Read Ebook: Impressions of Spain by Calvert Albert Frederick
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Ebook has 66 lines and 2133 words, and 2 pages
LENDAS DOS VEGETAES.
DO MESMO AUCTOR:
Os reptis em Portugal. A fauna dos Lusiadas. Guia do Naturalista. Ninhos e ovos. ? Beira mar. Notavel transplanta??o de uma palmeira. Esbo?o biographico de Adolpho Frederico Moller. Jornal de Horticultura Pratica .
Typ. de A. R. da Cruz Coutinho. Caldeireiros, 28 e 30.
LENDAS DOS VEGETAES,
POR
EDUARDO SEQUEIRA.
PORTO--1892.
AO AMIGO
ALFREDO FERREIRA DIAS GUIMAR?ES.
TIRAGEM UNICA DE 70 EXEMPLARES.
Ex. n.? 26
offerecido
por
ROSA MUSGO.
O louro anjo Sible tinha sido mandado por Deus, mitigar o soffrimento d'uma pobre noiva cujo bem amado morrera na guerra, defendendo o solo sagrado da patria. Era Sible o anjo mais gentil de todos quantos formam a immensa legi?o que Deus commanda, e o favorito querido do Senhor.
Contente com o encargo que lhe f?ra dado, Sible bateu as azitas da mais fina plumagem e dirigiu-se para a cabana perdida no meio do bosque, onde morava a desditosa Amel que, chorando desesperadamente, lastimava a solid?o e o abandono em que ficava depois de t?r architectado tantos e t?o risonhos projectos de felicidade.
Sible entrou na cabana no momento mesmo em que a inditosa rapariga, allucinada pela d?r, procurava p?r termo ? existencia, e come?ou, para a consolar, a pintar-lhe com t?o brilhantes c?res a morte gloriosa do noivo, o logar distincto que elle ia occupar no reino dos ceus, esperando que ella se lhe fosse juntar para se realisar o eterno e venturoso enlace patrocinado por Deus, que o desespero da rapariga abrandou como por encanto, e um sorriso, raio de sol ap?s temporal desfeito, fugitivamente se lhe esbo?ou no rosto amargurado. Mas para que Amel merecesse uma felicidade t?o extraordinaria, felicidade n?o sonhada por mortal algum, era preciso, indicou-lhe o anjo, que esquecesse a d?r mitigando o soffrimento alheio, indo em santa romagem do bem para a cabeceira dos doentes, dos pobres doentes desamparados de carinhos e de familia, e para junto das creancinhas que a guerra fizera orph?s, esperar que Deus a chamasse a si, dando-lhe a companhia eterna do bem amado.
Sible empregou o dia todo na sua divina tarefa, e quando a noute come?ou a estender o escuro veu sobre a terra, contente por se ter satisfatoriamente desempenhado da tarefa que lhe era imposta, despediu-se da donzella e quiz tomar o caminho do ceu. Mas com o cahir da noute estendera-se sobre o bosque um espesso nevoeiro humido que desnorteou Sible, e molhando-lhe as pennas das azas o impossibilitou de voar. O anjo vendo que lhe era impossivel alcan?ar o ceu, tratou de procurar um retiro agradavel e seguro onde podesse socegadamente esperar a manh?.
Junto de uma parede meio desmoronada, vicejava uma pujantissima roseira engrinaldada de formosissimas rosas brancas rescendendo os mais puros e divinaes aromas. Mais encantador abrigo, melhor docel n?o era possivel encontrar em todo o bosque.
Sible foi ? parede apanhar um mont?o de f?fo musgo e com elle fez sob a roseira um leito confortavel, onde, depois, envolvendo-se nas alvas azas de arminho, se deitou disposto a esperar, velando, que chegasse a madrugada.
Por?m o aroma que as rosas emittiam era t?o embriagador, e o vento brandamente passando atravez a folhagem cantava melodias t?o doces, que o anjo pouco a pouco cerrou os olhos e adormeceu profundamente.
Nunca no ceu Sible passara uma t?o agradavel noite! Sonhou sonhos t?o deliciosos que quando pela manh? o despertaram os primeiros raios do sol, beijou reconhecido as rosas, e estas, c?rando de alegria e pejo, ficaram para sempre rubras. Mas o anjo considerou o beijo bem fraca recompensa para quem t?o agradavelmente o emballara toda a noite, e queria, antes de regressar ao ceu, dar-lhe recompensa maior.
Por?m como tornar mais bellas as rosas em que tudo, f?rma, colorido e perfume t?o distinctamente brilhavam?
Esteve um momento pensativo, e depois, apanhando um pouco do musgo que lhe servira de leito, resguardou cuidadosamente com elle os bot?es das flores prestes a desabrochar, para que o frio, a chuva e os insectos lhes n?o causassem damno algum.
E em seguida, batendo as azas, voou para o ceu a dar conta a Deus da miss?o de que f?ra encarregado.
E foi desde ent?o que na terra come?ou a haver rosas musgo...
CARVALHO.
Hercules, o lendario gigante invencivel, regressando um dia de praticar uma d'aquellas suas t?o memoraveis fa?anhas, deitou-se em pleno campo para dormir a sesta. Antes por?m de se confiar aos bra?os de Morpheu, no s?lo, junto a si, na previs?o de qualquer repentino e inesperado ataque, espetou a pesada m??a, mais forte que o ferro, e com que esmagava tudo quanto lhe oppunha obstaculo aos seus designios.
Dormiu o bom do gigante por muito tempo e quando acordou era quasi noite; procurou logo a arma predilecta, e com assombro viu em lugar d'ella uma pujante e formosissima arvore! A m??a, ao contacto do s?lo, enraizara, desenvolvera tronco, lan?ara ramos, folhas e fructo.
Hercules furioso arrancou o vegetal e, quebrando-lhe os ramos, fez do tronco uma nova e formidavel clava, mais s?lida e forte que a que antes possuira.
Por?m, dos fructos esparsos pelo s?lo, nasceram ao depois novas identicas arvores, que para sempre ficaram sendo o emblema da for?a e do vigor.
Estas arvores s?o os carvalhos.
CH?.
Dakkar era um ardente devoto de Siva a cruel deusa indiana que s? gosta de morticinio e de sangue, e que recebe as adora??es mais submissas, profundas e completas d'uma legi?o de crentes que habitam nos misteriosos recessos das florestas da India, d'essa terra das lendas e das maravilhas. Havia annos que vivia n'uma gruta em ardente adora??o; de estar sempre de joelhos creara calosidades que lhe n?o permittiam endireitar as pernas, e as unhas dos dedos das m?os, que conservava fechadas havia annos, tinham rompido os tecidos e appareciam do lado opposto.
N?o havia martirio a que se n?o sujeitasse, e as popula??es fanaticas consideravam-o Santo e vinham de longe render-lhe homenagem e pedir-lhe conselhos.
S? uma nuvem negra, um pesar profundo perturbava o misticismo de Dakkar. Soffria sem custo o frio, a fome, a sede, as mais incommodas posi??es, dominando ? vontade o organismo, s? n?o podera ainda vencer o somno! Debalde se esfor?ava por resistir, debalde fazia despejar sobre si quantidades enormes de agua fria, debalde se sujeitava ? applica??o do ferro em brasa, ou fazia vibrar o tam-tam junto dos ouvidos. O somno como mais forte, subjugava-lhe a vontade e obrigava-o a dormir. No seu desespero chegou a fazer cortar as palpebras cuidando assim que espancaria para longe o somno, mas a tortura foi baldada. Os olhos permaneciam abertos mas Dakkar dormia!
Uma tarde,--havia dias que estava sem comer--orava o fakir fervorosamente pedindo a Siva que se amerciasse d'elle e lhe permitisse antes de morrer a ultima e suprema felicidade de poder vencer o somno, quando come?ou a sentir-se muito fraco, uma languidez precursora do somno a dominal-o, tudo a dansar-lhe ? volta...
Seria fome? Seria somno? Oh, se apasiguando a fome vencesse o somno...
Olhou em roda... alimentos nenhuns; os fieis tinham-se esquecido de lh'os trazer... mas n?o havia mal... F?ra, perto da gruta, vegetavam variados arbustos, e a alimenta??o de tantos animaes tambem havia de convir ao homem. Seria mais um sacrificio... E Dakkar arrastando-se com difficuldade, quasi vencido pela necessidade de dormir, chegou at? junto d'um vegetal e come?ou a devorar-lhe as folhas.
Mas, caso milagroso, ? medida que ingeria as folhas do vegetal, o somno desapparecia e o fakir sentia-se mais f?rte, fresco e vigoroso.
Obrigado oh Siva, exclamou elle jubiloso, agora posso morrer, pois morro feliz visto que gra?as a ti, alcancei dominar o que at? hoje zombara dos meus esfor?os. Venci o somno!
Come?ou desde ent?o a fazer colher pelos seus adeptos folhas e folhas do vegetal, que deitava de infus?o, e quando o somno fazia sentir os seus primeiros rebates bebia da agua milagrosa e elle desapparecia logo.
O arbusto descoberto pelo fanatico fakir indiano, o vegetal dissipador do somno foi o ch?.
PAPOULA.
N'aquelles bons tempos em que os deuses desciam ? terra a confraternizar com os humanos, vivia nos Alpes um rapaz filho de gente pobre mas que pela sua bondade e pelo carinhoso disvelo com que sabia velar ? cabeceira dos doentes era querido e estimado por todos.
Tinha a grande e apreciavel arte de por meio de doces cantares saber adormecer aquelles que eram apoquentados pelas mais terriveis e rebeldes insomnias, de modo que os seus conterraneos lhe n?o deixavam um momento s? de descanso.
Em qualquer adoecendo, a familia ia logo t?r com o pobre rapaz, que n?o podendo resistir ?s supplicas l? se installava junto dos doentes, emballando-os com as suaves melodias que chamam o somno e que elle sabia dizer como ninguem.
Mas n?o podendo resistir a t?o excessivas e continuadas fadigas e vigilias, foi pouco a pouco enfraquecendo, at? que um dia se extinguiu ao ca?r da tarde, quando o sol morria no extremo horisonte...
Ent?o os deuses para premiarem as boas ac??es do que morrera praticando o bem, tornaram-o immortal, transformando-o n'uma planta, na papoula, a quem deram a principal virtude pela qual os doentes o desejavam sempre junto a si, a de fazer esquecer o soffrimento por meio do somno.
CHIC?RIA.
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