Read Ebook: Cassell's Natural History Vol. 1 (of 6) by Dallas W S William Sweetland Contributor Duncan P Martin Peter Martin Contributor Murie James Contributor Duncan P Martin Peter Martin Editor
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Ebook has 59 lines and 6270 words, and 2 pages
LITTERATURA DA INDIA
MORTE DE YAGINADATTA
MORTE DE YAGINADATTA
EPISODIO
VERSOS PORTUGUEZES
CANDIDO DE FIGUEIREDO
COIMBRA
IMPRENSA DA UNIVERSIDADE
AO PROFUNDO ORIENTALISTA
AO ERUDITISSIMO FILOLOGO
AO APPLAUDIDO PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DE OXFORD
MAX MULLER
CONSAGRA
ESTE MESQUINHO TESTIMUNHO DE REVERENCIA, SIMPATHIA E GRATID?O
C. DE F.
...... <
Asser??es fundadas, mas que podem passar por temerarias, reclamam prova efficaz. N?o nos esquivamos a ella.....; tom?mo-nos at? de ufania com sermos o primeiro que apresenta em linguagem nossa um dos eternos monumentos da verdadeira poesia indiana.
N?o ? o luxuriante e o garrido da f?rma o que nos prende ao episodio de <
Reproduziremos o episodio em decasillabos portuguezes. Descorado embora na traduc??o modesta, entrever-se-? nelle ao menos a majestosa simplicidade da narra??o, e conjuntamente se descortinar? o ponto mais elevado a que podem sublimar-se os sentimentos do cora??o humano.>>
ELUCIDA??ES E ADVERTENCIA
Os que se derem ao cuidado de confrontar a nossa tentativa com os trabalhos de Gorresio achar?o porventura divergencias. Advertiremos, por isso, que a interpreta??o de Fauche, cujas vers?es discrepam a rev?zes das do filologo italiano, foi a que especialmente nos serviu de guia.
BRAHMANES--casta sacerdotal.
?UDRAS--casta servil.
DA?ARATHA--rei de Ayodhya, e pai de Ram?.
DJATA--cabelleira especial.
GUR?--mestre, director espiritual.
INDRA--o rei dos deuses, o Jupiter indiano.
KCHATRYAS--casta militar e real.
RAGH?--rei dos da ra?a solar.
YAM?--o juiz dos mortos, o Plut?o indiano.
MORTE DE YAGINADATTA
Quando Ram?, dos homens o mais bravo, partiu para as florestas, Da?aratha --aquelle rei outr'ora t?o ditoso,-- deixou-se possuir de m?gua enorme. Exilados seus filhos, o monarca, t?o alto como Indra, escureceu-se nas trevas do infortunio, como quando a sombra de um eclipse os c?us invade, tapando ao sol a face.
Ap?s seis dias de prantos e saudade, o rei egregio, acordando uma vez ? meia noite, lembrou-se de uma falta commettida em afastado tempo, e dirigiu-se desta f?rma a Kao??lya, sua esposa: --Se ?s tambem acordada, ouve-me attenta, Kao??lya. Quando um homem, dama illustre, faz uma ac??o, ou boa ou m?, n?o p?de evitar no porvir os fructos della. Qualquer que em suas coisas n?o distingue o bem e o mal, e ?s cegas vai obrando, os sabios appellidam-no crian?a.
Nos bons tempos da minha adolescencia, em que eu, mo?o imprudente, me ufanava de frechar toda a fera que avistasse, commetti uma falta... por acaso. A desgra?a presente ? fructo acerbo dessa culpa, Kao??lya, como a morte ? fructo de um veneno que se bebe. Mas filha de ignorancia foi a culpa, como a morte talvez de envenenado. Ainda tu n?o eras minha esposa, e eu era apenas da cor?a herdeiro. Nesse tempo, a esta??o das manhans frescas entornava alegrias na minha alma; o sol, que havia esbraseado a terra e bebido a humidade das campinas, can?ado j? de procurar o norte, mudara de hemisferio. Graciosas as nuvens espalmavam-se nos ares, e os grous, e os cisnes, e os pav?es folgavam repletos de alegria. Os aguaceiros obrigavam os rios a espalharem agua lodosa em cima das alpondras. Os campos, sorridentes sob a chuva, ostentavam seus virides relvados em que as aves, alegres, volitavam.
No correr de esta??o t?o prasenteira, tomei sobre meus hombros dois carcazes, empunhei o meu arco, e fui-me andando em direc??o ?s margens do ?arayo. Ao abeirar-me do formoso rio, levava em mira, consoante os habitos, ?s feras atirar, que um rumor leve denunciasse, sem que eu mesmo as visse; e escondi-me na sombra, de arco armado, ao p? dos bebedoiros solitarios, que ali dessedentavam, alta noite, os animais que habitam as florestas. E era o caso, que ?s vezes despedia alguma frecha para aquella banda donde rumor sa?ra, e assim matava, um bufalo da selva, um elefante, ou qualquer fera que buscasse as aguas.
E nessa hora, quando os meus olhares nenhum objecto distinguir podiam, ouvi o som confuso de uma bilha que alguem enchia de agua; som que imita o m?rmuro beber de um elefante. E prestes cavilhando no arco a frecha, frecha ass?s empennada e penetrante, cego pelo destino, despedi-a contra o logar donde o rumor sa?ra. Mal a frecha voara, uma voz de homem, lamentosa, chegou a meus ouvidos:
--Morto! estou morto! Como despedir-se um dardo contra mim, contra um ermita? De quem ser? o bra?o deshumano que despediu a seta? Vim de noite a bilha encher no solitario rio: quem o assassino? a quem tenho offendido? Oh! esta frecha, tendo penetrado o cora??o exanime do filho, ir? cravar-se no maguado seio de um velho anacoreta, pobre e cego, que a? vegeta ? sombra da miseria, no meio destes bosques. Ch?ro menos o desastrado fim da minha vida, que a sorte de meus pais, dois velhos cegos. Avergados ao peso dos invernos, e por mim amparados tanto tempo, como viver?o elles, s?s e cegos, sem o amparo do filho? Quem seria o homem sem alma, cuja frecha aguda matou a todos tres, a mim e a elles, que de fructos, ra?zes e legumes numa paz innocente aqui viv?amos?--
Disse. E, perante a minha extranha falta, eu, abalado, commovido e tr?mulo, deixei cair das m?os carcaz e arco. Corri, e achei, postrado na agua, um joven que trajava de pelles de antilobio e usava a illustre djata dos ascetas. Mortalmente ferido, ergueu os olhos, e, cravando-os em mim, num desgra?ado, dirigiu-me, rainha, estas palavras, como querendo me abrasar nas chammas da sua radiante santidade:
--Que offensa contra ti hei commettido, kchatrya, eu, habitante das florestas, para que recebesse a tua frecha, quando no rio eu mergulhava a bilha por que meu pai dessedentasse os labios? Os dois velhos, autores de meus dias, sem um apoio nas desertas matas, aguardam minha volta; pobres cegos! De uma s? vez, com uma frecha apenas, tres seres victimaste: eu, a m?i terna, e o pai! Porqu?? se nunca te offenderam? A virtude e a sciencia n?o produzem na terra fructo algum, segundo creio, pois que meu pai n?o sabe que me matas! E, dado que o soubesse, que faria, elle que nada p?de, porque ? cego? Assimilha-se a uma ?rvore sem for?a. para amparar outra ?rvore arrancada pela bu?da secure do lenheiro. Vai, filho de Ragh?, vai, sem deten?a, ter com meu pai, e d?-lhe a fatal nova, antes que a sua maldi??o te abrase, bem como o fogo abrasa as seccas urzes. O atalho, que tu v?s, leva ao retiro onde habita meu pai! fala-lhe, abranda-o, antes que te maldiga em sua colera! Mas... vem, arranca-me do seio a frecha: este dardo, cravado no meu seio, ?, como um raio, ardente, e mal respiro. Arranca-me este dardo; que eu n?o morra com elle no meu peito. Eu n?o sou brahmane; n?o te possuas do terror que inspira o assassinio de um brahmane. ? verdade que de um brahmane, que erma neste bosque, eu filho sou, mas minha m?i ? ?udra.--
Eis o que disse o mo?o, a minha victima. ? vista deste pobre adolescente, que, entre queixumes tais, se rebolcava nas aguas do ?arayo, despenhei-me na mais extranha prostra??o de espirito; e, alheado de mim, tirei a frecha do extenuado seio do mancebo, com um cuidado egual ao meu desejo de conservar-lhe a vida. Mas apenas o dardo se extraiu, o mo?o ermita, exhalando um suspiro entrecortado por golfadas sangrentas, tremeu todo, e extranhamente os olhos revolvendo, exhalou o suspiro derradeiro.
Quando o filho do santo anacoreta expirou, abatendo a minha gloria, e a mim mesmo, fiquei-me consternado ? vista do incuravel infortunio.
Extra?da que foi a seta ardente, fatal como o veneno de uma serpe, tomei a bilha, e dirigi os passos para a mans?o da asceta. Os pobres velhos, l? estavam sosinhos, tristes, cegos, sem ninguem que amparasse os desgra?ados, como dois passaros que as asas perdem.
Aguardavam seu filho, e eram sentados, falando delle afflictos, os dois velhos: aquelles que eu ferira em sua prole anciavam a dita que seu filho voltando lhes daria! Neste lance ? que eu, na consciencia remordido, achei ermando os pallidos ascetas! O ermita, ouvindo passos junto delle, diz:--Filho meu, porque tardaste tanto? Traze-me a bilha j?. Yaginadatta, meu bom amigo, h? tanto que te andavas brincando na agua! dava-nos cuidado, ? tua boa m?i e a mim, meu filho, t?o longa ausencia. Se eu acaso ou ella num momento sequer te mago?mos, perd?a, e nunca mais por tanto tempo te detenhas no ponto aonde fores. N?o posso andar... tu ?s as minhas pernas; n?o posso ver... tu ?s a minha vista: esta minha existencia em ti descan?a! Porque n?o falas tu!--
A estas vozes, lentamente abeirando-me do velho, a quem o amor de pai tanto inspirava, e com as m?os o peito comprimindo, disse-lhe suffocado de solu?os, e numa voz tremente, balbuciante, mas que a minha firmeza reanimava: --Eu... um kchatrya sou, n?o sou teu filho; meu nome ? Da?aratha; e eis-me comtigo, depois de commetido infando crime, de que a virtude tem horror e espanto. Eu, santo asceta, havia demandado, com o arco em punho, as margens do ?arayo, por espreitar os animais bravios que, da sede obrigados, ali fossem, e que eu frechasse sem os ver. No emtanto, o estridor de uma bilha que se enchia tocou-me o ouvido, despedi a frecha e assassinei teu filho, imaginando matar um elefante. Aos gritos delle, tirados pela frecha que o varara, corri tr?mulo ao ponto donde vinham, e vi ent?o um joven penitente. ? certo que eu pensava, anacoreta, ter em frente de mim um elefante, e atirar a uma fera n?o a vendo, quando cravou teu filho o f?rreo dardo. Arranquei-lhe do seio a minha frecha, e elle expirou, subindo ao c?u; mas antes havia lastimado longamente a sorte de seus pais. Involuntario foi o assassinio de teu filho amado... Curvado assim ao p?so desta culpa, mere?o contra mim a tua colera.--
Nisto, ficou petrificado o velho; mas logo ap?s, recuperando alento, estas palavras proferiu, emquanto eu as m?os juntas conservava humilde: --Se, criminoso de uma falta enorme, tu m'a n?o confessasses espontaneo, mesmo sobre teu povo cairia, o castigo tremendo; e o meu anathema havia consumil-o como o fogo! Kchatrya, se soubesses que era ermita aquelle que matavas, esse crime faria despenhar Brahm? do throno, que elle no emtanto occupa inabalavel; a sete descendentes e a outros tantos dos teus maiores cerraria as portas, oh mais vil dos mortais, o paraiso, se consciencia houvesses do teu acto. Foi crime inconsciente; de outra sorte, n?o viverias j?, e a ra?a inteira dos raghuidas havia de apagar-se, tanto valor se prende ? vida tua! Vamos, cruel! conduze-me depressa aonde assassinaste o infeliz mo?o que era um bord?o de cego, e que sabia guiar minha cegueira. Eu quero ainda tocar meu filho morto, se a existencia me n?o abandonar, antes que o abrace. Quero, com minha esposa, tocar inda o ensanguentado corpo de meu filho, solto o djata e os cabellos em desordem; corpo de que a alma resvalou agora sob o poder de Yam?.--
Guiei os cegos, do intimo abalados, a essa estancia e nella os dois esposos abra?aram o estirado cadaver de seu filho. Mal sustendo uma dor que os avergava, ao tocarem apenas no cadaver ergueram da alma doloroso grito, caindo sobre o corpo ensanguentado. O esmaiado semblante de seu filho a m?i beijou, e desatou-se em prantos, e em lamentos t?o tristes, que lembravam os da m?i do novilho, a que furtassem a estremecida prole:--Yaginadatta, dizia ella, n?o me queres tanto como ? propria existencia? filho augusto, porque n?o falas tu, quando te partes para essa viagem que ? t?o longa? Beija-me e partir?s em me abra?ando! J? me n?o queres bem? porque n?o falas?
Tanto que o solitario estes lamentos, e outros inda, soltou com sua esposa, triste cumpriu a ceremonia da agua em honra de seu filho.
Ap?s instantes, de uma celeste f?rma revestido, e al?ado num suberbo carro aereo, o filho appareceu do santo ermita, e assim falou aos pais:--Em recompensa do puro amor que vos sagrei, obtive condi??o valiosa: dentro em pouco sereis neste logar t?o anhelado. N?o lastimeis do vosso filho a sorte, nem crimineis o rei; era destino que eu succumbisse ao tiro do seu arco.--
Disse; e transfigurado em corpo aereo, erguido, entre esplendores, sobre um carro de uma belleza extrema, sublimou-se o filho do richi ao c?u. E emquanto, juntas as m?os, eu era ao p? do ermita, que havia terminado com a esposa a ceremonia da agua em honra ao filho, falou-me assim o santo penitente: --Eu pasmo de que, sendo vil e f?tuo, tu contes por av?s os ikshwakidas, reis santos, gloriosos e magnanimos. Entre n?s j?mais houve desaven?as, nem pleite?mos campos ou mulheres. Sendo assim, porque a vida tu me roubas e da consorte minha com teu arco? Mas j? que ?s innocente no teu erro, n?o te maldigo, mas attento escuta: --Assim como chegou para meus dias inesperado termo, pelas m?guas que me instillou a perda de meu filho, assim, ao cabo da carreira tua, h?s de deixar a vida pesaroso, e chamar?s debalde por teu filho.--
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