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Read Ebook: O Renegado a António Rodrigues Sampaio carta ao Velho Pamphletario sobre a perseguição da imprensa by Leal Ant Nio Duarte Gomes

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Ebook has 83 lines and 14406 words, and 2 pages

Rita Farinha

O RENEGADO

GOMES LEAL

RENEGADO

A ANTONIO RODRIGUES SAMPAIO

CARTA AO VELHO PAMPHLETARIO

SOBRE A PERSEGUI??O DA IMPRENSA

LISBOA

TYPOGRAPHIA--Largo dos Inglezinhos, 27

MANUEL DE ARRIAGA

Eu bispo d'outra diocese... Guilherme Braga

<

Tendo na mais elevada estima os reconhecidos merecimentos que concorrem na vossa pessoa, e que haveis manifestado no honroso e illustrado desempenho dos mais altos cargos do estado, e em differentes e importantes commiss?es de interesse publico; e querendo por estes respeitos e pelo subido apre?o em que tenho os vossos distinctos e revelantes servi?os prestados ? dynastia, ?s institui??es, ? causa publica e ? liberdade, conferir-vos um testemunho authentico da minha real considera??o: hei por bem nomear vos commendador da antiga e muito nobre ordem da Torre e Espada, do valor, lealdade e merito, e elevar-vos conjunctamente ? dignidade de gran-cruz da mesma ordem.

O que me pareceu participar-vos para vossa intelligencia e satisfa??o, e para que possaes desde j? usar das respectivas insignias, vos mando esta carta.

Para Antonio Rodrigues Sampaio, do meu conselho, par do reino, presidente do conselho de ministros, ministro e secretario d'estado dos negocios do reino>>.

J? que El-Rei, teu Senhor--contra a sua M?e cara, assim te premiou a ensanguentada offensa, eu, um Juiz tambem--Juiz d'uma outra vara, contra ti, velho Reu, lavrei esta senten?a:

Eis-me em frente de ti, velho urso na caverna-- Eis-me em frente de ti erguendo uma lanterna, lanterna que accendi na grande escurid?o sobre a plebe a?outada, erguendo a minha m?o, lanterna que accendi n'esta ?ra ensanguenta, lanterna que accendi, como em sinistra estrada por causa dos ladr?es perdido viajante. Eis-me em frente de ti, eis-me de ti deante cheio d'odio, rancor, com asco, sem respeito, perguntando-te, ? Velho--Onde est? o Direito? O que fizeste ao Povo, ? Consciencia, ao Brio? Onde est? o Pudor, rude anci?o sombrio? Quem ?s? Quem ?s? Quem ?s?... velho cheio de fel. Onde est? ? Cain o teu irm?o Abel?

Quem ?s? Quem ?s?... ? gloria, ? nome hoje avitado? Tu foste a Alma do Povo--hoje ?s um renegado. Eu sou a voz do humilde e d'esses maltrapilhos, d'esses rotos e nus a quem mandaes os filhos ?s palhas da enxovia em vez da luz da esc?la. Eu sou a voz de baixo, eu sou o mar que rolla toda uma orchestra d'ais, um mundo de lamentos maior que a voz de Deus, e a voz dos grandes ventos, Sou a voz que maldiz, o pranto que suspira. Trago na minha m?o a lampada da Ira.

Eu sou esse rebelde herege, extraordinario que chamo ao biltre um biltre, e a ti um latrinario, que pr?guei n'este tempo ?s turbas assombradas a Uni?o e o Direito, e fui pelas estradas como S. Paulo foi na noute de Damasco, armado do Rancor, cheio do grande asco contra os Escribas v?os, os sordidos judeus, sem ver fender-se a terra, ou ver-se abrir os ceus. N?s hoje--os infieis--n?o cremos nos milagres. N?o me importa que tu, ? Velho, me consagres o epitheto brutal de herege ou de maldito. Eu sou o Pranto e o Odio! Eu sou o Ai e o Grito!

Em nome pois do Povo, o velho e antigo cedro, sangrento como a cruz, e a quem como S. Pedro tens renegado sempre, ? sordido traidor, em nome da sua ira, e em nome do suor que elle verte a chorar, na Terra, o ch?o antigo, que faz c?rar a rosa e rebentar o trigo, em nome dos seus mil cuspidos sacrificios do seu Calyx, da Cruz, da Esponja, dos supplicios, das suas m?es sem p?o, seus filhos no abandono como um farrapo velho e como um c?o sem dono, em nome da Miseria, em nome da Innocencia de tudo que ha de humano e grita na Consciencia, em nome do Direito, em nome d'esta Penna, escuta a minha voz, a voz que te condemna Tu foste n'outro tempo um homem justo, um crente, forte, obscuro, plebeu, filho da santa gente da plebe que trabalha, e com as m?os possantes sabe arrancar da terra as eiras e os diamantes, d'essa ra?a animal dos grandes infelizes que s?o na sociedade assim como as raizes que em quanto est?o no ch?o, na solid?o, no escuro, dando a seiva e o vigor ao tronco bem seguro, vivendo humildes sempre, obscuras, silenciosas --est?o as folhas no ar, altivas, gloriosas, olhando para o azul sereno das espheras, todas cheias de flor nas verdes primaveras, sendo a gloria da leiva, a sombra dos caminhos, tendo as ben??os do Sol e os canticos dos ninhos.

Sim, tu foste um plebeu--da ra?a antiga e rude, que trabalha no escuro assim como a Virtude. Sim, tu foste um plebeu--ra?a obscura e sem luz, d'onde eu tambem sa?, e d'onde vem Jesus.

Mas tu velho sem f?, mordeste-a como um c?o. Atrai?oas-te-a, sim, e riste como Cham se riu do velho Pae dormindo n'um caminho! S? maldito como elle, e seja o teu espinho o teu espinho eterno, o teu atroz tormento, ouvir-lhe sempre os ais e as maldi??es no vento!... Tu tinhas a teu lado outr'ora os homens fortes das Alas do Dever, todas as s?as cohortes dos grandes cora??es, ferreos, e verdadeiros, que trabalham na sombra assim como os mineiros, a lampada na m?o augusta da Verdade, para arrancar do lodo o ouro da Liberdade. Tu tinhas a teu lado os cora??es valentes dos heroicos plebeus, todos fortes e crentes todos filhos, como eu, da Plebe, nossa m?e!... Mas tu, Velho sem f?, mas tu plebeu tambem, que ambicionavas j? as pompas gloriosas, sentiste o asco e o horror d'aquellas m?os callosas que trabalham por n?s noutes, dias inteiros, na officina, no val, nas minas, nos outeiros, e quizeste antes ser hoje o leproso Reu, de que ser como eu sou--simples, leal plebeu.

Vergonha sobre os vis apostatas da Idea que negam como Pedro o fez depois da ceia na noute de Si?o, o Ceu e Deus trez vezes! Vergonha a quem entrega o Povo como as rezes, que levam a matar, balando, ao matadouro! Vergonha a quem trocar seu nome pelo ouro, sua aureola santa e seu bras?o de gloria por um titulo em vida--e um pontap? da Historia!

Vergonha sob v?s apostatas rafeiros que vendeis vosso deus pelos trinta dinheiros por que Judas vendeu esse de Nazareth! Vergonha sobre v?s, apostatas sem f? messias sem pudor que andaes pelos caminhos pr?gando aos cora??es, embebedando em vinhos de gloria e de ideal, e que depois ao Povo esse sublime Anci?o de peito sempre novo, o rafeiro infeliz de todos os Tiberios, a?outado de Deus, dos reis e dos imperios, mas que sempre enxotado--? chuva, ao vento, em pranto, leva sempre o seu deus nas dobras do seu manto, esse banido Anci?o de todas as na??es a quem v?s atiraes ? lucta e ?s sedi??es, mas que um dia deixaes na beira d'um caminho, como um cego sem guia, esqualido, sosinho, n'um nocturno temporal, a errar de porta em porta, voltando embalde aos ceus sua pupilla morta.

Vergonha sobre v?s, ? vendilh?es do templo! Vergonha sobre ti, que eu marco, para exemplo de todos esses vis messias das viellas, mais vis do que ladr?es, mais vis do que as cadellas, que v?o vender aos reis as suas convic??es!... Quiz pregal-os na cruz, roxeal-os com verg?es do meu chicote em fogo, irado, justiceiro para que ao vel-os n?s, expostos no madeiro da abjec??o, do desdem, da vaia, da chacota ao escarneo, ao bofet?o, ? ponta vil da bota saiba o Povo afinal que ? preciso escarrar no sacerdote infiel que vende o seu Altar.

? ser elle s?sinho o Verbo, o gladio, a penna, a espada que degolla e o grito que condemna. ? ser elle s?sinho, altivo rebellado, o grito do mineiro e o espectro do enforcado que vem correr d'um leito o cortinado r?gio. ? ter esse cond?o, o enorme privilegio d'erguendo as m?os ao c?u, como sagradas palmas, fazer gritar a espada e levantar as almas! ? ver-se ?s vezes s?, pobre de terra em terra, na floresta, no val, nas rochas ou na serra, ? neve, ? chuva, aos soes, nas n?voas estrangeiras, nas selvas tropicaes, nas minas, nas geleiras pela neve polar, no exilio, nas ruinas, --mas seja na pris?o, nos gelos, ou nas minas, mal soar o seu nome--alevantar-se um peito e gritar:--Elle ? que ? a Espada do Direito!

Ser pamphletario ?--ser um pharol na noute ser a pedra angular, Patibulo e A?oute. ? ter todo um vulc?o em lava no seu craneo, toda a Plebe agitar, do seu subterraneo, como agitou Marat,--ou agu?ar a espada contra os reis, como fez Rousseau na agua furtada. ? estar sempre s?sinho, altivo, no seu posto, quando muitos teem medo, e os mais voltam o rosto ser chamado um hereje--e as pallidas mulheres quando veem surgir esses extranhos seres apertarem ao peito as timidas crean?as. ? andar pobre, exhausto, humilde como as gran?as errante, s?, banido, exhausto pela terra, --mas quer seja na paz, ou quer seja na guerra, quer nos pa?os reaes, nas pra?as da Cidade a sua voz gritar--Alas ? Honestidade!

Este homem inda que pobre, inda que perseguido, roto, obscuro, plebeu, humilde, mal vestido, inda que triste e s? no seu isolamento, ao p? do grande Czar, n'este cruel momento, inda que pobre e vil, inda que maltrapilho ? tanto como um Deus, e mais do que um seu Filho.

Assim foste tambem, ? Velho solitario! Assim foste tambem grande pamphletario que soubeste elevar a eterna Alma do Povo! Assim foste tambem quando eras puro e novo e sabias levar ? guerra os cora??es, quando eras um a?oute e o deus das multid?es que vinham em tropel beijar os teus joelhos! Mas hoje tu o que ?s--escoria d'entre os velhos refugo de traidor, ? renegado hostil! Mas hoje tu o que ?s, ? lixo impuro e vil! alma atirada ao estrume, alma aviltada e fraca!...

?s o que se vendeu!--Tu ?s uma cloaca.

? seculo de ferro! ? gera??o escrava! que ouves Satan ladrar na noute do Evangelho, no teu sollo do Mal, sobre teu sollo em lava, cae a agua do ceu como n'um po?o velho! Sim a agua do ceu que faz viver a fl?r mal que no po?o cae transforma-se na lama! ? seculo de ferro, ? seculo de horror, que fazes tu da Voz, que em teu deserto clama? Que fazes tu da Voz que ou?o passar nos ventos, pr?gando a Nega??o, n'um funebre arrepio, que ou?o clamar na noute em uivos e em lamentos como um ladrar feroz de ruivo c?o sombrio? Que fazes tu da Voz dos teus prophetas santos que d?o prantos de sangue ?s tuas vexa??es, e do carro de fogo arrojam os seus mantos que arrastam ? Revolta o mar das multid?es? Que fazes tu? Tu ris! Tu vaes como a rameira vender teu deus, teu ceu, tua honra ao lupanar. A Justi?a tornou-se em velha alcoviteira. A Egreja ri na orgia, e Christo deixa o Altar! O Desespero cr? esparge o seu veneno na ta?a d'ouro e onyx das jovens illus?es. O Odio faz ouvir o seu terrivel threno. O Mal com a tenaz aperta os cora??es! A virginal Poesia, a virgem d'alvas vestes ergue aos ceus suas m?os, brancas como o alabastro. Traz a Lyra na m?o vestida de cyprestes. Seu santo cora??o flameja como um astro! S? ella faz ouvir n'um seculo corrupto sua Lyra de bronze ao temporal da Sorte! S? ella faz ouvir seu ala?de em luto que d? notas crueis de Maldi??o e Morte. ? s? ella que empunha o seu chicote em fogo como o a?oute de ferro indomito de Deus, para a?outar os reis, o falso demagogo, os biltres charlat?es dos reis e dos plebeus. ? s? ella que faz na noute secular, na sua Lyra ouvir--n?o canticos d'amor-- mas as notas fataes que entornam o luar da Ira, do Desdem, do Odio e do Rancor. Achegae-vos a mim, tristes, terriveis Lyras, que j? tendes chorado e que sabeis rugir. Quero em cordas de bronze os canticos das iras! ? preciso a?outar, decapitar, punir!... Deixae agora o Amor e as brizas da bonan?a! Minae-me o Despotismo esse colosso rhodio! Pela noute vibrae as notas da Vingan?a. Sobre a Lyra cantae os canticos do Odio.

? poetas do Amor deixae vossos idyllios, os atalhos do bosque e a lua da floresta! Deixae a musa fresca e simples dos Virgilios, n'uma ?ra de sangue inhospita e funesta! Deixae de nos cantar o Tedio e o Desengano, as nuvens da montanha e os sinceiraes do val! porque o mundo talvez espera o seu Tyranno. A Terra vae parir algum Christo do mal. Deixae de nos cantar as nuvens da bonan?a, e a flor dos laranjaes que o vento faz bulir, por que em breve j? vem a hora da matan?a em que a Espada tem voz, e as torres v?o cair. Eu tambem vos cantei, ? cantos langorosos, ? nuvens da manh?, ? flor da romanzeira, ? torrentes do val, ? beijos amorosos da Mulher que se amou n'uma vis?o primeira! Tambem j? te cantei, estrella do pastor, ? dan?as sobre a eira, ? lua das mar?s. Mas hoje a minha voz ? rouca como a D?r, terrivel como a Espada e o tribunal dos Dez. Abandonei-te ? Amor! Meu rir fez-se tregeito. Meu pranto fez-se fel, a voz tornou-se berro. Foragido dos reis, armado do Direito fa?o vibrar na Lyra os canticos de ferro.

Acaso ? ouro ?s tu--tu que nos fazes nobre? ? t?o terr?vel ser--puro, plebeu, e pobre,-- ? t?o torpe, ? t?o vil, ser simples mas honrado, que quer o ouro infernal, que quer o ferreo fado, que em certo dia vil--dia vil entre os dias,-- se atire uma risada ?s santas utopias ?s cren?as virginaes da loura Mocidade ? aureola ideal d'aquella santa edade, e vendam-se os laureis e o Verbo que era o raio, pela libr? d'um servo e a farda de um lacaio? N?o! N?o tem remiss?o este teu crime, ? Velho! J? que tu foste exemplo, e outrora foste espelho, o teu crime ? mais vil, funesto, escandaloso! Se tu ficas impune, um dia ou outro, um gozo, faminto como tu, ir? lamber o manto do Symbolo Real, todo orvalhado em pranto, e de rastos, no ch?o, beijar o p? do throno. Por isso vou marcar-te infame c?o sem dono, e fundir-te com chumbo ao corpo essa colleira. Vaes ouvir a Justi?a--a augusta, a verdadeira, a terrivel, a eterna, a antiga, a sempre forte, a que ouve e que v? n'Alma, a que condemna ? morte, com seu dedo de luz no livro do Futuro, a que arroja ? gehenna eterna do monturo, e que com ferro em braza escreve os tristes fins dos juizes Caiph?s, dos pifios Severins, e d'outros a quem heide em breve tomar contas! Vaes ouvir a que pune as lividas affrontas, a que gela no labio as phrases come?adas, que ha de julgar Thiers de c?s ensanguentadas, pelas suas crueis, fataes carnificinas, a que condemna os reis e as tropas assassinas, a que forma e dirige a Alma Universal. Entra ? sinistro reu! Abriu-se o tribunal.

Eis aqui, ? Justi?a, ? minha M?e austera, tua filha infeliz, que traz preza esta fera, este sinistro Reu que v?s acorrentado! Elle, o vil me trahiu, elle ? o scelerado que de mim motejou, como Cham riu do Pai! Elle era o meu bord?o, qualquer solu?o ou ai que abalasse o meu peito, o peito d'esta escrava, vinha bater no seu. O monstro n?o ladrava como hoje ladra hostil aos meus cabellos brancos! Eil o! elle aqui est?!--o rei dos saltimbancos!

Cala um pouco essa d?r. A Plebe grande e rude deve ser tambem forte assim como a Virtude. Nem sempre ? pena e ? d?r o pranto fica bem!

Deixae me solu?ar. Eu sou a sua M?e.

Elle ? teu filho, ? Plebe?... Oh deve ser suprema a injuria que te fez, ou o crime que o algema! De certo foi bem funda extraordinaria a offensa bem terrivel, cruel, ensanguentada, intensa, bem fundo e horrendo o golpe, infame, excepcional pois que cita uma M?e seu filho ao tribunal!

Bem grande sim que foi! Escuta a minha pena. Ouve primeiro, ? M?e! Depois julga e condemna. Eu sou ha muito a eterna, a grande foragida que vou de val em val, de mar em mar, varrida como a Judea antiga, a escrava, pela noute, chorando por seu Deus, sob o romano a?oute. Meus filhos tambem v?o chorando pela estrada. <

Foi assim que este fez, o indigno sacripanta. Foi assim que cuspiu na minha fronte santa. Foi assim que escarrou nos meus cabellos brancos. Foi assim que o vill?o, chefe dos saltimbancos, expulsou sua M?e ao vento da Desgra?a. Foi assim que vendeu a sua M?e na pra?a expulsando-a de casa, em desabrida noute sob a chuva do ceu, sob a ironia, e o a?oute. Tudo isto o ingrato fez pela servil Cobi?a. Justi?a contra o vil!--Justi?a, ? M?e, Justi?a!

Miseria, infamia, e d?r! ? mundanal feitura, barro do homem vil, indigna creatura p?de-se acaso assim cuspir em sua M?e! P?de acaso a Cobi?a allucinar alguem por um pouco de Luxo, um pouco de poeira, que transforme uma alma ingenua, verdadeira, um virgem cora??o, qual pagem branco e louro que sonha no Ideal em finas torres d'ouro, a abandonar assim as illus?es de gloria, sua aur?ola santa, o seu braz?o na Historia, todo o seu Verbo em fogo, assombro da Cidade, todas as convic??es da loura Mocidade, para atirar tudo isto aos p?s da sombra apenas d'um symbolo real eivado de gangrenas, e depois sem Amor, sem nada que conforta, a sua velha M?e lan?ar f?ra da porta! Alguem acaso viu o crime infame, enorme?

<>

Eu o ouvi, eu o ouvi, fria Justi?a austera!-- Aqui tens, ante ti, a encanecida fera, que tanta vez ladrou contra os bras?es reaes! Aqui tens, ? Justi?a, a escoria dos seus Paes, a bocca da Trai??o, a bocca da Mentira, a penna tinta em fel que semeou a Ira, o Despreso, a Revolta, a Colera, o Desdem!

Aqui tens quem cuspiu na Plebe sua M?e.

Ha alguem que defenda o livido accusado? Ha alguem que erga um bra?o, um bra?o immaculado, que n?o se tenha nunca achado em morticinios, um bra?o recto e bom, puro dos assassinios, derramados no ch?o dos campos inda quentes, que n?o tenha contra elle a voz dos innocentes, nem erga contra si a voz dos opprimidos, ha alguem que erga um bra?o ao ceu dos perseguidos, cheio de convic??o ao meu terrivel ceu? Ha alguem que erga um bra?o, um bra?o a pr? do Reu?

Ora tudo isto fez--eu juro-o pelo Ceu! para salvar a patria este sublime Reu.

Tambem, Justi?a, ouvi n'este immortal litigio que n'outro tempo o Reu poz o barrete phrigio.

Oh doudas illus?es da douda Mocidade! Quem p?de erguer seu bra?o, o bra?o sem piedade, contra o triste Anci?o cheio de desenganos que amou, cantou, gemeu na lyra dos vinte annos! Quem p?de erguer a voz, ferrea como os destinos, contra quem solu?ou ouvindo os Girondinos, e a sua alma librou nos cantos dos Prophetas n'esses cantos de bronzes!--As almas dos Poetas fazem desabrochar os batalh?es da terra! Na primavera em flor os peitos pedem guerra, aventuras, amor, cabe?as de tyrannos! Mas depois vem a Fome! ah! vem os desenganos, Miseria, Frio, a D?r, o tragico Abandono, vem a Insidia, a Calumnia, as tenta??es do Throno, vem os dias sem sol, sorrisos, cren?as, flores, vem os filhos sem p?o, v?o-se indo os desertores deixando em torno a n?s o vacuo e o isolamento! --Ent?o ao craneo diz a aguia do Pensamento: <

Ent?o n'aquella noute arida, m?, sem somno, escuta-se uma voz, que vem como a rajada, no vacuo e solid?o da fria agua furtada, que grita em alta voz--Combateste por mim?

Quem ?s tu? Quem ?s tu? Quem ? que falla assim? --Mas fica muda a voz. Cala-se e n?o responde. O pensador ent?o vae ver onde se esconde quem lhe d? um tremor indomito, suspeito, como nunca sentiu no antro do seu peito. Quer ver o extranho ser, aquella voz interna. Mas cheio de terror, ? livida lanterna, n'um tragico arrepio, ? luz ba?a e fun?rea, --v? sentada em seu lar a furia da Miseria!

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