Read Ebook: Suomen kultainen kirja I by Wettenhovi Aspa Sigurd Raekallio J Translator
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Ebook has 625 lines and 31399 words, and 13 pages
Ap?s ligeira pausa debaixo dos freixos, o animal prosseguiu na ca?a. Devastador como um ciclone, abrindo caminho sem esfor?o, perseguia o le?o em fuga para o Oeste, enquanto o leopardo, parando, contemplava a cena. Os dois vultos foram desaparecendo, e o homem pensou em deixar o seu retiro porque o leopardo o inquietava pouco, quando a cena se complicou: o le?o regressava obliquamente, por ter achado algum obst?culo, p?ntano ou fosso.
O homem sorriu, chasqueando o le?o, por n?o ter calculado melhor a fuga, e retraiu-se para o seu esconderijo, porque os dois colossais antagonistas vinham na direc??o dele. Como era natural, retardado pelo desvio e pelo peso do veado, o fugitivo perdia terreno.
Que fazer? O ca?ador estendeu a vista em torno de si: para alcan?ar algum choupo era mister galgar duzentos c?bitos e, al?m disso, o espeleu trepava ?s ?rvores. Quanto ? rocha dos trogloditas, ficava ainda a uma dist?ncia dez vezes maior. Preferiu sujeitar-se ? ventura.
A sua hesita??o foi r?pida.
Em dois minutos, as feras atingiam a beira do seu retiro. Ali, o le?o, vendo que a fuga era in?til, deixou cair o veado, e esperou. Foi um momento de tr?guas, uma suspens?o como a de h? pouco, quando o leopardo segurava a presa. Em volta, o sil?ncio, a hora da anuncia??o, a hora em que os nocturnos v?o dormir e os diurnos renascem para a luz. Claridades de sonho, cimos de ?rvores embebendo-se em algodoamentos p?lidos, guarni??es de graminias lanceoladas meneando-se ao sopro hesitante do Poente, e, por toda a parte, o vago, o confuso, a emboscada da natureza, feita de fronteiras arborescentes, de clareiras, de faixas cetinosas de c?u.
L? em cima, os astros despertos, o salmo da eterna vida.
Sobre um mont?culo, o espeleu recortava na claridade lunar o seu perfil altivo de dominador, a crina pendente sobre uma peladura mosqueada de pantera, a testa chata, as maxilas proeminentes,--rei outrora da Europa cheleana, em decad?ncia hoje, reduzida a estreitas faixas de territ?rio. Mais abaixo, o le?o, de respira??o rouca, a pesada garra assente sobre o veado, hesitante em face do colosso, como pouco antes o leopardo diante dele, uma fosforesc?ncia nas suas pupilas, mesclada de receio e c?lera. Na penumbra, j? familiarizado com o drama, o homem.
Um rugido surdo se espraiou; o espeleu sacudiu a crina e come?ou a descer. O le?o, em recuo, de dentes descobertos, largou por dois segundos a presa; depois, desesperado, estimulado pelo orgulho, voltou com um rugido mais estrepitoso que o do seu advers?rio, e assentou de novo a garra no veado.
Queria dizer que aceitava o combate. O espeleu n?o obstante a sua for?a prodigiosa, n?o respondeu logo. Parado, acuado, examinava o le?o, calculava-lhe a for?a e a agilidade. O outro, com a altivez da sua ra?a, conserva-se de p?, de cabe?a erguida. Novo rugido do agressor, uma r?plica retumbante do le?o, e achavam-se a um salto de dist?ncia.
--L?! L?!--murmurou o homem.
O espeleu transp?s a dist?ncia, a sua garra monstruosa levantou-se ante as unhas do inimigo. Por dois segundos, a pata ruiva e a pata mosqueada defrontaram-se num armist?cio final. Depois, o ataque, uma confus?o de crinas e maxilas, bramidos ferozes, enquanto o sangue escorria.
Ao principio, o le?o dobrou-se, sob o tremendo assalto. Desembara?ado em seguida, fez um salto transversal, atacou de flanco e a batalha tornou-se indecisa, amortecido o arrojo do espeleu. De repente, o frenesim dos organismos, a agita??o dos m?sculos de bronze, a indecis?o de esfor?os malogrados, o revoltear das crinas ao clar?o da lua, um despegar de carnes igual ?s palpita??es de uma onda no mar, a escuma das goelas e a fosforesc?ncia das pupilas fulvas, bramidos semelhantes ao restrugir das tempestades nas fran?as dos carvalhos...
Finalmente, o le?o, ferido por um golpe terr?vel, caiu, rolando; e o espeleu, como um raio, atirou-se sobre ele e come?ou a rasgar-lhe o ventre.
Debateu-se o le?o, rugindo medonhamente. Conseguiu por?m levantar-se ainda, de entranhas pendentes e juba ensanguentada. Compreendendo n?o s? a impossibilidade de fugir, sen?o tamb?m que o outro n?o se apiedaria dele, fez rosto sem fraqueza, e reentrou no combate com tal f?ria, que, durante minutos, o espeleu n?o p?de domin?-lo.
Mas o desenlace aproximava-se, as for?as do vencido decresciam rapidamente: dominado de novo, deitado em terra, veio o suplicio, o encarni?amento do mais forte, as v?sceras do le?o arrancadas, os seus ossos partidos entre arp?us poderos?ssimos, a sua face triturada e disforme..., e os rugidos da agonia, repercutidos atrav?s do horizonte, cada vez mais roucos, mais d?beis, transmudados logo em suspiros, em estertores, em tremor de v?rtebras... Enfim, uma convuls?o de garganta, um arranco lamentoso, e o soberano animal expirava.
O espeleu encarni?ou-se no cad?ver, na carne ainda vibrante, com a voluptuosidade da vingan?a e o receio de uma ressurrei??o. Por fim, assegurando-se de que era infundado o receio, repeliu desdenhosamente o cad?ver, celebrou com um rugido o seu triunfo e o seu repto ?s penumbras, com as esp?duas e t?rax sangrando de largas chagas.
Rompia a manh?. Ao fundo do horizonte, uma viva filtra??o de prata, o arco da lua esmaecendo, evaporando-se.
O espeleu, depois de lamber as feridas, sentiu que a fome voltava, e caminhou para a carca?a do veado. Cansado, muito distante do covil, procurou um retiro, onde pudesse comer, ? sombra. A moita pr?xima, em que se abrigava o ca?ador, atraiu o seu olhar, e cuidou de arrastar para ali a sua presa.
Entrementes, fascinado pela magnific?ncia do combate, o homem contemplava ainda o vencedor, quando viu que ele se dirigia para a moita.
Um estremecimento de espanto e de terror lhe percorreu o corpo, sem lhe tirar o instinto da luta e do c?lculo.
Pensou que, depois de tal combate, e ?vido de descanso e de alimento, o espeleu n?o o inquietaria naquele retiro.
Entretanto, n?o tinha disso a certeza; recordava as lendas dos velhos, referidas em noites veladas, o ?dio do espeleu contra os homens. O grande felino, raro j?, em decad?ncia cont?nua, parecia ter o instinto do papel dos primatas para a extin??o do homem, e satisfazia o seu rancor desordenado, sempre que se lhe deparava um individuo solit?rio.
Ao tumultuarem-lhe no c?rebro estas lembran?as, o homem hesitava sobre o que, em caso de ataque, seria prefer?vel: se o abrigo, se a plan?cie rasa. Aquele amorteceria o ?mpeto da fera; a plan?cie tornava mais f?cil o tiro da zagaia e os golpes de clava.
A hesita??o n?o podia durar muito: o espeleu come?ava a afastar a folhagem da moita. Decidida rapidamente a escolha, o homem deu um salto, e saiu por um atalho, em ?ngulo recto com a linha que o monstro seguia.
Ao agitarem-se os ramos, o espeleu inquietou-se, rodeou a moita, e, vendo surgir um vulto humano, rugiu. Ante esta amea?a, desvanecida qualquer tergiversa??o, o ca?ador, de m?sculos ?geis e destros, ergueu a zagaia e apontou. A arma vibrou, seguiu direita o seu caminho e foi cravar-se no pesco?o do felino.
--E?! E?!--gritou o homem, brandindo a clava com ambas as m?os.
Depois, tornou-se im?vel, firme, belo gigante, her?i das idades de luta, de olhar l?cido.
O espeleu avan?ou, calculando o salto. O homem, com uma destreza maravilhosa, fez um movimento obliquo, deixou passar o monstro, a sua clava desceu como um martelo formid?vel, e estalaram v?rtebras. Um rugido estrangulado de pranto, a queda, a imobilidade imediata do colosso; e o homem repetiu vitorioso o seu grito de guerra:
--E?! E?!
Continuava todavia na defensiva, temendo a repeti??o do ataque, contemplando a fera, os seus grandes olhos amarelos, abertos, as suas garras do comprimento de meio c?bito, os seus m?sculos enormes, as suas goelas escancaradas e ainda cheias do sangue do le?o e do veado, todo aquele admir?vel organismo b?lico, de ventre p?lido, sob a pelagem amarela, mosqueada de negro...
Mas estava bem morto o espeleu, e j? n?o tornaria a encher de pavor as trevas.
O homem sentiu no peito um grande bem-estar, uma plenitude de orgulho dulc?ssimo, uma dilata??o de personalidade, de vida, de confian?a em si, que o p?s nervoso e contemplativo, ante as flores que a aurora iluminava.
As musicas e a brisa da manh? ergueram-se ao mesmo tempo no horizonte. Os animais diurnos foram abrindo as suas pupilas, as aves pipilaram de encantadas, voltando-se para o Levante, entumecidas as suas pequenas cornamusas. Sob transparente n?voa, o rio parecia de estanho levemente embaciado; depois, mergulharam nele os esplendores do vapor e nele se reflectiu um mundo de formas e matizes. Os cimos dos grandes choupos e das pequenas graminias da plan?cie estremeceram, ao mesmo h?lito quente de vida. O sol j? se elevava acima da floresta distante, e os seus raios estiravam-se pelo vale, entremeados de sombras de ?rvores delgadas e intermin?veis. O homem estendia os bra?os, numa religiosidade vaga, sem culto determinado, compreendendo a for?a e a eternidade do sol, e o ef?mero da sua personalidade. Depois, teve um grito, o seu grito de triunfo:
--E?! E?!--
E, ? borda da caverna, apareceram os homens.
A horda
Aos sorrisos da manh?, quando a aragem afagava, regeneradora e voluptuosa, o rio e a plan?cie, os ti??es da primeira refei??o extinguiam-se ? beira da caverna dos homens.
A ?rvore-sepulcro de cem c?bitos de alto, estendia os seus bra?os, cheios de esqueletos p?lidos, de trogloditas extintos. Ao frouxo embate da vira??o, o oss?rio a?reo emitia c?nticos suspirosos, eufonias sil?bicas; e um velho, apoiando o tronco em os calcanhares, punha os olhos pr?sbitos em tais ou tais cr?nios que surgiam de entre as sombras ramusculares, reconstru?a mentalmente os anais de tal ou tal ca?ador glorioso, de tal ou tal companheiro da mocidade, devorado pelo nada.
Refere-se o autor ? ?rvore, que os n?madas escolhiam, para nela dependurar os esqueletos dos seus mortos. .
A horda de Pzanns, espalhada, ressentia-se do encanto daquela hora. As crian?as saltavam pelo campo, at? ? fronteira das ?guas; entre os salgueiros, misteriosamente, alguma rapariga semi-nua avivava a sua frescura e os seus enfeites, enla?ava as ondas fulvas dos seus cabelos; os homens compraziam-se em projectos de ca?a ou de trabalho, quase todos corpulentos e musculosos, de cr?nios alongados e cheios de energias belicosas. Em tigelinhas de s?lex, alguns guerreiros mo?am e misturavam o minio vermelho com medula de uro, e pintavam o rosto e o peito com um fino pincel de fibras: par?bolas mal-feitas, fios entre-cruzados, vagas representa??es do natural, pequenos an?is, tra?os irradiantes. Outros prendiam aos joelhos, ao pesco?o, ? testa, aos p?s, ornatos b?rbaros, pingentes de caninos furados ? nascen?a, , v?rtebras de peixe, cristais com reflexos de ametista, seixos gravados, e a mi?da joalharia marinha: a porcelana-l?rida, lapas, litorinas.
A horda representava uma humanidade j? propensa ao ideal, industriosa e artista, ca?adora mas n?o belicosa, que aceitava o mist?rio das coisas sem ter ainda conhecido culto, dominada apenas por vagos simbolismos. Eram filhos da grande ra?a dolicoc?fala, dominadora da Europa quatern?ria, vivendo em paz, de horda para horda, estranhos ? degrada??o da escravatura; caracterizava-os uma nobreza rude, uma grandeza e uma bondade que n?o mais se encontrar?o no decurso da neol?tica. Eram largos os seus campos e t?o ricos de alimentos, que ainda n?o surgira o instinto de apropria??o directa nem sombra de ast?cia vil. Os condutores de tribo, sem autoridade efectiva, livremente escolhidos e seguidos, por virtude da sua seriedade e experi?ncia, ainda n?o haviam entronizado o despotismo. Unicamente as quest?es de amor e rivalidade manchavam, algumas vezes, a terra com o sangue de homem, derramado por homem...
Segundo per?odo da idade de pedra, chamado tamb?m idade da pedra-polida.
Terminada a refei??o e dispostos os enfeites, come?ou o trabalho das mulheres e dos homens que n?o entravam na ca?a desse dia. Ah! desde o s?lex de Thenay, desde o taciturno antropopiteco, agora que no seio da fauna ia surgir o antepassado cheleano, quantas fronteiras ultrapassadas, dentro do universo cerebral!--divis?o do trabalho, tradi??o de utens?lios, soberania da natureza, organismo multiplicador das for?as humanas, esbo?os art?sticos...
Os s?lex de Thenay s?o os primeiros e os mais grosseiros vest?gios da ind?stria humana, atribu?dos a uma esp?cie de homem-macaco ou antropopiteco, precursor do nosso antepassado da ?poca cheleana.
Com delicada agulha, muitos cosiam pelicas, depois de abrir nelas pequenos orif?cios com um pun??o de pedra; outros, com polidor e raspadeiras trabalhavam em peles frescas; alguns, em bancos de pedra ou de madeira, ao ar livre, martelavam, afiavam as machadas, as facas, as serras, os bur?s. O corte, fazendo saltar pequenas estilhas, e feito com uma destreza e paci?ncia admir?veis, deixava aparecer, lentamente, as l?minas e as pontas, e mui raramente o artista deixava de descobrir as direc??es convenientes ? percuss?o, familiarizado com a mat?ria, dotado da previs?o que se adquire com a longa pr?tica. Tarefa mais delicada ainda, contornavam outros as pontas, os anz?is, os arp?us de osso e corno, munindo-se de utens?lios finos e perfeitos, tais que a humanidade n?o poder? exced?-los, sen?o em passando da pedra para o metal.
Sobretudo a agulha revelava uma engenhosa ind?stria: esquirolas arredondadas por meio de s?lex denteado e com entalho; polidura e alisamento com gr?s fino; escava??o do fundo na ponta curva, com uma lentid?o calculada, com mil perigos de se partir a obra.
Em quanto os trabalhos come?avam, um grupo de ca?adores reunia-se junto da caverna.
Ao rochedo mais alto subiu um mo?o, de olhar penetrante, a explorar as perspectivas. ? sua esquerda, sob reflexos de ametista embaciada, frouxa e vaga, a floresta esbatia-se no horizonte, prolongando-se at? o rio. Em frente, os valeiros, as quebradas das estepes, a ondula??o suave dos outeiros, o?sis semelhantes a nen?fares num p?ntano, o espelho sinuoso das ?guas fecundas. Atr?s, perdida na poeira da t?bia claridade das nuvens, a regi?o das montanhas; e por toda a parte perfis diminutos de animais pascendo em plan?cies: o ca?ador contou uma horda de cavalos e um rebanho de uros. Com uma voz atroadora, anunciou-os aos seus companheiros, tra?ando com o dedo a direc??o da ca?a. ?quele aviso, todos tomaram as armas: o arco, o arp?u, a zagaia, a clava. Depois, no momento da partida, a velho chefe, lan?ando um olhar em roda, bradou:
--Vamir?!--
Ent?o, no portal das grutas, apareceu o mo?o que vencera o espeleu. Hesitou entre o desejo de prosseguir na prepara??o da manta que talhara na pele do monstro e que come?ara na v?spera, e o desejo da ca?a. Decidiu-o a mocidade, a atrac??o dos vales rejuvenescidos, as exclama??es dos seus companheiros. Reentrou na caverna, e reapareceu logo, armado de arco e clava, e o bando p?s-se em marcha para o Norte. Cheios de vivacidade ao principio, excitados os c?rebros b?rbaros pela marcha e pelas belezas matinais, foram-se tornando depois silenciosos.
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