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Read Ebook: Obras Completas de Luis de Camões Tomo II by Cam Es Lu S De

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Ebook has 602 lines and 152429 words, and 13 pages

ALICUTO.

V?s, humidas deidades deste p?go, Trit?es ceruleos, Pr?teo, com Palemo; V?s, Nereidas do sal em que navego, Por quem do vento a furia pouco temo; Se a vossas sacras aras nunca nego O congro nadador na p? do remo, N?o consintais que a musica marinha Vencida seja aqui na lyra minha.

Que ter?o que dizer esses Senhores a estas duas Estancias? Dir?o que s?o demasiado sublimes, e que est?o f?ra do natural, porque a este simples, a este natural, a este sublime n?o podem elles chegar. Mas n?o lhes demos ouvidos, e continuemos a prestar atten??o aos nossos contendores. Vejamos com que despejo entr?o na lide.

AGRARIO.

Pastor se fez um tempo o mo?o louro Que do pae as carretas move e guia; Ouvio o rio Amphryso a lyra d'ouro, Que o seu claro inventor alli tangia. Io foi vacca, Jupiter foi touro Mansas ovelhas junto d'?goa fria Guardou formoso Adonis, e tornado Em bezerro Neptuno foi ja achado.

A esta formosa Estancia em louvor da vida campestre opp?e o pescador a seguinte, exaltando a sua profiss?o.

ALICUTO.

Pescador ja foi Glauco, e deos agora He do mar, e Prot?o phocas guarda; Nasceo no p?go a deosa, qu'he senhora Do amoroso prazer, que sempre tarda. Se foi bezerro o deos que c? se adora, Tambem ja foi delphim. Se se resguarda, V?-se que os mo?os pescadores er?o, Que o escuro enigma ao primo vate der?o.

Agora passa o vaqueiro a queixar-se da frieza com que a sua pastora recebe as suas finezas.

AGRARIO.

Formosa Dinamene, se dos ninhos Os implumes penhores ja furtei ? doce philomela, e dos murtinhos Para ti as flores apanhei; E se os crespos madronhos nos raminhos Com tanto gosto ja te presentei, Porque n?o d?s a Agrario desditoso Um s? revolver d'olhos piedoso?

Responde-lhe o seu adversario com uma Estancia do mesmo genero, segundo os preceitos do canto amebeo, ou alternado.

ALICUTO.

Para quem trago d'?goa em vaso cavo Os curvos camar?es vivos saltando? Para quem as conchinhas ruivas cavo Na praia, os brancos buzios apanhando? Para quem de mergulho no mar bravo Os ramos de coral vou arrancando, Sen?o para a formosa Lemnoria, Que co'um s? riso a vida me daria?

Agora v?o descrever, um as furias do ciume, outro as da desespera??o de ver galardoado o seu amor. Vejamos como sahem da empresa.

AGRARIO.

Quem vio o desgrenhado e crespo Inverno, D'?tras nuvens vestido, horrido e feio, Ennegrecendo ? vista o ceo superno, Quando os troncos arranca o rio cheio; Raios, chuvas, trov?es, um triste inferno Que ao mundo mostra um pallido receio: Tal o amor he cioso a quem suspeita Que outrem de seu trabalho se aproveita.

ALICUTO.

Se alguem v?, se alguem ouve o sibilante Furor lan?ando flammas e bramidos, Quando as pasmosas serras traz diante, Horrido aos olhos, horrido aos ouvidos; A bra?os derribando o ja nutante Mundo co'os elementos destruidos; Assim me representa a phantasia A desespera??o de ver um dia.

AGRARIO.

Minha alva Dinamene, a primavera Que os deleitosos campos pinta e veste, E rindo-se uma c?r aos olhos gera, Que em terra lhes faz ver o Arco celeste; As aves, as boninas, a verde hera, E toda a formosura amena agreste N?o he para os meus olhos t?o formosa, Como a tua, que abate o lirio e rosa.

ALICUTO.

As conchinhas da praia, que present?o A c?r das nuvens, quando nasce o dia; O canto das Sirenas, que adorment?o; A tinta que no murice se cria; O navegar por ondas, que se assent?o Co'o brando bafo, com que o sol s'enfria, N?o podem, Nympha minha, assi aprazer-me, Como o ver-te, se em tanto chego a ver-me.

AGRARIO.

A deosa, que na Lybica lag?a Em f?rma virginal appareceo, Cujo nome tomou, que tanto s?a, Os olhos bellos te da c?r do ceo: Gar?os os tem; mas uma, que a cor?a Das formosas do campo mereceo, Da c?r do campo os mostra graciosos. Quem n?o diz que s?o estes os formosos?

ALICUTO.

Perdoem-me as deidades, mas tu diva Que no liquido marmore es gerada, A luz dos olhos teus, celeste e viva, Tens por vicio amoroso atravessada: N?s petos lhe cham?mos: mas quem priva De luz o dia, baixa e socegada Traz a dos seus nos meus, qu'eu o n?o nego, E com toda esta luz sempre estou cego.

Agora diga quem nasceo para sentir as bellezas da natureza, se ha em Theocrito ou Virgilio, ou algum outro poeta antigo ou moderno, um desafio igual a este, ou se p?de chegar a mais a perfei??o humana. E eis-aqui as duas Eglogas com que alguns individuos, que tendo olhos e tempo para ler muito, os n?o tiver?o para observar a natureza, e conhecer com que amplia??es ou restric??es se devem entender e applicar os preceitos de Aristoteles e Horacio, pretend?r?o provar que o nosso poeta n?o possuia o estilo bucolico. Certo que n?o ha na republica das Letras sevandijas mais nojentas, que certos homens de espirito acanhado, que enfatuados com graos de Doutores e titulos de Academicos, sem nunca terem produzido nem serem capazes de produzir cousa alguma, se arrog?o o direito de taxar o merecimento e pre?o das obras dos grandes homens.

Mas inda quando fosse verdade que da frauta se n?o podesse tirar mais que um som unico, e a respeito destas Eglogas a raz?o da parte delles, e n?o da nossa estivesse, ousari?o esses Aristarchos dizer que em todas as mais, e com especialidade na 8.?, 9.?, 10.?, 11.?, 13.?, 14.? se n?o encontra o verdadeiro estilo bucolico, e em tal perfei??o que nenhuma inveja podemos ter a Theocrito ou Virgilio? E se estes dous poetas que neste genero se recommend?o como modelos, julg?r?o n?o offender os preceitos d'arte, aquelle em levantar o estilo a ponto de poder celebrar na humilde avena os louvores de Ptolomeo Philadelpho e alguns dos trabalhos de Hercules, que pareci?o mais proprio assumpto para uma Ode Pindarica, este de tornar a selvas dignas do Consul, sem que por isso deixassem de ser olhados como oraculos; por que lei ou com que autoridade pretendem esses guarda-port?es do Parnaso expulsar o nosso poeta do lugar que ao lado desses primeiros mestres, lhe assinou o mesmo Apollo.

Doze Elegias temos do nosso poeta, e ainda que destas doze apenas quatro ou cinco se podem propriamente chamar Elegias; dellas se v? que tambem neste estilo era excellente.

Temos tambem tres Comedias suas, a de ElRei Seleuco, que he um pequeno Drama, daquelles a que os nossos antigos chamav?o Autos, a dos Amphytri?es, que n?o he, como diz Severim de Faria, uma traduc??o de Plauto, mas sim uma composi??o sua, e a de Filodemo, ambas em cinco actos: as quaes se n?o podem appresentar-se como modelos de verdadeira Comedia, todavia he preciso confessar que ha nellas muito que admirar. E muito mais se considerarmos que for?o escritas nos seus primeiros annos, antes de sahir do Reino, e n?o para se representarem em Theatro publico, que nesse tempo n?o havia, mas para divertimento particular.

E se nos versos maiores deixou a perder de vista todos os mais poetas peninsulares, tambem nas Redondilhas e outras composi??es de verso menor se lhes avantajou muito. E assim por consenso universal lhe foi conferido o titulo de Principe dos poetas heroicos e lyricos de Hespanha.

Emfim poucas na??es se podem gloriar de haverem produzido um homem como Luis de Cam?es; raras vezes se v?r?o reunidos n'um s? sujeito tantos talentos e dotes da natureza, t?o vasta erudi??o e doutrina, tanta facilidade em exprimir seus pensamentos. Igualmente versado nas artes da paz e da guerra, Achilles e ao mesmo tempo Homero, com a espada e com a penna toda a vida trabalhou por illustrar a sua patria: e se a Fortuna lhe impedio igualar a fama dos grandes capit?es, n?o lhe p?de estorvar igualar a dos summos escritores, e levar a nossa gloria literaria a ponto de hombrear com a militar.

Por?m desgra?adamente, quando uma ia emparelhando com a outra, confundio tudo a Fortuna, que a seu arbitrio disp?e das cousas humanas; e ambas desapparec?r?o com a nossa liberdade e independencia. Se nenhuma na??o subio mais alto, tambem nenhuma deo maior qu?da. Cumprida est? a primeira parte da prophecia do fundador da monarchia: resta cumprir-se a segunda; que tambem se ha de cumprir. Quando expurgados os vicios que nos fic?r?o da antiga prosperidade, e reformados nossos costumes na fr?goa da desgra?a, tiver renascido no cora??o de todos os Portuguezes aquelle amor de patria, que tanto distinguio nossos maiores, brilharemos outra vez nas armas, brilharemos nas letras; tornaremos a ser o que ja fomos. E para isso nada p?de tanto contribuir, como a cont?nua e reflectida li??o das obras do nosso immortal Cam?es, que, se foi grande escritor, inda foi melhor cidad?o. Por isso com tanto cuidado as estamos alimpando dos muitos erros e vicios das primeiras edi??es, para que melhor sej?o entendidas e gostadas: na esperan?a de que o seu poema dos Lusiadas vir? a ser uma trombeta, que assim mesmo enrouquecida como est? pela abominavel Censura, fara um dia resurgir os mortos.

VIDA DE LUIS DE CAM?ES.

Muitos tempos se esteve em duvida ?cerca do anno e do lugar em que nasceo Luis de Cam?es; o que deo causa a que algumas villas e cidades disputassem entre si a gloria de lhe haverem dado o ber?o, para que em tudo o Lusitano Homero corresse a sorte do Grego. Pedro Mariz, o primeiro que nos deo algumas noticias da vida do poeta, pela maior parte mal averiguadas e falsas, nada nos diz a este respeito; e Severim de Faria o deo primeiramente nascido em 1517, por?m depois reparando que o poeta quando escrevia a Estancia 9.? do Canto X, ia caminhando para os seus cincoenta e computando melhor o tempo, veio a concluir que devia ter quando morreo 55 de idade, e que portanto havia nascido em 1524: o que depois comprovou Faria e Sousa com um assento, que descobrio no livro de Registo da Casa da India, onde o mesmo poeta, allistando-se para passar a servir naquelle Estado no anno de 1550, declarou, estando alli presente seu pae, ter 25 de idade. E do mesmo assento constava serem seus paes moradores em Lisboa no bairro da Mouraria: com o que se tir?r?o todas as duvidas assim ?cerca do anno, como do lugar do seu nascimento.

Quem fossem seus ascendentes, cousa he que aos olhos do philosopho mui pouco importa saber-se, porque o homem he filho das proprias obras, e verdadeiramente nasce para os outros, quando lhes principia a ser util; como o sol, que ent?o dizemos que nasce, quando come?a a raiar por cima do horizonte. Mas, pois vivemos no mundo, e for?ado he conformarmo-nos com os prejuizos delle, daremos tambem aqui a nossos leitores a sua genealogia.

A familia dos Cam?es, uma das mais antigas de Hespanha, tinha o seu Solar na Galiza, onde era senhora de muitas terras e gozava de muitas regalias. Vasco Pires de Cam?es, ultimo representante desta familia, f?ra um dos fidalgos que Dom Fernando, 9.? Rei de Portugal, trouxera a seu partido, quando aspirava ? coroa de toda a Hespanha. Mas, como se malograsse a empresa, teve este fidalgo de abandonar a antiga patria e passar-se a Portugal, onde aquelle Rei, em recompensa do muito que por seu respeito perd?ra, lhe fez merc? das villas do Sardoal e Punhete, Marv?o e Amendoa, com o Concelho G?sta?o e as terras e herdades, que em Estrem?z e Av?s for?o da Infanta Dona Beatriz; e o fez Alcaide mor de Portalegre e membro do seu conselho.

Casou Vasco Pires neste Reino com uma filha de Gon?alo Tenreiro, capit?o mor das armadas, a quem Dom Jo?o 1.?, sendo ainda Defensor do Reino, deo depois a capitania de Lisboa, pola muita confian?a que tinha ha sua honra e valor. E della houve a Gon?alo e Jo?o Vas de Cam?es. Mas a inconstancia do pae cortou depois a fortuna aos filhos. Porque na guerra, que por morte de Dom Fernando veio a ter lugar por causa da success?o, como Vasco Pires seguisse a voz de Castella, como antes segu?ra a de Portugal, e na batalha de Aljubarrota fosse tomado com as armas na m?o, lhe for?o tiradas todas as terras e fortalezas que Dom Fernando lhe dera, deixando-lhe apenas a clemencia do vencedor as herdades de Estrem?z e Av?s, com algumas propriedades que tinha em Alemquer.

Jo?o Vas de Cam?es, que era o segundo genito, e veio depois a ser Vassallo de Affonso 5.? pelos relevantes servi?os que lhe fez nas guerras de Africa e contra Castella, casou com Ignez Gomes da Silva, filha bastarda de Jorge da Silva, filho de Gon?alo Gomes da Silva e irm?o de Jo?o Gomes da Silva, que em tempo de Dom Jo?o 1.?, f?ra Alferes mor do Reino e Senhor de muitas terras: e deste matrimonio houve a Ant?o Vas de Cam?es, que, desposando a Guiomar da Gama della teve a Sim?o Vas de Cam?es, que casou com Anna de Macedo, pessoa mui illustre da villa de Santarem. E destes nasceo o nosso poeta.

Aqui teve elle os seus primeiros amores, e se come?ou a dar ao commercio das Musas, que encantadas de t?o gentil alumno, o prend?r?o des de logo com aquella doce lyra, que depois lhe adquirio mais fama que ventura. E desse tempo de Coimbra he a sua Egloga 5.?, que parece ter sido o seu primeiro ensaio no estilo pastoril, pois que nas primeiras edi??es se entitula da sua puericia, por se haver encontrado com esse titulo em todos os manuscriptos, e tambem o Soneto 111, que segundo delle se infere, foi feito quando voltava de f?rias, ja ferido de outra paix?o.

Concluidos os seus estudos, voltou ? Corte: e com que saudade se apartasse daquella deliciosa habita??o, onde lhe ficava o doce empr?go de seus cuidados, se p?de ver do Soneto 133, feito nesta despedida. Restituido ? patria, cheio de t?o saudosas lembran?as, ahi escreveo aquella maviosa Can??o que principia:

V?o as serenas ?goas Do Mondego descendo etc.

Mas em quanto ao som da lyra entoava este harmonioso canto, lhe estava Amor preparando novo assumpto. Fazia ent?o o principal ornamento do pa?o uma Dama, illustre por nascimento, e mais ainda por sua rara belleza, Dona Catharina de Ataide, que estava destinada a ser Laura de maior Petrarca. Vio-a Luis de Cam?es em um templo, que dos Sonetos 77 e 123 se infere ser o das Chagas; e o mesmo foi v?-la, que ficar perdido de amores. Des de ent?o n?o soube mais parte de si; e ufano de se ver vencido de t?o peregrina formosura, divinamente inspirado, compoz a maravilhosa Can??o 7.?; e como quem desejava que este passo, o mais notavel da sua vida, ficasse dignamente celebrado; com ser aquella Can??o uma das mais sublimes produc??es do espirito humano, inda n?o satisfeito della, a procurou reformar na 8.?: mas, n?o sendo possivel subir-se a mais, uma e outra sah?r?o t?o iguaes, que n?o he possivel saber-se qual dellas seja melhor, ou a qual dava o poeta a preferencia. Cansa-se Faria e Sousa em nos provar que estes amores er?o puramente Platonicos; mas disso n?o ficamos por fiadores, porque o poeta rara vez se afastou do natural; e se usava desta lingoagem, era para melhor insinuar-se a fim de obter seu intento, porque o lascivo desejo, que manifesta na Can??o 15 onde diz:

Des que com gentil arte Vest?s de flores bellas A terra, que tocais co'a bella planta, Quantas vezes com v?-las, Quiz n'uma dessas flores transformar-me! Porque vendo pisar-me Desse candido pe, que a neve espanta, P?de ser que na flor mudado f?ra Que deo a Juno irada a linda Flora.

n?o deixa a este respeito duvida alguma a quem tiver noticia da maneira por que Marte foi gerado.

Agora exprimentando a furia rara De Marte, que nos olhos quiz que logo Visse e tocasse o acerbo fructo seu. E neste escudo meu A pintura ver?o do infesto fogo.

Na occasi?o da sua chegada a Goa, como o Viso-Rei Dom Affonso estivesse aprestando uma grossa armada para ir em soccorro do Rei de Porc?, nosso alliado, a quem o da Pimenta ou Chemb? havia tomado uma ilha, o acompanhou o poeta nesta expedi??o, cujo successo elle mesmo brevemente refere na Elegia 3.?; e com elle voltou a Goa. Em Setembro do seguinte anno de 1554 cheg?r?o as naos do Reino, em que ia Dom Pedro Mascarenhas succeder a Dom Affonso; e ent?o se divulgou a triste noticia das mortes de Dom Antonio de Noronha, sobrinho do Viso-Rei, e do Principe Dom Jo?o, as quaes o poeta profundamente sentio; aquella como verdadeiro amigo, esta como optimo cidad?o, que ja de longe previa as consequencias de t?o funesto acontecimento: e a este assumpto escreveo a Egloga 1.? e o Soneto 12 que enviou a um seu amigo de Lisboa em uma carta com data de Janeiro de 1555.

Chegou Luis de Cam?es a Goa em Setembro de 1553; acompanhou o Viso-Rei Dom Affonso de Noronha na expedi??o contra o Rei de Chemb?, e com elle voltou a Goa; em Janeiro de 1555 ahi estava, porque ahi escreveo a Egloga, Soneto e Carta que dissemos; em 16 de Junho do mesmo anno, em que succedeo no governo Francisco Barreto, ainda ahi estava, como se prova com a mesma Satyra, em que descreve as festas que por essa occasi?o se fizer?o, como testimunha ocular. Logo n?o foi Luis de Cam?es provido pelo Viso-Rei Pedro Mascarenhas no cargo de Provedor mor dos defuntos para a China, como affirm?o Manoel Correa e Pedro Mariz, nem sahio para o Estreito de Meca na armada de Manoel de Vasconcellos, como conjectura Severim de Faria, porque essa armada voltou a Goa em Outubro, e Francisco Barreto entrou no governo em Junho do mesmo anno, como dissemos. Tambem he falso que Luis de Cam?es, voltando de Macao a Goa, fosse preso por Francisco Barreto, pelo dinheiro das partes que perd?ra no naufragio, porque nem isso lhe podia ser imputado a crime, n?o estando em sua m?o evitar um tal desastre, nem Francisco Barreto o podia mandar prender, porque em Setembro de 1558 entregou elle o governo ao Viso-Rei Dom Constantino, e Cam?es voltou a Goa depois do anno de 1560. E a falsidade da asser??o de Mariz, que o poeta viera preso e capitulado para o Reino, se prova com a outra sua asser??o, que Pedro Barreto, indo por governador de ?ofala, e desejando levar a Luis de Cam?es na sua companhia, lhe fizera largas promessas e o mov?ra a isso, dando-lhe logo duzentos cruzados para os seus arranjos de viagem, porque se tudo isto foi necessario para o mover, certo he que estava em sua plena liberdade.

E ainda, Nymphas minhas, n?o bastava Que tamanhas miserias me cercassem, Sen?o que aquelles que eu cantando andava Tal premio de meus versos me tornassem! A tr?co dos descansos que esperava, Das capellas de Louro que me honrassem, Trabalhos nunca usados me invent?r?o, Com que em t?o duro estado me deit?r?o.

Emfim, n?o houve trance de fortuna, Nem perigos nem casos duvidosos, Injusti?as daquelles, que o confuso Regimento do mundo, antigo abuso, Faz sobre os outros homens poderosos, Que eu n?o passasse, atado ? fiel columna Do soffrimento meu, que a importuna Persegui??o de males em peda?os Mil vezes fez ? for?a de seus bra?os.

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