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Read Ebook: A Danish Parsonage by Vicary John Fulford

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Ebook has 1589 lines and 76816 words, and 32 pages

ESA? E JACOB

POR

MACHADO DE ASSIS

LIVRARIA GARNIER

RIO DE JANEIRO

PARIS

Indice

ADVERT?NCIA

ESA? E JACOB

Dico, che quando l'anima mal nata...

DANTE.

CAPITULO PRIMEIRO

Cousas futuras!

Era a primeira vez que as duas iam ao morro do Castello. Come?aram de subir pelo lado da rua do Carmo. Muita gente ha no Rio de Janeiro que nunca l? foi, muita haver? morrido, muita mais nascer? e morrer? sem l? p?r os p?s. Nem todos podem dizer que conhecem uma cidade inteira. Um velho inglez, que ali?s and?ra terras e terras, confiava-me ha muitos annos em Londres que de Londres s? conhecia bem o seu club, e era o que lhe bastava da metropole e do mundo.

Natividade e Perpetua conheciam outras partes, al?m de Botafogo, mas o morro do Castello, por mais que ouvissem falar delle e da cabocla que l? reinava em 1811, era-lhes t?o extranho e remoto como o club. O ingreme, o desegual, o mal cal?ado da ladeira mortificavam os p?s ?s duas pobres donas. N?o obstante, continuavam a subir, como se fosse penitencia, devagarinho, cara no ch?o, veu para baixo. A manh? trazia certo movimento; mulheres, homens, crean?as que desciam ou subiam, lavadeiras e soldados, algum empregado, algum logista, algum padre, todos olhavam espantados para ellas, que ali?s vestiam com grande simplicidade; mas lia um donaire que se n?o perde, e n?o era vulgar naquellas alturas. A mesma lentid?o do andar, comparada ? rapidez das outras pessoas, fazia desconfiar que era a primeira vez que alli iam. Uma creoula perguntou a um sargento: <> E ambos pararam a distancia, tomados daquelle invencivel desejo de conhecer a vida alheia, que ? muita vez toda a necessidade humana.

Com effeito, as duas senhoras buscavam disfar?adamente o numero da casa da cabocla, at? que deram com elle. A casa era como as outras, trepada no morro. Subia-se por uma escadinha, estreita, sombria, adequada ? aventura. Quizeram entrar depressa, mas esbarraram com dous sujeitos que vinham saindo, e coseram-se ao portal. Um delles perguntou-lhes familiarmente se iam consultar a adivinha.

--Perdem o seu tempo, concluiu furioso, e h?o de ouvir muito disparate...

--? mentira delle, emendou o outro rindo; a cabocla sabe muito bem onde tem o nariz.

Hesitaram um pouco; mas, logo depois advertiram que as palavras do primeiro eram signal certo da videncia e da franqueza da adivinha; nem todos teriam a mesma sorte alegre. A dos meninos de Natividade podia ser miseravel, e ent?o... Em quanto cogitavam passou f?ra um carteiro, que as fez subir mais depressa, para escapar a outros olhos. Tinham f?, mas tinham tambem vexame da opini?o, como um devoto que se benzesse ?s escondidas.

Velho caboclo, pae da adivinha, conduziu as senhoras ? sala. Esta era simples, as paredes nuas, nada que lembrasse mysterio ou incutisse pavor, nenhum petrecho symbolico, nenhum bicho empalhado, esqueleto ou desenho de aleij?es. Quando muito um registo da Concei??o collado ? parede podia lembrar um mysterio, apesar de encardido e roido, mas n?o mettia medo. Sobre uma cadeira, uma viola.

--Minha filha j? vem, disse o velho. As senhoras como se chamam?

A falar verdade, temiam o seu tanto, Perpetua menos que Natividade. A aventura parecia audaz, e algum perigo possivel. N?o ponho aqui os seus gestos; imaginae que eram inquietos e desconcertados. Nenhuma dizia nada. Natividade confessou depois que tinha um n? na garganta. Felizmente, a cabocla n?o se demorou muito; ao cabo de trez ou quatro minutos, o pae a trouxe pela m?o, erguendo a cortina do fundo.

--Entra, Barbara.

Barbara entrou, emquanto o pae pegou da viola e passou ao patamar de pedra, ? porta da esquerda. Era uma creaturinha leve e breve, saia bordada, chinelinha no p?. N?o se lhe podia negar um corpo airoso. Os cabellos, apanhados no alto da cabe?a por um peda?o de fita enxovalhada, faziam-lhe um solideu natural, cuja borla era supprida por um raminho de arruda. J? vae nisto um pouco de sacerdotiza. O mysterio estava nos olhos. Estes eram opacos, n?o sempre nem tanto que n?o fossem tambem lucidos e agudos, e neste ultimo estado eram egualmente compridos; t?o compridos e t?o agudos que entravam pela gente abaixo, revolviam o cora??o e tornavam c? f?ra, promptos para nova entrada e outro revolvimento. N?o te minto dizendo que as duas sentiram tal ou qual fascina??o. Barbara interrogou-as; Natividade disse ao que vinha e entregou-lhe os retratos dos filhos e os cabellos cortados, por lhe haverem dito que bastava.

--Basta, confirmou Barbara. Os meninos s?o seu filhos?

--S?o.

--Cara de um ? cara de outro.

--S?o gemeos; nasceram ha pouco mais de um anno.

--As senhoras podem sentar-se.

Natividade disse baixinho ? outra que <>, n?o t?o baixo que esta n?o pudesse ouvir tambem; e dahi p?de ser que ella, receiosa da predic??o, quizesse aquillo mesmo para obter um bom destino aos filhos. A cabocla foi sentar-se ? mesa redonda que estava no centro da sala, virada para as duas. Poz os cabellos e os retratos defronte de si. Olhou alternadamente para elles e para a m?e, fez algumas perguntas a esta, e ficou a mirar os retratos e os cabellos, b?ca aberta, sobrancelhas cerradas. Custa-me dizer que accendeu um cigarro, mas digo, porque ? verdade, e o fumo concorda com o officio. F?ra, o pae ro?ava os dedos na viola, murmurando uma cantiga do sert?o do norte:

Menina da saia branca, Saltadeira de riacho...

Emquanto o fumo do cigarro ia subindo, a cara da adivinha mudava de express?o, radiante ou sombria, ora interrogativa, ora explicativa. Barbara inclinava-se aos retratos, apertava uma madeixa de cabellos em cada m?o, e fitava-as, e cheirava-as, e escutava-as, sem a affecta??o que por ventura aches nesta linha. Taes gestos n?o se poderiam contar naturalmente. Natividade n?o tirava os olhos della, como se quizesse lel-a por dentro. E n?o foi sem grande espanto que lhe ouviu perguntar se os meninos tinham brigado antes de nascer.

--Brigado?

--Brigado, sim, senhora.

--Antes de nascer?

--Sim, senhora, pergunto se n?o teriam brigado no ventre de sua m?e; n?o se lembra?

Natividade, que n?o tivera a gesta??o socegada, respondeu que effectivamente sentira movimentos extraordinarios, repetidos, e d?res, e insomnias... Mas ent?o que era? Brigariam porqu?? A cabocla n?o respondeu. Ergueu-se pouco depois, e andou ? volta da mesa, lenta, como somnambula, os olhos abertos e fixos; depois entrou a dividil-os novamente entre a m?e e os retratos. Agitava-se agora mais, respirando grosso. Toda ella, cara e bra?os, hombros e pernas, toda era pouca para arrancar a palavra ao Destino. Emfim, parou, sentou-se exhausta, at? que se ergueu de salto e foi ter com as duas, t?o radiante, os olhos t?o vivos e callidos, que a m?e ficou pendente delles, e n?o se poude ter que lhe n?o pegasse das m?os e lhe perguntasse anciosa:

--Ent?o? Diga, posso ouvir tudo.

Barbara, cheia de alma e riso, deu um respiro de gosto. A primeira palavra parece que lhe chegou ? b?ca, mas recolheu-se ao cora??o, virgem dos labios della e de alheios ouvidos. Natividade instou pela resposta, que lhe dissesse tudo, sem falta...

--Cousas futuras! murmurou finalmente a cabocla.

--Mas, cousas feias?

--Oh! n?o! n?o! Cousas bonitas, cousas futuras!

--Mas isso n?o basta; diga-me o resto. Esta senhora ? minha irm? e de segredo, mas se ? preciso sair, ella sae; eu fico, diga-me a mim s?... Ser?o felizes?

--Sim.

--Ser?o grandes?

--Ser?o grandes, oh! grandes! Deus ha de dar-lhes muitos beneficios. Elles h?o de subir, subir, subir... Brigaram no ventre de sua m?e, que tem? C? f?ra tambem se briga. Seus filhos ser?o gloriosos. ? s? o que lhe digo. Quanto ? qualidade da gloria, cousas futuras!

L? dentro, a voz do caboclo velho ainda uma vez continuava a cantiga do sert?o:

Trepa-me neste coqueiro. Bota-me os cocos abaixo.

E a filha, n?o tendo mais que dizer, ou n?o sabendo que explicar, dava aos quadris o gesto da toada, que o velho repetia l? dentro:

Menina da saia branca, Saltadeira de riacho, Trepa-me neste coqueiro, Bota-me os cocos abaixo. Quebra coco, sinh?, L? no coc?, Se te d? na cabe?a, Hade rach?; Muito heide me ri, Muito heide gost?, Lel?, coco, nay?.

CAPITULO II

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