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Read Ebook: A Narrative of Some Remarkable Incidents in the Life of Solomon Bayley Formerly a Slave in the State of Delaware North America by Bayley Solomon Hurnard Robert Author Of Introduction Etc

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Ebook has 92 lines and 2248 words, and 2 pages

A filha do cabinda

PORTO--IMPRENSA PORTUGUEZA, BOMJARDIM, 181.

ALFREDO CAMPOS

A FILHA DO CABIDA

ROMANCE ORIGINAL

A SEUS

ILLUSTRISSIMOS E EXCELLENTISSIMOS TIOS

JOS? D'ALMEIDA CAMPOS

ANT?NIO D'ALMEIDA CAMPOS E SILVA

JOAQUIM D'ALMEIDA CAMPOS

OFFERECE

O auctor.

Ex.^mos Tios e amigos.

A <> ? uma recorda??o singellissima de muitas, que conservo, de alguns annos passados, na formosa capital do vasto Imperio do Brazil.

Transcrevi-a do livro da minha memoria, para este que aqui vai, singello, despretencioso, sem flores e sem perfumes, unicamente no intuito de matar horas d'enfado e dias de melancholia.

Resolvido agora, e quem sabe se imprudentemente, a fazel-a correr mundo, nas azas da publicidade, lembrou-me collocar os seus nomes na primeira pagina, como pequenissima significa??o da muita estima e da muita gratid?o, que devo a cada um.

Bem sei que muito fica da divida por saldar, mas quero, ao menos, mostrar-lhes, d'este modo, que n?o esque?o o muito que teem a haver dos sentimentos do meu cora??o.

Acceitem, pois, a offerta, que ? singella, e avaliem-na pela inten??o e n?o pelo que ?.

Sempre

Sobrinho amigo e agradecido

Alfredo Campos.

A FILHA DO CABINDA

A FILHA DO CABINDA

A filha do cabinda ? formosa como a vis?o d'um sonho celeste; meiga como o canto do sabi?, poisado nos galhos do cajueiro, e ingenua como a virgem da innocencia.

O cabinda ? negro, e negro de ra?a fina, mas ? branca a sua filha, e filha, porque o velho escravo quer muito ? senhora mo?a, que elle beijava e embalava no seu collo, quando era pequenina.

Rev?-se n'ella, e n'ella se mira doido d'affei??o o pobre negro, e tanto a gravou na ideia, tanto a traz no cora??o, que chega at? a esquecer-se do trabalho, sujeitando-se ?s reprehens?es do seu senhor, para, insensivelmente, se entregar a scismar n'ella, que ? t?o bondosa, t?o meiga e t?o carinhosa para elle; n'ella, que, por uma destas illus?es, d'estas miragens, d'estas doidices, d'um grande affecto e d'uma viva sympathia, chega a julgar realmente sua filha.

O negro vivia na sua terra, alegre e feliz; l? tinha seus paes, a sua companheira, os filhos e a sua familia.

Um dia, n?o sabe como, achou-se com todos elles dentro d'um navio, que come?ou a affastal-o, cada vez mais, da sua patria. Passou assim algum tempo, entre as duas immensid?es, o mar e o c?o, sem sentir saudades da sua terra, porque levava ainda ao seu lado aquelles que lhe davam alegria. Depois, pozeram-o de novo em terra, levaram-o a elle e aos seus companheiros para uma grande casa, onde os brancos come?aram a disputar o pre?o por que haviam de compral-os.

O cabinda foi vendido e quizeram leval-o.

Leval-o? E a sua companheira? e os filhos? e seus paes?

Esses, foram vendidos tambem, e cada um a seu senhor.

Tristissimo era o negocio da escravid?o!

Reagiu o negro, quando o quizeram separar dos seus, e quando tambem os separavam d'elle.

Teve, ent?o, saudades da sua patria, terriveis, sem duvida, porque eram, ao mesmo tempo, saudades da sua liberdade.

Fizeram-lhe, por?m, estancar as lagrimas angustiosas as amea?as d'um a?oite, e o Cabinda l? partiu, sem esperan?as de tornar a v?r os filhos queridos, que nem sequer beijara na despedida, a esposa, que elle adorava com um culto rude, mas sincero, e os paes, que elle respeitava com a sua venera??o selvagem.

Partiu, mas ainda assim, boa estrella o guiava, porque, cortando-lhe as affei??es mais caras da sua vida, ao menos o levaram para onde tinha de ser estimado, quasi como pessoa de familia, e n?o como escravo e negro que era.

Em casa do seu senhor foi elle encontrar uma creancinha de dois annos, que tinha uns olhos lindos, os cabellos como os olhos, negros da c?r do abysmo, e um rosto como o dos anjos d'um sonho de poeta, como o das fadas boas das vis?es nocturnas das mattas virgens.

A convivencia foi-o affei?oando ?quella creancinha, que lhe sorria t?o innocentemente; que lhe estendia, alegre, os bracinhos mimosos, e, brincando, o abra?ava carinhosamente pelas pernas.

O negro, quando via a pequenina Magdalena, sentia n?o sei que do?uras n'alma, n?o sei que effluvios no cora??o, mas que deviam ser gratissimos, porque os olhos desannuviavam-se-lhe logo das sombras de tristeza, que os velavam sempre, e os labios desatavam-se-lhe n'um sorriso de sincero e intimo jubilo.

E tomava-a no collo, sentava-se com ella ? sombra das copadas tamarindeiras ou das laranjeiras em flor, cobria-a de beijos e affagos, entretecia-lhe cor?as de jasmins e martyrios, e olhava-a, assim n'uma especie de adora??o sublime e concentrada, talvez com a recorda??o nos filhinhos, que perdera, e que eram tambem pequeninos como a mimosa Magdalena.

Tinha dez annos a filha do cabinda, quando perdeu sua m?e.

Ficavam-lhe os affagos d'um pae estremoso e os carinhos do negro affei?oado; mas que valia tudo isso? que valia a gotta d'agua para t?o grande s?de? o atomo em face da immensidade desfeita?

O negro, que era dedicado ? sua senhora, tanto como ? pequenina Magdalena, esqueceu-se da sua condi??o de escravo, e arrojou-se, em um impeto de d?r e d'affecto, a entrar no quarto da moribunda, poucos momentos antes d'ella despedir o derradeiro alento.

Estava junto ao leito Jorge de Macedo, que era o seu senhor, embebendo em beijos lacrymosos o rosto da innocente, que ia em breve ser o seu unico encanto n'este mundo.

Os dois, pae e filha, assistiam angustiados ao desabamento d'aquelle edificio da sua ventura.

O cabinda entrou como perdido, olhou para Jorge com receio, com amor para Magdalena e foi ajoelhar-se, de m?os postas, junto ao leito da enferma, chorando como crean?a.

--Anda c?, cabinda, disse a moribunda, com voz amortecida, ao v?l-o de joelhos, alli, ao p? d'ella. Anda c?; vem v?r como se vai para o c?o!...

--Que fazes, atrevido! exclamou Jorge a meia voz.

--Ah! meu senhor! a m?e do escravo ? um anjo, e o negro quer despedir-se da sua senhora!

--Sahe, cabinda!

--Oh! n?o! n?o! supplicou este. O negro ? escravo, mas o negro tem cora??o!

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