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Words: 11315 in 4 pages

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Theophilo Braga manifesta na Historia do romantismo quando nega a Herculano a possibilidade de comprehender a vida politica do povo portuguez pelo facto de ser um christ?o fervoroso e poetico. Mas o distincto escriptor contradiz-se na mesma p?gina quando, para deprimir Herculano, faz os maiores elogios a Agostinho Thierry, que n?o era menos christ?o do que o principe dos historiadores portugueses.

Nenhum escriptor do romanticismo foi apreciado t?o injustamente pelos seus adversarios como Alexandre Herculano, o que para mim ? mais uma prova do seu immenso valor. Herculano, que foi accusado de impio pelos partidarios da reac??o ultramontana e do jesuitismo, tem sido criticado injustamente por alguns escriptores que, declarando-se sectarios do positivismo, est?o muito longe de seguir as pisadas de Taine e de Littr?, dois positivistas eminentes que, pelo seu caracter austero, espirito philosophico e estylo elegante, primoroso, correcto e limpido, se tornaram dignos da venera??o n?o s? da Fran?a mas de todo o mundo. Venero todos os grandes homens, seja qual for a sua escola, porque todos t?m contribuido poderosamente para o progresso; o que detesto ? a injusti?a, a maledicencia e o fanatismo. O critico, para ser eminente, deve p?r a sua consciencia acima de todos os preconceitos, de todo o espirito do partido.

O amor da verdade ? a principal qualidade do historiador. Foi esta qualidade, associada a muitas outras, que fez com que Herculano fosse um dos maiores historiadores do mundo. Eu n?o quero dizer que elle n?o se enganasse, porque isso seria contrario ? natureza humana; n?o ha ninguem infallivel, a n?o ser o padre santo para os partidarios do neo-catholicismo ou do catholicismo influenciado pela Companhia de Jesus. O que ? certo ? que Herculano examinava com a mais profunda atten??o tudo quanto escrevia, empregava todos os meios de n?o falsear a historia, tudo sacrificava ao amor da verdade, fazia fallar os factos, n?o enchia a historia de generaliza??es falsas, intempestivas e absurdas; tudo quanto dizia firmava-se em documentos que elle criticava com a maior severidade e de cuja authenticidade estava profundamente convicto; n?o fazia syntheses que n?o se estribassem na mais profunda e rigorosa analyse. O mais abalisado analysta historico que Portugal tem produzido teve sempre receio de cair nessa labora??o subjectiva, falsa e imaginosa, que caracteriza muitos espiritos do seculo dezanove.

Quantas obras historicas se n?o tem escripto, que, em vez da verdadeira philosophia da historia, nos apresentam a philosophia dos seus auctores! Os trabalhos historicos de Herculano foram incomparavelmente mais syntheticos do que tudo quanto no seu genero se havia escripto anteriormente em Portugal; mas, se a generaliza??o philosophica n?o existe nelles mais copiosamente ? porque ainda se n?o tinham realizado com a amplitude indispensavel as investiga??es eruditas sem as quaes toda a philosophia da historia seria apenas um edificio sem base; ? porque ainda escasseavam os materiaes sufficientes para se poderem fazer em larga escala syntheses profundas, exactas e rigorosas.

Quantas syntheses formuladas no seculo dezanove n?o ser?o materia de riso para o seculo vigesimo! Os escriptores gongoricos e nebulosos, que t?m falsificado a historia com syntheses falsas e temerarias, parecem-se com aquelle fidalgo da Mancha, chamado D. Quichote, que em cada moinho de vento via um gigante, em cada rebanho um grande exercito; no seu furor de generalizar, os modernos gongoristas em cada facto v?em uma lei.

Diz o snr. Theophilo Braga que Herculano n?o possuia disciplina philosophica; eu estou profundamente convicto do contrario. Foi a disciplina philosophica que deu a Herculano o mais excellente methodo no modo de escrever historia; foi ella que fez com que o nosso grande historiador procedesse sensatamente, come?ando pelo exame rigoroso dos documentos, passando ? an?lyse exacta e minuciosa dos factos e por fim ? generaliza??o philosophica, de que elle usou com a devida sobriedade. Os historiadores que, em vez de ter o maximo rigor na investiga??o dos acontecimentos, enchem a historia de syntheses phantasticas e plagiadas, ? que revelam falta de disciplina philosophica.

O methodo seguido por Herculano est? em perfeita harmonia com as doutrinas de um dos maiores luminares da philosophia, o grande Bacon, que sustentava que a generaliza??o se devia fazer vagarosamente, considerando as syntheses feitas ? pressa como um grande obstaculo ao progresso das sciencias e uma causa poderosa da multiplica??o das polemicas.

S? um genio historico verdadeiramente prodigioso como Herculano, poderia realizar em Portugal o que l? f?ra se fez com muito mais elementos. O eminente historiador estava num pais atrazadissimo em estudos historicos e philosophicos, num pais em que uma parte do clero ora roubava documentos ora se recusava energicamente a entreg?-los, num pais em que os monumentos historicos dispersos pelas collegiadas e mosteiros desappareceriam completamente se Herculano os n?o tivesse colligido. P?de alguem, diz Oliveira Martins, avaliar o trabalho do obreiro sem ferramenta nem trabalho s?o?

Neste eloquentissimo parallelo, um dos mais concisos, energicos e claros de todas as litteraturas, mostra-nos Herculano a profunda differen?a que houve entre os fundadores das duas ordens dos franciscanos e dominicanos. O fanatismo do terrivel S. Domingos de Gusm?o foi por elle estigmatizado num estylo vigorosamente poetico; o facto da igreja ter posto este homem feroz, cruel e sanguinario no numero dos santos n?o impediu Herculano de pint?-lo com toda a fidelidade.

Herculano era da maxima tolerancia para com aquelles cujas opini?es divergiam das suas; n?o admittia restric??es para a livre manifesta??o do pensamento. Foi um catholico liberal como o celebre historiador e theologo allem?o Doellinger, que fazia d'elle o mais alto conceito e o admirava enthusiasticamente, consultantando-o sobre muitos pontos historicos e chegando a occupar-se, nos Annaes historicos de Munich, da vida e obras do nosso eminente prosador, a quem fez os maiores elogios. Na quest?o religiosa, Doellinger, o grande historiador da igreja, um dos mais profundos theologos da Allemanha, desempenhou um papel semelhante ao de Herculano; foi o denodado campe?o do partido dos velhos catholicos allem?es, que ousaram arrostar as furias de Roma; como escriptor e lente de theologia, exerceu um grande prestigio no seu pais, combatendo energicamente as novas modifica??es feitas no christianismo e procurando assim desviar a mocidade catholica allem? da influencia nefasta dos jesuitas; por isso era mal visto em Roma, era detestado pelo partido jesuitico, pelos sectarios do neo-catholicismo.

Herculano foi inimigo acerrimo da hypocrisia e do fanatismo; o seu culto era incomparavelmente mais interno do que externo; pela contempla??o da natureza ? que elle principalmente se elevava ? id?a de Deus.


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