Read Ebook: A Mãe by Gorky Maksim Lacerda Augusto De Translator Persky Serge Translator
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Ebook has 4309 lines and 94489 words, and 87 pages
mente o suor do rosto.
--Espere... n?o tenha medo! respondeu passando pelos cabellos encaracolados a m?o v?lida.
--Mas se o senhor ? o primeiro a ter medo!...
--Eu?
C?rou de repente, e disse a sorrir, com embara?o:
--Sim, ? verdade, c'os demonios! Precisamos de prevenir o Pavel. Vou mandar-lhe alguem... Volte para casa... Isto n?o ha de ser nada. Ent?o! ninguem ha de bater-nos!
Apenas chegou a casa, P?lagu? reuniu em monte os livros, metteu-os debaixo do bra?o e p?z-se ? busca de um canto onde occultal-os. Olhou para o fog?o, para o forno, para o canudo do samovar e at? para o barril cheio d'agua. Dizia comsigo que Pavel largaria d'ali a pouco o trabalho e voltaria para casa; elle porem demorava-se. Por fim, vencida de cansa?o, sentou-se n'um banco da cosinha, escondeu os livros debaixo da saia e ficou immovel at? que apparecessem o filho e Andr?.
--J? sabem?! disse sem se levantar, apenas os viu.
--J? sabemos! respondeu Pavel com sorriso calmo. Tens medo?
--Tenho, muito!
--N?o deves ter medo. N?o serviria de nada. Nem sequer preparaste o samovar?!
Ella ergueu-se, e, mostrando os livros, explicou, embara?adamente:
--Era por causa delles...
O russo-menor e Pavel desataram a rir, o que a tranquillisou em parte. Depois, o filho pegou em alguns dos volumes e sa?u para ir escondel-os no pateo; Andr? dispoz-se a accender o samovar, e foi dizendo:
--Nada ha terrivel n'isto; o que faz envergonhar uma pessoa ? pensar que haja quem se occupe d'estas coisas. H?o de vir por ahi uns homens vestidos de cinzento, com um sabre ? cinta, esporas nos calcanhares, e rebuscar?o por toda a parte. Espreitam para debaixo das camas, e do fog?o; se ha adega, descem ? adega; se ha sot?o, sobem ao sot?o. As teias d'aranha caem-lhes nos focinhos, e elles espinoteiam. Enfadam-se, envergonham-se, e por isto fingem-se muito maos e mostram-se furiosos contra a gente. O seu emprego ? porco, e elles bem o sabem. Uma vez, foram dar busca ? minha casa, n?o encontraram coisa alguma e... elles ahi v?o! D'outra vez, levaram-me comsigo. Metteram-me depois na cadeia, onde estive quatro mezes. De tempos a tempos, iam buscar-me e faziam-me atravessar as ruas no meio de uma escolta de soldados. Perguntavam-me toda a casta de coisas. N?o s?o creaturas intelligentes, n?o sabem falar com criterio. Depois diziam aos soldados que me levassem outra vez para a cadeia. E aqui est? como fazem de n?s gato sapato. Emfim, teem que ganhar os seus ordenados!... Acabaram por p?r-me na rua. E prompto!
--Que maneira de falar, meu Andr?! exclamou P?lagu? mal-disposta.
Ajoelhado em frente do samovar, o russo-menor soprava com toda a for?a pelo canudo; levantou a cabe?a, mostrando a cara avermelhada pelo esfor?o e perguntou alisando com as duas m?os o bigode:
--Como ? ent?o que eu falo?
--Como se nunca o tivessem offendido.
Elle ergueu-se, approximou-se de P?lagu?, e, tendo abanado a cabe?a, disse, sorrindo:
--Ha por acaso alguem n'este mundo que n?o tenha sido offendido? ? que tanto me ultrajaram j?, que me cansei de encolerisar-me. Que fazer, se os mais n?o podem proceder d'outra maneira? Os ultrages incommodam-me muito, impedem-me de realisar a minha obra... mas n?o os podemos evitar, e, se pensamos n'isso, perdemos o nosso tempo. A vida ? assim! D'antes zangava-me contra essa gente; depois, quando me veio a reflex?o, vi que todos elles tinham o cora??o despeda?ado. Cada qual tem medo de ser o primeiro a atacar. A vida ? assim, m?esinha!
As palavras soltavam-se-lhe tranquillamente e faziam extinguir-se a anciedade de P?lagu?. Os olhos polpudos d'elle sorriam, luminosos e tristes; todo o seu corpo era flexivel, elastico, embora como desengon?ado.
Ella suspirou e disse com calor:
--Deus o fa?a feliz, meu Andr?!
O russo-menor voltou para o samovar, ajoelhou-se outra vez e murmurou:
--Se me derem a felicidade, n?o a recusarei; mas n?o a pe?o e nunca irei buscal-a.
E p?z-se a assobiar.
Pavel voltou do pateo.
--N?o encontrar?o coisa alguma! affirmou, convencido.
Come?ou a lavar-se. Depois accrescentou, limpando cuidadosamente as m?os:
--Se lhes mostrar que tem medo, mam?, dir?o que alguma coisa ha para despertar desconfian?a. E n?s nada fizemos ainda... nada! Bem o sabe, nada queremos que seja mao; a verdade e a justi?a est?o do nosso lado, trabalharemos por ellas toda a vida: eis o nosso crime! Porque havemos de tremer?
--Terei coragem, Pavel! prometteu.
Mas logo disse, angustiada:
--Se ao menos <
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No dia seguinte, prevendo que Pavel e Andr? iriam chasquear dos seus terrores, foi a primeira a rir-se de si mesma.
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--Oi?am: ? o ruido de esporas, na rua!
P?lagu? levantou-se de salto, pegou n'uma saia, tremula; mas Pavel appareceu no limiar e disse-lhe tranquillamente:
--Fique deitada... N?o est? b?a...
Ouviu-se depois um deslisar furtivo sob o telheiro.
Pavel approximou-se da porta, e batendo nella com a m?o, perguntou:
--Quem est? ahi?
Rapido como um relampago, um corpo d'homem alto surgiu entre os umbraes; e outro ainda. Os dois guardas repelliram o rapaz, puxando-o depois para entre elles. Uma voz grave e irritada disse:
--N?o ? quem esperavas, un?
Quem falava era um official ainda novo, alto e magro, de bigode preto. F?diakine, agente da policia do bairro, dirigiu-se para a cama de P?lagu?; levando a m?o ao bon?, em continencia, indicou com a outra a mulher, dizendo com um olhar terrivel:
--A m?e ? esta, meu Senhor!
Depois, apontando para Pavel:
--E o filho ? aquelle!
--Pavel Vlassof? perguntou o official, franzindo os olhos.
O rapaz respondeu affirmativamente com a cabe?a.
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