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Read Ebook: Theatro de João d'Andrade Corvo - I O Alliciador - O Astrologo by Corvo Jo O De Andrade

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Ebook has 2665 lines and 31934 words, and 54 pages

S? comtigo, Luiz, s? comtigo me heide casar.

LUIZ

J? vou mais consolado: com mais animo para trabalhar, para me arriscar aos perigos.

JOANNINHA

N?o te arrisques. Lembra-te de tua m?e... de mim, que morro se tu morreres.

LUIZ

N?o chores, minha querida Joanninha. A Senhora do Monte hade proteger-me, e eu heide voltar.

JOANNINHA

Prometto uma novena ? Senhora do Monte, e muitas flores no dia da sua festa, se tu voltares cedo.

LUIZ

Agora... Joanninha... adeus... adeus!

JOANNINHA

N?o te demores muito, Luiz. Volta, porque me deixas em cuidados... ralada de saudades.

LUIZ

Um abra?o de despedida.

AMBOS

Adeus! Adeus!

SCENA IV

Joanninha! N?o sei como tive animo para a deixar ir... como tenho alma para sair da minha terra, onde ella vive... onde me fica amando.--E voltarei?... tantos l? teem ficado! Se uns morrem outros voltam ricos; e eu, pobre como sou, nunca heide casar-me com Joanninha.--As ora??es daquella santa rapariga ha de Deus ouvil-as, e basta.--Quem se n?o arriscou n?o perdeu nem ganhou.

SCENA V

JOZE

Santa palavra, Luiz, santa palavra que nem todos intendem, e que ? preciosa para os que a sabem. Eu, se n?o soubesse esse rif?o de c?r e salteado, estava a esta hora com um sacho na m?o a sachar milho na fazenda d'um morgado, que, no fim de contas, me ficaria com metade do producto da minha labuta??o. O morgado que nasceu rico--isto ? um modo de dizer--que nasceu dono de terras, e nem sabe nem tem prestimo para as cultivar... Ah! ah! o morgado guardaria metade do meu milho, para dar aos cavallos... e eu, com a minha metade, nem teria para enganar a fome. Santa palavra, rapaz, santa palavra!

LUIZ

Os pobres cazeiros trabalham muito, e padecem muito, Joz? Velhaco. Nisso tens tu ras?o.

JOZE

Tenho, e n?o me heide can?ar de pr?gar estas verdades. Os cazeiros, n?s, os vill?es, trabalhamos, e os morgados comem os nossos fructos e bebem o nosso vinho. Est?o sempre aqui a fallar em que n?s, os que vamos a Demerara procurar fortuna, largamos a nossa terra para irmos ser escravos dos inglezes, para sermos escravos brancos! E aqui, nesta terra dos morgados, o que somos n?s sen?o escravos? Ao menos, l? por essas terras dos inglezes, um homem activo, tendo c? fogo de dentro como eu, e como tu, meu Luiz, faz fortuna, faz-se rico como um morgado... mais do que um morgado, porque n?o deve nada a ninguem. Ah! ah! santa palavra!

LUIZ

Isso s?o sortes. Uns enriquecem, e outros por l? ficam, mortos ou escravos.

JOZE

Qual historia! Pois um homem vae d'aqui, e recebe logo trinta patacas... como tu recebeste hontem. Em! Trinta patacas ? uma boa conta.

LUIZ

?, ?. Vinte ahi ficam para minha m?e; e as outras dez gastam-se na viagem.

JOZE

Que importa? Chegas l?, trabalhas um... um tempo para pagar a divida, e a comida que te d?o cada dia... e depois principias a ganhar por tua conta.

LUIZ

Mas esse tempo quanto dura?

JOZE

Conforme... sim, ? conforme. Para uns dura mais, para outros menos. ? segundo as for?as de cada um. Mas tu bem v?s: aqui ? que se n?o faz nada. Trabalha-se a vida inteira, a arrancar mato da serra, e levantar muros, a plantar arvores e vinha, a formar uma fazenda, e no fim fica a gente sem ter nada; porque a terra ? dos morgados, e as bemfeitorias ficam agarradas ? terra, donde se n?o podem arrancar.

LUIZ

Que de coisas tu sabes agora!

JOZE

? porque vivi l? por Demerara com muita gente de tino, e aprendi muito. Aquillo ? que ? terra, homem! Campos que ? um gosto vel-os. Como estes aqui da Madeira, mas maiores. E na cidade? Ganha-se dinheiro que ? um louvar a Deus!

LUIZ

Mas as febres?

JOZE

Quaes febres! Ha por l? umas doencitas, que levam a gente ?s vezes, mas n?o ? coisa que se veja: nada, nem se d? por tal. E, depois, se por l? se morre de febre, por c? morre-se de mizeria, que ainda ? peior. Tu tens medo de morrer?

LUIZ

Eu!...

JOZE

Bem sei que n?o tens medo. Vaes ? pesca em dias de temporal, quando os outros pescadores se metem em caza. Em a gente sendo animoso nem as doen?as lhe chegam. Santa palavra! Olha para mim. Tu bem sabes que eu sou animoso, valente...

LUIZ

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