Read Ebook: The Irish Penny Journal Vol. 1 No. 19 November 7 1840 by Various
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O MARQUEZ DE POMBAL
O MARQUEZ DE POMBAL
PUBLICA??ES DO AUTOR
O MARQUEZ DE POMBAL
O MARQUEZ DE POMBAL
Elle tinha duas envergaduras como esses palha?os que apparecem no circo com um fato de duas c?res. A envergadura do beato, do amigo de D. Jos?, do providencial expurgador da impiedade; a envergadura do livre-pensador, do philosopho preoccupado com o que d'elle diziam os contemporaneos.
Como politico os seus actos de governo derivam das duas attitudes que se quiz dar toda a vida. Attitudes que est?o em antithese guerreira e s?o uma revela??o do caracter repugnante e hypocrita d'este doutrinario que n?o teve nem a aberta franqueza, nem o espirito absolvidor dos homens que imitou sempre.
Chamam-se elles D. Luiz da Cunha, Alexandre de Gusm?o, Francisco Xavier d'Oliveira , e o dr. Antonio Ribeiro Sanches.
As paginas que v?o l?r-se s?o um protesto contra a lenda idiota que fez do marquez de Pombal um homem extraordinario, um homem unico, um homem immortal, um homem deslocado no seu meio e no seu seculo. Elle estava at? muito bem posto, o marquez--no meio e no seculo!
Actos que lhe merecessem a immortalidade, n?o lhe conhe?o sen?o os que lhe d?o a immorredoura recorda??o do homem mais barbaro e mais estupidamente bestial que existiu no regimen absoluto. O marquez de Pombal como estadista tem o mesmo merito que na litteratura teria o escriptor que herdasse os manuscriptos de um fallecido, e, publicando-os em seu nome, fosse declarado um dos maiores talentos do seculo.
N'este escripto analysam-se alguns actos culminantes do reinado de Sebasti?o e o autor procura cingir-se o mais possivel aos manuscriptos da bibliotheca publica de Lisboa, aproveitando n'elles o que ha de racional.
A conspira??o de 3 de setembro de 1758 est? envolvida em densas trevas. Todas as hypotheses que se t?m formado, todas as divaga??es que se t?m feito, s? t?m concorrido para perder os historiadores n'um labyrintho de conjecturas.
Assim, uns dizem que a conspira??o foi inventada pelo marquez de Pombal; outros que os tiros n?o alvejavam o rei, mas um criado, Pedro Teixeira, que trat?ra insolentemente o duque d'Aveiro. Tudo p?de ser; mas como n?o ha um documento que favore?a ou desfavore?a semelhantes hypotheses, nada p?de considerar-se como certo. O que ? incontestavel ? que o rei foi ferido no bra?o: <
N'aquelle tempo a ferida teria mais importancia, visto o atrazo da cirurgia; no emtanto a gravidade da ferida ? contestavel; porque, n'um bra?o, o cirurgi?o remediava o perigo da gangrena, cortando-o.
Ferido grave ou ligeiramente, o rei recolheu-se a casa do marquez d'Angeja onde lhe foram dados os primeiros curativos.
Os criados do duque foram mais honrados do que elle: nem ? for?a de torturas, confess?ram a culpabilidade dos Tavoras, confessando por?m a sua, dos seus, e do seu amo.
Mas que importava isto ao marquez de Pombal e ao tribunal de Inconfidencia, todo composto de malandros e de estupidos da casta d'elle? Sebasti?o Jos? jurou perder os Tavoras, porque julgou, talvez com raz?o, que a tentativa da conspira??o visava mais a elle do que ao rei.
Os Tavoras viveram no antigo luxo e socego depois do dia 3 de setembro. Corriam boatos de que elles eram cumplices--e elles ouviam perfeitamente esses boatos. Porque n?o fugiam?
Porque n?o tentavam precaverem-se contra essas accusa??es?
Estavam innocentes.
Resposta que resume tudo; resposta que os absolve da louca serenidade com que aguardavam a colera do rei e do ministro que, no tenebroso espirito ao servi?o do seu cora??o empedrado, preparava as minuciosidades selvagens do cadafalso de Belem.
A historia a unica reprehens?o que p?de fazer aos desgra?ados ? esta:
--Voss?s deviam conhecer melhor Sebasti?o Jos?! Julgavam que elle hesitaria em condemnar-vos innocentes?
Os Tavoras n?o esperavam tanta infamia da parte do seu inimigo. Sen?o fugiriam como depois fugiu Jos? Polycarpo de Azevedo.
Quanto ao duque d'Aveiro, varia muito a attitude. S? uma estolida soberba e uma inabsolvivel leviandade o podia fazer ficar em Portugal.
Lamentemos estas infelizes victimas do ministro e do rei:--um malandro porquissimo e um gordurento repugnante.
Um escriptor francez, Victor Joly chega a dizer que <
Cito este escriptor porque n?o ser? facil que algum historiador o desminta.
Isto n?o impediu que o tribunal os condemnasse.
Nunca em Portugal se viu uma t?o intensa crueldade na morte dos infelizes, considerados reus. Havia um proposito firme de os fazer soffrer na alma e no corpo, prolongando-lhes o martyrio, infamando-os, torturando-os, insistindo d'uma maneira infame sobre o destino dos seus restos mortaes.
Aos apologistas do marquez de Pombal offerecemos a narra??o que passamos a fazer e que tiramos do manuscripto da bibliotheca publica de Lisboa, escripto por testemunha ocular, observando-lhes que todas estas minuciosidades bestiaes foram o additamento que o marquez fez ? senten?a condemnatoria.
A 12 de janeiro de 1759 foi proferida a senten?a, e, n'essa noite sinistra, ? luz dos archotes, os operarios martellavam o cadafalso. As pancadas dos martellos ouviam-n'as os infelizes condemnados, reunidos todos n'uma casa do palacio de Belem. A marqueza, D. Leonor Tavora, tinha sido conduzida, do convento das Grillas para Belem.
Ahi se junt?ram todas as victimas do odio dos dois estupidos.
Pela madrugada j? o povo enchia a pra?a e os logares d'onde se podesse contemplar o horroroso supplicio.
Passava das seis horas e meia, quando se abriu a porta do pateo dos Bichos e sahiu o grande acompanhamento tenebroso: os ministros do crime, o corregedor e a tropa.
Atraz vinha a cadeirinha d'onde se apeiou a marqueza de Tavora amparada por dois padres da congrega??o de S. Vicente de Paula. Confessou-se no come?o da escada. Depois subiu com agita??o os degraus do patibulo. Recebeu-a o algoz, e, quando ella julgava que elle ia acabar-lhe a vida, o carrasco descreveu-lhe minuciosamente o instrumento que ia servir ao seu supplicio, mostrou-lhe a corda que havia de estrangular os seus dois filhos, e o genro, o ma?o que havia de quebrar-lhes as pernas, os bra?os; contou-lhe como havia de morrer o marido, e em que divergia a morte do pai da dos filhos.
A marqueza, exhausta pela tortura moral, pedia de joelhos que lhe dessem a morte. Amarr?ram-n'a ? cadeira, tir?ram-lhe o len?o do pesco?o, vend?ram-n'a; e, o cutello ferindo-a na nuca, decepou-lhe a cabe?a.
Cobriram o cadaver da primeira victima com um panno preto.
Sahiu a cadeirinha outra vez do pateo e apeiou-se quasi desfallecido, pallido como um cadaver, entorpecido na lembran?a do martyrio que lhe iam infligir, um rapaz de vinte e um annos, loiro, amado talvez.
Subiu difficultosamente a escada amparado pelos frades. Fallou ao povo, mas a testemunha cujo manuscripto seguimos diz que a voz quasi se lhe sumia na garganta. Devia de dizer que morria innocente.
Os algozes estenderam-n'o n'uma aspa, pass?ram-lhe uma corda pelo pesco?o, e emquanto lhe quebravam as pernas e os bra?os, procur?vam estrangul?l-o. A corda partiu, e o infeliz, estalados os ossos, dava gritos tremendos. Como esses gritos deviam penetrar como balas pelos ouvidos dos espectadores! Hoje ainda o cora??o se nos mirra com as dilacerantes minuciosidades d'estas mortes.
Pela terceira vez trouxe a cadeirinha a terceira victima, o marquez de Tavora, o novo, o que o rei tinha corneado. Este foi um pouco mais feliz do que o irm?o:--os algozes estrangul?ram-n'o e depois quebr?ram-lhes as pernas e os bra?os.
O mesmo supplicio foi infligido ao conde d'Atouguia e aos criados. Antonio Alvares Ferreira, Braz Jos? Romeiro e Jo?o Miguel.
Houve um pequeno intervallo.
Veio a cadeirinha com o velho marquez de Tavora. Apeiou-se serenamente, subiu os degraus do patibulo, ajoelhou, beijou a aspa em que o haviam de quebrar, e s? quando os algozes lhe mostr?ram os corpos desfigurados da mulher, dos filhos e dos criados ? que essa estoica e santa serenidade se acabou por um momento. Estenderam-n'o sobre o cavallete, amarr?ram-lhe os p?s e os pulsos, e quebr?ram-n'o em vida. Morreu heroicamente.
Seguiu-se-lhe o duque d'Aveiro, o medonho arrependido que denunci?ra a familia Tavora. Tinha as fei??es contorcidas, e, horrivelmente desfigurado, sujeitou-se ? opera??o de lhe amarrarem os p?s e os pulsos. Estendido na aspa o carrasco vibrou-lhe a pancada na barriga, e, emquanto o infeliz uivava uns gritos lancinantes, iam-lhe quebrando os bra?os e as pernas. Eram tantos os gritos e as contors?es, que o carrasco apiedado--talvez!--deu-lhe com a ma?a na cabe?a.
O ultimo martyr er
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