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Read Ebook: A Book About Words by Graham G F George Frederick

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Ebook has 55 lines and 5125 words, and 2 pages

ESBO?O BIOGRAPHICO

JULIO DINIZ

ESBO?O BIOGRAPHICO

POR

ALBERTO PIMENTEL

PORTO TYPOGRAPHIA DO JORNAL DO PORTO RUA FERREIRA BORGES, 31

ESBO?O BIOGRAPHICO

JULIO DINIZ

Ao c?moro do athleta, que cahiu fulminado pela morte, n?o deixar?o d'ir, em piedosa romagem, com as flores da saudade, os que mais d'uma vez lhe viram lampejar as armas impollutas ao sol da gloria litteraria. ? um dever e um desafogo esta visita ao tumulo d'uma realeza que se extinguiu para os homens do seu tempo, mas que deixou ap?s si um rasto luminoso no qual ha de reviver atravez das idades futuras. E tanto maior dever ?, e tanto maior desafogo se afigura, quanto ? certo que a litteratura portugueza, que parecia preparada para longa vida depois da fecunda revolu??o do romantismo, est? vendo rarear dia a dia as suas fileiras, j? porque a morte lh'as dizima, e j? porque a politica lhe vem roubar com m?o sacrilega os mais denodados legionarios para lh'os amollentar na vida regalada dos encargos parlamentares e diplomaticos.

Cada vez se v?o multiplicando as perdas e as deser??es, e todavia n?o se enxerga ainda no oriente o primeiro alvor d'uma aurora de redemp??o, que prometta trazer novos apostolos e novos soldados, novos elementos de vida, n'uma palavra, para o futuro das lettras patrias. Vejamos se ? isto verdade ou se n?o passa d'uma asser??o gratuita.

O author das linhas que deixamos citadas, o snr. visconde de Castilho, todo se enleva ainda no doce poetar da sua lyra, vasando no suavissimo rhythmo da lingua portugueza as mais formosas obras primas da litteratura extrangeira. N?o ha de certo em paiz nenhum mais abundante e prestimosa velhice.

O snr. Castilho ? mais do que um traductor;--? um nacionalisador. Rir-se-h?o da sua gloria os meticulosos, dizendo que ? crime de lesa-magestade o p?r m?o reformadora nos monumentos artisticos. Ser?. Mas o que ?, em verdade, muito para louvar e agradecer, ? que um litterato portuguez esteja dando ? sua patria um Anachreonte que ella n?o tinha, um Moli?re que lhe faltava, e um Goethe que lhe n?o dera Deus.

Camillo Castello Branco ? realmente um escriptor incansavel, que tem enfermado na faina das lettras, e que n'ella espera morrer, como aquelles guerreiros legendarios, de que falla a historia nacional, que s? largavam da m?o a espada, quando a morte lhes desnervava o bra?o.

Julio Cesar Machado sustenta, ha longos annos, as boas tradi??es do folhetim portuguez com uma gra?a e uma delicadeza que fazem ainda supp?r que elle n?o completou siquer vinte e cinco annos.

O snr. D. Antonio da Costa tem sido, ?, e ser? sempre o apostolo convicto da suada obra do bem, o propagador nunca esmorecido d'essa grande verdade chamada instruc??o nacional, que aos espiritos mais levianos de Portugal se afigura ainda, e Deus sabe por que tempo se afigurar?, infelizmente, uma formosa utopia de ministro poeta.

Pinheiro Chagas ? d'estes combatentes v?lidos e corajosos, que nunca desanimam nem fraquejam nas campanhas litterarias, posto que seja muito para receiar que a politica, que j? lhe franqueou as portas de S. Bento, venha um dia a adormecel-o na indolencia dos seus bra?os perfidamente voluptuosos.

Poder? causar reparo que n?o citemos o nome do snr. Mendes Leal; mas s. exc.?, envolvido em negocios diplomaticos presentemente, s? de longe a longe apparece na imprensa ou desobrigando-se de encargos academicos ou modulando um carme fugitivo que mais saudades nos deixa da sua lyra poderosa.

N?o queremos ser prophetas da historia e aventar em que periodo e sobre que zona geographica rebentar? primeiro a medonha erup??o. Ha de vir, infelizmente acreditamos que ha de vir, mas n?o sabemos quando. O que ? por?m certo ? que esta ebulli??o politica europea tem affectado sobremodo as litteraturas. A Fran?a, que d'ha muito ia sempre na vanguarda das sciencias e das artes, vae fluctuando como p?de sobre o sangue derramado pela guerra com o extrangeiro e pela communa, e Deus sabe quando os seus negocios ter?o um caracter definitivo e seguro. O theatro francez est? t?o abatido como o theatro portuguez, onde se d?o hoje as comedias hispanholas entrajadas ? portugueza, por n?o haver realmente d'onde se importar melhor litteratura dramatica. A novissima gera??o, que poderia ser garantia de rehabilita??o, resente-se d'esta incerteza geral e espaneja-se de genero em genero mais por se desfadigar de tristeza e tedio do que para amontoar peculio para o futuro, que ser? de certo a revolu??o, e que portanto lhe havia de queimar as obras antes de lh'as l?r.

N'estas circumstancias especiaes e gravissimas ? sobremodo para lamentar o que em qualquer tempo ? sempre para sentir,--a perda d'um athleta que denodadamente luctava contra a indifferen?a geral, fazendo-lhe rosto e obrigando-a, apezar de sua pertinacia, a dobrar-lhe o joelho em sincera adora??o. Joaquim Guilherme Gomes Coelho era um d'estes raros e poderosos luminares das lettras patrias, que, por n?o serem j? muitos, se tornam indispensaveis. S?o estes homens os que devem ter uma biographia, porque a dos que nasceram para n?o deixar vestigios da sua passagem na terra resume-se apenas nas poucas palavras inscriptas na lousa que lhes demarca os sete palmos de terra.

Joaquim Guilherme Gomes Coelho, filho de D. Anna Gomes Coelho e de Jos? Joaquim Gomes Coelho, nasceu no Porto aos 14 de novembro de 1839.

? dever nosso dizermos, remontando-nos ? sua infancia, que frequentou primeiras lettras com Antonio Ventura Lopes, em Miragaya, sendo que n'estes inexperientes adejos de ave implume, que, saudosa do ninho paterno, receia defrontar-se com a figura mais ou menos severa d'um homem desconhecido, o professor, lhe serviu de estimulo e conforto a voz carinhosa e authorisada de seu irm?o, Jos? Joaquim Gomes Coelho. E pois que veio de geito escrever-se este nome, digamos de relance que era o de um profundo e notavel talento, que ainda hoje ? motivo de justissimo orgulho para os fastos gloriosos da Academia Polytechnica do Porto, onde Jos? Joaquim Gomes Coelho frequentara distinctamente o curso mathematico.

Gomes Coelho nasceu a 7 de novembro de 1834 e morreu a 30 de dezembro de 1855, tendo completado, havia dous mezes, o curso de engenheria civil. Foi premiado em diversas aulas; e sel-o-ia n'outras, se n?o houvesse perd?o de acto em dous annos da sua frequencia,

O grande poeta Soares de Passos escreveu o seguinte epitaphio para a campa do infeliz e sympathico mancebo:

Vinte annos? Ai! bem cedo arrebatado O guardaste no seio, ? campa fria! Flor passageira, succumbiu ao fado, E seus perfumes exhalou n'um dia!

Quanta illus?o desfeita em seu transporte! Sonhou glorias, talvez! sonhou amores! Tudo, tudo aqui jaz! Carpi-lhe a sorte; Derramai-lhe na tumba algumas flores!

Era norma inalteravel das melhores educa??es d'aquelles tempos desenvencilhar a meada das declina??es latinas, depois de estudada a grammatica nacional, theorica e praticamente. Gomes Coelho, como era de rigor, tomou assento entre a numerosa fila dos discipulos do padre Jos? Henriques d'Oliveira Martins, conhecido latinista do Porto, j? fallecido, e ent?o muito em voga como professor particular. Como se n?o affrontasse demasiadamente o seu lucido espirito com o estudo da litteratura romana, come?ou, ao mesmo tempo, a iniciar-se na lingua franceza, ensinada pelo irm?o com sensiveis progressos do discipulo e verdadeiro orgulho do professor. Familiarisado com os idiomas que eram ent?o exigidos como preparatorios para um curso superior, matriculou-se em logica nas aulas da Gra?a, denomina??o que n'esse tempo se dava ?s aulas publicas do Lyceu e da Academia, reunidas no mesmo edificio e principiou simultaneamente a estudar inglez com o snr. Narciso Jos? de Moraes Junior, professor particular.

As difficuldades que ordinariamente embara?am a traduc??o dos classicos inglezes, n?o lhe foram obstaculo a que sobremodo os ficasse estimando, sen?o de preferencia, ao menos a par dos poetas latinos e francezes que a esse tempo j? versava. ? para notar que, sendo Gomes Coelho incorrecto na pronuncia do inglez, a ponto de desafinar os tranquillos nervos britanicos que por ventura o surprehendessem em peccado de lesaprosodia vencesse por uma notavel intui??o as mais intrincadas subtilezas que, n?o s? a esse tempo, mas em todo o decurso de sua vida, lhe podia offerecer a leitura de Shakspeare, Milton e Byron, chegando muitas vezes, especialmente em Shakspeare, a sobrepujar a traduc??o franceza de Guizot.

Entre os quatorze e quinze annos, idade que ent?o contava, matriculou-se na Academia Polytechnica nas aulas de chimica e primeiro anno de mathematica, regida pelo lente Antonio Luiz Soares.

Fique d'uma vez para sempre esta advertencia.

No anno lectivo seguinte, em que frequentava botanica e zoologia, succumbiram a dolorosos soffrimentos pulmonares, molestia hereditaria, porque a m?e de Gomes Coelho era tuberculosa, os seus dois irm?os Jos? e Guilherme. Alanceado com este duplo golpe o seu affectivo cora??o, parece que s? encontrara balsamo para t?o profundas feridas n'umas tristezas poeticas curtidas na solid?o luctuosa do lar, tristezas que s?o tambem suaves, porque nascem da saudade, ao mesmo tempo espinho que fere e fl?r que embriaga.

Em 1856 entrou Joaquim Guilherme Gomes Coelho na Eschola Medico-Cirurgica, desempenhando-se das suas obriga??es academicas, durante todo o curso, com notavel distinc??o.

N?o foi isenta de soffrimentos physicos a sua vida d'estudante; de enfermidades moraes j? vimos que tambem n?o foi.

No segundo anno do curso medico teve uma hemoptyse ligeira, bol?ando sangue em pequena quantidade. Apezar d'este triste prenuncio, e da morte recente de seus dous irm?os, n?o esmoreceu na assiduidade com que desvelava as noites abancado diante dos compendios sobre os quaes mais d'uma vez se espanejaria, borboleta inquieta, o genio invisivel da poesia.

D'elles nos occuparemos mais adiante.

Graduado em medicina, restava-lhe exercer a clinica. N?o lh'o consentia por?m uma certa repugnancia natural, um certo pudor, digamos assim, que purpureava a consciencia do medico, quando de si para si tinha de accusar de impotente a sciencia que professava, ? cabeceira d'um moribundo, ao lado d'umas creancinhas loiras que iam ser orph?s ou d'uma mulher lacrimosa que ia ficar viuva.

Em abril de 1863 poz-se a concurso o logar de demonstrador da sec??o medica na Eschola do Porto. Gomes Coelho apresentou-se candidato, n?o tanto por se julgar habilitado ? concorrencia, em raz?o da extrema desconfian?a que tinha da sua mesma proficiencia, como para renunciar d'uma vez para sempre ? vida clinica com que n?o podia transigir. No meio dos assiduos estudos que ent?o fizera veio assaltal-o a doen?a, e Gomes Coelho, poucas horas depois de ter tirado ponto teve de abandonar o concurso diante do caracter assustador com que se apresentou a pneumo-hemorrhagia.

Ent?o, a instancias de seu pae, foi passar algum tempo, tres ou quatro mezes, a Ovar, onde tinha parentes.

Calamos elogios ao merecimento do romance, para que se n?o infira que vai n'elles a paga da offerta.

O nosso silencio poupa a modestia do author; e a publica??o do romance, apenas encetada, prova o apre?o em que o temos.

O escriptor a que nos referimos chamava-se Francisco de Paula Mendes, e outra individualidade n?o conhecemos que mais rela??es de similhan?a tivesse com o romancista, cujo esbo?o biographico estamos tra?ando.

No anno seguinte, apresentou-se pela terceira vez candidato ao mesmo logar, e n'esse mesmo anno foi despachado.

J? que estamos fallando da sua carreira cathedratica, diremos que por decreto de 27 de julho de 1867 f?ra promovido a lente substituto da mesma sec??o, e que por decreto de 27 d'agosto do mesmo anno recebera a nomea??o de secretario e bibliothecario da mesma Eschola.

JULIO DINIZ.--O rasto luminoso que o talento de Julio Diniz deixou na liiteratura portugueza n?o se apagar? j?mais.

Este livro j? teve duas edi??es.

O exito d'esta pe?a correspondeu ao muito que esperavam d'ella os que prezam as boas lettras e se occupam com interesse de novidades theatraes. E na realidade ? t?o raro v?r sobre a scena portugueza dramas puramente nacionaes, que n?o podemos deixar de applaudir a appari??o de uma comedia que pelo desenho dos costumes, pela contextura, e pela linguagem honra o magro repertorio dramatico do nosso paiz. Dividida em sete quadros, resume a comedia todas as principaes scenas e peripecias, que d?o vida ao romance com que o snr. Gomes Coelho enriqueceu a litteratura moderna, e cuja primeira edi??o foi esgotada em menos de um mez.

El-rei D. Luiz, n?o querendo deixar de honrar com a sua presen?a a festa da distincta actriz, foi primeiro do que a nenhuma outra parte, provar a Delfina o muito apre?o que liga ao seu talento.

Desde o final do primeiro acto at? que o pano baixou terminando o espectaculo, os applausos repetidos e enthusiasticos testemunharam o prazer com que era recebida a produc??o, que o snr. Biester com tanta habilidade desentranhou d'aquella chronica d'aldeia, que n'um s? dia deu nome ao que a havia escripto. Na primeira representa??o o publico chamou no fim do terceiro quadro o snr. Biester, que veio ? scena agradecer. Quando novamente foi chamado no fim do sexto quadro, sabendo j? que o celebre author do romance, o snr. Gomes Coelho se achava na plateia, veio ao palco o snr. Biester, pediu silencio, e disse pouco mais ou menos as seguintes palavras:

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