Read Ebook: Um club da Má-Lingua by Dostoyevsky Fyodor Macedo Manuel De Translator
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Ebook has 1012 lines and 46819 words, and 21 pages
KUOPION TAKANA
Kolmin?yt?ksinen huvin?ytelm?
Kirj.
GUSTAF von NUMERS
Suomennos
Helsingiss?, Kustannusosakeyhti? Otava, 1904.
Oy Kuopion Uusi Kirjapaino.
HENKIL?T:
Rovasti. Ruustinna. Naemi, heid?n tytt?rens?. Apulainen, kihloissa Naemin kanssa. Lilli, kihloissa rovastin pojan kanssa. Pastorin rouva. Kauppamiehen rouva. Nimismiehen rouva. Renki. Sis?piika. V?lipiika. Talonpoika.
Tapahtuu savolaisessa pappilassa.
ENSIMM?INEN N?YT?S.
Pappilan sali. Per?ll? kaksi ovea. Oikeanpuoleinen vie eteiseen, vasemmanpuoleinen ruokasaliin. Ovien v?liss? kakluuni. Oikealla kaksi ikkunaa. Niiden edess? kukkia. Alempana oikealla piano. Pianon vieress? pieni p?yt?; p?yd?n ymp?rill? keinutuoli ja kaksi pikku tuolia. Vasemmalla kaksi ovea. Ylempi vie apulaisen ja alempi rovastin huoneesen. Ovien v?liss? kellokaappi. Alempana vasemmalla sohva. Sohvan edess? p?yt?, keinutuoli ja pari muuta tuolia. Apulaisen huoneen ja ruokasalin ovien v?lisess? nurkassa p?yt?, P?yd?ll? piippuhylly, tupakkivehkeet ja sahtikaraffi. Seinill? Lutheruksen ja suomalaisten pappismiesten kuvia. Katossa harsotettu kynttil?kruunu. Huonekalut vanhanaikuiset. Lattialla k?yt?v?-matot. P?yd?ll? vastatullut posti: kirjeit? ja sanomalehti?. -- Ruokasalin ja eteisen ikkunoista n?kyy j?rvimaisema. Ruokasalin keskilattialla ympyri?inen p?yt?. Iltap?iv?.
At? que por fim veiu o principe, com grande espanto e n?o menor decep??o de toda a gente, nem sequer passou por Mordassov e foi encerrar-se em absoluto isolamento em Dukhanovo. Correram boatos singularissimos. A datar d'esse momento, torna-se obscura e phantastica a historia do principe. A principio constou que l? por Petersburgo lhe n?o tinham corrido bem os negocios, que os herdeiros, em vista do seu estado senil, queriam nomear-lhe um conselho judicial receando que voltasse a esbanjar os seus bens. Ainda mais: accrescentavam que aquelles ?vidos ca?adores de heran?as tinham querido intern?l-o n'uma casa de saude! Afortunadamente para o principe, um seu parente, personagem de summa importancia, saiu em sua def?sa, provando ? evidencia que o pobre homem, semi-morto e todo elle artificial, n?o estava para muita dura, certamente. E que n'essa conformidade os seus bens viriam a reverter nos herdeiros sem que estes se vissem na necessidade de recorrer ? casa de saude. Eis o que se diz. S?o compridinhas as linguas l? em Mordassov. Tudo isto havia assustado o principe, a tal ponto, que se lhe tinha demudado o genio, descambando em eremit?o. Por mera curiosidade, vieram felicit?l-o varios Mordassovenses: e ou n?o foram recebidos, ou se o foram foi de modo um tanto exquisito. O principe nem mesmo reconheceu, ou antes, n?o quiz reconhecer os seus amigos de outrora.
O proprio governador o foi visitar, mas voltou pelo mesmo caminho dizendo que o principe estava tin?co. D'alli em deante notaram que o governador punha uma cara de palmo, assim que lhe falavam na jornada a Dukhanovo... Indignavam-se as senhoras. At? que por fim se veiu a saber uma coisa capital; o principe vivia submettido ? tutella de uma figurona por nome Stepanida Matvei?vna,--Deus sabe que casta de mulher!--que tinha vindo l? de Petersburgo, velha, ob?sa, usando constantemente o mesmo vestido de cassa, e sempre com um m?lho de chaves na m?o. O principe obedece-lhe em tudo e por tudo e n?o se atreve a dar um passo sem a consultar. Ella, lava-o com suas proprias m?os, apaparica-o, passeia-o e entretem-n'o, como se f?ra um n?n?; em conclus?o, ? ella quem bate com a porta na cara aos parentes que principiam a saber o caminho de Dukhanovo... Foi muito discutida, sobretudo entre as senhoras, t?o incomprehensivel liga??o. Accrescentavam que Stepanida Matvei?vna regia com plenos poderes, e sem ter quem lhe fosse ? m?o, a totalidade dos bens do principe. Substitue feitores, creados, arrecada os rendimentos; ? ali?s boa a sua administra??o, e os campon?zes n?o v?em outra coisa. Com respeito ao principe, este nem j? arreda um passo do toucador, a ensaiar chin?s, p?ras posti?as, casacos. Uma vez por outra, joga ?s cartas com Stepanida Matvei?vna; de vez em quando, d? o seu passeio n'uma egua ingl?sa muito mansa: Stepanida Matvei?vna acompanha-o sempre em carruagem fechada, prompta ? primeira voz, visto como o principe s? monta a cavallo por garridice e mal se pode ter em cima do selim. Acontece-lhe tambem o sair a p?, embrulhado n'um sobretudo, com um chap?u de palha enterrado na cabe?a, um len?o de mulher ao pesco?o, um monoculo no olho e pendurado na m?o esquerda um a?afate para recolher cogumelos e fl?res campestres. Stepanida Matvei?vna, vae-lhe seguindo as pisadas, levando ? tr?la dois latag?es de dois lacaios; e um pouco mais atr?z, uma carruagem. Se calha encontrarem um mujik que p?ra e tira o bonn? para lhe fazer a sua contum?lia dizendo: "Bom dia, paezinho principe. Nossa Excellencia, nosso solzinho!" o principe assesta-lhe o monoculo, ac?na-lhe com a cabe?a com bom modo e diz-lhe em franc?z: "Bom dia, amigo, bom dia!" Qual n?o foi por?m o espanto de toda a gente quando, uma bella manh?, se espalhou o boato de como o principe, aquelle eremit?o, aquelle original, tinha vindo em pessoa a Mordassov e se hospedara em casa de Maria Alexandrovna! Foi um reboli?o por ahi al?m! Estavam ? espera de uma explica??o, e perguntavam uns aos outros: "Que querer? isto dizer?" N?o faltou quem se estivesse enfeitando para ir a casa de Maria Alexandrovna. Carteavam-se as senhoras, visitavam-se, mandavam as creadas e os maridos colher informa??es. O que maior especta??o causava era a circunstancia de se ter ido o principe hospedar em casa de Maria Alexandrovna, e n?o em qualquer outra parte. Anna Nikolaievna Antipova ficou mais escandalizada do que outra qualquer pessoa, visto o principe ser ainda seu parente, parente muito arredado, ? verdade.
S?o dez horas da manh?. Estamos em casa de Maria Alexandrovna, na Rua Grande, no aposento que a dona da casa, nos dias duplices, enfeita com o titulo de sala. O papel das paredes ? correctissimo. Os moveis, pouco commodos, arvoram com verdadeira predilec??o a c?r vermelha. Ha um fog?o, e em cima do fog?o um espelho; deante do espelho um relogio tendo por assunto um Cupido do mais execrando gosto. Nas paredes, no intervallo das jan?llas, dois espelhos a que j? tiraram as capas. Adeante dos espelhos, duas banquinhas, e ainda dois relogios. Toma a metade de um apainelado um piano de cauda. Ao p? do fog?o, no qual arde uma b?a fogueira, est?o dispostas umas poltronas em desalinho pinturesco a mais n?o poder ser. Ao meio outra banquinha. No outro extremo da casa, ainda outra mesa, tapada com uma toalha immaculada e em cima, um samovar de prata, a ferver, no meio de um lindissimo servi?o para ch?. Uma senhora, residente em casa de Maria Alexandrovna, a titulo de parenta affastada, Nastassia Petrovna Ziablova, est? especialmente incumbida do ch?.
Duas palavras ?cerca da alludida senhora. ? viuva, frescalhona, com uns olhos castanhos escuros muito vivos, assaz bem parecida; ? alegre, velhaca, at?; linguareira, escusado ser? diz?-lo, e sabendo levar agua ao seu moinho; tem dois filhos no collegio, para ahi, algures. N?o se lhe daria de tornar a casar; vive com bastante independencia; o marido era official.
Maria Alexandrovna em pessoa est? sentada ao p? do fog?o: acha-se de boa catadura. Traja um vestido verde claro, assentando-lhe a primor. Est? contentissima com a vinda do principe. N'este ensejo, o principe est? l? em cima, todo elle entregue ? tarefa de se infunicar.
Maria Alexandrovna nem sequer pensa em esconder o seu contentamento. Deante d'ella, um rapaz a fazer boquinhas e a cantar, muito animado, seja o que f?r. Percebe-se que se desv?la por agradar a quem o est? escutando. Tem vinte e cinco annos. Se n?o fossem as suas exuberancias, se n?o fossem tambem as suas pretens?es a engra?ado, seria toleravel. Est? bem vestido, ? loiro e de agradavel presen?a. J? a elle nos referimos, ? o senhor Mozgliakov, m??o sobre quem se fundaram esperan?as matrimoniaes. Maria Alexandrovna acha-lhe a cabe?a um tanto ?ca, mas nem por isso deixa de o receber muito bem. Diz elle que est? loucamente apaixonado pela Zina. Dirige-se a esta continuamente, ancioso por alcan?ar um ar de riso a poder de bons ditos e de azoamento. Ella, comtudo, mantem-n'o a distancia, com extrema frialdade. A joven est? de p? junto ao piano, a folhear um almanaque. ? uma dessas mulheres que produzem effeito geral ao entrarem numa sala. ? peregrinamente formosa: alta, morena, com uns immensos olhos quasi pretos, esbelta, com um collo magnifico, uns p?sinhos encantadores, espaduas e m?os de molde classico, e um pisar de rainha. Est? hoje um tanto descor?da, a pallidez, comtudo, torna-lhe mais conspicuo o rubido fulgor dos labios por entre os quaes lhe luzem, tal qual perolas em fio, uns dentinhos miudinhos e regulares. Era caso para qualquer de n?s sonhar com elles, tr?s dias a fio, s? de lhes ter posto a vista em cima. ? s?ria a sua express?o.
O senhor Mozgliakov dir-se-hia arrecear-se do olhar fito da Zina, pelo menos n?o ergue para esta os olhos sem um tal qual enleio.
? singelissimo o vestido da joven, de gaze branca: Est?-lhe bem o branco, est?-lhe lindamente o branco... E d'ahi, que haver? que lhe n?o fique bem? Traz enfiado n'um dedo um annel de cabello entran?ado. A julgar pela c?r, aquelles cabellos n?o s?o os da mam?. Mozgliakov nunca se afoitou a perguntar de quem seriam aquelles cabellos. Est? taciturna, esta manh?, triste, at?, ou preoccupada, pelo menos. Em compensa??o, Maria Alexandrovna acha-se em mar? de dar ? lingua. De vez em quando, esgu?lha uns olhos desconfiados para a Zina, e olhos furtivos quanto possivel, como que n?o se arreceando menos da joven.
--Estou t?o contente, Pavel Alexandrovitch, que estou capaz de gritar da janella abaixo o meu contentamento a quem passa pela rua. Sem falarmos da agradabilissima surpreza que nos proporcionou, a mim e ? Zina, com vir quinze dias mais cedo do que o esperavamos. ? caso ? parte. Mas o que mais me penhorou foi a atten??o que teve comnosco trazendo comsigo o principe. Se soubesse como eu adoro aquelle encanto aquelle v?lhinho! N?o pode comprehender-me! As pessoas da sua edade seriam incapazes de semelhante affei??o. N?o sabe as circumstancias que entre mim e elle se deram, ha seis annos? Lembras-te, Zina? E eu sem me lembrar de que n'esse tempo estavas em casa de tua tia. Estou que me n?o acreditaria, Pavel Alexandrovitch, se eu lhe dissesse, que servi de guia ao principe, que fui para elle, irm?, m?e? Havia lhaneza, carinho, nobreza n'aquella nossa liga??o. Era... pastoril!... Nem eu sei como a hei de definir. Eis o motivo porque elle se lembrou da minha casa com tamanha gratid?o, o pobre do principe! E se eu lhe disser, Pavel Alexandrovitch, que ? possivel at? que o salvasse trazendo-o para minha casa? N?o podia evitar o confranger-se-me o cora??o, durante aquelles seis annos, sempre que me punha a pensar n'elle!... Eu... quer acreditar?... at? sonhava com elle! Dizem que aquella creatura, a tal sua carcereira, o enfeiti?ou, que o deitou a perder... mas, emfim, o senhor arrancou-o das garras d'aquella harpia! Urge aproveitar a occasi?o para o salvar completamente... Mas conte-me, mais uma vez, como foi que o conseguiu? Descreva-me, muito por miudos, o encontro de um e outro. Eu ainda agora fiquei t?o sobresaltada! N?o vi sen?o os tra?os geraes, mas n?o ha pormenor que n?o seja precioso a meus olhos. Se eu sou assim! Pello-me pelas minudencias, nos acontecimentos de maior vulto, s?o os pormenores que primeiramente me chamam atten??o... e... emquanto elle se est? arrebicando...
--Mas se eu j? lhe contei tudo, apressa-se em responder Mozgliakov, prompto a recapitular a narrativa pela d?cima vez. Tinha viajado toda a noite... n?o tinha pregado olho; estava com tanta pressa de chegar ao meu destino! Tive que aturar contendas, berreiros por occasi?o das mudas. Eu proprio, confesso, n?o fiz tambem pouca algazarra. ? um poema moderno, sem tirar nem p?r. Mas vamos adeante. ?s seis horas da manh?, em ponto, eis que ch?go ? ultima muda, em Ignich?vo. Tranzido, mas, isso sim! nem sequer tiro uns minutos para me aqu?cer. P?go a gritar: "Cavallos!" Estou em dizer, at?, que metti um susto ? mulher do capataz das mudas: tinha ao collo um n?n?, de peito, e estou com receio que se lhe talhasse o leite.--Era admiravel o despontar do sol! Sabe, aquelle p? da geada escarlate e prateada? E eu, sem attentar em coisa nenhuma, ia a vapor!
Empalmo uns cavallos a um tal conselheiro de collegio,--com quem por um triz que n?o tenho um du?llo. Afian?am-me que um quarto de hora antes tinha abalado da dita muda um certo principe que viaja com cavallos proprios. Que pernoitara na muda. Quasi que nem lhes dou ouvidos, salto para a carruagem, v?o por ali f?ra tal qual um prisioneiro escapulido.--Ha uma situa??o parecida em uma elegia de Fet.--Ora, a nove verstas da cidade, justamente, em vista do retiro de Svietozerskaia, avisto o que quer que seja de singular! Uma grande carruagem de jornada ca?da na estrada. O cocheiro e dois latag?es de dois lacaios, de p?, junto da mesma, e muito atrapalhados. L? do fundo da carruagem vinham uns b?rros que me confrangiam a alma!... Eu podia seguir por deante, n?o tinha nada com isso, mas levou a melhor a humanidade, pois, como diz Heine, mette o nariz em toda a parte. Paro, pois. Eu, o meu yamstchik Semene, e uma outra alma russa, accudimos a ajudar e entre n?s seis p?mos em p? a carruagem. P?mol-a de p?,--quero dizer, sobre os patins.--Uns mujiks que levavam uma carga de lenha para a cidade ajudaram-nos tambem, . E eu a dizer commigo: ? o tal principe que passou a noite na muda. ?lho: Santo Deus! ? o principe Gavrila! Que encontro este! "Principe! bradei: tiozinho!" ? primeira vista, n?o me conheceu; nem sei se me reconheceria ? segunda: e agora mesmo n?o estou bem certo em que me reconhecesse. Creio que nem sequer j? se lembra do nosso parentesco. Vi-o pela primeira vez, em Petersburgo. N'esse tempo era eu um garoto. Lembro-me muito bem, mas elle, podia-se l? lembrar de mim? Apresento-me: fica encantado! Beija-me, e depois pega a tremer de susto e, em conclus?o, desata a solu?ar. Por Deus! Vi-o com meus proprios olhos: at? chorou! Palavra puxa palavra e, em conclus?o, acabei por lhe prop?r que viesse at? Mordassov tomar um dia de descanso. Consentiu sem hesita??es. Declarou-me que ia para o retiro de Svietozerskaia, para casa do arcypreste Missail a quem tem em grande conta; que a Stepanida Matv?ina--qual de n?s, parentes do Principe, n?o ter? ouvido falar de Stepanida Matvei?vna? O anno passado, escorra?ou-me de Dukhanovo com o pau da vassoira!... Que a Stepanida Matvei?vna recebera pois uma carta exigindo a sua presen?a em Moscou pelo fallecimento de alguem, o pae ou a filha, nem sei nem quero saber,--talvez que pae e filha ao mesmo tempo, e ainda por cima para ahi qualquer segundo sobrinho empregado na fiscaliza??o dos vinhos. N'uma palavra, tivera que conformar-se, desamparar o seu principe por uns dez dias e levantar v?o, a toda a pressa, para a capital.
O principe dem?ra-se um dia; dois dias, sem se mexer, a experimentar chin?s, a encalamistrar-se, a pentear-se, a fazer paciencias: em conclus?o, a solid?o acabou por lhe ser pesada. Foi ent?o que mandou p?r o trem e metteu a caminho do retiro de Svietozerskaia. Alguem do seu s?quito, com medo do phantasma da Stepanida Matvei?vna, atrevera-se a ir-lhe ? m?o. Mas o principe ? cabe?udo e tinha abalado na vespera, depois de jantar, pernoitando em Ignichevo, largara da muda de madrugada, e, justamente na volta do caminho que vae ter ? residencia do arcypreste, por pouco se n?o despenha com a carruagem n'uma barroca. Salvei-o e persuadi-o a vir para casa da nossa amiga commum, a dignissima Maria Alexandrovna. Diz elle que a senhora ? a dama mais encantadora que tem encontrado em toda a sua vida, e c? estamos. O principe est? a p?r em ordem os arrebiques com o criado particular de quem porfiou em n?o prescindir. Mais depressa se deixaria morrer do que apresentar-se em casa de uma senhora sem a roupa toda da ordem... E aqui tem a historia toda... ? uma historia deliciosa!
--Que humorista, hein! Zina? exclama Maria Alexandrovna. Que captivante narrador! Escute, Pavel, uma pergunta: explique-me bem o seu parentesco com o principe. O senhor trata-o de tio.
--Por Deus! Maria Alexandrovna, se eu sou o proprio a n?o saber, como ? que sou seu parente. Estou em dizer, at?, que talvez seja preciso para ahi um cento de grav?tos para sermos do mesmo ramo. Mas eu c? trato-o de tiozinho, e elle responde-me. E ahi tem, at? hoje, todo o nosso parentesco...
--Foi Deus em pessoa que o inspirou em m'o trazer para aqui. Arrepio-me s? de pensar que poderia ter ido hospedar-se para outra qualquer parte. Devoravam-n'o! Atiravam-se a elle como quem se atira a um thesouro, a uma mina!... Eram capazes de lhe tirar a camisa! N?o p?e na sua ideia o que por ahi vae de almas sofregas, vis e arteiras n'esta nossa Mordassov.
--Ah! meu Deus! mas para onde queria que o levassem a n?o ser para sua casa? Sempre tem cada uma, Maria Alexandrovna, interveiu Nastassia Petrovna, a incumbida do ch?. Talvez quisesse que carregassem com elle para casa da Anna Nikolaievna!
--Mas com tudo isso, por que se demorar? elle tanto? ? exquisito! disse Maria Alexandrovna, erguendo-se, impaciente.
--O tio? Aquillo ainda ? negocio para cinco horas! E d'ahi, bem sabe que est? perdido da memoria; ? capaz de se ter esquecido de que ? seu hospede. ? um homem extraordinario, Maria Alexandrovna. Se soubesse!
--Ora vamos! Que est? a dizer?
--Valha-nos Deus, sempre ? um tal esturdio! exclamou Maria Alexandrovna com uns modos doridos. N?o tem vergonha, o senhor, a falar assim de um veneravel anci?o, que ? seu parente? Sequer ao menos, lembre-se de que ? uma reliquia da nossa aristocracia! Meu amigo, essas leviandades prov?m-lhe das taes novas ideias em que est? sempre a falar. Meu Deus! tambem eu participo dessas ideias; comprehendo que o principio que rege as suas opini?es ? nobre, honrado. Presinto n'essas ideias novas o que quer que ? de elevado, de sublime. Mas tudo isso n?o me impede de ver os lados praticos, por assim dizer--da quest?o. Tenho vivido na sociedade, conhe?o melhor que o senhor os homens e as coisas, pois que o senhor ? apenas um rapaz. Este v?lhinho afigura-se-lhe ridiculo l? por causa da edade. O senhor, ha dias, affirmava que queria dar alforria aos seus servos, que cada qual deve ir com o seu s?culo. Tudo isso, sem duvida, l? por que o leu para ahi algures no tal seu Shakespeare! Acredite, Pavel Alexandrovitch, o seu Shakespeare j? l? vae ha que tempos. Se elle resuscitasse, apezar de ser um g?nio, n?o percebia uma palavra do viver moderno. Se alguma coisa existe de majestoso, de cavalheiresco n'esta nossa sociedade contemporanea, ? com certeza a aristocracia. Um principe ? sempre um principe; faz um palacio ainda que seja de uma cabana. Ao passo que o marido da Natalia Dmitrievna, que mandou construir um palacio, fica sendo o marido da Natalia Dmitrievna, e mais nada,--e a Natalia Dmitrievna pode p?r em cima de si meio cento de crin?lines, que nunca passar? de ser a Natalia Dmitrievna como d'antes. Tambem o senhor, meu caro Pavel, ? um representante da aristocracia, de l? veiu. Aqui onde me v?, ouso tambem ter-me na conta de n?o ser alheia ? aristocracia. Pois bem! Ai do filho que chasqueia dos proprios antepassados! E d'ahi, n?o deixar? de convir, d'aqui a nada, meu amiguinho, que ? preciso p?r de lado o seu Shakespeare, sou eu que lh'o digo. Estou certa em que agora mesmo n?o ? sinc?ro. Est? armando ao effeito!... Mas... eu para aqui a dar ? lingua! Deixe-se estar, meu querido Pavel; vou saber noticias do principe. Talvez precise de alguma coisa, e com estes meus criados!... E saiu apressada Maria Alexandrovna.
--Maria Alexandrovna parece estar contentissima pelo facto de o principe n?o se ter ido hospedar para casa da elegante Anna Nikolaievna; e comtudo, a Anna Nikolaievna tem pretens?es a ser parente do principe. ? capaz de estoirar de raiva!--observou Nastassia Petrovna.
Mas, notando que lhe n?o respondem, Madame Ziablova, depois de haver esguelhado uma olhad?la para a Zina e para Pavel Alexandrovitch, percebe que ? alli de mais e sae, tambem, como quem vae procurar qualquer coisa. E d'ahi, desforra-se da propria discre??o deixando-se ficar atr?z da porta, de ouvido ? escuta.
Pavel Alexandrovitch trata logo de se approximar da Zina; est? commovidissimo, com a voz a tremer:
--Zinaida Aphanassievna! N?o est? zangada commigo? diz timidamente e com modo supplice.
--Com o senhor? Mas por qu?? pergunta a Zina um tanto ruborizada, erguendo sobre elle os esplendidos olhos.
--Pela minha vinda prematura, Zinaida Aphanassievna, j? n?o podia supportar mais longo apartamento. Ainda mais quinze dias! E eu a v?l-a sempre em sonhos! Vim para saber a minha sorte... Mas por que franze as sobrancelhas, est? zangada? Com que ent?o, ainda hoje n?o apanho resposta decisiva?
? Zinaida, effectivamente, carregou-se-lhe o parecer.
--E eu antevia que me havia de falar a esse respeito, encetou ella em voz rispida com uns vislumbres de despeito. E como semelhante apprehens?o me maguou em extremo, acho melhor cortar de vez toda e qualquer indecis?o... mais vale assim... O senhor exige, quero dizer, pede uma resposta? Seja assim. A minha resposta ser? a mesma que j? lhe dei: espere. Repito-lhe, ainda n?o estou resolvida, n?o lhe posso prometter o ser sua mulher... N?o ? coisa que se obtenha por exigencia, Pavel Alexandrovitch; mas, para o tranquillizar accrescentarei que o n?o rejeito definitivamente. E comtudo, note que, se o deixo esperar uma decis?o favoravel, ? por d? da sua inquieta??o. Repito-lhe que quero tomar em plena liberdade a minha decis?o, e se eu em conclus?o lhe declarar que o rejeito, nem por isso depois me deve increpar por lhe ter dado esperan?as. E fique isto assente por uma vez!
--Mas ent?o, ent?o! exclamou Mozgliakov em voz de mais em mais supplice, ser? isso uma esperan?a? Poderei fundar uma qualquer esperan?a n'essas suas palavras, Zinaida Aphanassievna?
--Lembre-se de tudo que lhe tenho dito e funde tudo que quiser: ? livre. E nada mais acrescentarei. N?o o rejeito, digo-lhe, t?o somente: Espere! Reservo-me o direito de o rejeitar se assim o julgar necessario... Far-lhe-hei ainda notar o seguinte, Pavel Alexandrovitch: se veiu mais cedo do que tinha dito com o sentido em operar por meios indirectos, esperan?ado em fazer valer a sua influencia, a da mam?, por exemplo, enganou-se nos seus calculos. Se assim f?ra, rejeit?l-o-hia de vez, entendeu? E agora, basta, se me faz favor! At? que eu proprio lhe torne a falar n'isso, nem palavra a semelhante respeito.
Foi proferido em tom firme, s?cco, o conjuncto d'este discurso, sem hesita??es, como se f?ra decorado de antem?o. E Pavel sente o nariz a crescer-lhe. N'este comenos eis que entra Maria Alexandrovna. Logo atr?z d'esta entra madame Ziablova.
--J? ahi vem, Zina! Quer-me parecer que n?o tarda ahi! Nastassia Petrovna, avie-se... o ch?!
E Maria Alexandrovna n'uma azafama, toda ella.
--A Anna Nikolaievna j? mandou saber noticias; a Aniutka, a creada, at? j? veiu pedir informa??es ? copa. Ha de estar como uma bicha! disse a Nastassia Petrovna, investindo com o samovar.
--Mas n?o o acho nada mudado, nada, nada! exclama ella agarrando em ambas as m?os ao hospede e amesendando-o n'uma commoda poltrona. Sente-se! sente-se, principe! Seis annos! seis annos, inteirinhos e integrados sem nos vermos, e nem uma carta, nem uma linha, durante todo o tempo! Oh! quantas culpas n?o tem para commigo, principe! Se soubesse o quanto eu estava zangada comsigo, meu caro principe! Mas, e esse ch?! esse ch?! Ah! meu Deus! Nastassia Petrovna, o ch?!
--Obrigado... ?--?brigado!... sou cul... cul... pado... gaguejou o principe.
--Cul... culpado! Ora imagine que, o anno passado, quiz abs... absolutamente vir aqui, acrescentou a mirar a casa atrav?s da luneta.
Mas tinham-me mettido medo: disseram-me que por aqui andava a c?... c?lera...
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