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Read Ebook: Da Loucura e das Manias em Portugal by Machado J Lio C Sar

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Ebook has 320 lines and 27164 words, and 7 pages

PAGE

The Princess is given a Vision Frontispiece The Descent of Quetzalcoatl xiv Toveyo and the Magic Drum 16 The Altar of Skulls 26 The Guardian of the Sacred Fire 30 Pyramid of the Moon: Pyramid of the Sun 32 Ruins of the Pyramid of Xochicalco 34 The Spirit of the dead Aztec is attacked by an Evil Spirit who scatters Clouds of Ashes 38 The Demon Izpuzteque 40 The Aztec Calendar Stone 44 A Prisoner fighting for his Life 48 Combat between Mexican and Bilimec Warriors 53 Priest making an Incantation over an Aztec Lady 54 The Princess sees a Strange Man before the Palace 62 Tezcatlipoca, Lord of the Night Winds 66 The Infant War-God drives his Brethren into a Lake and slays them 70 Statue of Tlaloc, the Rain-God 76 The Aged Quetzalcoatl leaves Mexico on a Raft of Serpents 80 Ritual Masks of Quetzalcoatl and Tezcatlipoca; and Sacrificial Knife 84 The so-called Teoyaominqui 88 Statue of a Male Divinity 90 Xolotl 94 The Quauhxicalli, or Solar Altar of Sacrifice 98 Macuilxochitl 102 The Penitent addressing the Fire 106 Cloud Serpent, the Hunter-God 110 Mexican Goddess 114 Tezcatlipoca 117 "Place where the Heavens Stood" 120 A Flood-Myth of the Nahua 122 The Prince who fled for his Life 126 The Princess and the Statues 130 The King's Sister is shown the Valley of Dry Bones 140 Mexican Deity 142 The Prince who went to Found a City 156 "The Tablet of the Cross" 160 Design on a Vase from Cham? representing Maya Deities 166 The House of Bats 172 Part of the Palace and Tower, Palenque 182 The King who loved a Princess 186 Teocalli or Pyramid of Papantla: The Nunnery, Chichen-Itza 188 Details of the Nunnery at Chichen-Itza 190 The Old Woman who took an Egg home 192 Great Palace of Mitla: Interior of an Apartment in the Palace of Mitla 198 Hall of the Columns, Palace of Mitla 202 The Twins make an Imitation Crab 214 The Princess and the Gourds 220 The Princess who made Friends of the Owls 222 In the House of Bats 226 How the Sun appeared like the Moon 230 Queen M?o has her Destiny foretold 240 The Rejected Suitor 242 Piece of Pottery representing a Tapir 247 Doorway of Tiahuanaco 248 Fortress at Ollantay-tampu 250 "Mother and child are united" 252 The Inca Fortress of Pissac 254 "Making one of each nation out of the clay of the earth" 258 Painted and Black Terra-cotta Vases 280 Conducting the White Llama to the Sacrifice 312 "The birdlike beings were in reality women" 318 "A beautiful youth appeared to Thonapa" 320 "He sang the song of Chamayhuarisca" 322 "The younger one flew away" 324 "His wife at first indignantly denied the accusation" 326 "He saw a very beautiful girl crying bitterly" 328

MAPS

The Valley of Mexico 330 Distribution of the Races in Ancient Mexico 331 Distribution of the Races under the Empire of the Incas 333

The Civilisations of the New World

A d'al?m, n'aquelle quarto, estirada sobre um colx?o: levantando-se, deitando-se, vindo ? porta, estorcendo-se, caindo prostrada: reerguendo-se mais sonhadora, mais desejosa da felicidade e da vida, pensando no amor, sempre no amor e nas venturas ineffaveis: rasgando-se, compondo-se, suspirando, anceiando, ? uma mulata; tem duzentos contos de r?is de fortuna. N'um dos seus quartos ha um piano, onde vi outras tocando, em quanto ella arredada de tudo e de todos estava entregue apenas ? sua inquieta phantasia. ? uma mulher esbelta, opulenta de f?rmas, lembrando as feiticeiras do Oriente; uma d'essas organisa??es colossaes como as que a terra produzia quando era nova e que absorviam em si umas poucas de existencias!...

As enfermeiras tratam de a tranquillisar, quando observam que com o ver visitas principie a agitar-se; encostam mais a porta do quarto: e continuam caminhando gravemente, com o seu ar impenetravel; impenetravel ao ponto de se estar sempre em duvida ao ver o olhar vago d'ellas se tambem ser?o...--se as doentes tambem ser?o enfermeiras?

V?o andando de chave na m?o, e apresentam ao director uma ou outra doente que precise ser examinada. Em geral teem ar de boas creaturas essas empregadas, e corrigem um pouco pela sua presen?a a impress?o penosa que se experimenta ao atravessar aquelle triste captiveiro.

As doidas cercam-as, pucham por ellas, pedem-lhes para alcan?ar do director ordem de saida: que j? ? tempo, que ? de mais, que n?o podem j?...

--?manh?! respondem ellas sempre. ?manh?.

E as pobres doidas ficam-se sorrindo ?quella palavra:--?manh?!

Uma, aqui, sem fazer caso do delirio que vae em roda d'ella n?o faz sen?o costurar; coser, coser, coser; e gritam, e pulam, e dan?am, e ralham, e atropelam-a, e ella vae costurando, cosendo, cosendo, tranquillamente, prudentemente, como se f?ra o sol no meio da noite, a ac??o no meio da id?a, a ras?o no meio da loucura!

Outra falla s?sinha, e ri. De que est? a fallar sempre? De que est? sempre a rir? Est? a rir das coisas, e a fallar de um certo, por causa de quem veiu a observar que a maior parte dos amantes ficariam contrariados com o possuir para sempre e sem partilhas o objecto da sua adora??o; e que, se se dirigem mais homenagens ?s casadas do que ?s solteiras, ? porque o marido ? um obstaculo que ninguem supprime, e d?, por isso mesmo, a melhor latitude a protestos de dedica??o. Est? ? janella a olhar para os campos e a farejar tormenta em tudo--no voejar dos passaros, na pressa das formigas... Queixa-se de ter conhecido a vida, ? sua custa;--a peor maneira de conhecer as coisas. ?s vezes n?o ? segura, e quando se exalta vae dando bofetadas em quem apanha; previnem-me disto.

--Parece-me que conhe?o, responde ella.

O director diz-lhe o meu nome.

--? isso mesmo; j? vi o retrato n'um livro.

? da Ericeira, esta menina; muitas das leitoras se lembram talvez d'ella, e toda a gente que ali tem ido a banhos lhe conheceu o pae,--o chamado Ericeira, o capit?o Ericeira, que morreu ha poucos mezes. Nos fins do ultimo outomno procurou-me uma manh? um homem baixo, vermelho, atochado, de cabe?a grande, sobrancelhas fartas, perna curta, tronco forte, especie de Han de Islandia em velho; trazia uma carta do meu amigo Augusto Tallone, que m'o apresentava dizendo que por ter lido um folhetim meu a respeito da Ericeira elle quizera conhecer-me;--era o pobre capit?o. Convers?mos um pouco de tempo; elle fallava com difficuldade. Agradeci-lhe o favor da sua visita e despedimo-nos at? o ver?o, na id?a de que eu fosse ? Ericeira este anno; morreu tres mezes depois, coitado, e agora fui encontrar a filha em Rilhafolles!...

A pobre menina tem um parecer agradavel; n?o alegre, mas suave e resignado. As poucas coisas que disse ao director nada tinham de tresvariado nem de demente; o aspecto mesmo ? natural, assim no olhar como nos modos. Tem por entretenimento a mania de fazer versos, e cedeu-me uns que estava compondo e que lhe pedi; s?o versos certos, euphonicos, mas em que n?o se percebe nunca a id?a e em que as palavras baralham tudo:

Amei, infanta e leda como a aurora Dos sonhos d'esse infante adormecido; Ao rei o teu gemido, o teu trovar, Ao throno o teu sondar encanecido.

Harpejo d'alma, lhana, feiticeira, Gotejo em teu rollar mil alegrias, E colho em cada nota que desfiro Insomnias do porvir, crueis magias.

Felizmente ellas n?o teem a consciencia da miseria humana que as esmaga; e v?o vivendo, vivendo at? chegarem a velhas, algumas.

A que, de todas, me produziu mais viva impress?o foi uma formosa rapariga que n?o quer fallar, e que tem levado a teima por diante atravez de todas as diligencias. Estava n'uma das salas, agachada a um canto; parecendo n?o reparar no que se passava em redor d'ella, de olhos no ch?o, com a cabe?a encostada ?s m?os, ar de recolhimento profundo e invencivel. ? o primeiro exemplo de mutismo por teima que tenho visto; e irreflectidamente, insensivelmente, disse-lhe n?o sei o qu? na esperan?a de que ella responderia. O director, que se prestou com a mais amavel paciencia a todas as minhas curiosidades, disse-lhe:

--Vamos; levante-se; est?o fallando comsigo!

Ella poz-se de p?. ? uma rapariga alta, bem feita, de cabe?a lindissima, a mais bonita cabe?a de mulher que se p?de v?r, brilhante, inspirada, olhos grandes e melancholicos resguardados por longas pestanas, cabello negro e farto, fei??es accentuadas, express?o dominadora; certa gra?a aspera; o que quer que seja de ca?a brava; a bellesa crua, como fructa verde; uma formosura dos montes e das serras, ardente e pittoresca!

Havia j? tres horas que andavamos por aquelles corredores e por aquellas salas; e, ao descer uma das escadas, suppondo que iamos sair n?o pude deixar de dizer ao sr. dr. Abranches:

--Emfim!

Mas o director sorriu-se, e retrocou:

--Falta-lhe ver os idiotas.

Os idiotas

Por mais seguro que se esteja de si e dos outros; por mais vaidosa confian?a que uma pessoa tenha no seu juizo, e na lealdade dos empregados de Rilhafolles,--? inevitavel o olhar, de quando em quando, como que receioso, para aquelles guardas que fazem o favor de nos formar sequito, com um molho de chaves na m?o.

T?em cara de bons, devem ser optimos, propensos a affectos benignos, e dotados de inexhaurivel fonte de branduras--estou persuadido; mas d?o ?s vezes um geito ao corpo, e de outras vezes olham-se entre si como piscando os olhos, com um modo natural, naturalissimo de certo, bem sei, mas que o sentimento febril de terror--que invencivelmente se apodera de quem ali se encontra, sem estar habituado a ir l?--transforma em indicios de uma perfidia atroz!

Quando nos encaminhavamos para ir ver os idiotas, cort?mos por uns corredores que se me figuraram mais escuros, e descemos por uma escada tortuosa, um pouco sinistra, que levava tempo a descer, e dava tempo a pensar,--um diacho de escada que acordava id?as phantasticas de corredores talhados em penedias, paredes com hyerogliphicos e prociss?es pintadas, quartos, com po?os e ganchorras, para ir dar a outros quartos de onde desemboquem outros corredores, mosqueados de gavi?es e serpentes;--lendas de pedra que s? os doidos entendam bem, mas que nos d?em a pensar a n?s que tambem p?de succeder o ficarmos l?...

Eu olhava de esguelha para o director, e chegava a parecer-me ?s vezes que me olhava elle tambem de soslaio. ? o terror, horror, pavor, de Rilhafolles. Sentimento especial que s? ha ali, que s? ali se conhece. Lembra-me aquelle-caso de um sujeito, a quem o dr. Pulido no tempo em que foi director d'este hospital convidou de uma occasi?o a jantar dizendo-lhe que lhe havia de mostrar os doidos.

--Nunca viste? perguntava-lhe o doutor.

--N?o, nunca vi.

--Pois has de ver. ? curioso.

Pozeram-se ? mesa em companhia de dois doidinhos socegados, pessoas finas que estavam recolhidas em Rilhafolles havia pouco tempo.

O sujeito olhava para elles pouco ? vontade, pensando de si para si no nadinha imperceptivel que separa a raz?o da loucura...

Depois, por acaso, perguntou ao dr. Pulido como ? que costumava fazer para levar para ali os enfermos. O dr. Pulido fixou-o com o olhar um pouco vago que tinha, bem devem lembrar-se d'isto os que o conheceram--e que parecia de alguma maneira ser o reflexo do olhar dos doentes, e respondeu:

--N?o custa nada. Em sendo pessoas de certa classe, a familia pede-me para ir vel-as, convidam-se a jantar, veem sem desconfian?a, e, t?o depressa c? as apanho, em ellas querendo ir-se embora j? acham as portas fechadas.

O outro ouviu isto cobrindo-se de suores frios, e acudiu-lhe a id?a de que aquelle convite tambem fosse um la?o. ? sobremesa puchou pelo relogio, pediu desculpa de n?o se poder demorar, levantou-se ? pressa, despediu-se, e ao chegar ao pateo largou a correr.

? que, al?m do estonteamento em que se fica ao v?r aquelles desgra?ados, ha uma vertigem peor ainda--? a que resulta de os ouvir.

Quando cheg?mos ao pateo dos idiotas, estavam acocorados quasi todos elles como as gallinhas no choco, pasmadinhos para o muro, ou fazendo riscos na terra com o dedo. N?o lhes importa ar puro, nem horisonte; que o terreno seja vasto ou n?o seja, que haja verdura ou n?o, que estejam presos ou livres, para elles ? o mesmo. Fincam os cotovellos nos joelhos, encostam a cara ?s m?os, e v?o dando ? cabe?a como os bonecos da feira, n'um movimento sempre igual.

Ha l? uns patetas, que quasi toda a gente conhece por andarem no servi?o dos banhos,--um sobretudo, que ? popularissimo, o que tem voz de tiple--mas esses s?o a conta d'aquella missanga; a nata, a flor dos idiotas!... Preparam os banhos com a maior diligencia, s?o modelos de cortezia benevola, perguntam com affectuoso interesse se a gente gosta da agoa sobre o quente, recommendam, com agrado que captiva, que se toque a campainha em querendo que elles appare?am de novo, e estacam de bocca aberta em avistando o bello sexo! Ah! esses s?o os idiotas tafues, os idiotas como se quer. N?o servem para muito; mas, bem aproveitados, at? podiam servir para se encostar ?s esquinas pelo Chiado f?ra, ou esp?car ?s portas das salas nos bailes,--como janotas!

O tal que tem voz de tiple, toca flauta. Toca flauta, e ? um melomano de n?o se parar com elle. Em se lhe fallando de gostar de musica, redargue logo:

--Se gosto de musica! Mas eu como musica, senhor, musica ? que eu como!...

E ahi tira da flauta, e com uma ancia de sopro capaz de fazer virar faluas, larga a tocar coisas incalculaveis.

Est?o para ali, no pateo; uns, passivos, fixos, sem sensa??es, parados e quietos, como o soldado na guarita, olhando no direito do nariz, capazes de ficar encostados ? parede o dia todo...

Outros, agachados, conchegando o peito e as pernas, olhando sem saber para onde, nem se perceber para o qu?; existencia vasia; vida sem drama; o horror sem lances.

Um, est? gordo. Testa de um dedo de largura, cara de pau, pan?udo, bonacheir?o,--certo ar de paspalhice, immobilidade de figura decorativa.

Este, sentado no ch?o, junta um montinho de folhas, e depois disp?e-as a seu modo em carreirinhos: mas, se succede desmandarem-se-lhe, faz como a Sibylla de Cumas, que em o vento lh'as espalhando tirava dali o sentido. Depois, vergando a cabe?a, fica a olhar para ellas...

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