Read Ebook: Machado de Assis Son Oeuvre Littéraire by Lima Oliveira Machado De Assis Orban Victor France Anatole Author Of Introduction Etc
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Ebook has 45 lines and 2480 words, and 1 pages
Editor: Rodrigo Veloso
ANTHERO DE QUENTAL
ANTHERO DE QUENTAL
MANIFESTO DOS ESTUDANTES DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
? OPINI?O ILLUSTRADA DO PAIZ
O Visconde de S. Jeronimo, Bazilio Alberto de Sousa Pinto, por longos annos lente da Faculdade de Direito na Universidade, era seu reitor, e j? desde tempos, no anno lectivo de 1862 a 1863. O antigo liberal de 1820, deputado ?s Constituintes de 1821, esquecera, parece, nos fins de sua vida, os principios com que a inaugurara na scena politica, e torn?ra-se profundamente antipathico ? Academia, sobre a qual fazia pesar todo o rigor da obsoleta legisla??o universitaria, a mais incongruente, tirannica e injustificavel de todas as legisla??es, cujos artigos draconianos t?m resistido a todas as evolu??es da sciencia do direito e a todas as conquistas da civilisa??o, recorda??o ominosa, tetrica e funebre das edades inquisitoriaes.
E conhecendo bem o Visconde de S. Jeronimo a existencia d'essa antipathia, e que de dia para dia se ia ella exarcerbando, rasgando cada vez mais fundo abysmo insuperavel entre a Academia e elle, em lugar de algo fazer para a diminuir, se n?o extinguir, punha todo o seu empenho no contrario provocando em tudo e por tudo, sempre que para isso se lhe deparava ensejo, o exaspero dos animos dos estudantes.
A tal ponto se foram, em essa maneira, apurando as cousas, que deliberada a grande maioria da Academia a dar ao reitor um testemunho bem solemne e frisante de sua incompatibilidade com este, para realisa??o d'elle foi aprasado o dia 8 de Desembro de 1862, por occasi?o da solemne distribui??o dos premios aos estudantes laureados da Universidade, para a qual, desde longuissima data, destinado e consagrado o dia 8 de desembro em que a egreja commemora a Concei??o de Maria, decretada por D. Jo?o 4.? Padroeira do Reino, e Protectora da Universidade.
Effectivamente n'esse dia inteiramente apinhada de estudantes a vastissima sala dos Capellos, onde a solemnidade da distribui??o dos premios se soe realisar, apenas o Visconde de S. Jeronimo come?ou de falar, na sua qualidade de reitor, inteiramente se evacuou o amplo recinto de todos os estudantes, que o enchiam, voltando-lhe as costas a immensa mole de batinas, que reunida no pateo da Universidade, enthusiasticos vivas soltou ? liberdade.
Rodrigo Velloso
MANIFESTO DOS ESTUDANTES DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA ? OPINI?O ILLUSTRADA DO PAIZ 1862-1863
Ao Governo, aos homens desinteressados e liberaes d'esta terra, vamos dar raz?o do nosso procedimento. Oi?am-nos. Pedimos um quarto de hora de atten??o: n?o ? muito que ao prazer e ao interesse se roubem alguns minutos para attender ? voz da mocidade de um paiz. Essa voz parte d'alma: ? a voz da eterna justi?a.
Todo o facto pede uma explica??o. Se o acontecimento ? grave, graves devem ser os motivos que o produziram; e, mais que ninguem, homens novos, quando deliberam, p?dem sim enganar-se, mas a inten??o ? sempre generosa e nobre.
Pergunta-se hoje em Coimbra, pergunta-se por todo o paiz:--Que querem os Estudantes da Universidade de Coimbra? Que significa a evacua??o da sala dos Cap?llos no dia 8 de dezembro de 1862? Que protesto ? esse d'uma corpora??o contra o seu chefe?
Os Estudantes n?o s?o meia duzia de crian?as turbulentas que, n'uma hora de galhofa, se combinem para pregar uma pe?a ingra?ada; tantos homens n?o s? intendem, como um bando de rapazes de escola, s? com o fim de se divertirem ? custa de uma coisa muito s?ria. N?o foi, pois, o prurido da infancia o motor d'aquelle acontecimento. Esta hypothese nem se discute. O bom senso da na??o regeita-a como uma offensa feita a si mesma na pessoa dos seus melhores filhos.
Os Estudantes n?o s?o, t?o pouco, instrumentos cegos de vingan?as pessoaes, trabalhando ? luz do dia, mas movidos por um bra?o occulto na sombra. S?o instrumentos sim, mas da propria causa. O bra?o que os impelle n?o vem de cima, nem vem de baixo o impulso que os leva. Escutam a voz da consciencia e obram.
A evacua??o da sala dos Cap?llos no dia 8 de dezembro de 1862, o protesto da Academia contra o Reitor da Universidade deve, como todo o facto, ter um motivo e um fim. Partido de uma corpora??o onde o paiz reconhece o melhor, o mais puro de seu sangue, deve, mais que nenhum, ter um motivo justo, um fim grave e elevado.
Os que sobre n?s lan?am o estigma de amotinadores s?o esses os primeiros a reconhecel-o. Pois se assim n?o fosse, se contra si n?o temessem a justi?a da nossa causa, com que motivo adulterar os factos para depois os combater? Quem calumnia, quem cria um fantasma para ter a esteril gloria de o derrubar ante os olhos do paiz, ? que teme luctar com a verdade, ? que sabe que o venceria a verdade, se a confessasse.
Porque os factos foram adulterados. Debaixo da capa do anonymo fomos calumniados por cobardes que ? luz do dia n?o se atrevem a dar com o seu nome garantia ?s suas palavras. Julgou a boa f? dos nossos vinte annos que em quest?o t?o grave sobrenadaria a justi?a e a verdade acima da onda lamacenta do interesse pessoal, da calumnia, das miserias d'uma ou d'outra fac??o.
Foi ainda um engano. A boa f? do jornalismo do paiz foi tambem ludubriada. Quizeram desacredital-o, desacreditando-nos, fazendo-lhe repetir o que a melevolencia d'alguem lhe segredou em hora d'estulta inspira??o.
Como homens, filhos d'esta ?poca de liberdade, lamentamos que uma institui??o que amamos, porque ? a educadora dos povos, a m?i das na??es livres, que a imprensa fosse enganada por falsos informadores e, ainda sem o querer, mentisse uma vez ? sua miss?o. Mas, como membros de uma corpora??o, ? do nosso dever, ? da nossa honra aceitar a luva que nos lan?am, e esclarecer a opini?o, salvando d'esta injusti?a a imprensa portugueza.
Os Estudantes sairam da sala dos Cap?llos, mas n?o sairam amotinados. Viraram s?mente costas a um homem que n?o amam nem respeitam, porque se n?o sabe fazer nem respeitado nem amado. Ficar ? que seria crime, porque f?ra uma baixeza.
Os Estudantes, reunidos no terreiro da Universidade, deram vivas ? independencia, vivas ? liberdade, mas n?o tumultuaram, n?o se revolucionaram, n?o deram morras, n?o pediram a cabe?a de ninguem; por que os Estudantes sabem que a cabe?a de qualquer homem ? sagrada; por que nossas m?is n?o nos insinaram a soletrar em seus olhos a religi?o do amor, para n?s virmos aqui transformarmo-nos em bandidos e homicidas, e a essa religi?o transformal-a em lei de morte.
A n?s c?rar-nos-iam as faces de vergonha por este povo, se em Portugal um s? homem ousasse tal acreditar.
N?o se pediu a morte de ninguem, n?o se perturbou um acto solemne com vozes nem tumultos. Evacuou-se uma sala com o socego que tal evacua??o comporta. Depois--f?ra, no meio da pra?a-deram-se vivas ? liberdade por que n?o sabiamos ainda aqui que esta palavra tivesse sido riscada, por ordem do Geral dos jesuitas, do diccionario politico d'esta na??o.
Que infamia commetteram os Estudantes da Universidade, saindo d'uma sala onde n?o podiam ficar, sob pena de ouvirem cousas desagradaveis para o seu brio, da b?ca de um homem que se compraz em os amesquinhar?
Que crime commetteram, n'um paiz liberal, os filhos dos homens do Mindello, dando vivas ? liberdade?
Sabemos manifestar-nos contra uma authoridade, nos limites da ordem e da lei. Ordem e lei, em terra de livres, n?o s?o circulo t?o estreito que se n?o possa dar um passo sem lhes sahir logo da peripheria.
? esta a verdade. Para a restabelecer temos ainda voz que se erga, fale e se escute em todos os Angulos d'esta terra. Falamos: que nos oi?a a na??o: que a na??o s?o nossos paes, s?o nossas m?is, ? o cora??o de nossas familias, e aos vinte annos n?o se apprendeu ainda a linguagem da mentira para fallar a um pae e a uma m?i. A verdade ? esta. Que se levante alguem e, arrojando a mascara villan do anonymo, se atreva a desmentir-nos!
Eis o facto. Agora os motivos d'elle.
Que tem o Reitor da Universidade que mere?a tal desapprova??o?
Respondam por n?s os jornaes do paiz que, ha tres annos, n?o cessam de registrar em suas columnas factos sobre factos, iniquidades e miserias. Respondam as representa??es, os pedidos de justi?a, que cada acto seu tem promovido. Responda o corpo cathedratico, onde raras vozes amigas incontra a apoial-o. Responda a rectid?o de nossas inten??es,--de n?s, que o accusamos, que somos mo?os, e n?o erguemos a voz contra um homem sem raz?o, sem muita raz?o.
P?de suppor-se que o corpo docente da Universidade, que devemos julgar prudente e illustrado; que a mocidade portugueza, que abriga no cora??o tanta rectid?o e justi?a; que o jornalismo, echo da opini?o publica; que sciencia, nobreza d'inten??es, prudencia e illustra??o: que tanta gente, e da melhor, em t?o diversos sitios, sem se passarem palavra, sem um fim qualquer, se conspire e combine contra um homem, o accuse e guerreie... e que esse homem n?o tenha dado motivo a esta declara??o de guerra? Pode suppor-se isto?
Se assim fosse, se a na??o suppozesse tal do que tem melhor em si... que idea formariamos ent?o da opini?o publica, da moral d'este paiz?
? uma hypothese que se n?o discute. Estranho caso, em verdade, ? incontrar na historia o fado de um homem grande, menosprezado, accusado injustamente por tudo quanto tem em si de melhor uma na??o. Ser? o Reitor da Universidade o Colombo que n?s todos desconhe?amos?... Que lhe responda a consciencia.
Mas n?o ? s? contra o Reitor, o sr. Doutor Basilio Alberto de Souza Pinto, que nos manifestamos, contra a authoridade que n?o cumpre com o dever da justi?a, o primeiro e unico que lhe imp?e o seu cargo. Ha aqui mais alguma cousa, e alguma cousa peior. Gememos sob o jugo de uma legisla??o iniqua, porque ? velha; necessariamente injusta, porque ? confusa. Cumpre ao Reitor ado?ar-lhe o rigor, e, no meio da liberdade que tal confus?o lhe d?, escolher sempre em harmonia com a idea do seculo, que ? a Justi?a.
? isso que elle n?o comprehende, ? isso que elle n?o quer; e ? contra isto que n?s protestamos.
Se uma vez n?o applica a lei, se muitas vezes ? o arbitrio o seu unico codigo, ? isto mau. Mas quando trata de a cumprir, quando ? justo, como executor da lei, porque se escuda com ella, incarnar em si todo o rigor da velha institui??o, tirar-lhe as ultimas consequencias, ter na sua m?o uma espada, e, podendo escolher entre o gume e as costas, preferir o gume... isto ? peior, por que isto ? pessimo.
A manifesta??o contra o Reitor da Universidade ? tambem protesto contra a iniquidade d'uma legisla??o atrasada de tres seculos, porque este Reitor symbolisa todo o rigor d'essa lei, porque consubstancia em si tudo quanto ha de mau na institui??o.
A lei pesa sobre nossas cabe?as com o peso de muitos annos, mas o Reitor carrega ainda, com todo o p?so da sua m?o, sobre o j? enorme da lei, e quer-nos esmagar sob a press?o immensa dos annos e do rigor ainda.
Um e outro jugo nos ? odioso; contra ambos protestamos.
O Reitor que deu lugar a vermos, em toda a sua fealdade, a injusti?a da institui??o, abriu caminho a que, manifestando-nos contra elle, nos manifestassemos contra ella tambem.
S?o esses os nossos motivos. ? este o duplo sentido do nosso protesto.
Em quanto ao fim ? claro, depois d'isto, qual elle seria.
Substituir a voz dos opprimidos, forte porque parte d'um cora??o torturado,
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