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Read Ebook: Influencia da Religião sobre a Politica do Estado by Macedo In Cio Jos De

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Ebook has 27 lines and 6745 words, and 1 pages

INFLUENCIA

RELIGI?O

SOBRE A

POLITICA DO ESTADO.

INFLUENCIA DA RELIGI?O

SOBRE A

POLITICA DO ESTADO.

S. Matth. 23.

O seculo, em que vivemos, he mui propenso a fazer jogo da Religi?o para todas as revolu??es politicas. Os impios, bem assim como os fanaticos, querem achar na Religi?o os documentos dos seus caprichos; e parece que n?o ha mais nobre tarefa para hum Escriptor publico, do que illustrar os homens em similhantes crises, para que n?o se abuse do que ha sobre a Terra de mais sagrado, e para que n?o se invoque o Nome de Deos em v?o no meio de ridiculos partidos, e de commo??es anarquicas, que s?o filhas todas dos nossos erros, e das nossas loucas paix?es.

O Filho de Deos na plenitude dos tempos foi mandado do Ceo ? Terra para reconciliar o Ceo com o Mundo; para enla?ar a Natureza com a Gra?a; e para fazer de todos os Povos hum s? Povo, digno do Agrado do Pai Celeste. Pr?gou a todos sem distinc??o de Governos; e mandou os seus Discipulos por todo o Orbe, sem lhes fazer excep??es de Reinos, ou de Republicas; de Governos Absolutos; ou de Governos Representativos. O seu fim era plantar o imperio da verdade e da virtude sobre as ruinas da mentira e do vicio; e os Apostolos tiver?o a mesma linguagem diante dos Reis, que diante dos Presidentes do Areopago. Era para elles indifferente annunciar o Reino de Deos nas Monarchias da Asia, ou nas Republicas da Grecia. Fa?amos pois este raciocinio para refutar sem replica, n?o s? a proposi??o de Montesquieu, como a perten??o daquelles, que pr?g?o o Absolutismo, como fundado no Christianismo.

A Religi?o Catholica Apostolica Romana foi trazida do Ceo para todo o Mundo a seguir.--Ora o Mundo era composto de differentes Governos, Absolutos, Representativos, Monarchicos, Democraticos, Republicanos, Mistos, &c.--Logo a Religi?o Catholica Apostolica Romana he propria para todos os Governos.

Logo he hum absurdo affirmar que a Religi?o Catholica n?o he propria para os Governos Livres; e he perigosissimo erro affirmar que os Governos Constitucionaes s?o incompativeis com a Religi?o de Jesu Christo. A Religi?o n?o tem nada com as f?rmas dos Governos. O Salvador declarou, que o seu Reino n?o era d'este Mundo. Elle ordenou a seus Discipulos, que obedecessem aos Governos, estabelecidos em todo o Orbe; e n?o lhes mandou indagar os Titulos por que elles governav?o. Donde se infere, que a Religi?o n?o influe sobre as differentes especies de Monarchias, ou de Republicas; e que os Padres n?o est?o authorisados em virtude do seu Santo Ministerio a declamar contra Governos Constitucionaes, ou n?o Constitucionaes; e nem a elles compete tomar partidos pela Pessoa, ou pela f?rma do Governo Politico.

Vandalos tonsurados chamou Pope aos Padres Godos, que convertendo-se ao Christianismo, trouxer?o para elle restos da sua barbaridade, e que parece, deix?r?o sementes, entre n?s. No Pa?o Archiepiscopal de Braga ainda est?o os retratos de muitos com medonhos bigodes, e amea?antes mitras, segundo a moda daquelles tempos; e alguns delles for?o excellentes Pastores, e mui ornados de virtudes no meio das trevas, que ent?o offuscav?o o firmamento da Igreja.

Mas deixemos esses seculos, e esses usos, que pouco nos podem instruir; e remontemos aos dias de Ambrosio, e Agostinho, para aprendermos o como os Padres se devem conduzir no meio das mudan?as, e dos Governos Politicos.

O Imperio Romano depois das guerras civis de Mario, e Syla, e depois do despotismo dos Cesares, hia cahindo aos peda?os debaixo do seu luxo, e dos seus vicios, sem que o Christianismo tivesse parte nos seus desmanchos, como Montesquieu pertende: e nem a humanidade dos Titos, nem a filosofia dos Antoninos, nem o codigo de Justiniano, nem a valentia de Belizario podi?o evitar sua ruina; porque a maquina estava velha, as molas reaes da virtude consumidas; e o roedor despotismo, que tinha feito baquear o Imperio dos Chaldeos, e dos Persas, ainda possuia o mesmo prestimo, que tem hoje, que he--acabar com tudo, e acabar comsigo mesmo.--

Neste estado de fraqueza, de ignorancia, e de crime, os Barbaros do Norte se despenh?o em cima do Imperio, como huma torrente dos Alpes, quando o gelo se descoalha em cima dos miseraveis, que est?o descuidados nas suas fraldas. Sobre a ruina do Throno Cesareo se estabelecem differentes Reinos com differentes f?rmas de Governo em toda a Christandade; e qual foi a conducta dos Papas, dos Bispos, e de todos os Sacerdotes Catholicos? Gem?r?o entre o Vestibulo, e o Altar: reconhec?r?o os novos Reis dos Godos, dos Ostro-Godos, e dos Vandalos, como havi?o reconhecido os Governos Cesareos; e nunca se intromett?r?o com as mudan?as politicas, apesar de que ellas influi?o consideravelmente sobre a paz da igreja. Soffr?r?o desterros e martyrios no Governo dos Barbaros, como no Governo de Decio e Diocleciano; e j?mais question?r?o sobre a legitimidade de taes Governos. Santo Agostinho teve o desgosto de ver ainda a invas?o dos Godos, que destru?r?o os Templos; e chorando sobre as ruinas de Carthago, como Jeremias sobre as ruinas de Jerusalem, compunha o seu Livro da Cidade de Deos, no qual ensinou ? Posteridade a respeitar as Authoridades, que a Providencia Divina colloca sobre os Povos para os reger com vara de furor, ou com sceptro de clemencia. S. Jeronymo fugindo ?s intrigas da Corte, foi traduzir a Biblia nas grutas de Belem; e outros for?o para a Thebaida e Desertos do Egypto estabelecer a vida monastica, que era bem differente do que he hoje; e que elevando os espiritos ? contempla??o das verdades eternas, os distrahia das quest?es do seculo, que s? pertencem ?quelles, a quem Deos entregou o cuidado temporal de dirigir as Na??es.

No entanto fic?r?o muitos Pastores e Presbyteros para animar os Fieis no meio da invas?o dos Barbaros: pr?gav?o o Evangelho aos novos Reis, e novos Povos, e convertendo muitos ao Baptismo, inspir?r?o aos Barbaros a do?ura Evangelica, e estend?r?o o Reino de Deos em todos os Reinos da Terra. Seguio-se dahi, que os Barbaros for?o insensivelmente perdendo a sua ferocidade: os Reis fund?r?o muitas Igrejas; abandon?r?o a sua Idolatria; e a Religi?o do Calvario correo desde o Tibre at? ?s margens do Baltico.

Logo a influencia da Religi?o sobre a Politica dos Governos era nenhuma; e os Pregoeiros do Evangelho n?o fazi?o mais que exterminar vicios, plantar virtudes, destruir erros, e ganhar conquistas para o Ceo.

Se os Papas e os Bispos tiver?o no andar do tempo uma influencia mui positiva em os negocios politicos, foi porque os Reis assim o quizer?o; e talvez porque assim convinha aos interesses da Europa naquelles tempos, assim como hoje convem ao Systema Representativo de Portugal nomear os Bispos para Pares do Reino. Por?m o espirito da Religi?o nada influe sobre essas cousas; e nem responde pelos resultados da maior, ou menor influencia, que os Reis d?o ao Sacerdocio sobre os Negocios do Imperio. A Religi?o n?o olha para Systemas Politicos; olha para a salva??o dos homens: o seu Reino he eterno; e os seus Dogmas fundamentaes n?o s?o variaveis, e sujeitos ? vicissitude dos tempos, como os Dogmas da Politica terrena. Cessem pois os amigos, ou inimigos da Religi?o de affirmar que ella tem huma influencia positiva sobre os systemas de Governo. A sua influencia he s? sobre os costumes; e quando parece ser sobre os systemas, he isso obra dos membros da Religi?o, e n?o dos dogmas, que f?rm?o a sua essencia. N?o confundamos a obra de Deos com a obra dos homens; e n?o attribuamos ao espirito do Evangelho a conducta deste, ou daquelle Sacerdote, que falla e obra segundo os seus interesses, ou as suas paix?es, e n?o segundo as maximas, que lhe deixou Jesu Christo, e os seus Apostolos.

O assassinato de Henrique IV, e Carlos I n?o foi obra da Religi?o, foi obra do fanatismo; e a institui??o do Santo Officio, e revolu??es de alguns Estados n?o for?o dictames do Evangelho; for?o introduc??es dos erros do tempo, e da incuria dos Reis, que n?o conhec?r?o bem, nem os interesses do Throno, nem a Doutrina do Salvador. A Escriptura Santa est? cheia de senten?as terriveis contra os m?os Governos, e contra os Povos revoltosos. Ella amaldi?oa os Tyrannos; grita contra as revoltas das Tribus: mas nem manda aos Povos que se revoltem, nem patrocina os Reis, que abus?o do seu poder. Louva hum Josias piedoso, condemna hum Assuero tyranno, e n?o quer que os seus Discipulos conspirem contra nenhum.

Nos Reinados de Fernando de Castella, e de Isabel de Arag?o appareceo Colombo, e servio-se de hum frade Confessor do Pa?o, para fazer com que o Governo lhe desse auxilios no descobrimento do Novo Mundo, a fim de converter almas para o Ceo. Esta id?a concorreo para se fazer a primeira Expedi??o, e outras subsequentes; e daqui vem dizerem alguns, que a Religi?o influio na Politica Hespanhola para as barbaridades que Pizarro e Cortez commett?r?o no Mexico, e no Per?. Mas para que attribuir ao Evangelho a desmarcada cubi?a do ouro, que animava os Hespanhoes; e o desejo de estender os seus Dominios, que devorava o seu Governo? Se alguns Padres concorr?r?o para aquellas horrorosas ladroeiras, n?o foi porque a Religi?o lhes ensinasse tal conducta; foi porque er?o indignos filhos da Igreja, e porque misturados com a soldadesca contrahi?o os seus licenciosos procedimentos. O Bispo de Las Cazas, S. Francisco Xavier, Padre Anxieta, e outros, der?o ? Religi?o hum credito immortal entre os Indios; e se a Religi?o influio alguma cousa naquelles negocios, foi para ado?ar a sorte dos conquistados, e tornar mais brandos os conquistadores.

A falta de Luzes sobre esta materia j? ateou na Europa vergonhosas contendas entre o Sacerdocio, e o Imperio. O poder temporal he essencialmente diverso do poder espiritual. Nem os Reis podem absolver peccados, e consagrar hostias; nem os Padres podem julgar Governos, nem fazer Leis: e qualquer ingerencia que elles poss?o ter sobre as Leis, e Politica do Estado, n?o he filha do poder que Jesu Christo lhes deo; he sim dimanada da generosidade dos Soberanos, que tem querido honrar por este modo os Successores dos Apostolos.

Se os Artigos do Concilio de Trento, que n?o s?o essenciaes ao espirito da Religi?o, tem voga e for?a em nossa Legisla??o, he porque os Senhores Reis de Portugal os quizer?o acceitar, misturando o Direito Canonico com as Leis do Reino; ali?s n?o teri?o algum vigor, como na Fran?a, aonde taes Artigos n?o tiver?o a mesma legal acceita??o.

Limitem-se pois os Padres a pr?gar o Reino de Deos; a conduzir os Povos pela estrada, que vai do tempo ? eternidade; a persuadir a todos, que obede??o ao Governo, que se achar estabelecido em o Throno; e n?o queir?o influir sobre aquillo, em que o seu Divino Mestre nunca influio. Lembrem-se que Padres de mui alta Jerarquia, mesmo em o nosso Reino, j? for?o victimas de huma justi?a severa, por quererem resilir, e saltar da linha de conducta, que o Evangelho lhes tem tra?ado. A Igreja ainda n?o escreveo, nem escrever? em seu Martyrologio o nome daquelles, que tem padecido por conspirarem contra os Soberanos. A Igreja s? canoniza os que padecem pelo Nome de Jesu Christo; e n?o reconhece por filhos os perturbadores do Estado, e os semeadores de doutrinas, que n?o tem outro fundamento, que o seu m?o genio, e ambiciosa fantasia.

Vende-se na Typografia da Rua dos Fanqueiros N.? 129 B--e nas Lojas de Livros de Caetano Antonio de Lemos, Rua do Ouro N.? 112--Rom?o Jos? da Silva, aos Martyres--Antonio Marques da Silva, Rua Augusta N.? 199--

Igualmente se acha no Porto na Rua das Flores N.? 102.--Pre?o 80 reis.

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