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Read Ebook: O que fazem mulheres: Romance philosophico by Castelo Branco Camilo

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Ebook has 1216 lines and 38849 words, and 25 pages

com o espirito... Eu comprehendo o que s?o esses desfallecimentos d'alma. A filha de v. ex.? tem uma organisa??o muito semelhante ? minha. As minhas enfermidades s?o sempre quebrantos, estherismos, lethargia, procedentes das fadigas intellectuaes, ou dos anceios do cora??o. Complei??es infelizes, n?o acha, minha senhora?

--Oh! infelicissimas, de certo...

--Se, todavia, v. ex.? tivesse a bondade de dizer a sua filha que fizesse um esfor?o para me vir contar os seus padecimentos, talvez que uma medicina toda espiritual...

--A curasse?... talvez...

--N?o lhe d? treguas a sua paix?o magnetica, sr. S?!... A Ludovinasinha queixa-se de enxaqueca... Eu voto, d'esta vez, por medicamentos caseiros... Talvez que uns sinapismos...--proseguiu ella, rindo, sem ferir o org?o maniaco do bacharel--dispensem uma descarga electrica.

--? clarissimo sempre, sr. S?; mas desconfio da inefficacia da sua vontade sobre a enxaqueca de Ludovina. E depois, conv?m-nos que ella esteja doente por um quarto de hora. Vamos falar a respeito d'ella.

--Tenho raz?es para suspeitar que minha filha n?o ? indifferente a v. s.?.

--De certo, n?o.

--P?de dizer-me at? que ponto me devo lisonjear com a affei??o que Ludovina lhe merece?

--Voto ? sr.? D. Ludovina um sentimento profundamente respeitoso...

--S??

--Uma affei??o nobre e desinteressada...

--Amor?

--De certo... amor... reflectido, e bem intencionado...

--Uma paix?o verdadeira, n?o ? verdade?

--Quanto em mim cabe, minha senhora... quanto ? possivel apaixonar-se um homem de vinte e oito annos, apalpado j? pelas desillus?es, e esterilisado tanto ou quanto pelos ventos contrarios dos revezes da alma...

D. Angelica fez um geito de quem ouvia chamar; ergueu-se com a mais destra simula??o, dizendo:

--Minha filha tocou a campainha... As creadas n?o a ouvem de certo, eu volto j?...

Ricardo de S? fez mentalmente o seguinte monologo:

--D. Angelica vae prop?r-me o casamento da filha. Eis-me entalado n'uma crise imprevista! Est? explicado o enygma da carta que Ludovina me escreveu hoje. Receia que eu me esquive ? proposta; e tem raz?o. Eu n?o caso. Esta mulher est? abaixo dos meus calculos. Lisonjeia um amante, mas n?o p?de satisfazer as complicadas necessidades de um marido... ? horrorosa a minha posi??o!... Sei que fa?o uma victima... de certo a mato... Estudemos uma evasiva, n?o obstante...

O monologo continuava, quando Ludovina, conduzida machinalmente por sua m?e, se collocava atraz de uma vidra?a da alcova immediata ? sala.

D. Angelica era um assombro de esperteza. A leitora j? admirou a eloquencia persuasiva com que ella abalou o cora??o da filha; j? disse, de si para si, que, com tal m?e, n?o ha filha que rejeite o casamento de um brasileiro rico; j? leu as paginas que ahi ficam ? m?esinha para que ella saiba os argumentos com que se vence a desobediencia das filhas, em casos identicos. Pois, se gostou e admirou as palavras de D. Angelica, ha de tambem admirar-lhe as obras.

D. Angelica viu o mais secreto do animo do bacharel; previu o desenvolvimento da conversa??o, e quiz dar ? filha o mais rude, mas tambem o mais proveitoso desengano.

--Nada era... ou era muito... Queria saber como v. s.? estava--disse a matreira esposa do sr. Pimenta.

--E ella como est? agora?

--Soffre bastante... Falei-lhe no seu magnetismo, e a tolinha c?rou... Era talvez o clar?o da descarga electrica, seria?

--A mim? ora essa! Ter? v. s.? a infausta id?a de me magnetisar? Adormecer-me... isso ? facil; bastam os livros que tratam da sciencia, n?o ? precisa a ac??o... N?o <> como v. s.? diz... Vamos ? nossa pratica interrompida que ? muito s?ria:

--Esterilisado a alma...

--Foi isso... Em toda a sua resposta s? ha de desagradavel essa esterilidade de alma; todavia, eu creio que t?o boa alma ha de sempre florescer e fructificar, quando a cultura f?r confiada a uma mulher de bom cora??o, meiga, docil, maviosa, em fim, a uma que n?o inveje as boas qualidades de minha filha.

--De certo... assim o penso, minha senhora--balbuciou o bacharel, for?ado pelo silencio interrogador de D. Angelica.

--Minha filha ama-o, sr. S?. Ama-o delirantemente, perdidamente, quer ser sua ou da sepultura, n?o acceita admoesta??es nem esperan?as tardias, quer unir-se ao esposo da sua alma, mas j?, j?, sen?o... diz que, mais tarde, ser? victima da sua paix?o. Sabia v. s.? que era tamanho o seu dominio n'aquella innocente alma?

--Sabia... desgra?adamente sabia.

--Estando na sua vontade o mais facil e desejado remedio d'elles? ? singular!

--Ainda assim... ha situa??es na vida...

--Sei o que quer dizer--atalhou a zombeteira senhora--ha situa??es em que quizeramos immediatamente felicitar as pessoas que soffrem por nossa causa. Isso ? assim... Pois bem. Tratemos definitivamente da felicidade da nossa Ludovina. Minha filha, como v. s.? sabe, n?o tem dote. ? pobre, supposto que o fausto com que vive queira desmentir esta triste verdade. Em riquezas de espirito ? millionaria. Nas do cora??o, sabemos n?s o que ella ?. A <> por?m, ? muitas vezes a inimiga da verdadeira felicidade, n?o ? assim?

--De certo, minha senhora...

--Minha senhora--disse o enfiado bacharel, extendendo a m?o a D. Angelica--eu estou cordealmente penhorado pela confian?a que mere?o a v. ex.?. Cumpre, por?m, reflectir n'um passo t?o momentoso. Eu amo em extremo a sr.? D. Ludovina, toda a minha ambi??o ? identifica'-la ao meu destino sobre a terra, mas, minha senhora, eu n?o posso disp?r da parte de obediencia que devo a meu velho e respeitavel pae, sem consulta'-lo, porque dependo d'elle, em quanto n?o entrar na carreira da magistratura, e o cabedal dos meus estudos n?o me abona tanto quanto v. ex.? imagina que p?de proporcionar-me a intelligencia.

--Pensa mui judiciosamente--redarguiu D. Angelica formando com a prolonga??o dos bei?os, e o abrimento dos olhos, um tregeito de mui sisuda approva??o--e qual conjectura v. s.? que seja a resposta de seu pae?

--N?o sei, minha prezada senhora...

--Se f?r negativa?

--Se f?r negativa...

--Obedece?

--Como filho dependente; mas os dias da minha existencia ser?o poucos, e attribulados...

--Minha senhora... a nossa posi??o ? desgra?adissima.

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--Se a n?o amo! Isso mata-me, snr.? D. Angelica!

--Segui'-la-hei na morte...

D. Angelica retirou-se da sala, soberba como uma rainha na descida do throno.

O auctor possivel do SECULO PERANTE A SCIENCIA, emergindo do estupor momentaneo, procurou a bengalinha de Suzana a sa?r do banho, e caminhava atordoado para a porta, quando entravam Melchior Pimenta, e um sujeito desconhecido ao bacharel.

--?l?, por c?, snr. S??

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