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Read Ebook: Your All-time Favorite Afghans to Knit or Crochet in Bear Brand and Fleisher Yarns by Anonymous

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Ebook has 248 lines and 30012 words, and 5 pages

N'este anno era tratado e concordado casamento entre a Infante D. Caterina, irm? d'El Rei, com D. Carlos, Principe de Navarra e d'Arag?o; e porque o dito Principe falleceu, foi a dita Infante levada ao mosteiro de Santa Clara de Lisboa, e sendo concertado depois casamento entre ella e El-Rei D. Duarte de Inglaterra, ella adoeceu de febre, e com nome de mui honesta e virtuosa Princeza falleceu no mesmo mosteiro, e foi seu corpo trazido ao mosteiro de Santo Eloi de Lisboa, onde na capella da m?o direita jaz mui honradamente sepultada.

E no anno seguinte de mil e quatrocentos e sessenta e dois, se principiou e ordenou a ida d'El-Rei em Africa, sobre o escalamento de Tangere, que foi n'esta maneira.

Havia n'este tempo em casa d'El-Rei Diogo de Bairros e Jo?o Falc?o, homens mancebos e fidalgos, que desejosos d'acrescentar em suas honras pediram a El-Rei licen?a, e lh'a deu, para irem ao soldo que El-Rei de Fez ent?o apregoara em seu reino contra outros mouros seus imigos e reveis, os quaes para melhor seu aviamento se passaram a Andaluzia pedir cartas ao duque de Medina Sidonia, com que o dito Rei de Fez tinha paz e mostran?a de singular amizade.

E o duque com respeito de servi?o d'El-Rei n?o vendo para isso sua carta se escusou, pelo qual conveiu a estes pedir a El-Rei que por sua carta lh'o encommendasse, e em tanto porque o conde de Viana acertou d'entrar de Alcacere em terra de mouros, foram estes com elle na entrada, onde por caso Diogo de Bairros topou um Jo?o d'Escalona, de Tarifa, que j? em Tangere foram ambos captivos e em poder de um senhor. E praticando entre si sobre um cano que era nos muros da cidade aberto e sahia para f?ra, se por elle haveria disposi??o de entrar n'ella gente: acharam que em alguma maneira seria possivel, e com isto tornando-se estes a casa do duque acharam cartas d'El-Rei, porque lhes revogou a licen?a e mandou que logo se tornassem ? sua c?rte, o que cumpriram, e acharam El-Rei em Cintra, onde a voltas da conta que lhe deram de sua jornada, tocaram na pratica do cano para se entrar Tangere, que no cora??o d'El-Rei fez logo muita impress?o. E com isso os tornou a mandar providos de merc? e de cartas para o conde de Viana, e asi para Jo?o d'Escalona, e para outro Sancho Fernandez, de Tarifa, seu tio, que tinha um bregantim e era bom piloto, que para o caso cumpria e se n?o podia escusar.

Passaram todos em Alcacere, e recontaram ao conde o proposito do cano de Tangere com que iam, o qual anichillou de todo sua fantesia, e concordaram que se n?o podia fazer, e acordado Diogo de Bairros d'outra parte do muro por onde a cidade melhor se podia escalar e mais a salvamento, depois de sobr'isso praticarem, foram por aviamento do conde com boa dessimula??o v?r o dito logar, e com quanto a cidade se velava, por?m todos tres por uma escada de corda subiram ao muro, por onde andaram, e sem algum alvoro?o nem sentimento colheram hervas d'elle, com que se tornaram a Alcacere, e de hi a Portugal, e com elles Jo?o d'Escalona, onde depois de a El Rei dizerem todo o que acharam e experimentaram, ficou muito contente, e sobr'isso praticou logo com o Infante D. Fernando seu irm?o. E concordaram que para este caso haver secretamente bom effeito, que o Infante com desejo de honra e outros respeitos e obriga??es que mostrasse ter para passar em Africa, pedisse a El-Rei para isso licen?a, porque com esta mostran?a este feito se poderia melhor e mais encobertamente fazer, e assi se cumprio.

E por?m a ten??o propria e verdadeira d'El-Rei, em caso que logo a n?o revelasse, foi ser tambem na passagem que outro si logo foi divulgada. Em cujos percebimentos e apura??es se seguiram tantos estrondos e alvoro?os que os mouros, e principalmente os de Tangere, como do dano de tal passagem mais receosos foram de todo, e para todo logo avisados e percebidos, o que El-Rei por o conde de Viana logo soube, pedindo-lhe que para cousa t?o feita como esta de Tangere em seus come?os parecia, com semelhantes estrondos a n?o desfizesse nem danasse, para que abastaria n?o tanta gente como a de que se percebia, que pouca e pouca podia dessimuladamente vir a Alcacere, e d'alli o feito se faria com seguran?a e salvamento.

E a este siso n?o obedeceu o apetito d'El Rei, para que ajudou o conde de Villa Real, que a este tempo estava na c?rte, e com o conde de Viana n?o era em muito accordo; porque envejoso da gloria e honra que se a outrem aparelhava, por ter n'ella parte como por seu nobre e esfor?ado cora??o sempre desejou, por seus meios e modos que por si e seus parentes buscou, teve maneira que El-Rei o mettesse n'este feito, em que lhe diziam n?o ser raz?o que por dito de dois homens elle com seu reino se aventurasse, e que ante de o cometer convinha que tal pessoa como era o conde de Villa Real com elles em pessoa fizesse juntamente a mesma experiencia. E que El-Rei para ser desenganado era bem que estreitamente lh'o encommendasse, especialmente que elle era tal que buscaria em Tangere outros logares por onde a cidade melhor e mais seguramente se cobrasse. Anichilando como suspeito o conselho do conde de Viana, atribuindo-lh'o a cautelosas manhas com que ? custa alheia queria sempre ganhar honra e acrescentamento para si. E em fim, o conde de Villa Real foi d'El-Rei para isso rogado, e elle acceitou a ida com encarecimentos de receber morte e captiveiro por seu servi?o, pedindo-lhe que, se lembrasse em tal caso d'elle e de seus filhos. A, que El-Rei logo d'ante m?o satisfez concedendo-lhe liberalmente ? custa dos bens de sua cor?a, mui grandes e duvidosos requerimentos que com elle trazia.

O conde de Villa Real partiu de Lisboa no anno de mil e quatrocentos e sessenta e tres, com elle Diogo de Bairros e Jo?o d'Escalona, e no caminho se ajuntou com elles Jo?o Falc?o, e chegaram a Lagos onde a condessa sua mulher estava parida de D. Fernando seu filho primeiro, e d'alli a levou a Ceuta, e d'hi com achaque de buscar gente com que poderosamente entrasse em terra de mouros passou em Tarifa, d'onde por mar foi v?r o lugar do escalamento, a que n?o sahiu do mar, nem foi n'elle por causa da muita tardan?a que fizeram os que primeiro sahiram. A que se juntaram mais Louren?o de Caceres, adail, e Pedro Affonso, os quaes acharam o lugar bem desposto e sem alguma mudan?a, e com isso se foi o conde mui alegre a Gibaltar, que o anno passado f?ra aos mouros filhada, d'onde logo avisou El-Rei da boa desposi??o do feito, para o qual ficou alli precebendo manhosamente a mais gente que p?de para a passar a Ceuta, como passou, em que foram cento e cincoenta de cavallo e quatrocentos de p?, com fundamento entre El-Rei e o conde j? concertado, que no dia que El-Rei por mar houvesse de ser no escallamento de Tangere, a que havia de ir da banda de Castela, de um lugar que se diz Bollonha, esse mesmo dia entrasse o conde por terra e fosse sobre a cidade para soccorrer e ajudar os que n'ella subissem e entrassem, e assi impedir qualquer soccorro que aos mouros da cidade de f?ra viesse. E por?m na partida d'El-Rei e do Infante se p?s tanta dilla??o al?m do tempo que tinham assignado, que o conde sem descobrir o caso n?o p?de reter mais a gente estrangeira que sustinha, e a despediu.

El-rei e o Infante cuja passagem de todo era descoberta e divulgada, sendo prestes partiram de Lisboa segunda feira sete dias de Novembro do dito anno de mil e quatrocentos sessenta e tres, com vento algum tanto contrairo para sua viagem, e ? quarta chegaram a Lagos, e ahi recolheu El-Rei o conde d'Odemira e o almirante, donde contra conselho de todolos pilotos e mareantes, partiu com assaz fortuna de tempo, o qual carregou tanto sobre a frota, que El-Rei para salvar sua pessoa foi aconselhado que se acolhesse ao porto de Silves, o que erradamente n?o quiz fazer; antes mandou guiar a pr?a direita de seu navio, porque sem torcer nem se deter seguisse sua viagem, e sobre a noite a tormenta se dobrou tanto, que os navios todos correram grande risco de se perder, e os mais por segurarem suas vidas alijaram com grande perda muita parte de suas fazendas, salvo El-Rei, que n?o consentiu que do seu navio se alijasse com medo cousa alguma. Perdeu-se n'esta tormenta o navio de D. Affonso de Vasconcellos, cuja fazenda e muitos nobres homens se alagou, e as pessoas por milagre se salvaram, e assi sossobrou de todo o mar uma caravella, em que se perdeu grande fazenda de muitos.

E mais morreram Louren?o de Guimar?es, e Jo?o Vogado, escriv?es da fazenda d'El-Rei, e Gon?allo Cardoso, escriv?o da camara, e um rei d'armas Portugal, com outros muitos e bons homens e muita fazenda, e n'esta tormenta andou El-Rei com o Infante seu irm?o at? o sabado, que s? sem alguma outra companhia entraram no estreito, e havendo o conde D. Duarte conhecimento d'El-Rei pela bandeira real e capitoa que o seu navio trazia, foi-lhe fallar no mar, e com elle Pero d'Alca?ova que a elle f?ra enviado com o aviso e ardil de sua vinda, e depois de se El-Rei lamentar pelo desaviamento de seu proposito, que era n?o poder desembarcar da parte de Castella, e o conde o confortar mais que reprender pelo erro que fizera, El-Rei e o Infante se partiram para Ceuta, onde poucos e poucos recolheram ao domingo seus navios, e cada um com grande perda e muito destro?o, e assi o duque e seus filhos com outros muitos fidalgos, que escapando da tormenta milagrosamente sahiram todos em terra em camisas e descal?os, e assi foram em romaria a Santa Maria d'Africa, com que provocaram todos a grande devo??o.

E depois d'El-Rei declarar sua ten??o de tornar a Tangere, por cuja fim alli viera, se partio para Alcacere d'onde enviou logo doze navios de remo com gente escolhida para irem escalar a cidade, cujo capit?o foi Luiz Mendes de Vasconcellos, homem fidalgo, e nas cousas do mar bem entendido, com fundamento de El-Rei com seu poder os socorrer ? hora do escalamento por terra, e por?m o conde D. Duarte contradisse muito o cometimento por mar, pelas incertid?es e perigos que tem, mas n?o foi crido, e Luiz Mendes todavia partio bem avisado do que ? sahida do mar e ? entrada da cidade havia de fazer.

CAPITULO CL

E porque veiu nova que o conde de Vianna e o conde de Guimar?es queriam fazer d'Alcacere uma entrada em terra de mouros, quiz o Infante ser n'ella, e pediu licen?a a El-Rei, que para isso e para repartir e affrouxar o apousentamento em Ceuta lh'a deu, e a El-Rei foi commettido que fosse em pessoa, mas elle por algumas justas causas que apontou o n?o houve por bem, e estimou por mais sua honra e servi?o, antes em seu nome ir um seu capit?o t?o poderoso, e tal pessoa como era o Infante.

E aos quatro dias do mez de Dezembro o Infante partiu d'Alcacere com todolos senhores da hoste, salvo o duque e o conde de Villa Real, que ficaram em Ceuta, e foi correr umas ald?as, que s?o na faldra da serra de Benaminir, terra muito fragosa e muito povorada, onde segundo fama vive a melhor gente de peleja d'aquella frontaria, de que mataram at? duzentos mouros, e trouxeram captivos duzentas e vinte almas com muito gado e outro grande despojo, e se tornou a Alcacere, e dos christ?os por m?o resguardo morreram at? quinze.

Quiz o Infante haver, e houve para si o quinto d'esta cavalgada, com muito aggravo do conde de Vianna, e n?o sem algum prasmo e geral reprens?o do mesmo Infante, que por seu alto sangue e real condi??o, saindo d'Alcacere devia em caso que lhe pertencera fazer d'elle merc? ao dito conde, quanto mais que os quintos da villa de direito e por doa??o pertenciam ao dito conde, a quem El-Rei o compoz e satisfez depois com dinheiro de sua fazenda.

CAPITULO CLI

E porque n'este tempo e da cidade de Ceuta se foi para Barcellona o Senhor D. Pedro, filho maior do Infante D. Pedro, que na mesma cidade acabou intitulado Rei d'Arag?o, o fundamento e causa que para isso houve foi n'esta maneira.

E El-Rei D. Anrique mandou sair de Barcelona a gente d'armas, que em sua defesa tinha, e sobre esta concordia dos Reis foram as grandes e famosas vistas de Fonte Rabia, a que Lopo d'Almeida e o doutor Jo?o Fernandez da Silveira, que depois foi bar?o d'Alvito, foram em favor d'El-Rei D. Anrique enviados por El-Rei D. Affonso.

E por?m os regedores de Barcellona buscando j? por caminhos desesperados alguma esperan?a de sua salva??o, trataram secretamente com o dito Senhor D. Pedro, que como s? e principal herdeiro que era da casa d'Urgel, e assi a quem pertenciam de direito os reinos d'Arag?o quizesse intitular-se d'elles, e assi receber logo em seu senhorio e poder o principado de Catelonha com a cidade de Barcellona com cujo poder e for?as, se o cora??o e saber lhe n?o fallecesse, cobraria o mais que El Rei D. Jo?o tiranamente possuia. Sobre o qual D. Pedro, em segredo se aconselhou logo com seu confessor, que quanto a Deus e ao mundo lhe fallou e aconselhou o que devia. E assi fallou sobre o caso com alguns fidalgos e cavalleiros prudentes de que se fiava, de que foi aconselhado, pospostos muitos pejos que D. Pedro apontou, que n?o s?mente devia desejar e d'aceitar cousa tamanha e t?o honrada que assi livremente lh'offereciam, mas ainda que a devia trabalhar e requerer, e com ella antes morrer, que viver nos desfavores e desprezos e mingoas em que vivia. Com as quaes cousas movido o dito D. Pedro, determinou aceitar a dita empresa, e por seus assinados e sellos assi o certificou e segurou ? dita cidade.

E este negocio sempre andou secreto at? esta ida d'El-Rei a Ceuta, onde sobre concerto vieram armadas duas gall?s de Barcellona, com mostran?a que vinham a seu trafego d'armada.

D. Pedro f?ra com o Infante na dita entrada que disse, e quando tornou a Ceuta achou hi as gal?s, de cujos patr?es e regedores que n'ellas vinham, foi de sua ten??o certificado, que era logo o levarem, e depois de D. Pedro pedir a El-Rei, que perante o Infante seu irm?o, e o conde de Villa Real, e Paio Rodriguez, Contador M?r de Lisboa o quizesse ouvir, elle com palavras de muita obediencia e autoridade disse a El-Rei todo o movimento passado, e que a este fim eram vindas aquellas gal?s, pedindo-lhe para isso licen?a, allegando-lhe muitas raz?es porque o devia fazer, ao menos por fazer Rei um seu vassallo, que como sua feitura o havia sempre de servir e lhe obedecer.

E leixadas muitas altera??es que sobre isso houveram, El-Rei por ent?o n?o se p?de escusar, e lhe outorgou a dita licen?a; e porque o conde de Villa Real tinha grande afei??o pela muita honra merc?, que o Infante D. Pedro em regendo sempre lhe fizera, offereceu e deu logo ao dito Senhor D. Pedro, prata e bons corregimentos de casa, e depois lhe enviou cavallos e gente d'armas, o que outro algum do reino n?o fez. E por?m come?ou El-Rei de dilatar a D. Pedro o tempo da dita licen?a, com fundamento de se querer ainda d'elle servir n'aquella vinda a que viera de gentes e armas mui bem corregido, de que D. Pedro tomava grande paix?o, especialmente porque El-Rei aparelhava v?r-se com El-Rei D. Anrique, de que receava que sua ida em Arag?o sendo revellada receberia total embargo, e com elle manifesta queda de tamanha honra como parecia que se lhe aparelhava.

E uma noite querendo D. Pedro fallar a El-Rei sobre sua partida, presumindo El-Rei a causa porque seria, se escusou de o ouvir remettendo-o para o outro dia; pelo qual D. Pedro logo aquella noite, porque os patr?es j? mais n?o queriam esperar, se metteu nas gal?s e se foi com elles, e a El-Rei leixou por escripto a causa porque assi se partira, e a leal ten??o que levava para sempre o servir. Mas n'esta prosperidade D. Pedro durou pouco; porque em breve acabou com pe?onha sua vida dentro em Barcelona, onde na Igreja maior jaz sepultado.

CAPITULO CLII

Estando El-Rei em Ceuta, algumas vezes commetteu entrar e ir sobre Arzilla, com desejo e apparelhos de a tomar, e tantas contrariedades recebeu para isso dos grandes invernos que logo sobrevinham, que nunca seu desejo com seus commettimentos poderam vir a algum effeito, e da derradeira vez d'Alcacere se tornou El-Rei para Ceuta, havendo que o escallamento de Tangere era a elle desesperado; porque cria que aos mouros era j? descoberto, assi por christ?os que captivaram, como por mouros que fugiam, que todos lh'o diriam, em especial pela gente sua que viram quando a primeira vez sobre a cidade foi amanhecer.

E por?m em se partindo disse ao Infante seu irm?o que por conselho e accordo dos condes, que com elle eram, mandasse tentar a dita entrada ou outra alguma, porque a cidade bem se podesse filhar, e se tal fosse o avisasse; porque quando n?o viesse com toda sua gente e poder, ao menos como cavalleiro, e com poucos, folgaria ser no feito.

O Infante sobr'isto mandou algumas vezes tentar e experimentar o dito escalamento, que se achou e examinou estar ainda sem alguma innova??o, e para se fazer como cumpria, pelo qual determinou fazer-lo por si sem El'Rei. Dizendo que do sentimento que algumas escutas dos mouros haveriam de sua vinda, poderiam os de Tangere receber tal aviso, com que o feito de todo se perdesse, e por?m ante de sua partida, tendo conselho com muitos e principaes homens que com elle estavam, Fern?o Tellez lhe disse que era presente:

<>.

E o conde d'Odemira vendo que aquelles eram pontos sustanciaes e que em todo contradiziam ? vontade e proposito do Infante, pelo lisonjar para a commiss?o de Mertola, e da Commenda M?r de Santiago, que lhe ent?o requeria e houve, respondeu logo a Fern?o Tellez com palavras assi irosas e asperas, em que o Infante consentio, que no exemplo d'este aprenderam os outros o que no caso diriam.

E por?m o Infante, porque a pergunta de Fern?o Tellez ?cerca da gente lhe pareceu boa e necessaria, quiz saber de todos de que gente para o feito se perceberia. Em que houve muitas senten?as, e com alguma o commettimento do infante se desfazia, anichillando em todo a resistencia e fraqueza dos mouros, salvo com a do conde de Viana que disse:

<>.

Mas o Infante pelo ardente desejo que para isso tinha, pospostas todalas contradi??es, determinou de o fazer, de que alguns tiveram que o Infante por seu mui nobre e alto cora??o com que sempre suspirou por grandes e arduas empresas, n?o se contentava fazer nenhuma cousa, por boa e fa?anhosa que fosse, sendo debaixo de mando e capitania d'outrem, ainda que f?ra um grande Imperador.

E por?m Diogo de Bairros, e Jo?o Falc?o tiveram maneira que logo El-Rei fosse em Ceuta, como foi por elles de todo avisado, e de noite como El-Rei houve o aviso, logo a grande pressa mandou diante o Chichorro com vinte ginetes, para que o Infante sobresevesse em sua partida at? sua chegada, mas o Chichorro achou j? o Infante partido, e El-Rei com gr?o trigan?a partiu logo ap?z elles acerca de sol posto com oito de cavallo e muita gente de p?, que de can?ada ficou em Alcacere. E assi apressou seu caminho que ante manh? chegou aos medo?s que s?o junto de Tangere.

E porque n?o topou com seu irm?o, que f?ra por outro caminho e ficava atr?s, houve por sem duvida que elle era j? dentro na cidade com o feito prosperamente acabado, pela qual magina??o elle e todos davam muitas gra?as e louvores a Deus, e por?m estando assi com os ouvidos ?lerta, esperando a grita e rumor da cidade, chegou a El-Rei o marechal, que o Infante mandara correr a cidade, por dessimular o escallamento a que com tempo devido n?o podera chegar; porque como o Infante no caminho viu que a noite lhe fallecia para n'ella chegar ? cidade, lan?ou-se a duas legoas em cillada, e por dissimula??o mandou correr com fundamento de ao outro dia tornar commetter o feito. Mas El-Rei com mostran?as mais de tristeza que d'alegria se tornou a Alcacere, mui cansado e todolos seus; porque sem descer nem repousar andaram as maiores, nem mais fragosas quinze legoas que podem assignar, e o Infante onde estava em cillada, como soube da vinda e descontentamento d'El-Rei, partiu logo, e foi-se tambem a Alcacere anojado do conde D. Duarte, de quem suspeitou que o aviso d'El-Rei procedera. Mas o Infante n?o p?de escapar a uma grave e aspera reprens?o que El-Rei seu irm?o lhe fez pela perigosa ousadia que sem sua licen?a e contra seu mandado commettera.

Partiu-se El-Rei para Ceuta, com fundamento de se v?r com El-Rei de Castella, que era j? em Gibaltar, e o Infante ficou em Alcacere, onde pelo conde D. Sancho foi incitado para com tudo n?o desistir do mesmo escallamento que havia de todo por acabado, e que ent?o a empresa d'elle lhe vinha melhor e com mais sua honra, pois El-Rei ia j? d'elle de todo desconfiado, e que tivesse maneira que o conde D. Duarte n?o fosse com elle; porque al?m de n?o ser necessario, segundo elle sabia entoar suas cousas, cresse que todo o merecimento do feito quanto se bem fizesse havia de atribuir a si mesmo.

E a ten??o de tal conselho bem parece que de inveja, ou d'alguma outra paix?o ia propriamente guiada e mais que da verdade, segundo a qual o conde D. Duarte f?ra para conselho e ajuda de tal feito mui necessario; porque pelo acabamento de seus grandes feitos era havido e confirmado por mui singular capit?o.

E na tristeza e pezo que todos levavam pelo caminho, logo para bem do feito pareceu desaventurado pronostico, especialmente que sendo sobre o cabe?o, que dizem d'Almenar, pareceu no ceu ? vista de todos um espantoso cometa, que lan?ava de si muitos raios de fogo em figura de drag?o. Ali disse ent?o Gomez Freire, nobre fidalgo e de grande cora??o: <>, que ficou em proverbio muito tempo acostumado.

E assi chegaram os primeiros com grande luar junto com a cidade, onde porque a lua de todo se pozesse, esperaram at? tres horas ante manh?. E logo Diogo de Bairros, e Jo?o Falc?o como principaes movedores do feito, pediram e requereram a alguns do conselho d'El-Rei e do Infante que hi eram, que juntamente fossem com elles como testemunhas v?r como estava; porque se por algum caso se perdesse ou desaviasse, elles ficassem por verdadeiros e livres da culpa, e Jo?o de Sousa a que seu resguardo pareceu bem acceitou sua companhia, antre os quaes foi dado aviso que as escadas n?o se pozessem, salvo depois que a guarda dos mouros descesse do castello para fundo.

E aqui ? de saber que este lan?o de muro porque o escallamento era ordenado, cerra no castello da parte do sert?o em que ha cinco cubellos, em fim dos quaes seguindo para fundo est? uma torre que se chamava de Gillahare.

E porque do castello havia sahida para o muro por uma ponte levadi?a, acordaram os christ?os, que por quanto os mouros do castello sentindo a gente no muro poderiam sahir pela ponte e impedir e damnificar os que subissem pelas escadas, que a gente assi como subisse no muro, assi se mettesse logo entre a dita ponte e as escadas, e uns resistissem aos mouros que do castello quizessem sahir, e outros corressem pelo muro a fundo para tomarem outra torre que est? sobre um postigo, que se chama de Gurer, com que se cobravam duas cousas para o feito mui necessarias e seguras. A primeira para a gente poder de f?ra entrar mui livremente sem perigo nem contradi??o dos mouros, e a segunda senhoreavam a escada do muro para que a salvo podiam descer e entrar para a cidade.

E os dois principaes escalladores e guiadores, foram primeiramente no muro, e assi os outros que ap?s elles haviam de seguir. E acertou-se que a rolda dos mouros havendo j? d'elles algum sentimento estava lan?ada entre as ameas d'aquella parte, para differen?ar bem se eram os barbaros da serra, que ?s vezes com suas cargas e bestas se lan?avam ao p? do muro, ou por ventura christ?os, e tanto espa?o tomou para de sua duvida se certificar, que dos christ?os houveram sessenta lugar para subir, que por pontos d'honra em taes tempos e casos mui prejudiciaes, n?o quizeram guardar o que entre elles f?ra concordado. Pelo qual Jo?o Falc?o vendo come?os de tanto desmando, disse a Jo?o de Sousa que tomasse ou matasse um mouro guarda que tinha ante si. E Jo?o de Sousa como fidalgo acordado e de bom cora??o remetteu a elle, o qual da sombra da morte que comsigo viu, acabou ser desenganado de sua duvida e come?ou de se poer em defesa, e em Jo?o de Sousa correndo a lan?a nas m?os para lhe dar, o mouro em se retrahendo cahiu do muro contra a cidade dentro em um pomar, d'onde come?ou logo dar grandes brados, senificando com elles o damno dos christ?os que se aparelhava, e os christ?os como os ouviram sem mais outra consira??o, crendo que outra sua grita ao menos para desmaio dos contrairos aproveitaria muito, logo a deram com altas vozes, e n?o sem grande estrondo de trombetas que j? eram em cima, a que os mouros acordaram, e com muita trigan?a acudiram por saber a causa de tamanho rumor, principalmente os que guardavam a torre do muro porque os christ?os haviam de passar. Os quaes assi como viram os nossos estar no muro, assi se tornaram e pozeram ? porta da torre, de que podiam bem defender aos christ?os a passagem do muro para o n?o poderem descer para a cidade; porque com s?s paos sem outras armas, aos que por elle passassem, segundo era estreito podiam levemente lan?ar d'elle abaixo, e assi o faziam, e os christ?os n?o podendo j? passar n?o leixavam por isso de subir; porque o Infante era j? ao p? do muro, que a uns por amor, e a outros com temor constrangia para isso, e assi como subiam n?o podendo al fazer assi se mettiam por esses cubellos, e outros descendo para fundo n?o podendo passar ficavam amontoados, sem poderem aproveitar a si nem danar aos contrairos.

A cidade era j? toda posta em armas e grande alvoro?o, e como o alcaide que se chamava Abrahem Benaamet foi por si certificado que nas outras partes da cidade n?o havia outro commetimento nem affronta que muito receou, salvo n'aquella, mandou logo ali vir grande claridade de fogo, e com besteiros e espingardeiros, que em grande numero mandou metter no pomar que era defronte d'onde os christ?os estavam, matavam e feriam muitos, e muitos em se revolvendo cahiam do muro entre elles, que claramente eram logo espeda?ados, e com gente que se enadeu no castello, que sahiu pela ponte levadi?a, tomaram as escadas postas no muro, ainda que n?o foi sem grande peleja que sobr'isso houve, e foi de maneira que do castello e de todalas partes, os mouros sem algum seu perigo faziam um piadoso estrago nos christ?os, porque sendo as escallas tomadas n?o tinham algum remedio de salva??o. O que todo bem visto por Jo?o de Sousa, disse ao Infante de cima do muro, que n?o mandasse subir mais gente; porque o feito com a gente subida eram de todo perdidos, e o Infante sobre esperan?a de tanta alegria, ouvindo recado t?o certo e t?o triste, n?o menos anojado que esfor?ado arremetteu a uma escada de tro?os que mandara armar, e quizera por ella subir dizendo que o que fosse de t?o bons criados e servidores como j? dentro eram, seria d'elle at? com elles morrer. Mas era hi o conde d'Odemira, e o commendador m?r de Christus com outros, que com palavras prudentes e de bom esfor?o o detiveram, dizendo-lhe que aquella gente por boa e nobre que fosse, em caso que Portugal a perdesse, bem poderia cobrar outra tal e melhor; mas n?o a elle que era tal e tamanho Principe, que o reino teria d'elle para sempre muita mingua e grande necessidade, e que n?o desse causa que Tangere fosse tantas vezes sepultura de Infantes de Portugal, e com estas e outras raz?es de conforto a estas conformes a que o Infante obedeceu, vendo j? o feito sem algum remedio, se tornou para Alcacere.

E dos christ?os entre mortos e captivos ficaram trezentos, todos os mais homens escolhidos e especiaes, duzentos mortos e cento captivos, e dos mortos foram principaes, D. Gon?alo Coutinho, conde de Marialva, e D. Rodrigo seu filho bastardo, e Gomes Freire d'Andrade, e D. Jorge de Crasto, filho de D. Alvaro, que depois foi conde de Monsanto, e D. Jo?o de E?a, e Jo?o de Taide, e Pedro Coelho, e Rui Diaz Lobo, e Pero de Sousa seu irm?o, Fern?o de Macedo, e Pedro de Macedo seu irm?o, e Alvaro de S?, e Fern?o Vaz C?rte Real, Rui Paes, e Pero Paes, filhos de Payo Rodriguez, Contador M?r, e assi outros muitos e bons cavalleiros e homens de nobre sangue e bom cora??o.

E dos captivos principaes, que aos cubellos se recolheram e preitejaram com os mouros, foi D. Fernando Coutinho, marechal, Fern?o Tellez, Ruy Lopez Coutinho, Jo?o Falc?o, e Diogo da Silva, que depois foi conde de Portalegre, Garcia de Mello, D. Alvaro de Lima, filho do visconde D. Lionel de Lima; e outros muitos at? o dito numero, em cujos grandes resgates al?m das mortes de tanta e t?o nobre gente, o reino recebeu uma durosa magua e grandissima perda, a qual testemunhou bem com os grandes prantos e geraes lamenta??es que em todo elle por este caso se fizeram, e na gloria da victoria que os mouros tinham, praticando e examinando se entre os christ?os mortos ou captivos seria hi o conde D. Duarte, respondeu um velho e entre elles de grande auctoridade: <>.

CAPITULO CLIV

Um Ant?o Vaz, alfaqueque, era n'este desastrado caso, e como viu o triste sobcedimento d'elle, logo a grande pressa o veiu notificar ? condessa de Viana, que era em Alcacere, a qual logo com grande trigan?a por mar e por terra o fez saber a El-Rei, cujos avisos, por impedimentos que no caminho houveram, precedeu um outro, que o Infante em chegando a Alcacere logo lhe enviou por um seu escudeiro, que chegou a El-Rei ante manh?, na hora que estava de caminho para Gibaltar, onde por meio do conde de Ledesma tinha vistas concertadas com El-Rei D. Anrique de Castella que o j? esperava.

E El-Rei n?o quiz desfazer sua ida, e por?m despachou o conde de Viana, que logo tornou ao Infante seu irm?o ao confortar e desapassionar do caso passado, que o cumpriu com muita prudencia e despejo, e de que o Infante mostrou receber algum descan?o e menos d?r.

El-Rei em partindo avisou o escudeiro, que at? n?o ser no mar n?o dissese nada do caso, por n?o commover a choro e tristeza os senhores que em sua companhia tinha ordenados, que eram o conde de Guimar?es, e D. Jo?o seu irm?o, o conde de Monsanto, o conde da Atouguia, o Prior do Crato, e muitos outros do conselho, e gentis homens fidalgos de sua casa, com os quaes El-Rei passou a Gibaltar, onde El-Rei de Portugal e El-Rei de Castella tiveram suas praticas e concordias, cuja sustancia foi requerer El-Rei D. Anrique lian?a a El Rei D. Affonso, para contra os grandes de Castella, que com desleal alevantamento d'El-Rei D. Affonso o mo?o seu meio irm?o lhe queriam desobedecer, e que para ter mais raz?o de o ajudar, queria que a Infante D. Isabel sua irm? casasse com El-Rei D. Affonso; e D. Joanna que ent?o era havida por sua filha, e jurada por Princeza de Castella, casasse com D. Jo?o Principe de Portugal. E sobr'isto fizeram acordos promettidos e jurados nas m?os de D. Jorge, Bispo d'Evora, que depois foi Arcebispo de Lisboa e Cardeal. Os quaes principalmente pela grande inconstancia do dito Rei D. Anrique, e por impedimentos e contradi??es outras que se seguiram n?o houveram effeito.

E n?o s?mente sobre estes casos os ditos Reis fizeram esta vez estas vistas; mas depois outras com muitas embaixadas, e porque d'ellas nunca resultou conclus?o que entre elles se executasse nem cumprisse, n?o farei agora d'ellas nem depois muita men??o.

CAPITULO CLV

Tornou-se El-Rei a Ceuta, onde foi aconselhado que por quanto a boa fortuna n'esta jornada d'Africa ent?o lhe n?o ter?ava ? sua vontade, consirada isso mesmo a perda da gente com outros inconvenientes assaz efficazes, que sem mais fazer nem commetter outra cousa se devia de tornar ao reino, e dar a seus vassallos algum p?o de paz e descanso. E por?m El-Rei sem embargo de todo determinou correr primeiro o campo d'Arzila, e v?-la, com desejo de a tomar, o que logo p?s em obra; porque partiu logo para Alcacere, e de hi com o Infante passou a serra pelo porto d'Alfeixe, e em amanhecendo deram em umas aldeias, que com o aviso e m?do da ida d'El-Rei eram j? despovoradas, e por?m correram legoa e meia por outras partes, e n'aquellas principalmente que o Infante D. Fernando barrejou mataram alguns mouros e captivaram muitos, e arrancaram muito gado e outro despojo, com que j? de noite passaram o rio de Tagadarte, e junto com elle da banda d'Alcacere se alojaram aquella noite. Na qual sobrevieram tantas chuvas, e t?o aspera tempestade com que a ribeira encheu de maneira, que se a n?o tiveram passada e ficando alem d'ella, se dispunham a mui certo perigo; porque a infinda gente dos mouros que logo cresceu deu d'isso ao diante claro testemunho.

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