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Read Ebook: Vándormadár: Regény by Lovik K Roly

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Ebook has 79 lines and 5130 words, and 2 pages

Rita Farinha

OBRAS

J. B. DE A. GARRETT.

VIAGENS NA MINHA TERRA

POR J. B. DE ALMEIDA-GARRETT.

LISBOA NA TYPOGRAPHIA DA GAZETA DOS TRIBUNAIS. 1846.

Orador e poeta, historiador e philosopho, cr?tico e artista, jurisconsulto e administrador, erudito e homem d'Estado, religioso cultor da sua lingua e falando correctamente as extranhas--educado na pureza classica da antiguidade, e versado depois em todas as outras litteraturas--da meia-edade, da renascen?a e contemporanea--o auctor das Viagens Na Minha Terra ? egualmente familiar com Homero e com o Dante, com Plat?o e com Rousseau, com Thucidides e com Thiers, com Guizot e com Xenophonte, com Horacio e com Lamartine, com Machiavel e com Chateaubriand, com Shakspeare e Euripedes, com Cam?es e Calderon, com Goethe e Virgilio, Schiller e S?-de-Miranda, Sterne e Cervantes, Fenelon e Vieira, Rabelais e Gil-Vicente, Addison e Bayle, Kant e Voltaire, Herder e Smith, Bentham e Cormenin, com os Encyclopedistas e com os Sanctos-Padres, com a Biblia e com as tradic??es sanscritas, com tudo o que a arte e a sciencia antiga, com tudo o que a arte emfim e a sciencia moderna teem produzido. Ve-se isto dos seus escriptos, e especialmente se ve d'este que agora public?mos apezar de composto bem claramente ao correr da penna.

Mas ainda assim, e com isto somente, elle n?o faria o que faz se n?o junctasse a tudo isso o profundo conhecimento dos homens e das coisas, do cora??o humano e da raz?o humana; se n?o fosse, al?m de tudo o mais, um verdadeiro homem do mundo, que tem vivido nas c?rtes com os principes, no campo com os homens de guerra, no gabinete com os diplomaticos e homens d'Estado, no parlamento, nos tribunaes, nas academias, com todas as notabilidades de muitos paizes--e nos sal?es emfim com as mulheres e com os frivolos do mundo, com as elegancias e com as falsidades do seculo.

De tantas obras de tam variado genero com que, em sua vida ainda tam curta, este fecundo escriptor tem inriquecido a nossa lingua, ? ?sta talvez, torn?mos a dizer, a que elle mais descuidadamente escreveu: mas ? tambem a que, em nossa opini?o, mais mostra os seus immensos pod?res intellectuaes, a sua erudi??o vast?ssima, a sua flexibilidade de stylo espantosa, uma philosophia transcendente, e por fim de tudo, o natural indulgente e bom de um cora??o recto, puro, amigo da justi?a, adorador da verdade, e inimigo declarado de todo o sophisma.

Voltando ? accusa??o de septicismo, ainda dizemos que n?o p?de ser septico o espirito que concebeu, e em si achou c?res com que pintar tam vivos, characteres de cren?as tam fortes como o de Cat?o, de Cam?es, de Fr. Luiz de Sousa,--e aqui n'esta nossa obra, os de Fr. Diniz, de Joanninha, da Irman Francisca.

N?o analys?mos agora as Viagens Na Minha Terra: a obra n?o est? ainda completa e n?o podia completar-se portanto o juizo; dizemos somente o que todos dizem e o que todos podem julgar ja.

A nosso r?go, e por fazer mais digna da sua reputa??o ?sta segunda publica??o da obra, o auctor prestou-se a dirigi-la elle mesmo, corrigiu-a, additou-a, alterou-a em muitas partes, e a illustrou com as notas mais indispensaveis para a geral intelligencia do texto: de modo que sahir? muito melhorada agora do que primeiro se imprimiu.

VIAGENS NA MINHA TERRA.

Qu' il est glorieux d'ouvrir une nouvelle carri?re, et de paraitre tout-?-coup dans le monde savant un livre de d?couvertes ? la main, comme une com?te inattendue ?tincelle dans l'espace!

De como o auctor d'este erudito livro se resolveu a viajar na sua terra, depois de ter viajado no seu quarto; e como resolveu immortalizar-se escrevendo ?stas suas viagens. Parte para Santarem. Chega ao Terreiro-do-Pa?o, imbarca no vapor de Villa-Nova; e o que ahi lhe succede. A Deduc??o-Chronologica e a Baixa de Lisboa. Lord Byron e um bom charuto. Travam-se de raz?es os Ilhavos e os Bordas-d'agua: os da cal?a larga levam a melhor.

Eu muitas vezes, n'estas suffocadas noites d'estio, viajo at? ? minha janella para ver uma nesguita de Tejo que est? no fim da rua, e me inganar com uns verdes de ?rvores que alli vegetam sua laboriosa infancia nos intulhos do Caes-do-Sodr?. E nunca escrevi ?stas minhas viagens nem as suas impress?es: pois tinham muito que ver! Foi sempre ambiciosa a minha penna: pobre e suberba, quer assumpto mais largo. Pois hei de dar-lh'o. Vou nada menos que a Santarem: e protesto que de quanto vir e ouvir, de quanto eu pensar e sentir se hade fazer chronica.

Era uma idea vaga, mais desejo que ten??o, que eu tinha ha muito de ir conhecer as riccas varzeas d'esse Ribatejo, e saudar em seu alto cume a mais historica e monumental das nossas villas. Aballam-me as instancias de um amigo, decidem-se as tonterias de um jornal, que por mexeriquice quiz incabe?ar em designio politico determinado a minha visita.

Tambem s?o chegados os outros companheiros: o sino d? o ?ltimo rebate. Partimos.

J? saud?mos Alhandra, a toireira; Villa-franca, a que foi de Xira, e depois da Restaura??o, e depois outra vez de Xira, quando a tal restaura??o cahiu, como a todas as restaura??es sempre succede e hade succeder, em odio e execra??o tal que nem uma pobre villa a quiz para sobrenome.

--'A quest?o n?o era de restaurar nem de n?o restaurar, mas de se livrar a gente de um gov?rno de patuscos, que ? o mais odioso e ingulhoso dos governos possiveis.'

? a reflex?o com que um dos nossos companheiros de viajem accudiu ao princ?pio de pondera??o que eu ia involuntariamente fazendo a respeito de Villa-franca.

Mas eu n?o tenho odio nenhum a Villa-franca, nem a esse famoso cirio que l? foi fazer ? velha monarchia. Era uma coisa que estava na ordem das coisas, e que por f?r?a havia de succeder. Este necessario e inevitavel reviramento por que vai passando o mundo, hade levar muito tempo, hade ser contrastado por muita reac??o antes de completar-se...

No entretanto vamos accender os nossos charutos, e deixemos os precintos aristocraticos da r?: ? proa, que ? paiz de cigarro livre!

N?o me lembra que lord Byron celebrasse nunca o prazer de fummar a b?rdo. ? notavel esquecimento no poeta mais imbarcadi?o, mais marujo que ainda houve, e que at? cantou o inj?o, a mais prosaica e nauseante das miserias da vida! Pois n'um dia d'estes, sentir na face e nos cabellos a brisa refrigerante que passou por cima da agua, em quanto se aspiram mollemente as narcoticas exhala??es de um bom cigarro da Havana, ? uma das poucas coisas sinceramente boas que ha n'este mundo.

Fummemos!

Aqui est? um campino fummando gravemente o seu cigarro de papel, que me vai imprestar lume.

Accenderam-se os charutos, e attent?mos mais de vagar na companhia em que estavamos.

Emvez do cal??o amarello e da jaqueta de ramagem que caracterizam o homem do forcado, estes vestiam o amplo saiote grego dos varinos, e o tabardo arrequifado siciliano de panno de varas. O campino, assim como o saloio, tem o cunho da ra?a africana; estes s?o da familia pelasga: fei??es regulares e moveis, a f?rma agil.

Ora os homens do norte estavam disputando com os homens do sul: a quest?o f?ra interrompida com a nossa chegada ? proa do barco. Mas um dos Ilhavos--bella e poetica figura de homem--voltando-se para n?s, disse n'aquelle seu tom accentuado:--'Ora aqui est? quem hade decidir: vejam-n'os senhores. Elles, por agarrar um toiro, cuidam que s?o mais que ninguem, que n?o ha quem lhes chegue. E os senhores, a serem ca de Lisboa, h?ode dizer que sim. Mas n?s...'

--Nenhum de n?s ? de Lisboa: so este senhor que aqui vem agora.

Era o C. da T. que chegava.

--'Este conhe?o eu; este ? dos nossos . Isto ? um fidalgo como se quer. Nunca o vi n'uma ferra, isso ? verdade; mas aqui de Vallada a Almeirim ninguem corre mais do que elle por sol e por chuva, e hade saber o que ? um boi de lei, e o que ? lidar com gado.'

--'Pois oi?amos l? a quest?o.'

--'N?o ? quest?o'--tornou o Ilhavo: 'mas se este senhor fidalgo anda por Almeirim, para Almeirim vamos n?s, que era uma charneca o outro dia, e hoje ? um jardim, benza-o Deus!--mas n?o foram os campinos que o fizeram, foi a nossa gente que o sachou e plantou, e o fez o que ?, e fez terra das areas da charneca.'

--'L? isso ? verdade'.

--'N?o, n?o ?! Que est? forte habilidade fazer dar trigo aqui aos nateiros do Tejo, que ? como quem semeia em manteiga. ? uma lavoira que a faz Deus por sua m?o, regar e adubar e tudo: e o que Deus n?o faz, n?o fazem elles, que nem sabem ter m?o n'esses monch?es c'o plantio das arvores: so l? por cima ? que algumas teem mettido, e ? bem pouco para o rio que ?, e as riccas terras que lhes levam as inchentes.--Mas n?s, pe no barco pe na terra, tam depressa estamos a sachar o milho na charneca, como vimos por ahi abaixo com a vara no peito, e o saveiro a pegar n'area por n?o haver agua... mas sempre labutando pela vida'.

--'A f?r?a ? que se falla'--tornou o campino para estabelecer a quest?o em terreno que lhe convinha.--'A f?r?a ? que se falla: um homem do campo que se deita alli ? cernelha de um toiro que uma companha inteira de varinos lhe n?o pegava, com perd?o dos senhores pelo rabo!..'

E refor?ou o argumento com uma gargalhada triumphante, que achou echo nos interessados circumstantes que ja se tinham apinhado a ouvir os debates.

Os Ilhavos ficaram um tanto abatidos; sem perderem a consciencia da sua superioridade, mas acanhados pela algazarra.

Parecia a esquerda de um parlamento quando ve sumir-se, no borburinho acintoso das turbas ministeriaes, as melhores phrases e as mais fortes raz?es dos seus oradores.

Mas o orador ilhavo n?o era homem de se dar assim por derrotado. Olhou para os seus, como quem os consultava e animava, com um gesto expressivo, e voltando-se a n?s, com a direita estendida aos seus antagonistas:

--'Ent?o agora como ? de f?r?a, quero eu saber, e estes senhores que digam, qual ? que tem mais f?r?a, se ? um toiro ou se ? o mar'.

--'Essa agora!..'

--'Queriamos saber'.

--'? o mar'.

--'Pois n?s que brig?mos com o mar, oito e dez dias a fio n'uma tormenta, de Aveiro a Lisboa, e estes que brigam uma tarde com um toiro, qual ? que tem mais f?r?a?'

Os campinos ficaram cabisbaixos; o publico imparcial applaudiu por ?sta vez a opposi??o, e o Vouga triumphou do Tejo.

Declaram-se typicas, symbolicas e mythicas ?stas viagens. Faz o A. modestamente o seu proprio elogio. Da marcha da civiliza??o; e mostra-se como ella ? dirigida pelo cavalleiro da Mancha D. Quixote, e por seu escudeiro Sancho Pan?a.--Chegada a Villa-Nova-da-Rainha, Supplicio de Tantalo.--A virtude galard?o de si mesma; e sophisma de Jeremias Bentham.--Azambuja.

Primeiro que tudo, a minha obra ? um symbolo... ? um mytho, palavra grega, e de moda germanica, que se mette hoje em tudo e com que se explica tudo... quanto se n?o sabe explicar.

E aqui est? o que ? possivel ao progresso humano.

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