bell notificationshomepageloginedit profileclubsdmBox

Read Ebook: The Divided Sabbath remarks concerning the Crystal Palace now erecting at Sydenham by Jowett William

More about this book

Font size:

Background color:

Text color:

Add to tbrJar First Page Next Page

Ebook has 81 lines and 2159 words, and 2 pages

Sala das Perolas

Sala das Perolas

Contos Modernos

O ENGEITADO

ALBERTO BRAGA

O ENGEITADO.

O ENGEITADO

A Joaquina do Espinhal tinha ido, no fim da tarde, lavar ao rio a roupa dos pequenos. Era no mez de dezembro. A agua corria por entre os choupos, fria e levemente encrespada pela brisa que soprava do norte. Joaquina do Espinhal, com as saias arrega?adas na cintura, as pernas mettidas na agua ate ao joelho, ensaboava a roupa e batia-a com for?a sobre a pedra poida e lustrosa do lavadouro.

Da outra banda, pelo carreiro que havia ? beira do rio, passou o filho do moleiro a tanger os machos. O rapaz ia tranzido de frio, com a golla da jaqueta apanhada para as orelhas, a assobiar alto. Assim que reconheceu a lavadeira, parou, fincou a m?o ao tronco d'uma arvore, e, debru?ando-se sobre o rio, perguntou de l?:

--Vocemec? n?o tem frio?

A Joaquina aprumou-se e respondeu:

--Ai! ?s tu, Jeronymo! Frio? Quem fala n'isso? Quando a gente tem filhos, n?o deita conta a nada. Onde ides?

--Vou levar a fornada a casa do sr. doutor.

--Pois vae com Deus, vae.

Mas o rapaz deixou-se ficar immovel a olhar para ella. Os machos iam tosando nas silvas.

--Que frio!--exclamava elle todo arripiado.

--Credo! Se eu a visse ahi de noite, diabos me levem se n?o deitava a fugir com medo!

A lavadeira ria-se.

--Medo de qu?, rapaz?

--Sume-te!--dizia o moleiro.--De noite, s? as bruxas ? que veem lavar aos rios... Adeusinho, tia Joaquina.

--Adeus, ? Jeronymo.

Era j? noite, quando a Joaquina voltou para casa, carregada com o alguidar da roupa molhada ? cabe?a. Atravessou uma bou?a; e, quando ia a transpor o portello, que dava para a estrada, estacou de repente. Tinha ouvido uns gemidos vagos ali perto. Debaixo da lagem do portello, por entre o tojo, alvejava alguma coisa que se movia. Cuidou ao principio que fosse um c?o; e ia a dar-lhe com a ponteira da chinella, quando os gemidos se repetiram.

--Elle que dianho ??

Poisou resolutamente o alguidar no primeiro degr?o do portello, abaixou-se para examinar de perto; e, ao levantar uma ponta da trouxa, viu uma crian?a recemnascida, nua, embrulhada n'um len?ol velho. Tomou logo a crean?a nos bra?os, e, achegando-a ao calor do peito, exclamava commovida:

--? meu rico filho! Que grande cadella foi a tua m?e! Que grande desavergonhada!

Quando entrou em casa, o marido estava com os dois pequenos sentado ao calor da lareira. A Joaquina correu o ferrolho interior da porta, e, chegando-se junto do homem, apresentou-lhe nos bra?os o engeitado.

--Aqui tens este leit?o.

O Jo?o do Espinhal poz-se logo de p? muito espantado. A crian?a, livida de frio, ao sentir o calor do lume, agitava-se no len?ol, abria os olhos e a bocca, procurando com impaciencia e avidez o leite do seio materno.

--Meu rico anjinho!?--exclamava a Joaquina, bafejando-lhe as m?osinhas.--Que frio e que fome que tu tens!

Referiu ao homem como encontr?ra, ao voltar do rio, aquelle innocentinho abandonado no meio do tojo.

--Se o n?o topo no caminho, a criancinha a esta hora tinha morrido de frio.

--Mas tu que lhe queres fazer?--perguntou o marido, passado um momento de surpresa.

--Que lhe quero fazer!! Vou d'aqui pedir ? mulher do Cosme que chegue o peito a este innocente; e ?manh? veremos ent?o a volta que lhe hei de dar.

O Jo?o, immovel e callado, com os olhos postos na labareda da lareira, co?ava a nuca. O que elle n?o queria era augmentar os encargos da familia com mais um extranho. A f?ria de pedreiro, que recebia aos sabbados, mal lhe chegava para o sustento da mulher e dos dois filhos; agora, se a Joaquina teimasse em ficar com o engeitado...

--? uma dos diabos!--pensava elle, franzindo os bei?os.

A Joaquina sahiu de casa com a crian?a ao collo, e voltou pouco depois, explicando ao homem o que tinha succedido. A Josepha do Cosme tomava conta do innocente, chegava-lhe o peito; mas queria que alguem desse parte ao regedor, porque n?o estava para se metter em trabalhos.

--Porque--dizia a mulher--o leite que tenho, gra?as a Deus, chega bem para elle, sem o tirar ? filha; mas, sr.? Joaquina, ? preciso que alguem de futuro tome conta da crian?a...

A Joaquina combinou com a visinha irem no dia seguinte a casa do regedor; e depois talvez que o fidalgo da Tojeira tivesse d? do engeitainho, e tomasse conta d'elle. E sen?o--insistia ella--tomo eu! Pois! Onde houver um bocado de p?o para os filhos, ha de haver uma migalha para o innocente.

O Jo?o ouvia isto contrariado e sisudo, mas sem replicar. Mandou deitar os pequenos. Quando despiu a jaqueta, para se metter tambem na cama, encostou-se ? ilharga da enxerga, e voltando-se para a mulher perguntou:

--Mas, ? mulher, e se o fidalgo o n?o quizer? Sim; vamos a futurar que o fidalgo, que ? teimoso com'a burro, n?o est? por o que voc?s lhe dizem?

--Adeus!--replicou peremptoriamente a Joaquina, encolhendo os hombros.--Ao monte n?o atiro eu outra vez o innocente!

No dia seguinte, a Josepha do Cosme vestiu uma camisa velha ? creanca, embrulhou-a n'uma baeta escarlate, e com ella ao collo, foi ter com a Joaquina. Sahiram ambas para casa do regedor. A Joaquina referiu o caso, com grandes injurias contra a desalmada que abandonou assim o filho por um inverno d'aquelles! O regedor, que era sugeito circunspecto e methodico, entendia que o verdadeiro era irem d'ali a casa do abbade.

--Primeiro que tudo, mulheres--ponderou elle--vamos a fazer d'isto uma alma christ?. Uma de voc?s serve-lhe de madrinha, e ent?o o fidalgo, se estiver por isso, que seja o padrinho.

Pozeram-se a caminho da residencia.

O abbade tinha engrolado ? pressa o latim da missa do dia, com grande appetite do caf? quente do almo?o. Ia a sair apressadamente da egreja, quando viu entrar no adro as duas mulheres acompanhadas pelo regedor.

--Vae torta!--resmungou elle, a tiritar de frio, com as m?os entanguidas enfiadas nos bolsos das cal?as. Parou no limiar; e, logo que ellas se aproximaram:--Que temos? Perguntou com modo desabrido, batendo com ambos os p?s na soleira da porta.

A Joaquina repetiu outra vez deante do abbade o mesmo que tinha dito ao regedor.

--Mas quem ser? a m?e?--perguntava elle, tentando descobrir nas fei??es indecisas da crian?a uma denuncia.

--Quem sabe l?, sr. abbade--dizia a Josepha.

E com a dobra da mantilha resguardava dos olhares cupidos e profanos do padre o peito alvo e apojado em que a crian?a mamava.

--Mas que grande bebeda, sr. abbade!--rosnava a Joaqui-na.--Que grande... com licen?a de v. sr.?... que grande cabra!

Add to tbrJar First Page Next Page

 

Back to top