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Read Ebook: Lendas e Narrativas (Tomo I) by Herculano Alexandre

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Ebook has 985 lines and 58165 words, and 20 pages

This e-text is transcribed from the 1858 2nd edition of Lendas e Narrativas .

LENDAS E NARRATIVAS

ADVERTENCIA

A Advert?ncia que precedia a anterior edi??o, e que adiante vae repetida, explica sobejamente porque as primeiras tentativas de um g?nero de escriptos, que s? muito tarde foi cultivado em Portugal, se publicaram em volumes, quando talvez n?o devessem sair das columnas dos jornaes, onde viram a luz publica. Consider?mo-los ent?o, e consider?mo-los agora apenas como balisas no campo da nossa historia litteraria, balisas que nos parecem ainda mais toscas actualmente; porque ao passo que a reflex?o e o tempo nos amaduram o espirito, os defeitos de composi??o e de estylo cada vez se v?o avolumando mais aos olhos da nossa consci?ncia retrospectiva. Reputando-os, todavia, hoje como ha oito annos, simples marcos milliarios, a presente edi??o absolve-se pelos mesmos t?tulos porque devia ser absolvida a edi??o anterior.

Esper?vamos, e dissemo-lo sinceramente, que estas desadornadas tentativas esqueceriam em breve offuscadas pelas brilhantes composi??es que come?avam a avultar no caminho que hav?amos aberto. O publico enleodeu de outro modo. Sem deixar de apreciar o melhor, n?o esqueceu estes mal delineados esbo?os, que ficaram na sua mem?ria como nos ficam para a saudade os dias do nosso balbuciar infantil.

Quinze a vinte annos s?o decorridos desde que se deu um passo, bem que d?bil, decisivo, para quebrar as tradi??es do Alivio de Tristo e do Feliz Independente, tyrannos que reinavam sem ?mulos e sem conspira??es na provincia do romance portugu?s. Nestes quinze ou vinte annos creou-se uma litteratura e p?de dizer-se que n?o ha anno que n?o lhe traga um progresso. Desde as Lendas e Narrativas at? o livro Onde est? a Felicidade? que vasto espa?o transposto! E todavia, apesar do immenso talento que se revela nas mais recentes composi??es, quem sabe se entre os nomes que despontam apenas nos horisontes litterarios, n?o vir? em breve algum que offusque os que nos deixaram para n?s somente um bem modesto logar?

Oxal? que assim seja. Os que nos venceram n'esta lucta gloriosa saber?o resignar-se como n?s nos resign?mos.

Ajuda, maio de 1858.

ADVERTENCIA DA PRIMEIRA EDI??O

Os breves romances e narrativas contidos neste volume foram impressos, em epochas mais ou menos remotas, nas duas publica??es periodicas o Panorama e a Illustra??o, bem como o foram nestes ou em outros jornaes os que tem de formar o segundo volume das Lendas e Narrativas, collecc?o que, se trabalhos mais arduos o consentirem, ser? continuada com alguns outros, apenas esbo?ados ou ineditos no todo ou em parte, que ainda restam entre os manuscriptos do auctor. Corrigindo-os e publicando-os de novo, para se ajunctarem a composi??es mais extensas e menos imperfeitas, que j? viram a luz publica em volumes separados, elle quiz apenas preservar do esquecimento, a que por via de regra s?o condemnados mais cedo ou mais tarde os escriptos inseridos nas columnas das publica??es periodicas, as primeiras tentativas do romance historico que se fizeram na lingua portuguesa. Monumentos dos esfor?os do auctor para introduzir na litteratura nacional um genero amplamente cultivado, nestes nossos tempos, em todos os paizes da Europa, ? este o principal, ou talvez o unico merecimento delles; o titulo de que podem valer-se para n?o serem entregues de todo ao esquecimento. ? singeleza da inven??o, a pouca firmeza nos contornos de alguns caract?res, o menos bem travado do dialogo, imperfei??es que nem sempre foi possivel remediar nesta nova edi??o, revelam a m?o inexperiente. Na historia dos progressos litterarios de Portugal, desde que a liberdade politica trouxe a liberdade do pensamento, e que o engenho p?de apparecer ? luz do dia sem os anginhos de uma censura t?o absurda na sua indole, como estupida na sua applica??o e esterilisadora nos seus effeitos; nessa historia, dizemos, esta nova edi??o deve ser julgada principalmente com atten??o ao seu motivo, ? prioridade das composi??es nella insertas, e ? precis?o em que, ao escreve-las, o auctor se via de crear a substancia e a f?rma; porque para o seu trabalho faltavam absolutamente os modelos domesticos.

A critica para ser justa n?o ha-de, por?m, attender s? a essas circumstancias: ha-de considerar tamb?m os resultados destas tentativas, que, a principio, ? licito supp?r inspiraram outras analogas, como por exemplo os "Irm?os Carvajales" e "O que foram Portuguezes" do Sr. Mendes Leal, e gradualmente incitaram a maioria dos grandes talentos da nossa litteratura a emprehenderem composi??es analogas de mais largas dimens?es, e melhor delineadas e vestidas. Todos conhecem o "Arco de Sanct'Anna", cujo ultimo volume acaba de imprimir o primeiro poeta portugu?s deste seculo, o "Um ano na C?rte" do Sr. Corvo, cuja publica??o se aproxima do seu termo, e o "Odio Velho N?o Cansa" do Sr. Rebello da Silva, ensaio que, se as eloquencias parvoas e semsabores dos dicursos academicos n?o tivessem tornado indecentes as allus?es mythologicas, se poderia comparar ao combate com o le?o de Citheron, que revelou ? Grecia no mo?o Hercules o futuro semideus; porque no Odio Velho come?a a manifestar-se o auctor da "Mocidade de D. Jo?o V", romance de que j? se imprimiram algumas paginas admiraveis, mas que na parte inedita, que ? quasi tudo, nos promete um emulo de Walter-Scott. Emfim o "Conde de Castella" do Sr. Oliveira Marreca, vasta concep??o, posto que ainda incompleta, foi porventura inspirado pelo exemplo destas fracas tentativas, e das que, em dimens?es maiores, o auctor emprehendeu no Eurico e no Monge de Cister. Caracter grave e austero, dignos dos tempos antigos, e que a providencia collocou em meio de uma sociedade gasta e definhada por muitos generos de corrup??es, como uma condemna??o muda; homem sobre tudo de sciencia e consciencia, o Sr. Marreca trouxe estes seus dotes eminentes para o campo do romance historico, onde ninguem, talvez, como elle poderia fazer a Portugal o servi?o que DuMonteil fez ? Fran?a, isto ?, popularisar o estudo daquela parte da vida publica e privada dos seculos semi-barbaros, que n?o cabe no quadro da historia social e politica.

Taes foram, entre outros, os mais importantes resultados da introducc?o do genero. No meio deste amplo desenvolvimento de uma literatura nova no paiz, o auctor das seguintes paginas merecer? talvez desculpa de recordar que estes ensaios, inferiores ?s publica??es que se lhe seguiram, foram a sementinha d'onde proveio a floresta. Seja-lhe pois licito consolar-se na sua inferioridade com haver precedido na ordem dos tempos aquelles que, na affei??o do publico, devem provavelmente faze-lo esquecer. Persuadido de ter por isso direito ? indulgencia, resolveu-se a transportar para o livro aquillo que, considerado em si, n?o mereceria talvez sair nunca das columnas do fugitivo jornal, salvando assim, n?o escriptos cuja aprecia??o exija largas paginas na historia litteraria, mas um marco humilde e tosco, que, nesta especie de litteratura, indique o ponto d'onde se partiu.

O ALCAIDE DE SANTAR?M

O guadamellato ? uma ribeira que, descendo das solid?es mais agras da Serra Morena, vem atrav?s de um territorio montanhoso e selvatico desaguar no Guadalquivir pela margem direita, pouco acima de Cordova. Houve tempo em que nestes desvios habitou uma popula??o numerosa: foi nas eras do dominio sarraceno em Hespanha. Desde o governo do amir Abul-Khatar o districto de Cordova f?ra distribuido ?s tribus ?rabes do Yemen e da Syria, as mais nobres e mais numerosas entre todas as ra?as da Africa e da Asia, que tinham vindo residir na Peninsula por occasi?o da conquista ou depois della. As familias que se estabeleceram naquellas encoslas meridionaes das longas serranias chamadas pelos antigos Montes Marianos, conservaram por mais tempo os h?bitos erradios dos povos pastores. Assim no meiado decimo seculo, posto que esse districto fosse ass?s povoado, o seu aspecto assemelhava-se ao de um deserto; porque nem se descortinavam por aquelles cabe?os e valles vestigios alguns de cultura, nem alvejava um unico edificio no meio das collinas rasgadas irregularmente pelos algares das torrentes, ou cubertas de selvas bravias e escuras. Apenas um ou outro dia se enxergava na extrema de algum almargem virente a tenda branca do pegureiro, que no dia seguinte n?o se encontraria alli, se porventura se buscasse.

Havia, comtudo, povoa??es fixas naquelles ermos; havia habita??es humanas, por?m n?o de vivos. Os arabes collocavam os cemiterios nos logares mais saudosos dessas solid?es, nos pendores meridionaes dos outeiros, onde o sol, ao p?r-se, estirasse de soslaio os seus ultimos raios pelas lagens lisas das campas, por entre os raminhos floridos das sar?as a?outadas do vento. Era alli que, depois do vaguear incessante de muitos annos, elles vinham deitar-se mansamente uns ao p? dos outros, para dormirem o longo somno sacudido sobre as suas palpebras das asas do anjo Azrael.

A ra?a arabe, inquieta, vagabunda e livre, como nenhuma outra familia humana, gostava de espalhar na terra aquelles padr?es, mais ou menos sumptuosos, do captiveiro e immobilidade da morte, talvez para avivar mais o sentimento da sua independencia illimitada durante a vida.

No recosto de um teso, elevado no extremo de extensa gandra que subia das margens do Guadamellato para o nordeste, estava assentado um desses cemiterios pertencente ? tribu Yemenita dos Beni-Homair. Subindo pelo riu, viam-se alvejar ao longe as pedras das sepulturas como um vasto estendal, e tres unicas palmeiras, plantadas na cor?a do outeiro, lhe tinham feito dar o nome de cemiterio de al-tamarah. Transpondo o cabe?o para o lado oriental, encontrava-se um desses brincos da natureza, que nem sempre a sciencia sabe explicar: era um cubo de granito de desconforme dimens?o, que parecia ter sido posto alli pelos esfor?os de centenares d'homens, porque nada o prendia ao solo. Do cimo desta especie de atalaia natural descortinavam-se para todos os lados vastos horisontes.

Era um dia ? tarde: o sol descia rapidamente, e j? as sombras principiavam do lado de l?ste a empastar a paisagem ao longe em negrumes confusos. Assentado na borda do rochedo quadrangular um arabe dos Beni-Homair, armado da sua comprida lan?a, volvia olhos attentos, ora para o lado do norte, ora para o de oeste: depois sacudia a cabe?a com um signal negativo, inclinando-se para o lado opposto da grande pedra. Quatro sarracenos estavam alli tambem assentados em diversas posturas e em silencio, o qual s? era interrompido por algumas palavras rapidas, dirigidas ao da lan?a, e a que elle respondia sempre do mesmo modo com o seu menear de cabe?a.

"Al-barr,"--disse por fim um dos sarracenos cujo trajo e gestos indicavam uma grande superioridade sobre os outros--"parece que o kaid de Chantoryu esqueceu a sua injuria como o wali de Zarkosta a sua ambi??o d'independencia; e at? os partid?rios de Hafsun, esses guerreiros tenazes, tantas vezes vencidos por meu pae, n?o podem acreditar que Abdallah realise as promessas que me induziste a fazer-lhes."

"Amir-al-melek,"--replicou Al-barr--"ainda n?o ? tarde: os mensageiros podem ter sido retidos por algum successo imprevisto. N?o creias que a ambi??o e a vingan?a adorme?am t?o facilmente no cora??o humano. Dize, Al-athar, n?o te juraram elles pela sancta Kaaba que os enviados com a noticia da sua revolta e da entrada dos christ?os chegariam hoje a este logar aprazado, antes do anoitocer?"

"Juraram--respondeu Al-athar--; mas que f? merecem homens que n?o duvidam de quebrar as promessas solemnes feitas ao kalifa, e al?m d'isso de abrir o caminho aos infi?is para derramarem o sangue dos crentes? Amir, nestas negras tramas tenho-te servido lealmente; porque a ti devo quanto sou; mas oxal? que falhassem as esperan?as que p?es nos tens occultos alliados. Oxal? n?o tivesse de tingir o sangue as ruas de Korthoba, e n?o houvera de ser o suppedaneo do throno que ambicionas o tumulo de teu irm?o!"

Al-athar cobriu a cara com as m?os, como se quizesse esconder a sua amargura. Abdallah parecia commovido por duas paix?es oppostas. Depois de se conservar algum tempo em silencio, exclamou:

"Se os mensageiros dos revoltosos n?o chegarem at? o anoitecer, n?o falemos mais n'isso. Meu irm?o Al-hakem acaba de ser reconhecido successor do kalifado: eu pr?prio o acceitei por futuro senhor poucas horas antes de vir ter comvosco. Se o destino assim o quer, fa?a-se a vontade de Deus! Al-barr, imagina que os teus sonhos ambiciosos e os meus foram uma kassid?h que n?o soubeste acabar, como aquella que debalde tentaste repetir na presen?a dos embaixadores do Frandjat, e que foi causa de cahires no desagrado de meu pae e de Al-hakem, e de conceberes esse odio que alimentas contra elles, o mais terr?vel odio deste mundo, o do amor pr?prio offendido."

Ahmed Al-athar e o outro arabe sorriram ao ouvirem estas palavras de Abdallah. Os olhos, por?m, de Al-barr faiscaram de colera.

"Pagas mal, Abdallah,--disse elle com a voz presa garganta--os riscos que tenho corrido para te obter a heran?a do mais bello e poderoso imp?rio do Islam. Pagas com allus?es affrontosas aos que jogam a cabe?a com o algoz para te p?r na tua uma cor?a. ?s filho de teu pae! ... N?o importa. S? te direi que ? j? tarde para o arrependimento. Pensas acaso que uma conspira??o sabida de tantos ficar? occulta? No ponto a que chegaste, retrocedendo ? que has-de encontrar o abysmo!"

No rosto de Abdallah pintava-se o descontentamento e a incerteza. Ahmed ia a falar, talvez para ver de novo se divertia o pr?ncipe da arriscada empresa de disputar a coroa a seu irm?o Al-hakem. Um grito, por?m, de atalaia o interrompeu. Ligeiro como relampago um vulto sa?ra do cemit?rio, galg?ra o cabe?o, e se aproxim?ra sem ser sentido: vinha involto n'um albornoz escuro, cujo capuz quasi lhe encobria as fei??es, vendo-se-lhe apenas a barba negra e revolta. Os quatro sarracenos puseram-se em p? de um pulo, e arrancaram as espadas.

Ao ver aquelle movimento, o que cheg?ra n?o fez mais do que estender para elles a m?o direita e com a esquerda recuar o capuz do albornoz: ent?o as espadas abaixaram-se como se uma corrente electrica tivesse adormecido os bra?os dos quairo sarracenos. Al-barr exclam?ra:--"Muulin o propheta! Muulin o sancto!..."

"Muulin o peccador:--interrompeu o novo personagem--Muulin, o pobre fakih penitente e quasi cego de chorar as proprias culpas e as culpas dos homens, mas a quem Deus por isso illumina ?s vezes os olhos da alma para antever o futuro ou ler no fundo dos cora??es. Li no vosso, homens de sangue, homens de ambi??o! Sereis satisfeitos! O senhor pesou na balan?a dos destinos a ti, Abdallah, e a teu irm?o Al-hakem. Elle foi achado mais leve. A ti o throno; a elle o sepulchro. Est? escripto. Vae; n?o pares na carreira, que n?o te ? dado parar! Volta a Kortheba. Entra no teu palacio Merwan; ? o palacio dos kalifas da tua dynastia. N?o foi sem mysterio que teu pae t'o deu por morada. Sobe ao sotam da torre. Ahi achar?s cartas do kaid de Chantarya, e dellas ver?s que nem elle, nem o wali de Zarkosta, nem os Beni-Hafsun faltam ao que te juraram!"

"Sancto fakih--replicou Abdallab, cr?dulo como todos os musulmanos daquelles tempos de f? viva, e visivelmente perturbado--creio o que dizes, porque nada para ti ? occulto. O passado, o presente, o futuro domina-los com a tua intelligencia sublime. Asseguras-me o triumpho; mas o perd?o do crime podes tu assegura-lo?"

"Verme, que te cr?s livre!--atalhou com voz solemne o fakih.--Verme, cujos passos, cuja vontade mesma, n?o s?o mais do que frageis instrumentos nas m?os do destino, e que te cr?s auctor de um crime! Quando a frecha despedida do arco fere mortalmente o guerreiro, pede ella acaso a Deus perd?o do seu peccado? Atomo varrido pela colera de cima contra outro atomo, que vaes aniquilar, pergunta antes se nos thesouros do Misericordioso ha perd?o para o orgulho insensato!"

Fez ent?o uma pausa. A noite descia rapida. Ao lusco-fusco ainda se viu sair da manga do albornoz um bra?o felpudo e mirrado, que apontava para as bandas de Cordova. Nesta postura a figura do fakih fascinava. Coando pelos l?bios as syllabas, elle repeliu tres vezes:

"Para Merwan!"

Abdallah abaixou a cabe?a, e partiu vagarosamente, sem olhar para traz. Os outros sarracenos seguiram-no. El-Muulin ficou s?.

Mas quem era este homem? Todos o conheciam em Cordova; se vivesseis, por?m, naquella epocha e o perguntasseis nessa cidade de mais de um milh?o de habitantes, ninguem vo-lo saberia dizer. Era um mysterio a sua patria, a sua ra?a, donde viera. Passava a vida pelos cemiterios ou nas mesquitas. Para elle o ardor da canicula, a neve ou as chuvas do inverno eram como se n?o existissem. Raras vezes se via que n?o fosse lavado em lagrymas. Fugia das mulheres como de um objecto de horror. O que, por?m, o tornava geralmente respeitado, ou antes temido, era o dom de prophecia, o qual ninguem lhe disputava. Mas era um propheta terrivel, porque as suas predic??es recahiam unicamente sobre futuros males. No mesmo dia em que nas fronteiras do imperio os christ?os faziam alguma correria, ou destruiam alguma povoa??o, elle annunciava publicamente o successo nas pra?as de Cordova: qualquer membro da familia numerosa dos Beni-Umeyyas cahia debaixo do punhal de um assassino desconhecido, na mais remota provincia do imperio, ainda das do Moghreb ou Mauritania, na mesma hora, no mesmo instante ?s vezes, elle o pranteava redobrando os seus choros habituaes. O terror que inspirava era tal, que no meio do maior tumulto popular a sua presen?a bastava para tudo ca?r em mortal silencio. A imagina??o exaltada do povo tinha feito delle um sancto, sancto como o islamismo os concebia; isto ?, um homem cujas palavras e aspecto gelavam de terror.

Ao passar por elle, Al-barr apertou-lhe a m?o, dizendo-lhe em voz quasi imperceptivel:

"Salvaste-me!"

O fakih deixou-o affastar, e fazendo um gesto de profundo despreso, murmurou:

"Eu?! Eu teu cumplice, miseravel?!"

Depois, alevantando ambas as m?os abertas para o ar, come?ou a agitar os dedos rapidamente, e rindo com um rir sem vontade, exclamou:

"Pobres titeres!"

Quando se fartou de representar com os dedos a id?a de escarneo que lhe sorria l? dentro, dirigiu-se, ao longo do cemiterio, tambem para as bandas de Cordova, mas por diverso atalho.

Santarem.

Governador do Districto de Sarago?a.

Principe real.

O famoso templo de Mekka.

Poema de trinta versos, muito usado entre os arabes, e que correspondia de certo muilo ?s nossas odes.

Os reinos christ?os al?m dos Pyreneus.

Muulin significa o triste.

Fakih ou faquir, especie de frade mendicante entre os musulmanos.

Sotuko--o andar mais alto. Os nossos escriptores tomavam esta palavra n'um sentido evidentemente errado, servindo-se delia para indicar o aposento inferior ou t?rreo.

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