bell notificationshomepageloginedit profileclubsdmBox

Read Ebook: Your All-time Favorite Afghans to Knit or Crochet in Bear Brand and Fleisher Yarns by Anonymous

More about this book

Font size:

Background color:

Text color:

Add to tbrJar First Page Next Page

Ebook has 248 lines and 30012 words, and 5 pages

Rita Farinha

BIBLIOTHECA

CLASSICOS PORTUGUEZES

PROPRIETARIO E FUNDADOR

Bibliotheca de Classicos Portuguezes

Proprietario e fundador--Mello d'Azevedo

CHRONICA

EL-REI D. AFFONSO V

POR

LISBOA

CAPITULO CXLI

E em fim por fallecimento de cal; porque a obra se fundou maior e mais forte do que primeiro cuidaram, a dita coira?a n?o se acabou sen?o depois do S. Jo?o do dito anno, e foi ao tempo que D. Duarte era j? bem certificado dos ajuntamentos e apura??es e convoca??es que El Rei de Fez em suas terras e nas alheias fazia para vir outra vez sobr'elle como ficara.

E porque para execu??o do proposito dos mouros era grande impedimento a coira?a que se fazia de que eram j? bem avisados, por deterem e impedirem a obra com dano e mortes dos officiaes que a lavravam, acordaram de enviar para isso secretamente certos alcaides, com mil e quinhentos de cavallo, e outra muita gente de p?, para que dessem n'elles e trabalhassem por desfazer a dita obra.

E com isto, porque D. Duarte com sua gente n?o leixava d'entrar e fazer grandes cavalgadas e estragos nas terras dos mouros, acertou-se que um dia desavisado do ardil dos alcaides, determinou entrar com a mais gente que nunca entrara. E estando ? noite dois veladores praticando sobre o muro, aconteceu que por m?o avisamento e pouco resguardo d'elles, com vozes altas um descobriu ao outro a entrada de D. Duarte, declarando logo por onde havia d'entrar, e os lugares a que havia d'ir, e tudo assi apontado como que estivera ? determina??o do caso. E acertou-se que um mouro almograve, que da lingoa dos christ?os tinha bom conhecimento e era mui ousado, vindo-se de noite lan?ar ao p? da barreira por escuta, ouvio toda a pratica d'estes, com que apressadamente logo partio, e foi logo avisar umas aldeias, de que tomaram um mouro mais despachado, que indo com grande trigan?a dar aviso a Tanger, topou de recontro com os mesmos alcaides que vinham sobre a coira?a, aos quaes o messageiro contou o caso sobre que ia, havendo que era remedio que lhes Deus a tal tempo enviava, e elles mui alegres com tal nova lhe prometeram grandes honras e acrescentamentos; porque lhes pareceu que leixariam entrar D. Duarte, e sem alguma fadiga o atalhariam e tomariam como quizessem, e assi sem os trabalhos, mortes e despezas que se lhe aparelhavam, n?o s?mente impediriam a coira?a, mas cobrariam a villa em que n?o podia ficar gente que a defendesse.

E vieram-se os alcaides ao logar d'Anexanuz onde estava um christ?o captivo, natural da Villa de Lagos, a que chamavam o Talheiro, o qual tinha muita amizade e pratica com um mouro, cujo nome era Azmede, que j? f?ra em Tavila captivo, e sabendo bem o Talheiro o ardil e determina??o dos alcaides, pela qual a perdi??o de D. Duarte e da villa d'Alcacere com toda a gente se n?o podia escusar, doendo-se d'isso como bom christ?o e leal portuguez, tanto aperfiou com Azmede e tantas esperan?as lhe p?s na bondade e verdade dos christ?os para sua honra e proveito, que o houve de commover que de todo o que era concertado logo aquella noite fosse como foi avisar D. Duarte. O qual estando para partir e vendo tal aviso e sendo certificado por Ant?o Vaz, alfaqueque, que o mouro era homem de credito e amigo dos christ?os, p?s os giolhos em terra, e as m?os alevantadas ao ceo deu muitas gra?as a Deus, e ao mouro deu logo e prometteu e fez ao diante muito bem.

E ao outro dia mandou desaperceber os fidalgos e toda a gente que para a entrada estavam j? todos prestes, que por isso ficaram tristes e muito mais descontentes de D. Duarte, e mostrando n?o ser menos irados contra o mouro, assacando-lhe que por evitar o dano que a seus parentes estava aparelhado, mais que por fazer bem a D. Duarte, se movera a tal aviso, e uns o amea?avam com a forca, e outros com o lume para o queimarem, mas o mouro confiado no que certo sabia, tudo soffria rindo, dizendo que cedo lhe dariam o contrario.

E sendo o capit?o por elle avisado dos lugares em que as cilladas haviam de jazer, mandou logo pela manh? descubrir a primeira, estando com toda a outra gente a recado e percebido; os mouros como viram os descobridores entenderam a verdade, e que tal descobrimento procedera d'algum aviso que os christ?os d'elles houveram, e que por isso n?o sairam da villa, nem ousaram entrar em sua terra como tinham ordenado, e sairam logo d'elles quatrocentos de cavallo em cavallos armados e arreios, gente especial e mui concertada. Sahiu D. Duarte com at? cento e vinte de cavallo a lhes resistir, em especial a recolher os descobridores que tinha enviados que vinham mui perseguidos, e n'isto se travou de uma parte e da outra mui crua peleja, em que D. Duarte tanto apertou com os mouros que os fez fugir, em que morreram alguns d'elles, todos homens entr'elles de boa estima, e ao seguimento d'estes sahiu a outra cillada maior em socorro dos primeiros que maliciosamente mostravam ir fogindo por tirarem os christ?os f?ra, e fizeram todos uma volta sobre os christ?os, que por n?o poderem resistir a tamanha for?a lhe deram as costas, e no encal?o que foi curto, mataram dois e feriram muitos.

E quiz Deus que na primeira esporada que D. Duarte n'elles deu lhe quebraram as cabe?adas do cavallo, e em lh'as corregerem se deteve e mandou deter a gente sua algum espa?o, que deu causa que o encal?o da volta que os mouros sobre os christ?os fizeram fosse assi curta, que quasi os acharam ? sombra dos muros a que com sua seguran?a se acolheram; porque d'outra maneira segundo os mouros vinham azedos, e com tanta sua avantagem, f?ra sem duvida para os christ?os grande perigo.

E n'este dia se lan?ou um mo?o christ?o com os mouros, a que descobrio o aviso d'Azmede que deu causa a se elle vir de todo para Alcacere, onde sendo mouro deu aviamento a muita guerra e damno de sua propria terra, e este se chamou depois Mafamede de Alcacere, a que El-Rei D. Affonso e depois El-Rei D. Jo?o seu filho por seus servi?os fizeram muita merc?.

CAPITULO CXLII

Era D. Duarte de muitas partes avisado como El-Rei de Fez se aparelhava grandemente para no come?o do mez de Julho vir sobre a villa, e sendo logo sobr'isso certificado que era j? em Tangere, come?ou de concertar e perceber suas cousas como para taes hospedes convinha.

E a uma segunda feira, dois dias de Julho do dito anno de mil e quatrocentos e cincoenta e nove, apareceu El-Rei de Fez sobre a villa com infindo poder de gente, e na??es mui desvairadas, e com carriagens d'alimarias espantosas, que cobriam toda a terra.

E nos dias passados tinha D. Duarte enviado pedir a El-Rei que lhe mandasse trazer sua mulher D. Isabel de Castro, e seus filhos que eram em Portugal, e como quer que segundo os recados que tinha havia muito tempo que esperava por ella, acertou-se que em El-Rei de Fez e os outros Marins e senhores come?ando de cercar Alcacere, a n?o em que ella vinha surgiu sobre o porto. E como D. Duarte houve d'ella conhecimento, determinou com gente e fustas e bateis que para isso p?s em mui segura ordenan?a, de a recolher, e elle a cavallo com outros, andaram na praia resistindo aos mouros, at? que muitos fidalgos a p? segura e honradamente a meteram pelas portas da coira?a.

E certo n?o foi sem causa acertar ella tal dia em que chegasse; porque segundo era de nobre sangue e de muitas bondades e virtudes, bem merecia que em sua chegada a recebessem tamanhos reis e senhores dos mouros como alli eram.

Desceu-se D. Duarte e levou sua mulher ? egreja, onde em vigilia e por devo??o dormio aquella noite, e ao outro dia a meteu em um cubello do castello, de que podia v?r os combates e afrontas da villa.

E com a ida de D. Isabel a Alcacere foi a gente toda mui leda, e receberam muito esfor?o e ousadia, assi pelo repairo que os feridos e doentes em suas curas d'ella recebiam, como pelo favor de suas donzellas com que os fidalgos fronteiros se favoreciam e folgavam melhor de pelejar; porque ella tinha em sua casa gentis mulheres filhas d'homens honrados, que guardada em todo sua honra e honestidade, sabiam bem fallar e tratar os homens como mereciam.

D. Duarte como aquelle a que em seus feitos n?o fallecia grande devo??o e esfor?o, depois de se encommendar a Deos com muitas lagrimas e palavras de bom christ?o e singular capit?o de sua f?, fallou logo com muita prudencia e seguran?a a todolos fidalgos e pessoas principaes da villa, repartindo-lhe logo com muita alegria e despejo as estancias e guardas que cada um havia de ter, e avisando-os em todo como para a necessidade presente cumpria, em que prometia honra e victoria.

El-Rei de Fez e seu Marim e alcaides ordenaram seus combates ? villa em torno, providos de muitas e grossas artelharias, e d'espingardeiros e besteiros sem conto, e d'escalas e mantas, e todo em grande cumprimento; porque em tanto cargo e estima tomou o cobrar d'aquella villa d'este segundo cerco, como todo o reino de cuja priva??o foi dos mouros amea?ado, se d'esta vez a n?o tomasse. E d'alguns combates que os mouros deram ? villa e ? coira?a juntamente, elles foram dos christ?os com tanto seu estrago e damno escramentados, que d'hi em diante j? refusavam e n?o se queriam chegar como sohiam. Dizendo a El Rei pela continua e grande mortindade dos seus que os n?o mandasse assi chegar ao combate; porque elle bem poderia fazer com seu grande poder, quando quizesse, outra villa dez vezes maior que aquella, mas que fazer elle e renovar outros tantos vassallos mouros quantos alli perdia n?o podia, c? era officio que s?mente pertencia a Deus. E com isto punham todos seu esfor?o e esperan?a nas bombardas, que de dia e de noite nunca cessavam de lan?ar pedras.

Era El-Rei de Portugal em Lisboa ao tempo que d'este cerco foi avisado, para que com grande trigan?a mandou fazer prestes navios com gente, mantimentos e armas, em que foram muitos fidalgos e pessoas principaes do reino, alguns d'elles por especial percebimento, e os mais de suas livres e louvadas vontades, em que entravam pessoas de todas edades, c? os mo?os por ganhar e acrescentar honra, fugiam para este cerco, e dos velhos por conserva??o da ganhada algum n?o queria ficar.

No meio tempo do cerco chegaram ao arraial dos mouros as suas bombardas grossas, que por seu peso e grandeza e pela aspereza da terra faziam suas jornadas vagarosas, e em sua chegada n?o fizeram os mouros menos festa e alegrias que na sua Pascoa que ent?o celebraram. Foram logo com grande presteza e alegria assentadas, e dos tiros primeiros que fizeram come?aram nos muros e cubellos de fazer com sua furia tanto dano, que a muitos de dentro com receio de maior mal j? se mudavam as c?res; porque alguns cubellos foram em breve arrasados com os muros, que em todalas partes tremiam, e faziam conta que se elles sendo derribados n?o os defendessem, que a peleja de pessoas com pessoas tanto seria perigosa, quanto a gente e poder dos mouros era desegual. Mas D. Duarte, cujo cora??o, esfor?o e seguran?a, d'estes medos e d'outros maiores andava sempre priviligiado, a tudo soccorria e repairava logo com t?o engenhosos remedios, que aos mouros enfraqueciam os cora??es, havendo que t?o prestes e diligente repairo eram obras de Deus mais que dos homens. Especialmente porque claramente viam que a diligencia, trabalho e resistencia dos christ?os lhes parecia sobre for?as humanas. Pelas quaes cousas, e assi porque os mantimentos falleciam j? aos mouros, houve no arraial dos mouros grande rumor de alevantarem o cerco, de que D. Duarte por mouros que na villa se lan?avam foi certificado.

E D. Duarte e esses senhores e fidalgos que com elle eram, n?o fartos de muita honra e louvor que tinham ganhado, escreveram ao Marim apresentando-lhe com palavras assaz cortezes qu?o covardamente elle e seu Rei se tinham havido n'aquelle cerco, do qual n?o se deviam assi partir com tanto seu abatimento e deshonra, pedindo-lhe que avergonhados disto tornassem renovar os combates, para que ficavam alimpando as armas, que no sangue dos seus tinham j? todas sujas.

El-Rei e o Marim mostrando ser d'esta carta mui anojados, responderam a D. Duarte com palavras de grande descortesia e muita villeza, reportando-se ao mal do palanque de Tangere, e que j? fizeram ao Infante tio do seu Rei cavar e alimpar os cavallos, e que assi faria a elles, a quem D. Duarte largamente replicou, reprendendo como devia suas villezas e cobardia.

No mez d'Abril do anno seguinte de mil e quatrocentos e sessenta, por prazer e consentimento d'El-Rei leixou D. Duarte por capit?o d'Alcacere Affonso Tellez, seu sobrinho, e se veiu a Lisboa onde achou El-Rei, que d'elle e de toda sua c?rte foi grandemente e com muita honra recebido, e d'ali se foi El-Rei a Santarem, onde com solemne arenga de seus servi?os e merecimentos, e com devida cerimonia o fez conde de Vianna de Caminha.

N'este anno no mez d'Agosto falleceu de febre em Thomar D. Affonso, marquez de Valen?a, filho maior do duque de Bragan?a, sem casar, de que ficou um filho natural, D. Affonso, que depois foi bispo d'Evora. E n'este tempo pelas praticas que El-Rei sempre tinha com o conde de Vianna sobre a guerra d'Africa, a que El-Rei sobre todalas cousas do mundo naturalmente era mais inclinado, desejando de a proseguir determinou passar a Ceuta com dois mil cavallos e gente de p? a elles conveniente, para d'alli como capit?o, mais que como Rei fazer guerra aos mouros.

E tendo sobr'isso conselho foi de todolos principaes muito em contrairo aconselhado, em especial do Infante D. Fernando seu irm?o, e do senhor D. Pedro, que sobre isso lhe enviaram conselhos para o caso mui excellentes, a que El-Rei n?o quiz dar credito, guiado j? de seu apetito, inclinando-se ? s? opini?o do marquez de Villa Vi?osa, que sendo em tudo mui prudente, n'isto pareceu que desacordava. E tendo para isso feita muita custa, com fundamento de todavia passar, desistio da ida por causa de uma grande e perigosa doen?a de febre em que cahiu e esteve ? morte.

E n'este anno de mil quatrocentas e sessenta, lastimado o reino todo das grandes e apetitosas despezas que El-Rei fazia, de que sua fazenda e as de seus vassallos sem causa necessaria se destruiam, em umas c?rtes que em Lisboa sobr'isso se fizeram, lhe pediram que as temperasse e quizesse ter m?o mais firme nas cousas da cor?a; com que sostevesse seu estado como seus antecessores faziam, e n?o as dar com tanta soltura e sem necessidade como dava, que se contentasse arrecadar dos vassalos os antigos e velhos direitos, e n?o agravar seu povo com novos pedidos e imposi??es. E para o melhor poder fazer, lhe outorgaram cento e cincoenta mil dobras d'ouro, com que desempenhasse e pagasse as rendas da cor?a, que por ten?as e por casamentos, ou por outras dividas e obriga??es tivesse dadas, com juramento que fez de nunca as mais dar, mas isto nem s?mente aquelle anno em que se prometeu se manteve; porque na passagem em Africa que logo fez se desordenou tudo, e com muita mais soltura por mal da cor?a real.

CAPITULO CXLIV

E no mez de Novembro d'este anno falleceu em Sagres o Infante D. Anrique com sinaes e cumprimento de fiel christ?o, em edade de cincoenta e sete annos, cujo corpo foi logo soterrado na egreja da villa de Lagos.

E de hi no anno que vinha de mil e quatrocentos e sessenta e um, foram seus ossos levados ao mosteiro da Batalha por o Infante D. Fernando, que tinha adotado por filho, que foi por elles e os trouxe com grande honra e muita cerimonia ao dito mosteiro, onde El-Rei acompanhado de toda a nobre gente de Portugal e muitos prelados sahiu aos receber com solemne prociss?o, e lhe fizeram honradas exequias.

O Infante D. Anrique foi em tudo Principe t?o perfeito, que n?o ? raz?o que alguma de suas muitas e louvadas virtudes se especifiquem; porque seria mingoar nas outras todas, que d'elle como de uma fonte clara e perenal todas nasceram. Por?m a que pareceu que em seus dias sobre todas abra?ou, foi inteira obediencia e firme lealdade a El-Rei, e em seu cora??o houve sempre fervente amor e continua devo??o para Deus, e uma singular humanidade e nobreza para os homens, e um vivo esfor?o nunca vencido com que em sua vida como magnanimo Principe e esfor?ado cavalleiro sempre emprehendeu arduas e mui excellentes empresas, especialmente contra inimigos da f?, por seu marivilhoso engenho e muita prudencia e grandeza de cora??o, e com innumeraveis gastos de suas rendas e fazenda, n?o receando infindos trabalhos, mortes, e perigos de seus criados e servidores, que muitas vezes via morrer e padecer, depois da tomada e descercos de Ceuta em que foi, mandou primeiramente navegar e descobrir pelo mar Occeano, onde se acharam logo e povoraram as ricas e fertiles ilhas da Madeira, que foram as primeiras que no mar Occeano estes reinos tiveram, e assi d'hi em diante outras muitas de que elles e a christandade toda muito bem e proveito recebem.

E assi o dito Infante como aconselhado e esfor?ado, j? por divina inspira??o movido a isso, com respeitos de magnanimo Principe e mui catolico christ?o, e como mui leal vassallo dos Reis e da cor?a de Portugal, desejoso do acrescentamento, gloria, e louvor d'elles, suspirando pela santa, honrada e proveitosa conquista de Guin?, mandou logo pedir e suplicar ao Papa Martinho quinto, na Egreja de Roma presidente, que em nome de Deus cujo poder tinha, concedesse e fizesse ? dita cor?a e herdeiros d'ella para sempre, como com acordo e approva??o do Sagrado Collegio dos Cardeaes fez e concedeu solemne e perpetua doa??o, e lhe deu o senhorio proprio de todo o que na costa do dito mar Occeano, nos mares a ella ajacentes dos marcos e cabos de Nam e do Bojador contra o meio dia e oriente por elles e por seus sobcessores, e por suas gentes pelos tempos em diante se achasse e descobrisse at? os Indios inclusivamente. A qual doa??o e concess?o do dito Papa Martinho depois o Papa Eugenio, e o Papa Nicol?o, e o Papa Sixto ? suplica??o d'El-Rei D. Affonso, e d'El-Rei D. Jo?o seu filho confirmaram e aprovaram com sua gra?a e poder, com muitas gra?as e ben??es e liberdades aos Reis de Portugal presentes e futuros que a proseguissem, e com grandes excumunh?es, graves censuras e maldi??es a todolos christ?os que em qualquer maneira, sem prazer e consentimento dos ditos Reis de Portugal contra ellas fossem, como nas Bulas Apostollicas que se d'isso concederam mais perfeita e cumpridamente se cont?m, as quaes sendo um divino favor e verdadeiro e ligitimo titulo para se a dita navega??o, descobrimento e conquista navegar e proseguir o dito Infante logo primeiramente com o santo e virtuoso principio de t?o aventurado fim a emprendeu e proseguiu.

E com espantosos principios e meios de que era prasmado e nunca foi vencido em sua vida, mandou adiante descobrir e tratar at? a Serra Li?a com muito proveito do reino. E depois de sua morte em tempo d'El-Rei D. Affonso o quinto seu sobrinho, al?m do descobrimento do Infante se descobriu a mina do ouro, em que agora ? a cidade de S. Jorge, que El-Rei D. Jo?o o segundo mandou novamente edificar, e assi se descobriu mais por El-Rei D. Affonso at? o Cabo de Santa Caterina, e depois de seu fallecimento, como El-Rei D. Jo?o o segundo seu filho o sobcedeu, d'alli mandou por annos descobrir at? dobrarem o Cabo de Boa Esperan?a, e seus descobridores chegaram at? o Rio do Infante, e d'alli sendo seu proposito n?o cessar at? descobrir a India, por sua doen?a e morte, que se logo seguiu, cessou seu descobrimento.

E como depois o sobcedeu e reinou ap?s elle El-Rei D. Manuel o primeiro, nosso Senhor, como Principe que em tudo quiz herdar a ben??o, reaes costumes e claras fa?anhas de Reis e Principes t?o gloriosos seus antecessores, por seu mandado e com seus capit?es, navios e gentes por este caminho se desccobriram, trataram e navegaram, com grandes perigos e muitas difficuldades, e innumeraveis despezas outras novas ilhas e terras, e sobre tudo a Arabia e a Persia, e a India com todalas especiarias, pedrarias, minas, riquezas, e thesouros orientaes que hoje possue e tem com muita seguran?a e prosperidade, fazendo-se pacifico Senhor de muitos Reis e senhores que sua paz e senhorio compraram com ricos e cotedianos tributos, como em sua chronica far? men??o, de que a elle e ? real cor?a d'estes seus reinos de Portugal e aos herdeiros d'ella, e a seus vassalos e naturaes se acrescentou, e com a gra?a de Deus cada vez acrescentar? mais bem, maior honra, gloria, e louvor, e ricos, honestos e mui grandes proveitos, com os quaes pois seu principal fim e intento ? servir a Deus e divulgar e exal?ar sua santa F? sempre, por isso seu grande poder ser? muito mais poderoso, e n?o s?mente a elles este bem e proveito ser? reservado, mas ainda de suas m?os e por seu meio a christandade toda ser? participante, com que a f? de nosso senhor ser? por isso mais conhecida, louvada, e exal?ada, e as seitas, idolatrias e for?as dos imigos d'ella de todo minguadas e mui quebrantadas, e esta esperan?a n?o est? de todo em a esperarmos; porque com prosperos e desejados effeitos tem ?cerca d'isto muitas vezes respondido, como em seus proprios tempos e lugares melhor se dir?, que sempre se atribuiram ? honra, memoria, louvor e merecimentos d'este virtuoso Principe e Infante D. Anrique, como a causa e primeiro inventor de tanto bem.

Foi mais o Infante nas roupas de seu corpo mui honesto e muito mais nas palavras de sua bocca, e por maior sua perfei??o foi em sua vida sempre casto, e segundo o que se creu, virgem o comeu a terra, que d? piedosa esperan?a de salva??o de sua alma.

CAPITULO CXLV

E no anno de mil e quatrocentos e sessenta e um falleceu D. Affonso, duque de Bragan?a, cuja casa e titulo e heran?a sobcedeu D. Fernando, marquez de Villa Vi?osa, seu filho segundo; porque o marquez de Valen?a seu filho maior era j? sem filhos legitimos fallecido como j? disse.

E entre os filhos que este segundo duque tinha, o maior era D. Fernando, que por acrescentar em sua honra, tendo para a dita passagem dos cavallos feita muita despeza, pediu a El-Rei licen?a para se ir a Alcacere como foi no mez d'Abril do dito anno, com duzentos de cavallo e mil homens de p?, em que entraram muitos fidalgos e outra nobre gente da c?rte. E d'Alcacere em companhia de D. Affonso de Vasconcellos, que depois foi conde de Penella, e do conde D. Duarte, a que o duque seu padre e elle tinham grande affei??o, entraram muitas vezes em terra de mouros, e foram correr at? ?s portas da cidade de Tangere, onde se fizeram honrosos feitos d'armas, e de que trouxeram grande numero de captivos e mui grandes cavalgadas. E fizeram outras cousas, em que D. Fernando ganhou bom nome e muita honra, com a qual se tornou a estes reinos logo no mez de Junho seguinte. E El-Rei por seus servi?os e merecimentos o fez primeiro conde de Guimar?es, porque depois quando casou com a duqueza D. Isabel filha do Infante D. Fernando, por honra de t?o honrado casamento foi em vida de seu padre feito e intitulado duque da mesma Villa de Guimar?es.

CAPITULO CXLVI

N'este anno era tratado e concordado casamento entre a Infante D. Caterina, irm? d'El Rei, com D. Carlos, Principe de Navarra e d'Arag?o; e porque o dito Principe falleceu, foi a dita Infante levada ao mosteiro de Santa Clara de Lisboa, e sendo concertado depois casamento entre ella e El-Rei D. Duarte de Inglaterra, ella adoeceu de febre, e com nome de mui honesta e virtuosa Princeza falleceu no mesmo mosteiro, e foi seu corpo trazido ao mosteiro de Santo Eloi de Lisboa, onde na capella da m?o direita jaz mui honradamente sepultada.

Add to tbrJar First Page Next Page

 

Back to top