada no seguinte de 1482, e como no de 1484, sa?u Colombo para Hespanha a offerecer os seus servi?os aos reis de Castella, segue-se que uma das suas viagens teve logar entre estas datas, e que as outras foram provavelmente anteriores, pois decerto n?o voltou a Guin?, depois de passar a Hespanha. V?-se, por tanto, que j? n'essa ?poca os portuguezes, com quem Colombo navegou, empregavam a designa??o de costa da Malagueta.
Sobre o pre?o da droga, e sua varia??o nos d? Duarte Pacheco preciosas informa??es. Fallando da Ilha da Palma, e do commercio de escravos, que tres leguas adiante se podia fazer, diz assim: <
N?o tardaram os inglezes em seguir o mesmo caminho. Thomaz Windham em 1551, Jo?o Lok em 1554, Towrson por varias vezes nos annos seguintes, e pouco depois Butter, Fenner e Baker correram a costa de Malagueta, e negociaram nos seus portos. ? de notar, como prova de quanto, ainda ent?o, aquellas paragens eram pouco conhecidas dos outros povos da Europa, que tanto os francezes como os inglezes procuravam o auxilio de portuguezes, que os guiassem nas suas primeiras viagens. A bordo do navio saido da Rochella no anno de 1531 ia como piloto o portuguez Jo?o Affonso, e em companhia de Windham foram Antonio Annes Penteado, que ent?o andava refugiado em Inglaterra, e outro portuguez chamado Francisco.
No entanto ia-nos escapando pouco a pouco das m?os, pela marcha natural dos acontecimentos, e mau grado os esfor?os da nossa diplomacia, um monopolio, que na verdade era difficil de conservar, perante os progressos realisados pelas outras na??es maritimas da Europa. De feito ? de crer, que as prohibi??es emanadas dos governos, com os quaes estavamos em rela??es amigaveis, se n?o tornassem effectivas com grande rigor, pois eram mais destinadas a dar satisfa??o apparente ?s nossas reclama??es, que a tolher o desenvolvimento da navega??o e commercio, por certo agradavel a esses governos.
N?o vem para aqui a historia da decadencia do nosso poder maritimo. Quando Portugal, conquistada de novo a independencia, fez um esfor?o supremo para restabelecer o seu dominio sobre algumas colonias quasi perdidas, e para recuperar outras que totalmente lhe haviam escapado, nao p?de voltar ao estado de antiga supremacia. N?o s? tinha perdido o exclusivo da navega??o e commercio nos mares de Guin? e do Oriente, j? antes mais nominal que real, n?o s? estava em presen?a de uma concorrencia absolutamente livre, mas achava-se em estado de evidente inferioridade, relativamente a outras na??es. No que toca ? costa occidental do continente africano, apenas conserva o dominio da Guin? portugueza e da vasta provincia de Angola. Nas regi?es mais proximas ao equador, onde mais activamente se fazia o commercio da malagueta, s? ficou possuindo o insignificante forte ou feitoria de S. Jo?o Baptista de Ajud?. As outras possess?es portuguezas passaram para as m?os dos hollandezes e dos inglezes, que tomaram desde ent?o a parte mais activa no commercio d'aquellas regi?es. ? certo, que alguns navios portuguezes continuaram at? a ?poca presente, a concorrer com os das outras na??es aos portos da costa da Malagueta e do golfo de Guin?; mas este commercio feito em pequena escala, e perdendo a fei??o exclusivamente portugueza deixa de nos interessar n'este estudo.
Ao passo que o commercio da malagueta perde a sua importancia relativamente a Portugal, perde-a egualmente de um modo absoluto. A droga, outr'ora t?o conhecida, foi pouco a pouco caindo em desuso; j? porque as suas propriedades medicinaes ou aromaticas haviam sido exageradas, e se foram reduzindo ao seu verdadeiro valor; j? porque a crescente facilidade de communica??es fez affluir aos centros de consumo outras substancias vegetaes das diversas partes do globo, de eguaes ou superiores qualidades. Entre os negros continuou, e continua ainda, a ser usada como medicina e condimento estimulante. Ainda no seculo passado e principio do corrente a predilec??o dos negros por aquelle adubo dava alguma actividade ao commercio da malagueta, pois que se vendia facilmente na America aonde estava accumulada uma grande popula??o de escravos. ? o que succedia, por exemplo, na provincia da Bahia, principalmente abastecida de escravos pela regi?o de Benin e circumvisinhas, habituados ? comida feita com azeite de palma e adubada com as substancias vegetaes aromaticas da sua terra natal. Hoje por?m, que o trafico da escravatura est? mui limitado, este consumo deve ter diminuido, se n?o cessado inteiramente. Entre os povos civilisados o emprego da malagueta ? modernamente pouco consideravel. No entanto dos portos das costas da Malagueta, do Marfim e do Ouro, ainda se embarca alguma para Inglaterra, Fran?a, Hollanda, Estados Unidos e outros destinos. ? empregada na prepara??o de medicamentos para os animaes, raras vezes usada como condimento, servindo principalmente para dar um gosto forte a alguns cordeaes.
Como se v? tem decaido muito da sua antiga nomeada a celebrada droga da edade m?dia: t?o celebrada, que as suas suppostas excellencias e o mysterio da sua origem lhe haviam conquistado o nome de semente do parayso.
Conclus?es
? facil agora, resumindo o que levamos dito, definir em breves palavras, qual foi a influencia das viagens portuguezas sobre o conhecimento d'aquella notavel planta, e sobre o trafico commercial a que deu logar.
Add to tbrJar First Page Next Page